Capitulo 8 Caio o Herói esquecido

O palco se transformou novamente.

Caio abriu os olhos e se viu sozinho… em uma escola escura e vazia.

Os corredores pareciam infinitos. As paredes estavam riscadas com palavras que ecoavam em sua mente:

> “Inútil.”

“Ninguém te nota.”

“Sempre em segundo plano.”

Caio caminhou devagar, reconhecendo aquele ambiente — o colégio onde tudo começou. Mas ele estava vazio.

Não havia som de vozes, risadas, nem passos. Só silêncio… e ele.

Até que ouviu.

— “Ei, Caio! Você pode tirar uma foto da gente?”

Ele virou — e viu João, Tati, Alya e até Noah sorrindo em um corredor iluminado. Todos felizes. Todos… sem ele.

— “Caio?” — ele chamou. Mas ninguém ouviu.

Ele correu até eles.

— “Ei! Eu tô aqui!”

Mas quando chegou perto, a imagem se dissipou como poeira.

Em seguida, novas cenas surgiram nas paredes:

João sendo ovacionado por salvar a escola.

Tati, reverenciada como a ex-deusa que virou heroína.

Alya, admirada por sua coragem.

Noah, inocentado com ajuda dos deuses.

E Caio… sempre no canto.

Sempre assistindo.

Nunca lembrado.

Uma figura surgiu atrás dele — envolta em sombras, com olhos carmesins: Lucius.

— “Você sabe, não é? Que está aqui apenas por conveniência,” ele sussurrou no ouvido de Caio.

— “Eles têm história, têm poder, têm conexão divina… e você?”

Caio cerrou os punhos.

— “Eu sou o amigo deles,” respondeu com dificuldade.

Lucius riu.

— “Não. Você é o extra. O coadjuvante. Você acha que se importa, mas… ninguém lembra de você quando o caos acaba.”

Imagens tomaram forma diante dele:

João correndo com Tati.

Alya convocando Lucian.

Todos enfrentando o perigo.

E em cada cena, Caio estava atrás. Nunca ao centro. Sempre sendo salvo… nunca salvando.

— “Você é apenas… esquecível.”

Essas palavras doíam mais do que um soco.

Caio caiu de joelhos.

As vozes ecoavam em sua mente como trovões:

> “Você só atrapalha.”

“Eles estão melhor sem você.”

“Você é só um figurante.”

Mas então…

— “…não.”

Uma voz suave. Uma lembrança.

Aquela vez que João agradeceu, dizendo:

— “Você me ouviu quando ninguém mais quis.”

Ou quando Tati sorriu pra ele e disse:

— “Você é o único que me trata como normal.”

Ou Alya, segurando o braço dele durante uma fuga, sussurrando:

— “Se não fosse você, eu não teria conseguido.”

As palavras de Lucius perderam força.

As sombras tremeram.

Caio se levantou, olhos ardendo de emoção, mas firme.

— “Eu sou parte disso. Mesmo que ninguém veja. Mesmo que ninguém lembre… eu fiz a diferença.”

Lucius tentou envolvê-lo com tentáculos de escuridão, mas Caio os rasgou com a força de sua convicção.

— “Talvez eu não seja o herói que todos aplaudem… mas eu sou o que estava lá quando importava. E isso… isso me basta!”

Uma luz dourada rompeu o céu escuro da ilusão.

A escola desabou, e a voz de Lucius foi engolida por um rugido de vento.

Caio fechou os olhos… e acordou.

No palco real, ele se ergueu, respirando com dificuldade.

— “Você conseguiu?” — Tati perguntou, surpresa com as lágrimas nos olhos dele.

Caio limpou o rosto. Sorriu.

— “Não sou tão invisível quanto achei.”

João colocou a mão no ombro dele.

— “Nunca foi.”

O trio se virou, cientes de que restava mais uma alma presa na ilusão:

Alya.

O último pesadelo os aguardava — e, talvez, o mais perigoso de todos.