Capítulo 4
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O campo de batalha estava um caos.
Fuyuki, a Rainha de Askkadia, avançava sem hesitação. Saltou sobre os inimigos e, com uma aterrissagem brutal, destruiu não apenas soldados, mas também o solo sob seus pés.
Determinação flamejante em seus olhos, ela correu em linha reta, rompendo as fileiras dos exércitos inimigos como uma força imparável.
Seu alvo estava claro: os Reis de Gaia e Phrygia.
Ao mesmo tempo, Akechi movia-se de forma mais furtiva.
Correndo em meio à confusão, desviava dos inimigos com saltos e acrobacias rápidas, acertando golpes precisos — chutes, joelhadas e cortes certeiros — antes que os oponentes sequer percebessem sua presença.
Vestia seu traje de batalha: um grande chapéu samurai de palha, uma capa preta longa até os tornozelos e, por baixo, um colete azul reforçado, com detalhes marrons. Suas calças pretas eram presas por faixas nos tornozelos e botas firmes.
Passando como um vulto entre os soldados de Gaia e Phrygia, Akechi finalmente alcançou o exército de Tétis.
Os soldados de Tétis eram organizados. Vestiam quimonos azuis de mangas arregaçadas, exibindo braçadeiras de aço, e peitorais cinzentos sobre o torso. Cada um carregava uma pequena garrafa de cerâmica presa à cintura, contendo água para manipulação em combate.
Depois de eliminar rapidamente alguns soldados, Akechi afastou-se da linha de frente e procurou um lugar para se ocultar.
Sentou-se no chão, em meio aos destroços fumegantes, e começou a reunir o Gou ao seu redor.
Usando sua habilidade, disfarçou-se como uma simples labareda perdida entre as chamas da batalha.
Com sua mente conectada ao ambiente, Akechi expandiu a percepção do Gou, buscando um alvo especial no campo de batalha.
E então, o encontrou.
Seu corpo desapareceu no ar, usando sua técnica:
— Kieta!
Ele surgiu atrás de um homem imponente, preparando-se para um ataque letal.
Com um giro preciso, Akechi transformou seu pé em uma lâmina metálica afiada, mirando decapitá-lo em um único golpe.
Mas o inimigo não era um oponente qualquer.
Antes que Akechi o atingisse, o homem transformou seu corpo em água, tornando-se intangível.
Akechi passou direto, aterrissando e rolando para se recompor.
O adversário virou-se com um sorriso frio e arrogante.
— Eu lhe daria os parabéns pela coragem de tentar matar um Rei. — disse, seus olhos verdes brilhando. — Mas, com um Gou desses, era o mínimo que esperava!
Akechi estreitou os olhos, puxando sua katana da bainha.
— Cala a boca e lute!
Sua katana era única: lâmina vermelha como sangue, repleta de pequenos espinhos negros e runas azul-claro gravadas em sua superfície. O punho negro brilhava sob a luz irregular da batalha.
O homem sorriu com desdém, cravando o cajado no chão.
— Interessante o seu artefato. Vou guardá-lo depois que banhar este solo com o seu sangue!
— Quero ver tentar! — rosnou Akechi.
O Rei de Tétis — soberano da Nação da Água — assumiu sua postura de combate.
Era um homem negro de 1,78m, olhos verdes claros e cabelos ondulados, curtos e acinzentados. Usava uma jaqueta cinza fechada no centro, exibindo uma gravata branca e camisa preta por baixo. Em sua mão, segurava um cajado tortuoso, com a base arredondada.
Sem aviso, Akechi avançou.
Num salto veloz, girou no ar e desceu sua katana para cortar o Rei ao meio.
O Rei ergueu o cajado, envolto em uma camada espessa de gelo, formando uma espada improvisada. O golpe de Akechi colidiu contra a lâmina congelada.
As forças se chocaram.
A pressão do Gou de Gravidade que Akechi liberava era brutal, tentando esmagar o Rei contra o chão.
Mas o Rei, com frieza, fortificou seu cajado usando o Gou de Água e Gelo, resistindo.
Enquanto lutavam, uma voz misteriosa — feminina, debochada — ecoou na mente de Akechi:
— Humm... gostei desse aí. Dá pra brincar com ele um tempinho. Mas cuidado pra não virar o brinquedo, idiota.
