Manchas do Passado: O Preço de sua Tolice

Capítulo 5

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Como

esperado, as estacas espirraram o sangue de Akechi pelas águas, sujando-as

novamente. À medida que flutuavam, formavam uma redoma de sangue. Calmamente, o

Rei de Tétis desceu Akechi até o chão, deixando-o de joelhos, ainda com a

esfera em sua cabeça. Finalmente livre do controle, Akechi começou a tombar

para frente, até que as estacas tocaram o chão, sustentando seu peso.

O

silêncio ecoava pelas águas tingidas de vermelho. Como se aguardasse algo, o

Rei de Tétis alternava seu olhar entre Akechi e a katana que ainda se agarrava

à mão do adversário. Cansado de esperar, decidiu ir direto ao ponto.

Levanta. Anda! — ordenou o Rei de Tétis.

Akechi

permaneceu em silêncio.

Não

havia como o Rei obter uma resposta — ao menos, não com palavras.

As

estacas começaram a retornar lentamente para dentro do corpo de Akechi,

restando apenas suas vestes inferiores. As superiores haviam sido destruídas,

revelando um corpo forte, coberto de pequenas cicatrizes. Algumas maiores

chamavam atenção, especialmente na mão direita e no peitoral.

Seus

órgãos começaram a se reconstruir. O coração voltou a bater. A pele, a se

refazer, absorvendo o sangue que retornava. Isso fez a transformação da redoma

de água em sangue desacelerar.

Por fim,

Akechi abriu os olhos, levantou-se e reposicionou a katana atrás das costas. Em

seguida, desfez a esfera do Rei com o básico de seu Gou de Água e refez sua

camada de Gou azul ao redor do corpo. Olhou diretamente para o Rei de Tétis,

com olhos enraivecidos e um silêncio intimidador, quase como se agisse por puro

instinto.

— Hmph.

Então você é o herdeiro do artefato da sua nação... Kalila? — disse o Rei de

Tétis.

Akechi

continuou em silêncio.

— Uma

pena... — prosseguiu o Rei, puxando a gravata e apontando para o símbolo branco

da sua nação, estampado em seu peitoral. — Está prestes a morrer por estar

aqui.

O

símbolo de Tétis — a Nação da Água —, originalmente azul, era representado

agora em branco: uma nascente em erupção, lançando uma coluna de água, com um

dragão envolto dela em espiral. O significado era claro: não importa onde

esteja — uma sala isolada, um deserto ou próximo a um vulcão — a água sempre

estará por perto. O dragão representava essa presença constante.

— Não

pensou na tolice que seria enfrentar um Rei e fazer Askkadia perder seu poder?

— provocou o Rei.

A

expressão enraivecida de Akechi transformou-se em um sorriso confiante e

seguro.

— Hmph.

E o que seria a minha tolice comparada à de quem acredita que pode derrotar

nossa Rainha?

O

semblante calmo do Rei rapidamente se distorceu em raiva.

— Tsk!

— Há!

Há, há, há! O que houve com o seu olhar arrogante? Desequilibrou-se? Assim como

minha Rainha, quando ultrapassou o nível de meros homens com rabiscos no peito?

Num

instante, o Rei de Tétis atraiu o corpo de Akechi, manipulando o sangue do

adversário. Levou-o direto na direção de uma imensa lança de água que se

aproximava rapidamente.

Adeus! — exclamou o Rei.

— Kieta!

— murmurou Akechi.

****

Ele

desapareceu.

A lança

dispersou-se na redoma. O Rei de Tétis, surpreso, mas mantendo a compostura,

analisava a habilidade recém-apresentada de Akechi. Procurava por vestígios de

seu Gou.

Camuflou seu Gou... — pensou.

Observando

que o sangue de Akechi ainda se desfazia na redoma, mas que não era suficiente

para mascarar o ambiente, o Rei atraiu o sangue para suas mãos, moldando uma

glaive de sangue com duas lâminas.

Utilizando

seu limitado conhecimento de Gou de Geolocalização, derivado do Gou de Terra,

tentou sentir as vibrações daqueles que tocavam o solo. Percebeu que Akechi não

estava em contato com a terra — provavelmente para continuar oculto.

