Protegidos por nossos padrinhos, contemos nossas emoções, afinal o Príncipe sucessor do trono do Império não deve demonstrar fraqueza ou emoção. Quando percebem que estamos mais tranquilos, nossos amigos se distanciam com cuidado, deixando-nos sozinhos na pista de dança.
Os indianos parecem não compreender o que acaba de acontecer, conseguimos ouvir quando alguns tradutores ajudam explicando ao seu povo que se trata de uma homenagem, mas não dão maiores detalhes, creio que essa informação acabará se propagando.
Jagal é chamado e conduzido para perto do Soberano e logo os nobres e conselheiros os cercam, parecem conversar sobre algum assunto sério.
— Yah pyaar kee ek khoobasoorat ghoshana thee, mere pyaare. aapake paas ek shaadee aur bahut khushahaal jeevan hoga, kaee peedhiyaan is pyaar kee prashansa karengee. (Foi uma linda declaração de amor, minha querida. Vocês terão um casamento e uma vida muito feliz, muitas gerações haverão de louvar esse amor.) – a Imperatriz diz e sorri.
Estava tão distraída que nem percebi sua aproximação... Ela é fluente no português também?
— Haan, mainne har shabd ko samajha. Mainne Brazil mein kee gaee durlabh yaatraon par sandeh jatae bina Jagal se baat karane ke lie bhaasha seekhee, lekin yah sabase achchha hai ki ise gupt rakha jae, mere priy. (Sim, eu compreendi cada palavra. Aprendi o idioma para conversar com Jagal sem levantar suspeitas, nas raras visitas que fiz ao Brasil, mas é melhor manter segredo a respeito disso, minha querida.) – ela diz, respondendo a dúvida não verbalizada.
Vejo a Imperatriz com um belo sorriso no rosto, não sei como meus amigos não reconhecem a semelhança entre ela e Jagal.
Nossa conversa acaba sendo interrompida pela presença das servas da Soberana, requisitam a sua presença para resolver alguma questão importante e a levam para longe, então minhas amigas aproveitam a chance para se aproximarem.
— Gostei da sua decisão. Era o que eu esperava de você. – Michele diz
— Então finalmente conseguiu dizer que o amava? – Samara pergunta.
— Dizer que o amava? Foi a declaração de amor mais linda que já vi. – Iara diz.
— Não, espera. Aquela que o Eros fez para pedir a Weenny em namoro foi incrível. – Gislaine diz.
— Ok, tem razão. Se eu tivesse que escolher, seria impossível. – Marília pondera.
— E ver nosso deus chorando? – Mayara pergunta.
— Chorei junto, confesso. – Melissa diz.
— Quem não chorou? – Dani pergunta e todas concordam.
— Até chorando fica lindo e perfeito. – Vivian diz.
— Acho que você disse que o amava no momento certo, foi realmente lindo e tocante. – Carol diz e mais uma vez todas concordam.
Os padrinhos se aproximam para participar da nossa conversa.
— Querem lassi? Viciei nesse negócio, que delícia! Provei de todos os sabores. – Rafael diz, enquanto pega mais uma taça na bandeja que o garçom oferece.
— Weenny, qual é a relação dos Imperadores com o Eros? Eles têm estado tão perto de vocês nesses dias. – Claudio decide perguntar o que há tanto tempo todos eles querem saber.
— Alguma coisa de estranha tem nisso tudo. – Enzo diz.
— Imperadores seriam tão simpáticos e solícitos? – Guilherme pergunta.
— A maioria se afasta deles quando passam, não conversam com qualquer um, mas sentaram na mesa com vocês e com a gente, trouxeram presentes... Nada disso faz sentido. – Eduardo diz.
— Não somos famosos ou ricos o suficiente para estar ao lado de gente tão importante. – Igor diz.
— Morro de medo de morrer, tenho calafrios quando estou diante deles. – Leonardo diz e alguns riem, mas concordam.
— O que será que eles querem? – Vivian pergunta.
— Porque eles vão acabar exigindo algo em troca. – Eduardo diz.
— Todos dizem que esse Imperador é ruim, mau, duro e realmente parece ser, mas aqui parece simpático... – Filipe diz.
— Ele pode estar sendo político. - Victor diz.
— Todos nós podemos estar correndo risco, tenho medo. – Tatiane diz.
— Os Imperadores... – começo a dizer.
— Rajkumari? (Princesa?) – Salima pede a minha atenção, faço um sinal para permitir que venha até mim.
— Mahaaraanee ne apanee teesaree sari aur gahane kamare mein bhej die aur apane mahaaraanee se apane kapade badalane ke lie kaha. Raajakumaar ko bhee chetaavanee dee gaee thee. (A Imperatriz enviou o seu terceiro sari e as joias para o aposento e pede que vossa alteza mude suas roupas. O Principe também foi avisado.) – a serva diz.
— Haan, Salima, main abhee ja raha hoon. (Sim, Salima, vou agora mesmo.) – digo e ela faz sinal para as outras sudras.
— Com licença, preciso ir agora. – olho para os meus amigos e digo.