Akechi cerrou os dentes, ignorando a provocação.
Distraído por um segundo, o Rei aproveitou.
Transformou seu corpo e sua espada em água pura, fazendo Akechi perder o equilíbrio e cair.
O Rei sorriu.
Transformou a água dispersa em três punhais de gelo e os lançou contra Akechi.
O primeiro Akechi desviou rolando para trás. O segundo, rebateu no reflexo. O terceiro quase o atingiu, mas ele conseguiu se esquivar por pouco.
— Está indo bem. — comentou o Rei, com sarcasmo.
Akechi firmou os pés no chão e respondeu com um olhar frio:
— Eu só estou começando.
O Rei de Tétis sorriu ainda mais largo.
— Hmph. Então venha me provar isso.
Jogando o último punhal no chão, ele o ignorou — pronto para o combate corpo a corpo.
Ambos correram um em direção ao outro.
Akechi ergueu sua katana, iniciando um corte lateral da esquerda para a direita.
O Rei recuou, mas era uma finta.
Com agilidade, Akechi inverteu o movimento e aplicou um ataque diagonal da direita para a esquerda.
O Rei desviou por pouco, e Akechi, sem perder o ritmo, abaixou sua katana e saltou, girando no ar para acertar um chute mortal.
O Rei defendeu o golpe, segurando a perna de Akechi e empurrando-o para longe.
Assim que aterrissou, o Rei manipulou rapidamente o solo, expandindo um punhal de gelo em direção ao ponto onde Akechi pousaria.
Sem alternativas, Akechi se desequilibrou para trás.
Uma estaca atingiu seu tornozelo esquerdo, fazendo-o cair.
O Rei, implacável, ergueu um cubo de água para esmagá-lo.
Mesmo ferido, Akechi reagiu. Revestiu as mãos com manoplas de terra, resistindo à pressão do cubo, e então reuniu todo o seu Gou. Com um chute, arremessou o cubo para longe e se impulsionou no ar, utilizando Gou de Vento.
O Rei moldou rapidamente o cubo em um escudo de gelo. A katana de Akechi colidiu com ele, mas, fortalecida por seu Gou de Metal, a lâmina começou a trincar a superfície congelada.
— Chama isso de “rápido”? — provocou o Rei.
— Chama isso de “escudo”? — rebateu Akechi, pressionando ainda mais a katana.
O Rei de Tétis franziu o cenho. O escudo se rompeu em estilhaços — o metal de Akechi, reforçado e mais pesado, prevaleceu sobre o gelo, que era inerentemente inferior à dureza e à prata do Gou de Metal. A lâmina se aproximava, e o Rei sentia o poder emanando dela. Quando a ponta chegou diante de seus olhos, uma camada de Gou de Vento surgiu à sua frente — veloz, firme e quase impenetrável.
Mas desistir não era uma opção.
Akechi tentou sugar o vento que protegia o inimigo, impedindo sua formação total. O Rei, no entanto, acelerou a expansão da camada, anulando o esforço de Akechi.
— Seu tolo — disse o Rei de Tétis.
Uma plataforma de terra ergueu-se sob os pés de Akechi, lançando-o girando para o alto. Mesmo no ar, ele continuava sugando o vento ao redor. Quando ficou de frente para as costas do Rei, fechou a boca — e cuspiu.
— DRAGÕES GÊMEOS!
Da sua boca, saiu uma esfera de fogo envolta por dois dragões flamejantes que se cruzavam em espiral. O ataque causou estrago imediato: o Rei estava envolvido por Gou de Vento, naturalmente vulnerável ao Fogo. A explosão deixou apenas fumaça.
Akechi caiu de frente, realizando giros no ar antes de pousar de joelhos no chão. Estranhou não sentir dor: seu tornozelo ferido estava completamente recuperado.
Virando-se para o Rei, murmurou com gratidão:
— Valeu...
— Não fale comigo — retrucou uma voz feminina e misteriosa em sua mente — a menos que me deixe entrar na luta.
— Para com isso!
