Lyrianne recebe um mapa vivo, que responde à sua marca.
O vento da manhã trazia o cheiro da lenha molhada e da terra recém-pisada. Descíamos o caminho de pedra irregular serpenteando a encosta, eu, Tharion e Kael, em silêncio quase respeitoso. O treinamento da noite anterior e a conversa sob as estrelas ainda reverberavam em mim como ecos distantes.
Meus pés estavam pesados — não de cansaço, mas de um pressentimento que eu ainda não sabia nomear.
Kael ia à frente, resmungando para si mesmo, como sempre. Sua barba se agitava como um musgo zangado a cada passo brusco.
— Vocês têm certeza de que querem seguir por aqui? — ele perguntou, apontando para a trilha que adentrava uma mata mais densa. — Eu conheço esse caminho. Cheira a armadilha.
Tharion lançou-lhe um olhar indiferente.
— Tudo cheira a armadilha para você.
— Porque eu sobrevivi a mais delas do que você pode contar — rosnou Kael, ajeitando o martelo nas costas.
Segui-os em silêncio, mas com os sentidos atentos. O calor da minha marca — um leve formigar sob a pele do ombro — havia retornado.
O som veio primeiro. Um estalo. Um sussurro abafado. E então o assovio.
— Abaixe-se! — gritou Kael.
A flecha passou por cima da minha cabeça e se cravou numa árvore com um som seco. Em seguida, sombras saltaram das copas — cinco, talvez seis figuras encapuzadas, rápidas como cobras e armadas com lâminas curvadas.
O grupo cercou-nos em instantes. Um deles, mais alto, com um lenço vermelho cobrindo o rosto, deu um passo à frente.
— Entreguem o mapa — disse com voz áspera. — Sabemos que ela o tem.
— Que mapa? — perguntei, confusa.
O homem sorriu por trás do lenço.
— A relíquia que pulsa com o sangue da herdeira.
Antes que pudesse responder, outro dos ladrões avançou — e então tudo se tornou movimento.
Kael girou o machado com um rugido e abriu caminho com sua força brutal. Tharion, com uma frieza quase elegante, desarmou dois deles com um gesto e os lançou contra árvores com um estalo de magia e músculo.
Eu, por instinto, levei a mão ao colar que minha mãe adotiva deixara comigo. Ele começava a brilhar. Algo queimava contra minha pele — como se o próprio objeto pulsasse.
Foi quando o senti: o mapa.
Não era um pergaminho visível. Era um fino retalho escondido sob o tecido do colar, selado por magia. Quando o toquei, uma luz dourada se espalhou pela minha mão.
Os ladrões pararam por um instante, surpresos com o brilho.
— A herdeira ativou o artefato — murmurou o líder.
E então uma figura diferente surgiu do alto de um galho — leve, ágil, com cabelos cor de cobre e olhos como vidro lilás. Uma jovem de orelhas pontudas, metade feérica, metade humana. Ela saltou com graça felina, caiu entre mim e o ladrão, e, com um floreio exagerado, apontou duas adagas finas para ele.
— Está na hora de vocês deixarem a moça em paz — disse com um sorriso torto. — Ou vão todos acabar beijando o chão.
— Quem... quem é você? — perguntei, atônita.
— Nyssa Cintilante — respondeu ela com um piscar. — Ladra, ilusionista, libertadora ocasional de jovens damas perseguidas.
— Você é uma ladra? — questionei.
— Depende de quem está perguntando — rebateu, piscando de novo. — Mas hoje estou do seu lado.
Kael grunhiu ao ver mais um inimigo derrubado.
— Não confie nela, Lyrianne. Essa fedelha já tentou roubar minha mochila duas vezes em Aldevan.
Nyssa fez uma reverência exagerada.
— Só pego o que é valioso. E, até hoje, a sua mochila nunca foi.
A briga terminou tão rápido quanto começara. Os ladrões restantes fugiram ao ver o mapa brilhar novamente — ou talvez fugissem de Nyssa. Ou dos três de nós juntos.
Com o campo vazio, finalmente respirei. Minhas mãos ainda tremiam.
Tharion se aproximou e observou o colar.
— O mapa estava com você esse tempo todo. Selado por magia antiga. E só sua herança poderia despertá-lo.
Estendi o pequeno pedaço de tecido mágico. Ele agora se desenrolava, revelando linhas que se traçavam sozinhas — como fogo dourado sobre pergaminho invisível.
Era um mapa vivo.
— Ele mostra os fragmentos? — perguntei.
Tharion assentiu devagar.
— Um por vez. Mas só quando estiver pronta para vê-los.
Nyssa se aproximou, espiando por cima do meu ombro.
— Hm. Um mapa encantado. E bonito. — Ela olhou para mim com olhos brilhantes. — Você vai precisar de ajuda com isso.
— E você acha que é essa ajuda?
Ela sorriu.
— Acho que você vai precisar de alguém que entenda de portas secretas, armadilhas mágicas e ladrões perigosos. E ninguém conhece ladrões como uma ladra.
Olhei para Tharion e Kael. O anão já revirava os olhos.
Suspirei.
— Tudo bem, Nyssa. Mas tente não pegar mais nada meu.
Ela pôs a mão no peito, fingindo ofensa.
— Prometo solene e temporariamente não te roubar. Por hoje.
E então riu.
Pela primeira vez, também ri.
Algo em mim dizia que essa garota mudaria muita coisa.
E que a jornada agora ganhava uma nova trilha.
Uma trilha onde mapas queimavam com magia viva —
e amizades improváveis começavam em meio ao caos.