Os Amigos POV:
Perceberam que a cerimônia Grahamuk tinha muita importância porque mais uma vez os Imperadores estiveram presentes, os rituais foram cumpridos com tanto zelo por eles que os padrinhos e madrinhas puderam sentir o peso da responsabilidade sobre eles.
Eles estavam ansiosos aguardando o momento em que seriam chamados para participar, todos tentavam relembrar tudo o que o Guru havia ensinado nas aulas de puja e cerimônias do shádi, não podiam falhar, seus adorados amigos contavam com eles.
Então no momento certo foram chamados, se aproximaram do altar e cumpriram seus deveres com a maior seriedade e responsabilidade possíveis.
A cerimônia durou cerca de duas horas, já havia anoitecido quando todos foram convidados a ir para o salão de festas, logo em seguida o banquete foi servido.
Os padrinhos olham insistentemente para todas as mesas fartas de alimentos, bebidas e doces, ficam admirados com o tamanho do bolo.
Os garçons andam com muitas bandejas nas mãos, mas não derrubam nada, apenas servem todos os que estão em uma mesa de uma só vez, trazem aqueles pratos diferentes, Weenny lhes ensinou o nome, mas não conseguem lembrar.
— Como pode ter tanta comida? Desse jeito vamos engordar muito. – Vivian diz, ainda observando a movimentação dos garçons.
— São centenas de pessoas, então realmente precisa ter tanta comida. - Tatiane diz.
— Sim, concordo. Todas as pessoas estão comendo muito bem e ainda sobra muito. - Melissa diz.
— Nunca pensei que ia gostar tanto da comida indiana. - Michele diz, enquanto pega mais um pedaço do pão indiano.
— Todas as comidas são picantes demais, credo. – Samara reclama.
— Por isso que ela vive tomando leite. Para digerir melhor a comida apimentada e minimizar os efeitos. – Enzo ri e diz.
— Até o chai tem pimenta! – Samara resmunga e todos riem.
— Pois eu acho tudo ótimo, estou adorando. – Carol diz e algumas das amigas acenam em concordância.
— Eu também adoro e como de tudo. – Gislaine diz.
— Você não vale, é uma grande comilona. - Rafael se aproxima e diz.
Todos observam quando Eros e Weenny começar a circular pelo salão cumprimentando os convidados
— Olhem aquele bolo maravilhoso, estou encantada. – Marília diz e aponta para mesa em uma das extremidades do salão.
— Já foram lá perto para ver a beleza da arrumação dessas mesas? – Mayara pergunta.
— Vamos lá? – Dani convida e algumas das madrinhas a seguem.
Os outros amigos terminam de comer porque apreciam lentamente os novos sabores, experimentam novas opções de alimentos aos poucos e se deliciam com as bebidas.
Ficam curiosas quando veem Eros em pé no salão observando as pessoas que estão olhando pelas janelas, percebem que são pessoas pobres, as suas roupas são muito simples, talvez sejam pedintes.
Estão perto o suficiente para ouvir o Dulhan dando alguma ordem em hindi.
— Por favor traduzam para nós. – Leonardo pede para Amitah.
— Tia, quero saber o que Eros está dizendo. – Iara pede para sua tradutora.
Enquanto isso, Jagal conversa com alguns soldados.
— Ye log vahaan kya kar rahe hain? (O que essas pessoas estão fazendo lá fora?)
— Yah gareeb aur bhookha hai, Rajkumar. Main ab unhen nishkaasit kar doonga. (São os pobres e famintos, Principe. Irei agora mesmo expulsá-los.)
— Abhee ruk jao! In logon ko yahaan laen, unake lie yahaan hol mein tebal set karen, main chaahata hoon ki ve mujhe un sabhee ke lie bhojan, pey aur kapade den, ve mere mehamaan hain aur unhen sabhee sammaan ke saath vyavahaar kiya jaana chaahie. (Parem agora mesmo! Tragam essas pessoas aqui, arrumem mesas para elas aqui no salão, quero que deem comida, bebida e roupas para todas elas, são meus convidados e devem ser tratados com todo o respeito.)
— Lekin aapakee Rajkumar, bahut se log hain... (Mas Príncipe, são muitas pessoas...) – o soldado responde.
— Abhee jo mainne tumase kaha tha vah karo. (Façam o que eu mandei e agora mesmo.) – Príncipe Jagadeesh diz.
Os soldados saem para acatar a ordem do Príncipe.
Toda a conversa é traduzida por Amitabh e Tia, que exibem um sorriso deslumbrado, mas omitem a palavra Príncipe, trocando-a por Dulhan.
Padrinhos e madrinhas demonstram orgulho da atitude de Eros, não esperam menos do que isso. Veem quando os pobres entram constrangidos e querem se negar a sentar nas mesas destinadas a eles, são dezenas de pessoas, todos eles olham para o Dulhan e se prostam diante dele como se fosse um deus.
