Henrique e Eduardo ficaram muito impressionados. Por que as pedras da montanha brilhavam? Nunca ouviram falar em pedras brilhantes, a não ser as pedras preciosas: diamantes, safiras, rubis. Mas pedra comum não brilha assim e aquelas brilhavam. Quem sabe haveria lá um tesouro? Montes e montes de pedras preciosas? Ou uma mina de ouro?
Começaram a imaginar uma excursão até o alto da montanha para descobrirem o mistério; Bento havia dito que era mistério e eles tinham quase certeza de que aquela montanha guardava um segredo, um imenso segredo. O que poderia ser? Não pretendiam ir sozinhos como haviam feito na Ilha Perdida. Não. Pediriam permissão aos padrinhos e, se eles deixassem, iriam todos, até as meninas.
Cecília, a priminha que foi a primeira a ver a luz, era a mais entusiasmada; todas as manhãs, quando acordava, ia olhar a montanha. E antes de se recolher ao seu quarto, à noite, tornava a olhar para o alto procurando ver a luz. Todas as crianças comentavam o fato com grande animação e faziam projetos.
Uns três dias depois, a luz tornou a brilhar; dessa vez em pleno dia. Estavam todos no pomar chupando mangas; eram mangas deliciosas, bem amarelinhas. Quico e Oscar apenas tiravam a casca e enterravam os dentes na polpa sumarenta; o caldo amarelo corria-lhes entre os dedos. Eduardo cortava fatias com o canivete; Henrique também. As três meninas descascavam e cortavam a manga com a faca que Eufrosina lhes havia dado.
Cecília disse, de repente:
— Estou com palpite de que a luz vai aparecer hoje.
— Por quê? — perguntou Vera.
— Não sei. Palpite.
— Então vamos ver quem vê primeiro.
As duas saíram correndo e deixaram o pomar; quando olharam para o alto, viram a montanha azulada e, bem lá em cima, qualquer coisa muito brilhante. Deram gritos chamando os outros; todos correram e olharam. Quico ficou parado, a boca aberta cheia de manga; quase engasgou quando disse:
— Nossa Senhora! Está lá o negócio brilhando...
Vera e Lúcia disseram ao mesmo tempo:
— Vamos até lá para ver o que é?
— Se Padrinho deixasse...
Henrique propôs:
— E se fôssemos pedir ao Padrinho?
Oscar respondeu:
— Acho que ele não vai deixar; só se ele for também.
Cecília disse:
— E o que estamos fazendo aqui? Vamos correr e mostrar a luz ao Padrinho; assim ele acredita.
E a menina saiu correndo em direção à casa; Vera gritou:
— Não corra com a faca na mão; mamãe disse que é perigoso...
Foram todos atrás dela. Encontraram Padrinho falando com Tomásio. Cecília foi a primeira a falar:
— Padrinho, venha ver a luz da montanha, está brilhando.
Puxou Padrinho pela mão e apontou o alto da montanha; não havia mais luz. Os outros chegaram nesse momento; Cecília teve vontade de chorar:
— Mas nós vimos a luz, Padrinho! Nós todos vimos lá do pomar. Foi só o tempo de chegar aqui, ela desapareceu outra vez.
Eduardo teve uma ideia:
— Quem sabe a gente vê só de um lugar? Faça o favor, Padrinho, venha conosco.
Vendo a excitação das crianças, Padrinho acompanhou-as até a entrada do pomar e, no ponto certo de onde elas haviam visto, olhou para cima: lá estava a luz.
O sol dava em cheio sobre a montanha e a luz quase o ofuscava de cão fone. Ficaram parados e mudos de admiração. "O que será?", "O que não será?", perguntavam todos.
Padrinho mandou chamar Madrinha; ela veio acompanhada de Eufrosina e de Bento. Todos ficaram olhando para o mesmo ponto uma porção de tempo. Cada um dizia uma coisa ou dava uma opinião, mas ninguém podia saber ao certo o que era aquilo. O fato é que havia um brilho no alto da montanha, um brilho muito mais forte, e isso ninguém podia negar. Eufrosina benzeu-se:
— Cruz-credo! O que será aquilo?
Lembraram que, à noite, a luz era diferente, pálida como o luar; durante o dia, quando o sol brilhava, a luz era intensamente forte. Nem comeram mais mangas; Madrinha mandou Quico lavar a boca, que estava toda amarela. Ele foi correndo e voltou correndo para não perder tempo, queria ver a luz outra vez, antes que ela desaparecesse de novo.
Num momento em que estavam conversando distraídos, Bento deu um grito:
— A luz sumiu! A luz sumiu!
Olharam ansiosos; de fato, havia desaparecido. O alto da montanha estava igual aos outros picos; viam-se apenas árvores e pedras cinzentas. Bento falou:
— Quer dizer que mora gente lá; faz a luz aparecer e desaparecer, isso só gente pode fazer, bicho não pode...
— Mas quem pode morar lá naquele alto? Nunca ninguém soube de nada por aqui; se morasse alguém lá, todo o mundo saberia — disse Eufrosina, e benzeu-se de novo. Padrinho, que tinha ido buscar o binóculo, olhou através dele, mas nada viu, além de árvores e pedras.
Comentaram o fato durante muito tempo. À noite, ao jantar, deram muitas opiniões e Padrinho chegou a dizer:
— Quem sabe podemos organizar, um dia, uma excursão até lá? Eu gosto muito de descobrir mistérios...
Os meninos chegaram a bater palmas de entusiasmo; Cecília ficou assustada e perguntou:
— Todos nós, Padrinho?
— Todos — disse ele. — As meninas são tão boas companheiras quanto os meninos.
Vera, Lúcia e Cecília exultaram de contentamento. Após o jantar, fizeram projetos e mais projetos. Iriam todos a cavalo, pois era longe, e levariam Bento para auxiliá-los no que fosse necessário. Levariam cestas com coisas para comer e barracas para dormir. Seria maravilhoso. Padrinho gostava de tais aventuras e as crianças, mais ainda.
Ficaram tão animados que ninguém pensou em dormir; Cecília ia a todo momento espiar a montanha através da porta do terraço; os outros perguntavam:
— A luz voltou, Cecília?
Mas naquela noite, e nas noites seguintes, a luz não voltou a brilhar.