A conversa mental cessou no instante em que a fumaça se dispersou. Uma redoma de água intensa expandiu-se violentamente, engolindo tudo ao redor. Akechi, pego de surpresa, começou a se afogar. Revestiu o corpo com uma fina camada de Gou azul, impedindo que o ar escapasse, e se forçou a analisar o ambiente.
Estava no centro da redoma.
Tentou sentir o Gou do Rei. Nada além da água. Nada além das ondas. Mas... o Gou do inimigo ainda estava ali, invisível, ao redor.
Foi então que Akechi compreendeu, chocado:
— Ele... ele se fundiu com a redoma?!
Como se tivesse sido ouvido, uma lâmina líquida formou-se e avançou contra seu rosto. Ele desviou por pouco. Outra veio em direção à sua costela — e, novamente, escapou por um triz.
Akechi recuou. Ergueu a katana de lado, com o punho próximo ao rosto, preparando-se para o próximo ataque. Mas, antes que pudesse completar a postura, sua mão esquerda foi violentamente empurrada por outra lâmina que atravessou sua defesa.
Desestabilizado, outra lâmina perfurou seu tornozelo direito e o ergueu. A terceira e mais cruel cravou-se em seu ombro direito, arremessando-o ao chão, que estremeceu com o impacto.
Fundido à redoma, o Rei observava com frieza. A camada de Gou de Akechi enfraquecia a cada golpe. A água invadia sua boca e narinas. Faltava pouco para a derrota.
Uma última lâmina começava a se formar.
Mas então, algo estranho chamou a atenção do Rei. O tornozelo esquerdo de Akechi... estava intacto. E, mesmo com o ombro dilacerado, ele ainda segurava sua katana — como se fosse parte de si.
— Interessante... — murmurou o Rei.
Akechi, embora gemendo e retorcendo-se, permanecia consciente. Mas o que veio a seguir ultrapassava qualquer limite.
Algo o manipulava. Por dentro. Não era vento. Nem gravidade. Era algo mais cruel.
Seu sangue.
Era o próprio sangue que o erguia. Que o fazia flutuar, girar no ar. À sua frente, o Rei de Tétis, com pele e cabelos queimados, aproximava-se com calma. A água curava suas feridas. Suas vestes, ainda intactas, protegidas por Gou criado especialmente para suportar batalhas de reis.
Separado da redoma, o Rei impediu que a água afogasse Akechi com uma esfera que envolvia sua cabeça, permitindo-lhe respirar.
Mas essa “empatia” vinha com um preço.
O sangue de Akechi misturava-se às águas. Sua camada de proteção havia sido destruída. A redoma azul tornava-se lentamente... uma redoma de sangue.
O Rei observava com frieza.
— Como pensei. Você não domina sangue. E sua katana... parece importante demais — seu olhar se endureceu. — Mais do que deveria.
— Urg... nghg... ghng — grunhiu Akechi, lutando para se mover.
— Bom, se não se importa, gostaria que confirmasse minha teoria — disse o Rei, unindo as palmas das mãos abertas.
Akechi apenas o encarou, confuso.
Então, o Rei começou a entrelaçar os dedos, lentamente, e declarou:
— Derramamento de Sangue.
O sangue de Akechi voltou para dentro de seu corpo. A água ficou limpa. E então... ele paralisou.
Sentiu o sangue correr no sentido oposto das veias. Estava sendo puxado. Seu corpo se retorcia. A pele empalidecia. O ar sumia. E o som cessava.
Só restava um som: o coração.
Bombeava. Mais rápido. Mais forte. A dor era insuportável. Cada batida era um castigo.
BOOM. BOOM. QUANDO... BOOM. BOOM. ISSO... BOOM... VAI... BOOM!
BOOOM! BOOOM! BOOOOM! BOOOOOM!
...
— ...An?
Seu coração ainda disparava, mas o sangue finalmente voltava às correntes. O Rei abriu os olhos verdes e frios para o corpo ferido de Akechi, agora flutuando como um peixe cansado em um mar cruel.
Com um movimento final, separou as mãos e as ergueu.
Não para cancelar.
Mas para concluir.
— Darai.
Todo o sangue de Akechi salta de seu corpo, separado em infinitas estacas que o atravessam por completo, excluindo apenas sua cabeça, braços e pernas.
Não como se isso estivesse perto de "Misericórdia".