Eros sorri e se aproxima deles, como há algum tempo está fazendo com seus convidados, Weenny percebe a movimentação e também vai até eles, essas pessoas choram e sorriem ao mesmo tempo e não param de agradecer, comem com um desespero de quem está passando fome há dias.
— Os noivos são como deuses para nós, trouxeram empregos, renda e honra para o meu povo, mas agora trazem esperança, roupas e alimentos, merecem ser adorados como deuses, afinal estão salvando e cuidando do nosso povo. – Amitabh explica e chora de alegria, muitos dos indianos e tradutores estão visivelmente emocionados, mas há uma pequena parcela de indianos ricos que parecem repudiar a caridade do Dulhan.
Os padrinhos observam aquela cena por algum tempo com ternura, depois desviam a atenção para os músicos, as canções têm um ritmo tão convidativo e adorável
Tia pede licença e sai de perto deles, Amitabh avisa que as tradutoras vão homenagear Eros e Weenny com uma dança garba, então deve ser por isso que Tia está indo conversar com Eros, veem que a tradutora vai para a pista de dança e é seguida por outras mulheres, enquanto os noivos vão para o mandap do salão de festa para assistir a linda coreografia apresentada por algumas tradutoras, realmente é incrível.
— Deveríamos ter pedido para Tia nos ensinar a dançar, olhem como ela dança bem. – Dani diz e vê Amitabh sorrir orgulhoso.
Eros e Weenny sorriem emocionados com essa homenagem.
Pouco tempo depois uma nova canção é tocada, Eros começa a cantar e dançar essa coreografia divertida ao lado de muitos indianos, grande parte deles são tradutores. Weenny também dança e canta, eles usam dois pequenos bastões de madeira encapados com um material colorido.
Os padrinhos e madrinhas querem saber a tradução das músicas, Amitabh e Tia atendem o pedido e traduzem a música que leva um tom de brincadeira, dizendo para a Dulhana fugir porque ela vai se apaixonar essa noite.
— Onde foi que a Dulhana aprendeu todas essas coreografias e tão rápido? – Guilherme pergunta.
— Olha, não sei, mas para mim ela está dançando perfeitamente, aliás os dois estão. – Carol diz.
— Ela parece uma perfeita indiana! – Melissa diz.
— Eles começaram a dançar uma nova coreografia, qual é a tradução da música? – Ricardo diz.
Os tradutores sorriem um para o outro e voltam ao trabalho.
— Essa música faz uma referência ao som dos brincos da Dulhana, diz que quando eles badalam o coração do Dulhan falha uma batida... Então ele diz que agora que deu o coração para a Dulhana, que ela não o parta.
— Ah, que lindo! – Mayara e Melissa dizem ao mesmo tempo.
Todos se divertem por um longo tempo e com muita música.
Os padrinhos correm para a pista de dança e arrastam seus tradutores, obrigando-os a ensinar as danças típicas indianas, já que a maioria dos padrinhos são bailarinos isso favorece o aprendizado rápido.
Os convidados brasileiros se divertem com seus muitos erros e a grande dificuldade para dançar e seus tradutores os ensinam pacientemente, realmente o povo indiano é caloroso e receptivo.
Mesmo enquanto se divertem, ainda pensam na responsabilidade do ritual que acontecerá de madrugada, ficam atentos esperando qualquer aviso da Dulhana e voltam para as suas mesas quando veem Weenny conversando com as servas, ela deve estar se preparando para partir.
Uma das servas se aproxima e diz algo para Amitabh.
O tradutor volta a sua atenção para os padrinhos e explica que todos devem partir agora mesmo, mas não terão tempo de retornar ao hotel, terão que se arrumar de uma maneira especial, mas deverá ser em uma das salas do templo. Todos ouvem atentamente o que Amitabh tem para dizer e o tradutor dá mais alguns detalhes, mas todos estão distraídos o suficiente sequer notar que Eros está ouvindo toda a conversa, tentam disfarçar, mas não conseguem.
Eros diz que está sabendo do ritual e que pretende ir, mas espera que os amigos guardem esse segredo, embora instrua os tradutores a convidarem todos os que desejarem ir.
O que será que ele está aprontando?
Conversam um pouco com o Dulhan, os tradutores acrescentam algumas explicações sobre o ritual e isso o faz parecer muito mais interessante.
Todos se preparam para partir, entram no micro-ônibus e a maioria deles sente o suor molhar suas mãos e corpo, sim por ansiedade do que vira a seguir.
O caminho até o templo é curto e os amigos ficam ainda mais agitados porque não haverá tempo para se prepararem.
