Capítulo 8 — Mapa de Chamas Esquecidas

Lyrianne recebe um mapa vivo, que responde à sua marca.

O vento da manhã trazia o cheiro da lenha molhada e da terra recém-pisada. Descíamos o caminho de pedra irregular serpenteando a encosta, eu, Tharion e Kael, em silêncio quase respeitoso. O treinamento da noite anterior e a conversa sob as estrelas ainda reverberavam em mim como ecos distantes.

Meus pés estavam pesados — não de cansaço, mas de um pressentimento que eu ainda não sabia nomear.

Kael ia à frente, resmungando para si mesmo, como sempre. Sua barba se agitava como um musgo zangado a cada passo brusco.

— Vocês têm certeza de que querem seguir por aqui? — ele perguntou, apontando para a trilha que adentrava uma mata mais densa. — Eu conheço esse caminho. Cheira a armadilha.

Tharion lançou-lhe um olhar indiferente.

— Tudo cheira a armadilha para você.

— Porque eu sobrevivi a mais delas do que você pode contar — rosnou Kael, ajeitando o martelo nas costas.

Segui-os em silêncio, mas com os sentidos atentos. O calor da minha marca — um leve formigar sob a pele do ombro — havia retornado.

O som veio primeiro. Um estalo. Um sussurro abafado. E então o assovio.

— Abaixe-se! — gritou Kael.

A flecha passou por cima da minha cabeça e se cravou numa árvore com um som seco. Em seguida, sombras saltaram das copas — cinco, talvez seis figuras encapuzadas, rápidas como cobras e armadas com lâminas curvadas.

O grupo cercou-nos em instantes. Um deles, mais alto, com um lenço vermelho cobrindo o rosto, deu um passo à frente.

— Entreguem o mapa — disse com voz áspera. — Sabemos que ela o tem.

— Que mapa? — perguntei, confusa.

O homem sorriu por trás do lenço.

— A relíquia que pulsa com o sangue da herdeira.

Antes que pudesse responder, outro dos ladrões avançou — e então tudo se tornou movimento.

Kael girou o machado com um rugido e abriu caminho com sua força brutal. Tharion, com uma frieza quase elegante, desarmou dois deles com um gesto e os lançou contra árvores com um estalo de magia e músculo.

Eu, por instinto, levei a mão ao colar que minha mãe adotiva deixara comigo. Ele começava a brilhar. Algo queimava contra minha pele — como se o próprio objeto pulsasse.

Foi quando o senti: o mapa.

Não era um pergaminho visível. Era um fino retalho escondido sob o tecido do colar, selado por magia. Quando o toquei, uma luz dourada se espalhou pela minha mão.

Os ladrões pararam por um instante, surpresos com o brilho.

— A herdeira ativou o artefato — murmurou o líder.

E então uma figura diferente surgiu do alto de um galho — leve, ágil, com cabelos cor de cobre e olhos como vidro lilás. Uma jovem de orelhas pontudas, metade feérica, metade humana. Ela saltou com graça felina, caiu entre mim e o ladrão, e, com um floreio exagerado, apontou duas adagas finas para ele.

— Está na hora de vocês deixarem a moça em paz — disse com um sorriso torto. — Ou vão todos acabar beijando o chão.

— Quem... quem é você? — perguntei, atônita.

— Nyssa Cintilante — respondeu ela com um piscar. — Ladra, ilusionista, libertadora ocasional de jovens damas perseguidas.

— Você é uma ladra? — questionei.

— Depende de quem está perguntando — rebateu, piscando de novo. — Mas hoje estou do seu lado.

Kael grunhiu ao ver mais um inimigo derrubado.

— Não confie nela, Lyrianne. Essa fedelha já tentou roubar minha mochila duas vezes em Aldevan.

Nyssa fez uma reverência exagerada.

— Só pego o que é valioso. E, até hoje, a sua mochila nunca foi.

A briga terminou tão rápido quanto começara. Os ladrões restantes fugiram ao ver o mapa brilhar novamente — ou talvez fugissem de Nyssa. Ou dos três de nós juntos.

Com o campo vazio, finalmente respirei. Minhas mãos ainda tremiam.

Tharion se aproximou e observou o colar.

— O mapa estava com você esse tempo todo. Selado por magia antiga. E só sua herança poderia despertá-lo.

Estendi o pequeno pedaço de tecido mágico. Ele agora se desenrolava, revelando linhas que se traçavam sozinhas — como fogo dourado sobre pergaminho invisível.

Era um mapa vivo.

— Ele mostra os fragmentos? — perguntei.

Tharion assentiu devagar.

— Um por vez. Mas só quando estiver pronta para vê-los.

Nyssa se aproximou, espiando por cima do meu ombro.

— Hm. Um mapa encantado. E bonito. — Ela olhou para mim com olhos brilhantes. — Você vai precisar de ajuda com isso.

— E você acha que é essa ajuda?

Ela sorriu.

— Acho que você vai precisar de alguém que entenda de portas secretas, armadilhas mágicas e ladrões perigosos. E ninguém conhece ladrões como uma ladra.

Olhei para Tharion e Kael. O anão já revirava os olhos.

Suspirei.

— Tudo bem, Nyssa. Mas tente não pegar mais nada meu.

Ela pôs a mão no peito, fingindo ofensa.

— Prometo solene e temporariamente não te roubar. Por hoje.

E então riu.

Pela primeira vez, também ri.

Algo em mim dizia que essa garota mudaria muita coisa.

E que a jornada agora ganhava uma nova trilha.

Uma trilha onde mapas queimavam com magia viva —

 e amizades improváveis começavam em meio ao caos.