Capítulo 12

A arena de treinamento da academia era imensa, com paredes de pedra altas que formavam um círculo perfeito, cercando os combatentes como se fossem prisioneiros do próprio destino. Os espectadores se acomodavam em arquibancadas que pareciam esculpidas diretamente na pedra, e estandartes com as cores do crepúsculo pendiam de cada lado, tremulando suavemente ao vento. No centro da arena, o chão de terra batida estava marcado por cicatrizes de batalhas antigas, manchas de sangue e os sulcos deixados por incontáveis espadas e lanças.

Quando as gaiolas foram abertas, os orcos emergiram. Pelos desgrenhados cobriam partes de suas costas e ombros, e seus olhos eram pequenos, mas brilhavam com uma fúria animalesca. Cada um dos orcos possuía cicatrizes, marcas de batalhas passadas, e a respiração pesada deles era como o rosnar de uma fera prestes a atacar.

— Fique ao meu lado! — gritou Hakui, levantando sua espada que brilhava com a luz do sol que se infiltrava na arena.

Sansara assentiu, tentando não deixar o medo se apoderar de seus movimentos. A primeira criatura avançou, a mandíbula se abrindo para revelar presas afiadas e amareladas. O orco rugiu, correndo em direção a Hakui, e a terra tremeu sob seus pés pesados.

Hakui esperou até o último segundo, sua visão superior captando cada movimento. Quando o orco tentou agarrá-lo, ele se esquivou para o lado com uma elegância surpreendente, girando a espada em um arco perfeito que cortou o tendão da perna da criatura. O orco gritou de dor, caindo de joelhos, e Sansara aproveitou a oportunidade para correr ao redor dele com a corda que carregava. Em questão de segundos, ela prendeu os pés do orc, fazendo-o tombar para a frente com um baque ensurdecedor.

— Agora! — ela gritou.

Hakui não hesitou. Com um movimento fluido, ele cravou a espada na base do pescoço do orco, que soltou um último rosnado antes de ficar imóvel.

Mas não havia tempo para celebrar. Outro orco veio correndo em direção a eles, brandindo um enorme pedaço de metal que usava como uma clava. Sansara mal teve tempo de rolar para fora do caminho antes que o chão explodisse em pedaços, a arma do orco criando uma cratera na terra.

— Eles estão ficando mais rápidos! — gritou Sansara, erguendo-se rapidamente e segurando a corda com força.

— Não rápido o suficiente — respondeu Hakui, seu rosto sério e concentrado.

Ele avançou contra o orco, desviando de cada ataque com a precisão de um dançarino, enquanto Sansara circulava ao redor, esperando uma abertura. Quando o orco levantou a clava para atacar Hakui, Sansara arremessou a corda em torno de seu tornozelo, puxando com toda a força que tinha. O orco tropeçou, perdendo o equilíbrio, e Hakui desferiu um golpe certeiro na lateral de seu pescoço. Sangue espirrou no chão, e a criatura caiu de lado, o impacto tremendo pela arena.

— Dois a menos — disse Hakui, ofegante, mas havia seis orcs restantes, e eles estavam ficando mais inteligentes.

Os próximos atacaram juntos, cercando Hakui e Sansara. Ela tentou amarrar os pés de um deles, mas outro a empurrou para trás com uma força brutal. Ela voou alguns metros antes de cair no chão, a respiração sendo arrancada de seus pulmões. Viu o orco avançando sobre ela, a boca escancarada num grito de guerra, e por um segundo, Sansara sentiu que era o fim.

— Não se atreva! — Hakui rugiu, arremessando sua espada que cravou no ombro do orco, atrasando-o o suficiente para Sansara se levantar.

— Eu não vou desistir — ela sussurrou para si mesma, os olhos ardendo de determinação.

Os dois lutaram juntos, usando toda a técnica e experiência que haviam adquirido. Sansara correu em círculos ao redor dos orcos, amarrando seus pés com precisão enquanto Hakui, com seus golpes certeiros, derrubava um por um. Mas o cansaço começou a pesar, e seus movimentos ficavam mais lentos a cada minuto.

Quando restavam apenas três orcs, Sansara já mal conseguia segurar a corda. O suor escorria pelo seu rosto, misturando-se à poeira, e suas pernas tremiam. Ela ergueu os olhos para a gaiola que mantinha a quimera, ainda fechada, e uma onda de desespero a atingiu. Se não conseguirmos derrotar esses três, como vamos sobreviver ao que vem a seguir?

Foi então que ela sentiu algo agarrar sua cabeça. Um orco enorme a ergueu do chão, seus dedos longos e grossos apertando seu crânio com tanta força que Sansara sentiu que seria esmagada a qualquer momento. A visão ficou turva, e o som da multidão começou a desaparecer.

— SANSARA! — Hakui correu em direção a ela, o coração acelerado. Ele sabia que, naquele momento, ela teria que usar seu poder. Seria a única maneira de sobreviver.

Mas antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, uma voz conhecida ecoou pela arena.

— EI, SUA COISA VERDEEE! VOCÊ É MUITO FEIOOO!

Era Kaledus, correndo em direção ao orco, o corpo curado, sem nenhuma cicatriz ou ferida visível. O orco olhou para ele, confuso com o grito, e naquele breve momento de distração, Hakui aproveitou. Com um grito de batalha, ele pulou e cortou a mão do orco, libertando Sansara, que caiu de joelhos no chão, ofegante.

Kaledus sorriu ao ver Hakui ajudá-la a se levantar. — Vocês dois estavam planejando toda a diversão sem mim?

Hakui balançou a cabeça, tentando disfarçar o alívio que sentia. — Vamos terminar isso.

E enquanto se preparavam para enfrentar os últimos inimigos, Sansara soube que, juntos, eles tinham uma chance de vencer. Porque agora, eram mais do que apenas estudantes – eram uma equipe. E nada poderia separá-los.