Mais uma

vez, parecia que Akechi estava demorando séculos para agir, deixando o Rei de

Tétis impaciente.

— E

então??? — perguntou, irritado.

Quando

olhou para baixo, viu uma silhueta formar-se acima de si. Levantando os olhos

para a luz da lua cheia, encontrou Akechi flutuando, em postura meditativa,

entre os céus e os estrondos da guerra.

Num

piscar de olhos, Akechi desapareceu dos céus e voltou à batalha, correndo,

saltando e sobrevoando a redoma com velocidade sônica. De sua capa, na altura

da cintura, disparou inúmeros punhais, agora revestidos com eletricidade —

punhais de raio!

Com

velocidade superior à do som e uma maestria de combate impressionante, o Rei de

Tétis reagia a cada lâmina disparada: rebatia os golpes com sua glaive,

esquivava-se com saltos e piruetas de precisão absurda. Manipulando sua arma,

afastou a redoma de água de si, criando um vácuo no centro.

Dentro

deste vácuo, imbuiu sua glaive com Gou de Vento, aumentando sua velocidade e

precisão ao rebater os punhais de raio com o poder opressor e cortante de seu

Gou.

Assim,

toda a ofensiva de Akechi foi neutralizada. O Rei, respirando levemente devido

ao esforço, notou algo estranho: já não via as ondas e os reflexos da redoma.

Confuso,

olhou ao redor e percebeu que sua redoma havia sido praticamente destruída —

reduzida a resquícios no ar. Ao rebater os punhais de raio, sem querer, havia

lançado os golpes contra sua própria defesa. A velocidade e impacto do Gou de

Raio — o inimigo natural da água — haviam sido demais para sua redoma resistir.

— Ele...

— pensou, desacreditado.

Antes

que pudesse concluir o raciocínio, sentiu vibrações a alguns metros. Encontrou

Akechi, sentado atrás de uma grande pedra, ofegante após usar tamanha força

física e elemental.

— Ele...

ME ENGANOU!!!! — rugiu o Rei de Tétis.

O Rei de

Tétis segurou firmemente sua glaive e a lançou contra Akechi, com força

suficiente para atravessar a pedra.

AAAARRGHH! — gritou Akechi.

Sem

tempo de reação, seu ombro direito foi novamente perfurado pela glaive feita do

próprio sangue, que começou a se fundir ao dele, erguendo-o no ar. Akechi

lutava para controlar seu sangue, tentando se manter no chão, mas, incapaz de

resistir, foi erguido mais uma vez.

O Rei de

Tétis virou o corpo de Akechi, forçando-o a encará-lo. Observou suas expressões

de dor, os tremores incontroláveis e a resistência desesperada. Contudo,

ignorou tudo isso quando seus olhos recaíram sobre a katana na cintura de

Akechi — ainda embainhada, sem que soubesse o motivo. Escolheu ignorar esse

detalhe também.

Com uma

expressão enraivecida, passou a sustentar Akechi com a mão esquerda enquanto

preparava uma manopla de gelo na direita. Akechi, quase vencido pela luta

interna contra seu próprio sangue, se aproximava cada vez mais da derrota. O

Rei de Tétis estava decidido a não deixá-lo escapar.

Foi

então que uma parede de terra ergueu-se rapidamente entre o seu punho e o rosto

de Akechi. O Rei destruiu a barreira com facilidade, mas não a tempo de impedir

que Akechi se fundisse à terra e se escondesse no subsolo.

Frustrado,

moldou a manopla em água, tentando criar uma nova arma para substituir a

glaive. No entanto, uma estaca emergiu do chão e atravessou seu antebraço

direito, fazendo a água escorrer ao solo.

Aaaarrghhh!

Aproveitando

sua distração, mais estacas ergueram-se, perfurando seu tornozelo e seu abdômen

do lado direito.

UUURRGHHH!

Não

havia acabado. Uma onda de estacas avançava para destruir o que restava de seu

corpo. O Rei ergueu a mão e, em sua palma, formou uma esfera de vento.

