Capítulo 4: Um Coração de Cada Vez

Parte 1: Um Encontro (quase) Normal

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Tarde de sábado — Parque das Cerejeiras

As árvores já estavam começando a florescer, mesmo fora de época. Talvez fosse só o clima estranho da cidade… ou talvez, uma pontinha de magia ainda estivesse circulando no ar.

Caio ajeitou o cabelo pela terceira vez. Ele usava uma camisa azul clara e calça jeans nova. Estava nervoso — não por medo do caos celestial, mas porque Ruby Aquamarine aceitou seu convite para um passeio.

Sim, um encontro.

Sem chocolates mágicos.

Sem pactos com divindades.

Apenas ele e a garota por quem se apaixonou à primeira vista.

Ruby chegou com um vestido leve e um casaco branco. Estava com os cabelos presos num rabo de cavalo, e quando sorriu ao vê-lo, o tempo pareceu desacelerar.

— Oi, Caio. Esperou muito?

— Não... quer dizer, sim... quer dizer... esperei a vida toda! — ele se atropelou nas palavras, e depois corou. — Digo... só cheguei cedo.

Ela riu.

— Você é engraçado. Gosto disso.

Caio engoliu em seco. Ponto pra mim!

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Enquanto isso — Uma colina próxima

João Ricardo e Tati observavam à distância, sentados em um banco, cada um com um milk-shake.

— Você acha que ele consegue? — Tati perguntou, lambendo o canudo.

— Se não desmaiar até o final do encontro, já é vitória.

— Você era pior. — ela cutucou com o cotovelo.

— Nem vem. Eu só tive que lidar com uma escola inteira de garotas apaixonadas, um feitiço impossível e você.

Tati sorriu, quase orgulhosa.

— Foi divertido.

João revirou os olhos.

— Se isso é diversão pra você, imagina o que seria “caos”.

— Tô aqui, não tô?

Eles olharam novamente para Caio e Ruby, agora caminhando lado a lado, rindo de algo. Havia leveza no ar. Esperança.

— Talvez ele consiga, João. Sem feitiço nenhum.

João bebeu um gole e assentiu.

— Talvez.

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Mais tarde — Beira do lago

— Ruby... — Caio parou diante dela. — Eu sei que parece cedo, e você mal me conhece, mas... eu queria tentar. De verdade. Sem truques.

Ela o olhou nos olhos. Algo ali era sincero. Familiar até.

— Você me lembra alguém. Alguém... de um sonho.

Caio congelou.

— Como assim?

Ruby levou a mão ao peito.

— Eu sonhei com um garoto que me fazia rir. Que me fazia sentir viva. E ele dizia que o amor... não precisava de magia.

Ela sorriu.

— Acho que esse garoto era você.

O coração de Caio quase saiu pela boca. Era agora. O momento.

— Então... você me daria uma chance?

Ruby ficou em silêncio por um instante. E então, estendeu a mão.

— Que tal começarmos com um sorvete?

Caio aceitou, rindo.

— Sorvete é um ótimo começo.

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Enquanto isso — No céu crepuscular

Alya voava entre as nuvens, seus cabelos prateados dançando ao vento. Uma nova função havia sido dada a ela: zelar pelo equilíbrio emocional entre os humanos e os domínios celestiais.

Ela pousou suavemente sobre um telhado, onde Lucian a esperava, com as asas cruzadas e um livro flutuando em frente a si.

— O coração do garoto foi poupado — Alya disse. — E ele escolheu por conta própria.

Lucian assentiu, sem olhar para ela.

— Isso não garante que o caos terminou.

— Eu sei. Mas... foi um bom começo, não foi?

Lucian fechou o livro com um estalo.

— Um coração equilibrado não é o fim. É o primeiro passo. Estamos em paz... por enquanto.

Alya olhou para a cidade abaixo. Uma leve brisa soprou. E no horizonte, uma figura observava da sombra de uma torre antiga.

Alguém com uma caixa de bombons escuros nas mãos...

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Continua...