UMA LUZ COR DE LUAR

Depois da aventura na Ilha Perdida*, as crianças passaram uma temporada sem novidades. Henrique, o "herói da ilha", como o chamavam, era convidado todas as noites para falar sobre Simão e os bichos; após o jantar, sentavam-se todos à volta de Henrique para ouvi-lo.

Durante o dia, passeavam a cavalo. Iam até à beira do Paraíba ou pescavam no riozinho e, quando não havia nada a fazer, ficavam no pomar comendo frutas e brincando nos balanços que Bento tinha armado para eles nos galhos mais fortes das mangueiras.

A fazenda do Padrinho era muito bonita e rodeada de montanhas altíssimas; uma delas, a que ficava do lado norte, era a mais alta de todas. Muitas vezes as crianças olhavam para a montanha e diziam que tinham muita vontade de ir até o seu cume para de lá admirarem o panorama dos arredores. Devia ser uma vista magnífica.

Uma tarde, estavam todos sentados nos degraus da escada do terraço, olhando a montanha e conversando. De repente Cecília, uma prima que tinha ido também passar as férias na fazenda, levantou-se muito espantada e disse aos outros:

— Vi uma luz brilhando lá em cima da montanha agora mesmo

Oscar e Quico começaram a rir pensando que Cecília estava inventando isso para fazer graça. Eduardo perguntou:

— De que lado viu a luz?

Ela apontou o dedinho:

— Vocês estão vendo aquele monte de árvores do lado direito? Parece que há uma pedra grande junto às árvores. Pois vi passar uma luz lá agora mesmo.

Henrique perguntou, desconfiado:

— Que espécie de luz? Fogueira?

— Não sei — disse Cecília. — Vi passar uma luz assim de repente, não sei que luz pode ser, mas acho que não era fogueira.

Vera riu:

— Seus olhos estão vendo coisas impossíveis.

Eduardo disse:

— Quem sabe o sol refletiu em alguma pedra e fez a pedra brilhar?

Todos concordaram; devia ser aquilo mesmo. O sol estava se escondendo no horizonte; talvez seus raios vermelhos batessem nalguma pedra, refletindo o brilho que Cecília tinha visto. Ela continuou a afirmar que tinha visto a luz, e parecia uma luz diferente, assim da cor do luar.

No dia seguinte, ninguém mais falou sobre o brilho da montanha; só Cecília olhava para lá de vez em quando procurando ver novamente a luz.

Passaram-se dias. Uma noite, achavam-se todos no terraço contando as estrelas; a noite estava linda e havia milhares de estrelinhas brilhando no céu. Quico e Oscar, deitados no chão, olhavam para cima; Henrique e Eduardo estavam sentados nos degraus da escada; Vera, Lúcia e Cecília, sentadas em cadeirinhas de lona. Vera disse:

— Já contei mais de quinhentas, estou até cansada.

— Só? — disse Quico. — Já contei setecentas e trinta e quatro.

— Pois eu já contei mil e noventa — afirmou Oscar.

Ninguém acreditou. Se todos haviam começado a contar ao mesmo tempo, como é que Oscar podia ter contado mais ?

— Ah! — disse ele. — Eu conto mais depressa que vocês.

De repente Cecília levantou-se e apontou a montanha:

— Parece que as estrelas brilham mais em cima da montanha. Vejam só!

Eduardo começou a rir:

— Cecília vive olhando para a montanha pensando na história da luz...

Eduardo parou de falar, mudo de espanto; olharam Eduardo, depois olharam a montanha; todos viram então uma luz passar e repassar no cume da montanha; era uma luz azulada um pouco pálida, parecia cor de luar.

Ficaram sem falar alguns instantes; depois Henrique deu um grito chamando Padrinho:

— Padrinho! Venha depressa ver uma coisa!

Padrinho estava lendo na sala de jantar; saiu acompanhado por Madrinha e chegaram à porta do terraço. As crianças estavam de pé, excitadas, olhando para o alto, mas a luz havia desaparecido.

Ficaram ainda uma meia hora ali de pé comentando o acontecimento, mas a luz não reapareceu nessa noite.

Já era hora de dormir e Madrinha mandou todos para seus quartos. Cecília, que dormia com Vera e Lúcia, estava impressionada e falava a todo o momento na luz esquisita que havia lá no alto. Lúcia bocejou e perguntou:

— O que será aquilo? Será que mora gente em cima da montanha?

— Acho que sim — disse Vera. — Se não morasse ninguém, não se veria luz.

— Eu bem tinha vontade de ir até lá ver o que é — disse Cecília. — E vocês?

— Nós também.

Cecília estava radiante:

— Eu fui a primeira a ver...

— Grande coisa — disse Lúcia.

No dia seguinte levantaram mais cedo; logo depois do café, saíram para o terraço e para o jardim da frente da casa; Eduardo já ali estava, mostrando a Bento o cume da montanha.

— O que será, Bento? Alguma pedra que tem um brilho fora do comum? Alguma mina de ouro?

Bento coçou a cabeça:

— Não sei. Pra dizer que é pedra... pedra pode brilhar com o sol, mas com o luar nunca vi... Pra dizer que é mina de ouro... Assim à mostra também nunca vi. É um mistério.

Padrinho apareceu com um binóculo entre as mãos; olhou e passou o binóculo à Madrinha; nada viram. O binóculo passou de mão em mão e todos olharam com atenção procurando algum sinal, alguma coisa que pudesse indicar a causa da luz. Não havia indício algum.

Viam apenas mato cerrado e pedras, havia grandes pedras entre as árvores. Decerto as pedras brilhavam, não podia ser outra coisa. Bento deu sua opinião:

— Mas pedra não brilha assim à toa, deve haver algum motivo.

O que seria? Passaram alguns dias sem esquecer a luz; todos falavam em fazer uma excursão ao alto da montanha — seria formidável.