Quico foi o primeiro a falar:
— Mamãe, descobrimos uma cidade maravilhosa, a cidade mais rica do mundo...
— O quê? — Madrinha perguntou, admirada. — Onde fica essa cidade?
— Dentro da montanha encantada...
Cecília disse:
— Madrinha, aquela montanha é mesmo encantada. Lá vivem anões desde o tempo de Mem de Sá.
— Anões portugueses — confirmou Oscar. — Vieram para dançar no Rio de Janeiro e nunca mais voltaram para Portugal.
Eduardo e Henrique ouviam da ponta da mesa, um pouco tristonhos, pois não haviam conhecido a cidade extraordinária. Eufrosina veio da cozinha e ficou na porta da sala escutando. Bento já tinha contado alguma coisa e ela estava curiosa por saber o resto. Perguntou com a mão na cintura:
— Será verdade o que o Bento me contou? Os meninos estiveram mesmo lá?
Lúcia levantou-se para falar melhor:
— É tudo verdade, Eufrosina. As ruas são calçadas de ouro. Ouro puro.
— Lajes de ouro — confirmou Quico.
Eufrosina benzeu-se:
— Cruz-credo! Que riqueza!
Cecília falou:
— É a cidade mais rica do mundo! As casas têm janelas emolduradas de safiras!
Outro disse:
— E portas cravejadas de esmeraldas!
Oscar continuou:
— A coroa do príncipe é de brilhantes, é deste tamanho...
— Que cidade tão rica! — interrompeu Madrinha.
Oscar falou:
— Mas lá não entra nunca o sol...
Nem há passarinhos...
— Nem flores...
— Nem música...
— Nem livros...
— Oh! — falou Madrinha. — Então é uma cidade muito pobre; sem beleza alguma.
— Como não, Madrinha? Há belezas como não temos aqui. Vestidos cor do céu, cor de sonho, cor do arco-íris, tudo enfeitado de ouro puro.
Madrinha continuou:
Mas para vivermos felizes precisamos de outras belezas, não dessas. O que adianta termos vestidos cor de sonho enfeitados de ouro puro se não sabemos ler? Se não temos flores para enfeitar nossas casas, nem vemos pássaros enfeitando o céu? Se não temos música para encantar nossos ouvidos, nem sol para nos aquecer? Coitados! O que lhes adianta a riqueza? Para que servem tanto ouro e tantas pedras preciosas?
As crianças confirmaram:
— É verdade. Madrinha tem razão; no entanto eles têm xícaras de ouro, pratos de ouro, garfos de ouro...
Padrinho também falou:
— Mas não têm a natureza para admirar, não têm livros para ler... Não têm música para ouvir...
Foram deitar-se tarde naquele dia e ainda impressionados com a grande aventura.
No dia seguinte acordaram cedo e foram olhar o alto da montanha; nada viram. Todos os dias a vigiavam como se a montanha lhes pertencesse. Pediram licença ao Padrinho para voltar algum dia; queriam fazer uma segunda visita aos príncipes e levar os presentes que haviam prometido.
Padrinho consentiu e disse que talvez nas férias seguintes organizasse nova excursão à montanha encantada. Cada um deles levaria um presente a Filó e ao príncipe. As crianças ansiavam para chegarem novamente as férias do próximo ano.