O palco se transformou novamente.
Caio abriu os olhos e se viu sozinho… em uma escola escura e vazia.
Os corredores pareciam infinitos. As paredes estavam riscadas com palavras que ecoavam em sua mente:
> “Inútil.”
“Ninguém te nota.”
“Sempre em segundo plano.”
Caio caminhou devagar, reconhecendo aquele ambiente — o colégio onde tudo começou. Mas ele estava vazio.
Não havia som de vozes, risadas, nem passos. Só silêncio… e ele.
Até que ouviu.
— “Ei, Caio! Você pode tirar uma foto da gente?”
Ele virou — e viu João, Tati, Alya e até Noah sorrindo em um corredor iluminado. Todos felizes. Todos… sem ele.
— “Caio?” — ele chamou. Mas ninguém ouviu.
Ele correu até eles.
— “Ei! Eu tô aqui!”
Mas quando chegou perto, a imagem se dissipou como poeira.
Em seguida, novas cenas surgiram nas paredes:
João sendo ovacionado por salvar a escola.
Tati, reverenciada como a ex-deusa que virou heroína.
Alya, admirada por sua coragem.
Noah, inocentado com ajuda dos deuses.
E Caio… sempre no canto.
Sempre assistindo.
Nunca lembrado.
Uma figura surgiu atrás dele — envolta em sombras, com olhos carmesins: Lucius.
— “Você sabe, não é? Que está aqui apenas por conveniência,” ele sussurrou no ouvido de Caio.
— “Eles têm história, têm poder, têm conexão divina… e você?”
Caio cerrou os punhos.
— “Eu sou o amigo deles,” respondeu com dificuldade.
Lucius riu.
— “Não. Você é o extra. O coadjuvante. Você acha que se importa, mas… ninguém lembra de você quando o caos acaba.”
Imagens tomaram forma diante dele:
João correndo com Tati.
Alya convocando Lucian.
Todos enfrentando o perigo.
E em cada cena, Caio estava atrás. Nunca ao centro. Sempre sendo salvo… nunca salvando.
— “Você é apenas… esquecível.”
Essas palavras doíam mais do que um soco.
Caio caiu de joelhos.
As vozes ecoavam em sua mente como trovões:
> “Você só atrapalha.”
“Eles estão melhor sem você.”
“Você é só um figurante.”
Mas então…
— “…não.”
Uma voz suave. Uma lembrança.
Aquela vez que João agradeceu, dizendo:
— “Você me ouviu quando ninguém mais quis.”
Ou quando Tati sorriu pra ele e disse:
— “Você é o único que me trata como normal.”
Ou Alya, segurando o braço dele durante uma fuga, sussurrando:
— “Se não fosse você, eu não teria conseguido.”
As palavras de Lucius perderam força.
As sombras tremeram.
Caio se levantou, olhos ardendo de emoção, mas firme.
— “Eu sou parte disso. Mesmo que ninguém veja. Mesmo que ninguém lembre… eu fiz a diferença.”
Lucius tentou envolvê-lo com tentáculos de escuridão, mas Caio os rasgou com a força de sua convicção.
— “Talvez eu não seja o herói que todos aplaudem… mas eu sou o que estava lá quando importava. E isso… isso me basta!”
Uma luz dourada rompeu o céu escuro da ilusão.
A escola desabou, e a voz de Lucius foi engolida por um rugido de vento.
Caio fechou os olhos… e acordou.
—
No palco real, ele se ergueu, respirando com dificuldade.
— “Você conseguiu?” — Tati perguntou, surpresa com as lágrimas nos olhos dele.
Caio limpou o rosto. Sorriu.
— “Não sou tão invisível quanto achei.”
João colocou a mão no ombro dele.
— “Nunca foi.”
O trio se virou, cientes de que restava mais uma alma presa na ilusão:
Alya.
O último pesadelo os aguardava — e, talvez, o mais perigoso de todos.