— Aonde você vai? – Gislaine pergunta.
— Trocar de sari mais uma vez, se quiserem vir comigo, serão bem-vindas. – respondo e saio apressada.
Volto ao aposento e fico maravilhada com a roupa que acabo de ganhar, ela ainda está no cabide, mas já consigo ver os detalhes.
As madrinhas se espalham pelo quarto e ajudam a separar as várias peças de joias, enquanto as sudras se dividem entre os cuidados comigo e com minhas vestes.
— Que pesado. Como você vai se manter em pé? – Vivian diz ao sentir o peso do sari.
— Não dá nem para se mover, isso é pura ostentação... – Samara diz.
— Ostentação, mas bem que se você pudesse e tivesse dinheiro, ia correndo mandar fazer um igualzinho. – Tatiane debocha e vê a amiga concordar e fazer um discreto movimento com os ombros.
Desta vez a minha preparação é um pouco mais demorada, Madhavi e Zaara tiram as joias com cuidado e me despem, as sudras cantam para atrair alegria e felicidade para o meu casamento.
Shiva e Rani me ajudam a vestir o novo choli e o sari, minha maquiagem é retocada, meus cabelos são mantidos presos em uma longa trança e recebem mais adornos.
As servas se dividem para colocar uma a uma das joias, que são bem grandes, vistosas e pesadas, incluem os anéis dos pés, tornozeleiras, cinto, colares, braceletes, pulseiras, anéis, brincos, adornos para a testa e cabeça, além do nath. Nimat faz questão de me ajudar com os sapatos.
Levanto e me olho no espelho, enquanto Rani aplica o itar em mim.
O novo sari é vermelho, todo bordado com fios de ouro e pedrarias, o conjunto todo é bem pesado.
— Mujhe sari do, main ise ek vishesh vyakti ko doonga. (Me deem o sari, vou entregá-lo a uma pessoa especial.) – digo e logo uma das servas me entrega um pacote.
— Este é o meu segundo sari de noiva, que representa as escolhas do coração, a amizade, os desafios, os sonhos realizados... – olho para as minhas amigas bailarinas e digo — A companhia de dança não me deu apenas novos motivos para sorrir e sonhar, mas o meu final feliz ao lado da família que meu coração escolheu.
Minhas amigas choram, me deixando ainda mais emocionada de lembrar de tudo o que vivemos juntas.
— Michele, quero que fique com esse sari, representando a nossa companhia de dança, que me fez trilhar os caminhos que levaram do desafio ao sonho... E do sonho para o mais importante compromisso da minha vida. – digo e o entrego em suas mãos trêmulas.
Todas as bailarinas se reúnem ao nosso redor e nos abraçam, Carol, Samara, Mayara, Melissa, Marília e Maria José se unem a nós.
Precisamos voltar para o salão de festas, então enxugamos as lágrimas, cubro o meu rosto com o pallu e seguimos para o salão de festas.
Avisto o meu Dulhan na outra extremidade do salão, sentado em uma chaise ao lado dos nobres e do Soberano. Ele está lindo como jamais havia visto, uma roupa digna de um rei ou do próprio Imperador.
De repente sinto um metal gelado em meu pescoço...
Jagadeesh Manohari (Eros Myron) POV:
Minha Weenny me surpreendeu com uma declaração de amor que expôs a preciosidade de seus sentimentos, e me levou às lagrimas ao revelar seu amor pela primeira vez... Nunca ninguém disse que me amava, mesmo que eu soubesse que o amor podia ser refletido através dos pequenos gestos, diante disso não pude dominar a minha emoção.
O Soberano faz questão de me convocar para uma pequena reunião com os nobres e os conselheiros, afinal a realeza aproveita esses momentos em que os representantes das principais províncias estão reunidos para discutir alianças e estratégias.
Algum tempo depois recebo um recado, sigo para os aposentos adjacente ao palácio de festas, onde as minhas vestes e joias reais estão preparadas. Visto a calça e a túnica na cor amarelo ouro, ambas com detalhes bordados nas extremidades, o ackan tem uma coloração vermelha devido aos seus bordados e pedrarias, as servas me ajudam com o colar, anéis e o cinto, pego o pagri, mas antes que eu o coloque a serva alerta:
— Raajakumaar, main mahaaraanee se ek sandesh laata hoon. vah is samay pagadee nahin pahanane ke lie aapakee mahaaraanee se poochhatee hai. (Principe, trago um recado da Imperatriz. Ela pede que Vossa Alteza não use o turbante nesse momento.)
Agradeço e a dispenso.
Pego minha espada e retorno ao salão de festas, certo de que minhas novas vestes hão de revelar quem sou, mas devo me submeter a vontade e exigência do Imperador.
Ouço o som das tornozeleiras da minha Princesa anunciando a sua chegada, mas tenho uma desagradável surpresa ao ver um guerreiro Rajput ameaçar a vida da minha esposa.
— Mukhar! Tumhaaree himmat kaise huee raanee ko chhoone kee? Ek dvandv mein mera saamana karo. (Insolente! Como ousa tocar na rainha? Me enfrente em um duelo.) – digo e parto em sua direção, desembainhando a minha espada e iniciando o duelo no meio do salão de festas.
