Abro lentamente os olhos, acompanhado de um silêncio absoluto. Tudo que vejo é escuridão. Cada movimento que faço faz a madeira rangir sob meu corpo.
Pego a lanterna que trouxe comigo e, ao ligá-la, vejo a mobília de uma cabana — velha, empoeirada.
Como vim parar aqui? A última coisa de que me lembro é de estar investigando um caso de desaparecimentos... Sim, eu estava entrando naquela floresta!
Preciso sair daqui. Não sei exatamente como vim parar nesse lugar, mas agora não é a hora de pensar nisso. Preciso continuar a investigação e encontrar o culpado antes que ele faça mais vítimas.
Aproximo-me da porta e tento abri-la.
— Mas o que é isso?! Onde estou?!
Ao abri-la, vejo uma imensa e escura floresta. As árvores parecem paralisadas, nenhuma folha se move. A lua é a única fonte de luz. E o silêncio... não há sequer o som de grilos.
Esse ambiente é mais assustador do que qualquer filme de terror que já vi. O silêncio aqui é mais perturbador que um intervalo de trítono.
Desço lentamente os degraus da entrada da cabana. Quando olho com mais atenção, percebo: é a floresta que eu procurava.
Já estou dentro dela. Isso facilita meu trabalho.
Olhando ao redor, aponto minha lanterna para a direita. Algo parece estar em cima de uma mesa. Parece um documento.
Estendo a mão e o pego. É apenas uma folha com uma mensagem:
"12/12/1980.
Súbita impossibilidade de respirar.
Um frio que não é do ar, mas do tempo.
Konheci o silêncio que precede o nada.
Uma certeza: cuidado com o silêncio.
Tudo parou. Só meus pensamentos correm para o abismo.
-Noesis"
Konheci? Está escrito errado. Deveria ser "conheci". Parece um poema. E essa data... é hoje?!
Nunca ouvi falar de um poeta chamado Noesis. E por que esse papel está aqui? Será que essa pessoa viveu nessa floresta? Se eu acordei nessa cabana... eu devo tê-la visto. Mas não me lembro de nada. O que aconteceu?
Preciso organizar meus pensamentos.
Fecho os olhos. Respiro fundo.
Fuuu... Haaaah...
Quando os abro novamente...
Wooosh. O som do vento me atinge. As folhas, antes imóveis, agora se movem suavemente.
Definitivamente estranho. Mas preciso continuar. Talvez existam mais cabanas a investigar.
Ao descer a escada, vejo uma trilha com tochas acesas. Finalmente, alguma luz. Sigo o caminho — talvez ele me leve a mais pistas.
O ambiente permanece deserto. Estou mesmo na floresta certa?
No fim da trilha, avisto a silhueta de uma pessoa.
Acelero os passos.
É um homem idoso. O que ele está fazendo aqui? Será um dos desaparecidos? Foram mais de 50 casos... não consigo lembrar de todos.
Ao lado dele, há uma ponte imensa, antiga, cheia de buracos. Parece não ter fim.
Talvez seja um guia. Mas ele está parado, inexpressivo, como uma estátua.
Me aproximo.
— Olá! Me chamo Kian Shahin. Sou investigador. Estou aqui para apurar os desaparecimentos nessa floresta. Pode me dizer seu nome?
O idoso me encara em silêncio.
— Tudo bem... O senhor parece ser algum tipo de guardião. Há algo do outro lado da ponte que não deseja que seja visto?
Ele finalmente fala:
— Se você quer atravessar a ponte, precisa responder CERTAMENTE essa pergunta: O que é pior, o silêncio ou o barulho?
— Essa pergunta não é meio... boba? Por que tenho que respondê-la para atravessar uma ponte?
Nenhuma resposta. Ele apenas me observa.
Mesmo sendo introvertido, depois do que vivi aqui, entendo que o silêncio pode ser mais assustador que o barulho. Como dizia Lovecraft: "O mais forte tipo de medo é o medo do desconhecido."
Mas ainda assim... barulho constante é insuportável.
Qual será a resposta certa?
— A resposta certa é... barulho!
...
— Correto.
Sem expressão, ele diz:
— Antes de atravessar, observe como eu faço. Assim você pode evitar se machucar.
Estranho. Por que está me ajudando agora? Mas a ponte parece perigosa...
O idoso começa a andar. Desvia dos buracos com confiança.
O ar muda. Parece que algo nos observa.
Um frio percorre minha espinha.
Então, um som grave e abrupto ecoa. Num piscar de olhos, ele desaparece. Nenhum ruído, nenhuma despedida.
— O que foi isso? Onde ele está?
Preciso atravessar. Talvez ele esteja do outro lado.
Caminho com cuidado. Cada passo é medido. Olho para baixo...
Onde está o chão?
Abaixo da ponte, há apenas escuridão e silêncio absoluto.
...
Após alguns minutos, vejo o outro lado.
Mas algo me paralisa.
— O quê...? Como isso aconteceu?
Há um corpo dilacerado, envolto em sangue. A brutalidade... parece uma brincadeira cruel.
É o idoso. Reconheço pelos cabelos, pela barba.
O choque me imobiliza. Como isso aconteceu diante de mim, sem eu perceber?
E não foi rápido — a mutilação leva tempo. Como não ouvi um grito sequer?
Tem algo muito errado aqui. Preciso voltar.
Me viro em direção à ponte.
O som do vento cessa.
O silêncio retorna.
...
Não estava pronto para o que vi.
A ponte... cheia de corpos. Incontáveis. Homens, mulheres, crianças.
E mesmo pendurados, não caíam.
Não consigo me mover. É como se o tempo estivesse parado.
A escuridão se aproxima.
Tento correr. Forço cada músculo do meu corpo.
Nada.
Eu vou morrer aqui?
A escuridão para diante de mim.
A ponte desaparece. Há apenas o vazio.
...
Então, um som grave, abrupto.
...
O silêncio se foi.
Ouço o vento balançando as folhas.
Mas algo ainda está por vir.
Algo que não pertence a este mundo.