Impulso Impiedoso!

A

propulsão do ataque destruiu as estacas e o lançou para longe. Rolou e quicou

diversas vezes no chão, até conseguir recuperar o equilíbrio com um mortal para

trás, aterrissando com firmeza. A tempo de ver Akechi preparar mais uma

investida.

Antes

mesmo de tocar o chão, o Rei acumulou ventos sob seus pés, pairando no ar com o

apoio apenas da perna esquerda. Quando o solo começou a vibrar para formar

novas estacas, ele levantou as mãos para trás, gerando esferas de vento em suas

palmas.

Impulso Impiedoso!

Disparou

novamente, voando para cima duas vezes mais rápido que antes. Olhando para

baixo, viu chamas gigantes se erguendo, formando uma árvore com galhos que se

dividiam ao redor dele. Seis formas destacaram-se dos galhos: falcões de fogo

velozes e incandescentes.

Falcões Solares! — bradou Akechi.

Com os

falcões em sua direção, o Rei de Tétis conjurou uma espada de água, girando

rapidamente em círculos. Da água, surgiram seis cavalos celestiais com asas

resplandecentes, montados por guerreiros com chapéus de samurai e longas

espadas, voando para interceptar os falcões.

Susanoo Kihei! — gritou.

A

cavalaria de água destruiu a árvore flamejante e seus falcões com facilidade,

extinguindo cada centelha de fogo. A água do Rei era sutil e ágil, claramente

superior ao Gou de Fogo.

A

cavalaria dissolveu-se em água comum, enquanto o Rei recuava, cercado agora por

uma esfera de raios, prevenindo novos ataques de terra.

Ele quer

que eu me cerque de vento para usar fogo contra mim? Pensou, franzindo a testa.

Mas isso não faz sentido!

Lançou

um olhar para a devastação ao seu redor, resultado da tentativa fracassada de

Akechi. Respirou fundo.

— Bom,

seja qual for o seu plano...

Uma

armadura de gelo negro com detalhes azuis cobriu seu corpo, brilhante e

resistente como o mais forte dos metais.

— Eu vou

vencer!

Descendo

lentamente, viu Akechi surgindo da fumaça. Mas algo o confundiu: Akechi vinha

de mãos limpas, a katana ainda embainhada. Corria em sua direção, mas mais

devagar que antes.

An...? — murmurou.

Deve ser

o cansaço. Supôs, vendo-o cambalear ligeiramente.

— Tsc...

vê se morre agora! — rosnou.

Criou

uma longa corrente elétrica ligada a uma lâmina afiada. Girando a corrente,

lançou um golpe diagonal que perfurou profundamente a costela esquerda de

Akechi, quase derrubando-o.

Mesmo

ferido, Akechi tentou se levantar. O Rei atacou novamente, desta vez com um

golpe horizontal, tentando partir o inimigo ao meio. Akechi, com esforço,

saltou para a direita e manteve-se em movimento.

O Rei

trocou a corrente para a mão esquerda, lançando outro ataque diagonal. A lâmina

perfurou a coxa direita de Akechi, derrubando-o. Mesmo assim, ele se arrastou

com o braço e a perna esquerda, até conseguir, com muito esforço, retomar a

corrida.

— Por

que não está se regenerando? Ou desaparecendo? — gritou o Rei, furioso. — Tá

achando que aguenta tudo isso, é?!

Girou a

corrente e lançou outro golpe lateral.

Akechi,

com dor intensa, apoiou-se na perna esquerda e saltou para frente, girando no

ar e desviando pela segunda vez. Ao aterrissar, continuou correndo, encarando o

Rei com uma determinação inabalável.

— Então,

isso é "tudo"?

A frase

simples despertou a fúria guardada no coração do Rei de Tétis. Ele puxou a

corrente de volta para a mão direita, girando-a cada vez mais rápido. A

corrente deslizou por seu braço, circulando-o incessantemente.

Viu

Akechi avançando, sem medo. Jogou o braço para trás, concentrando toda a sua

raiva no próximo ataque.