O tilintar de nossas espadas sobressai entre os gritos desesperados dos convidados, alternamos golpes e esquivas, promovemos um embate colérico, em um impulso cruzado sou levado ao chão, sentindo a espada do meu oponente no meu pescoço, retomo o fôlego e lhe golpeio com ambos os pés em seu tórax, lançando-o a minha frente.
Meu adversário se ergue rapidamente e me ataca, medimos forças e alternamos os golpes usando não apenas nossas espadas, mas iniciando um duelo corpo a corpo.
Esse duelo está indo longe demais, já chega.
Avanço na direção do meu oponente e ele corre ao meu encontro, alternamos golpes de direita e de esquerda, defendendo e saltando para me esquivar de sua espada, o guerreiro consegue me atingir na perna com um chute e me leva ao chão, tenta me atingir na cabeça com a espada, mas eu impeço, resisto ao movimento com toda a força que tenho, enquanto tento me erguer, por fim consigo revidar o golpe atingindo-o nas costas e no braço, tingindo minha espada com seu sangue e enfurecendo-o ainda mais.
Travamos mais um árduo embate, o ataco com mais veemência agora, levando-o ao chão e pronto para atravessá-lo com a lâmina afiada, então reconhecendo sua derrota, ele se põe de joelhos a minha frente, seguro na empunhadura com ambas as mãos, ergo a minha espada e a desço em velocidade...
— Ise roko! Bas! Bas, Jagal.
Weenny Alves POV:
Assim que viram que eu estava sendo ameaçada, minhas sudras correram para tentar me defender, só se afastaram quando a Imperatriz se aproximou e me abraçou. Meus pais e os padrinhos também ficaram ao meu lado.
Foi um duelo demorado, que me deixou surpresa, confusa e orgulhosa, mas deixou os convidados perplexos e aterrorizados. Por muitas vezes meu Dulhan quase o atravessou com a espada, deixando muitas marcas no corpo do adversário.
No fim do duelo, Jagal lançou o oponente ao chão e sua espada quase atravessou o pescoço dele, meu Dulhan provou que é realmente um guerreiro.
Reconhecendo a derrota, o adversário se colocou de joelhos e cabeça baixa diante de Jagal, para ser decapitado, foi nesse momento que escutamos o barulho da espada em velocidade zunindo no ar...
— Ise roko! Bas! Bas, Jagal. (Pare! Pare! Já basta, Jagal.) – a voz imponente do Imperador é ouvida, então meu Dulhan lança sua espada no chão.
O guerreiro levanta e faz uma reverência diante de Jagadeesh.
Suspiro aliviada, observo as reações de todos à minha volta, há um misto de surpresa, confusão e curiosidade em suas expressões.
Jagal caminha em minha direção, aparenta estar agitado, resfolegando, mas não há sinais de ferimento.
— Você está bem? – perguntamos ao mesmo tempo.
— Estou. Você se machucou? Ele te feriu? Deixa-me ver... – digo e dou alguns passos em sua direção.
— O que me fere é vê-la em perigo. – ele diz.
— Você podia... – não consigo terminar a frase.
— Estou bem, sem nenhum ferimento, não quero que se preocupe. – Jagal diz.
A Imperatriz faz um sinal para mostrar que o Imperador pretende dizer algo, paramos de conversar e assumimos uma postura respeitosa.
— Rajkumar Jagadeesh, mere bete, aapane yahaan sabhee darabaariyon, raeeson, kaunsalaron, aur is saamraajy ke sainikon ke saamane saabit kiya hai, jo pooree sena ka sabase achchha saamana karane ke lie ek sachche Rajput yoddha hain. (Principe Jagadeesh, meu filho, você provou aqui diante de toda a corte, nobres, conselheiros e soldados deste império, que é um verdadeiro guerreiro Rajput, ao enfrentar aquele que era o melhor dentre todo o exército.) – nossa conversa é interrompida pelo Imperador.
Todos os nobres, reis, rainhas, príncipes, princesas, ministros, conselheiros e guerreiros se curvam para meu Dulhan, saudando-o pela demonstração de poder e força.
— Main is samay adaalat ke sabhee raeeson aur paraamarshadaataon kee upasthiti mein ek asaadhaaran sunavaee ka aahvaan karata hoon. Main Rajkumar Jagadeesh Manohari, aapakee patnee Raajakumaaree Weenny Singh aur mahaaraanee Hameeda Bakshi Begam kee upasthiti kee maang karata hoon, main ek bayaan doonga aur main aapako meree taraph se aadesh deta hoon. (Convoco neste momento uma audiência extraordinária na presença de todos os nobres e conselheiros da corte. Exijo a presença do Príncipe Jagadeesh Manohari, sua esposa a Princesa Weenny Singh e a Imperatriz Hameeda Bakshi Begum, farei um pronunciamento e ordeno que vocês estejam ao meu lado.)
— Ji, Dirrábana. (Sim, majestade.) – respondemos em uma só voz.