Assim que chegam, ficam maravilhados com a imponência do templo, mesmo à noite é possível admirar essa construção majestosa, eles sobem pelas escadarias sem deixar de contemplar a arquitetura indiana, passam pelos seus portais de ferro maciço e veem o interior das câmaras de orações onde estão as estátuas dos deuses em ouro, o piso de mármore, as cúpulas com desenhos em ouro, um luxo indescritível, diyas espalhadas pelo chão, em homenagem aos deuses.
Seguem para o salão onde acontecerá o ritual e notam que ele já está lotado por indianos e brasileiros, observam a decoração em tons de marrom e vermelho, iluminado por tochas e diyas, há uma piscina no centro e na galeria do andar superior não há ninguém.
Tia e Amitabh explicam o posicionamento que os padrinhos deverão adotar e o momento em que vão participar ativamente do ritual, eles se apressam para trocar de roupas e quando retornam já assumem suas posições, esperam por Weenny e estão curiosos saber o que Eros aprontará.
Só se sentem incomodados porque sabem que lugar destinado aos padrinhos será bem próximo aos Imperadores, afinal eles participarão do ritual, segundo a Weenny, fazendo com que todos se sintam no mínimo apreensivos, apavorados seria a palavra mais adequada, mas felizmente os pais da Dulhana, também estarão lá, o que lhes dá uma sensação de alívio.
A medida que o povo chega traz a diya nas mãos, são orientados a coloca-las nas bordas da piscina, enfeitando-a e iluminando-a.
Weenny Alves POV:
Minhas sudras vem me avisar que já são dez horas, preciso partir para ter tempo o bastante para me preparar para o ritual da lua.
Peço que Salima vá avisar os meus padrinhos e madrinhas que eles precisam sair, temos pouco tempo até o momento do ritual, enquanto isso Nimat e Shiva preparam a nossa partida.
Logo em seguida partimos rumo ao templo onde ocorrerá o ritual, chegamos em poucos minutos, mesmo durante a noite dá para ver a tamanha grandiosidade dessa construção, simplesmente magnífico tanto por fora quanto por dentro, digno da realeza.
Sou levada para um aposento, as sudras preparam o meu banho em água perfumada e uma breve massagem com óleos aromáticos, elas ajudam a me vestir, meus cabelos permanecem soltos, não usarei joias, apenas uma coroa com flores e um vestido branco e bem longo que deixará a uma parte do meu abdômen, das costas e os braços a mostra.
As sudras me avisam que toda a nobreza está posicionada, os sacerdotes também e os homens que estarão ao meu lado neste ritual estão prontos e me aguardam. O brâmane quer que eu avise quando estiver preparada para começar, afirmo que sim, mesmo ansiosa e temerosa pelo tamanho da minha responsabilidade.
Vou caminhando para o salão principal, vejo os músicos posicionados, todas as diyas acesas e os adoradores que me aguardam.
Olho para o céu e admiro a lua que aparece em todo o seu esplendor, faço uma prece silenciosa já que esse dia é propício para os desejos do coração, rogo que não falte amor, coragem, ousadia e justiça para seguir o destino que está reservado para Jagal e eu.
Jagadeesh Manohari (Eros Myron) POV:
O Grahamuk acontece ainda melhor do que o esperado, fico surpreso ao ver que minha Dulhana sabe se portar perfeitamente como uma hindu, até mesmo os Imperadores estão admirados com a conduta e a postura dela. Cumprimos o ritual dos mantras, pujas e canções e acendemos o agni invocando tudo o que é auspicioso para a nossa união.
Apesar de ter tentado sair discretamente, noto quando a minha Princesa começa a se preparar para partir, vou até os padrinhos e madrinhas e ouço quando Amitabh os instrui sobre o que virá a seguir.
— A Dulhana já partiu para o templo e nós devemos ir direto para lá, as roupas de vocês já foram separadas e estão prontas para vestir...
— Mas vamos nos vestir onde? – Filipe pergunta.
— Se você deixar ele terminar de explicar vai ficar sabendo, seu idiota. – Samara diz e alguns riem.
— Padrinhos deverão usar um kurta pajama branco e turbante vermelho e um colar especial, além da kurta pajama. Já as madrinhas usarão saia branca e choli bege e um tecido vermelho sobre a roupa, além de um adorno para a cabeça feito com flores. Estas roupas estarão separadas em duas salas do templo, seremos avisados quando chegarmos lá.
Padrinhos e madrinhas sorriem e concordam, de repente Claudio mostra o quão surpreso está ao me ver.
— Eros? Não percebi que estava aqui.
Eu percebo que todos silenciam e depois tentam mudar de assunto, em uma falha tentativa de manter o segredo sobre o ritual.
— Já estou sabendo de tudo, eu irei neste ritual, mas ninguém além de vocês deve saber disso, ok? Vamos convidar todos para comparecerem neste ritual se desejarem, talvez eles gostem. Os tradutores vão esclarecer tudo o que for necessário.