MOOOOOORRRRRREEEEEEE!!!!!

A lança

elétrica disparou como um raio, preenchendo toda a visão de Akechi, tornando

impossível escapar. Num instante brutal, atravessou sua garganta, encerrando o

embate com violência.

O Rei de

Tétis encarava a cena à sua frente.

A luta

havia terminado — ou parecia ter terminado — com sua corrente presa ao pescoço

de Akechi, jorrando sangue pelo chão e sobre o próprio corpo, fazendo-o cair de

joelhos.

Akechi

arfava, sua respiração irregular.

— Arh...

Err...

O Rei de

Tétis soltou um grunhido de satisfação.

— Hmpf,

finalmente!

Enrolou

sua corrente na mão, pronto para puxá-la com força. Mas então, viu Akechi

reunir as últimas forças para erguer sua mão trêmula, como se quisesse fazer

algo.

Intrigado,

o Rei inconscientemente decidiu esperar, observando.

Akechi,

com enorme esforço, levantou a mão e, com dificuldade, apontou primeiro para a

corrente... depois para si mesmo.

Confuso,

o Rei estreitou os olhos.

...Que? — pensou, tentando entender.

Recapitulou

mentalmente:

"Isso..." — olhou para a corrente. — "Eu..." — olhou para

si mesmo.

Enquanto

isso, Akechi, tremendo violentamente, ergueu o rosto, exibindo um sorriso

orgulhoso e um olhar de puro desdém.

E

então, o Rei entendeu.

Seus

olhos se arregalaram.

— NÃO

PODE SER!!!

Antes

que pudesse reagir, o corpo de Akechi desfez-se em pura eletricidade, correndo

pela corrente e voltando rapidamente para o próprio Rei.

O choque

elétrico percorreu a corrente até atingir a esfera metálica e, em seguida,

avançou diretamente para o corpo do Rei.

Apesar

da armadura amortecer parte do impacto, o Rei de Tétis gritou:

URRRGH!!!

A

eletricidade circulou rapidamente pela esfera, até alcançar a parte traseira

dela.

Lá, algo

aconteceu.

A esfera

começou a ser puxada violentamente para trás, como se uma força invisível a

estivesse arrastando.

Atordoado,

o Rei de Tétis olhou para trás.

E viu

Akechi de pé, empunhando um bastão de terra nas mãos.

O Rei

arregalou os olhos.

— Aquele

maldito era um clone!

Tentou

recuperar o controle da esfera, mas ainda instável pelo choque elétrico, e

enfrentando um dominador de raio mais habilidoso, não conseguiu.

Enquanto

isso, Akechi girava seu bastão com velocidade crescente, gerando uma rajada de

vento que começava a desfazer a esfera de raio lentamente.

Ao lado

dele, duas formas começaram a emergir do chão, moldando-se rapidamente em

braços de terra que o lançaram para o alto.

O corpo

verdadeiro de Akechi se revelou, fundindo-se à própria rajada de vento.

O Rei de

Tétis franziu o cenho.

— Ele

vai fazer o clone virar fogo? Não importa! Vou eliminá-lo antes!

Ignorando

o clone, concentrou-se no verdadeiro Akechi.

Ergueu o

braço esquerdo e dobrou o direito, ambos apontando para a frente. Começou a

concentrar o vento, formando uma grande flecha de energia à sua frente.

Esperava

dispará-la assim que a esfera de raio se dissipasse completamente.

Mas o

inesperado aconteceu.

Os

ventos de Akechi extinguiram a última faísca da esfera, e, no instante em que o

Rei estava prestes a disparar, Akechi alterou sua estratégia.

O que

era apenas vento... se tornou chamas ardentes e vermelhas.

O último

Gou que o Rei esperaria — e jamais imaginaria — que fosse usado naquele

momento.

A boca

do Rei se abriu em choque.

Akechi

disparou sua flecha flamejante, que reuniu todo o vento à frente e o

impulsionou numa velocidade absurda.

A flecha

acertou o centro da formação do Rei de Tétis, fazendo a rajada de vento

desacelerar e se dissipar no ar.