Os padrinhos prontamente concordam com meu pedido.
Amitabh e Tia fazem questão de reunir todos os tradutores para que o convite seja divulgado aos convidados, bem como as orientações necessárias.
— Aaj, ab aadhee raat ko, yah pooja aur saravasti maan ke lie chaand par pooja ho jaega, rajkumari hamaare kheton, hamaare pavitr pashu, hamaare paanee aur hamaare logon ke lie aasheervaad poochh Saravasti maan ke lie vishesh mangalaacharan kar dega. aaj dil se sambandhit anurodh karane ke lie ek shubh din hai. har koee saphed kapade, bej ya peele rang pahanana chaahie, aur kuchh asatat gahane istemaal kiya ja sakata hai, yah shubh hai ki purushon ko pagadee pahanane aur mahilaon diy le. Anushthaan, Rajkumari aur saravasti maan ko samuchit shraddha rakhane ke lie yaad rakhen. Samraat vartamaan aur bhee raaja aur raanee hain. Mehamaan jo geet is anushthaan mein unamen se ek pratinidhitv ke roop mein seeng aur pavitr pashu ke sir ka upayog karega ke samay mein devee ke mangalaacharan mein madad milegee ko samajhao, kheton Rajkumari aur usake dil kee maujoodagee se pratinidhitv kar rahe hain, pool hamaare pavitr paanee hota hai aur mehamaan hamaare logon ka pratinidhitv kar rahe hain, prakaash devataon ke lie anurodh ka netrtv karenge. Jao aur is shabd ka prasaar, doolhe aur dulhan ke nimantran par mandir ke lie braajeeliyaee aur bhaarateeyon ko le aao. (Hoje, agora a meia noite, acontecerá o culto e ritual de adoração diante da lua para a mãe Saravasti, a Princesa fará invocação especial a mãe Saravasti pedindo bênçãos para nossos campos, nossos animais sagrados, nossas águas e para o nosso povo. Hoje é um dia auspicioso para se fazer pedidos relacionados ao coração. Todos devem vestir roupas brancas, beges ou amarelas, poucas e discretas joias podem ser usadas, é auspicioso que homens usem turbantes e que as mulheres levem a diya. Lembrem-se de manter a devida reverência ao ritual, a Princesa e a mãe Saravasti. Os Imperadores estarão presentes e também o Rei e a Rainha. Expliquem aos convidados que aqueles que ajudarão na invocação da deusa no momento da canção usarão chifres e cabeça de animais sagrados como uma representação deles neste ritual, os campos são representados pela presença da Princesa e por seu coração, a piscina contém a nossa água sagrada e os convidados são a representação do nosso povo, a luz conduzirá os pedidos aos deuses. Vão e espalhem a notícia, levem os brasileiros e os indianos ao templo a convite dos noivos.) – Amitabh pega o microfone e faz a explicação em todos os detalhes.
Antigamente era chamado de Saravasti um dos setes rios sagrados, adorado como um dos nossos muitos deuses.
Mais uma vez os principais termos que ser referem ao nosso status precisam ser alteradas, a palavra Princesa é trocada por Dulhana, assim como Rei e Rainha são trocadas para pais da noiva.
Observo tudo o que é falado e cada palavra me agrada, sigo rapidamente para o templo e vejo que o micro-ônibus dos meus amigos vem logo atrás.
Diya é a luz sagrada levada em uma lâmpada de barro, tipicamente indiana e tradicional durante cerimônias importantes, vejo que algumas mulheres as carregam enquanto caminham em direção ao templo.
Chego em poucos minutos e entro no templo com o máximo de discrição.
Procuro até encontrar os homens que dançarão no ritual, eles já estão preparando seus turbantes com chifres ou cabeça de animais escolhidos e preparado previamente, procuro na caixa e vejo apenas um chifre que simboliza um animal há muito tempo extinto, arrumo meu turbante prendendo a representação desse animal a ele.
Vejo que os homens estão fazendo pinturas em seus rostos e olhos, escolho a cor vermelha e pinto meus olhos, faço duas pequenas faixas brancas em minhas bochechas, logo depois fico escondido vigiando os homens e olhando a movimentação no salão reservado para esse cerimonial.
Meus sogros estão bem junto aos sacerdotes, vejo o Imperador de relance, ele já está com a coroa preparada para esse ritual, nela estão presas dois grandes e longos chifres para representar outro animal sagrado e poderoso, maan não está presente, quem acompanha o soberano são algumas de suas esposas hindus, além dos nobres do Império.
Temo a punição por ser descoberto, sei que o Imperador é capaz de me punir por desobedecer e ir ao local de oração, mas quero ver a minha Princesa neste momento especial, por isso resolvo arriscar, sei que valerá a pena.