Descendo

lentamente até o chão, o Rei de Tétis olhava fixamente para a fumaça que a

flecha deixara.

Quando a

fumaça se dissipou completamente, ele esperava ver Akechi caído.

Mas,

para seu horror, o que viu foi o corpo de Akechi — de pé — feito de pedra.

— O

quê?! — exclamou, incrédulo.

O

"Akechi" de pedra sorriu.

E

então, murmurou:

...Pronta?

O Rei de

Tétis não entendeu.

— ...? —

franziu o cenho, desconfiado.

Instintivamente,

virou-se.

E então

viu: o verdadeiro Akechi, ainda fundido aos ventos, flutuando no ar, olhos

fechados, joelhos dobrados.

Agora,

com as mãos em sua katana, prestes a embainhá-la.

O plano

havia sido invertido.

O Rei de

Tétis havia executado o clone — não o verdadeiro Akechi.

— Esse

maldito era o—

Antes

que pudesse completar o pensamento, Akechi tomou o controle do restante dos

ventos e começou a rodear o Rei com uma tempestade de energia.

Preparava

seu golpe final.

Mas

antes... a pergunta precisava ser respondida.

Em um

lugar escuro, dominado por um terror silencioso e um cheiro sufocante de

sangue, algo se movia.

Nada

podia ser visto, até que uma chama surgiu na palma de uma silhueta feminina.

A luz

revelou apenas o contorno de seu corpo.

Então,

lentamente, ela abriu um sorriso macabro, que cresceu em seu rosto de forma

doentia.

Uma

risada tenebrosa ecoou pelo ambiente:

HAHAHAHAHAHAHAHAHA... Finalmente!

Seus

olhos, ao se abrirem, eram vermelho-carmesim, cercados por escuridão.

No mundo

real, os olhos de Akechi também se abriram.

Azuis,

vivos, mas agora rodeados por olhos negros.

E junto

dele, ecoou a voz:

— Kalila

no Batsu!

Ao

retirar a katana da bainha, que até então continha seu poder, Akechi revelou a

lâmina revestida em chamas azuis e intensas.

Ergueu-a

lentamente para trás, enquanto levantava a mão esquerda, com o indicador e o

médio estendidos.

As

emoções que dominaram o olhar do Rei de Tétis foram instantâneas:

Inacreditabilidade, surpresa, frustração, dúvida e medo.

Mesmo

com os ventos uivando, ele conseguia ver nitidamente o olhar que Akechi — ou

melhor, Akechi e Kalila — expressavam:

Ódio,

arrogância, desprezo, intimidação e displicência.

Nos

poucos segundos em que pôde vislumbrar aquelas pupilas e as chamas que se

tornavam de um roxo profundo, quase violeta, o Rei deveria ter considerado

aquilo uma misericórdia... antes de ouvir o grito vindo do fundo do inferno:

JIIINGOOKUUUU!!!! — rugiram Akechi e Kalila em uníssono.

Akechi

trouxe sua katana para frente como se fosse dar um golpe horizontal, mas, em

vez disso, saltou girando diversas vezes no ar, deixando rastros circulares de

fogo violeta atrás de si.

Sua

katana, apontada diretamente para o Rei de Tétis, parecia uma lança flamejante.

O Rei de

Tétis cruzou os antebraços protegidos por sua armadura diante do rosto,

preparando-se.

Porém...

nada aconteceu.

Ao

abaixar lentamente os braços, o Rei percebeu estar cercado por um círculo de

fogo.

Atrás

dele, viu Akechi aterrissar suavemente, a alguns metros de distância.

Ele

havia passado pelo seu corpo.

Provavelmente

utilizando sua técnica de teletransporte para completar o círculo de fogo, sem

perder tempo.

E provou

isso lançando uma rajada de fogo violeta em direção ao Rei de Tétis.

Rapidamente,

o Rei se virou contra a rajada e se abaixou, criando um elmo de gelo para se

proteger.

O elmo

resistiu — mas sua couraça não.

As

costas do Rei foram expostas, a armadura derretida facilmente pelo calor brutal

do ataque.

Enquanto

tentava se recompor, Akechi utilizou o impulso da própria rajada para dar um

enorme salto giratório no ar.

O Rei de

Tétis, ao se levantar, viu Akechi rodeado por um fogo tão intenso que parecia o

centro de um sol violeta, não uma mera lua cheia.

Se

muitos amavam magia, por que o Rei de Tétis seria diferente?

Descobrindo

isso da pior maneira.

Akechi

desceu com a katana apontada diretamente para a cabeça do Rei, levando todo o

círculo de chamas consigo.

O

impacto no chão foi devastador, um estrondo que abalou tudo ao redor — exceto

para Akechi, que pousou tranquilamente a alguns metros de costas para seu

inimigo.

O Rei de

Tétis, cercado por labaredas e destroços, revelou que havia usado uma

habilidade defensiva:

— Ni

Taishite.

Uma

película de proteção feita para resistir ao Gou escolhido pelo usuário.

No

seu caso, ele havia ativado:

— Hi Ni

Taishite.

Reduzindo

os danos causados pelas altíssimas temperaturas.

Ainda

assim, o esforço cobrava seu preço.

— Desse

jeito... eu vou desmaiar! — pensou o Rei de Tétis, lutando para se manter em

pé.

Akechi

então girou para atacá-lo novamente com um corte lateral da katana, lançando

novas labaredas violetas.

O Rei,

rápido, balançou os braços, manipulando a água ao redor para envolver as chamas

e apagá-las, transformando-as em lâminas de água que disparou contra Akechi.

A

resposta de Akechi, no entanto, foi completamente inesperada.

Com um

pequeno salto, girou no ar e envolveu-se em uma auréola de chamas vermelhas,

evaporando a primeira lâmina instantaneamente.

Continuou

a girar, criando múltiplas auréolas horizontais, laterais e diagonais,

evaporando as demais lâminas de água e formando uma esfera de fogo ao seu

redor.

Assim,

tornou-se uma verdadeira bala de canhão flamejante.

Lançou-se

contra o Rei de Tétis com a katana pronta para destruir tudo em seu caminho.

Desesperado,

o Rei conseguiu apenas erguer os braços para se proteger, imbuindo ainda mais

Gou na película.

Mas era

inútil.

Akechi —

ou o que havia se tornado — atravessou a defesa como um furacão.

Soldados

que estavam atrás do Rei foram atropelados sem chance de reação.

O Rei

lutava para manter sua película, mas ela craquelava, rachando em pedaços a cada

segundo.

URRGH... Arrgh! — grunhiu, tentando erguer a cabeça.

E então,

viu.

Akechi

não era mais apenas Akechi.

Seus

olhos haviam mudado:

As

pupilas tornaram-se finas.

O azul

deu lugar ao vermelho-carmesim, rodeado por escuridão.

Escamas

vermelhas de dragão cobriam parte de seu rosto.

Sua

mandíbula agora era quadrada e robusta.

Os

cabelos e sobrancelhas escurecidos tornaram-se vermelhos claros.

Suas

presas tornaram-se afiadas como a lâmina que carregava.

Suas

unhas brancas agora eram negras e pontiagudas.

E por

fim... sua voz mudou.

Uma voz

feminina, grossa e mais ameaçadora do que qualquer outra coisa que o Rei já

ouvira:

— TÁ

ACHANDO QUE VAI AGUENTAR O MEU INFERNO, É?!?!?! — rugiu Kalila, através de

Akechi.

O

sorriso macabro e temível estava de volta.

As

auréolas de chamas se fundiram na katana, transformando-a em uma montante

flamejante gigantesca.

O Rei de

Tétis, apavorado, gritou:

Urgh... QUE... Aggh... DEMÔNIO É VOCÊ?!?!?!

Mas não

havia mais tempo.

A

película se despedaçou em fragmentos brilhantes.

O ataque

atingiu-o em cheio.

Fumaça e

energia se espalharam pelo campo.

O Rei de

Tétis, numa última tentativa desesperada, transformou seu corpo em água,

escapando da destruição final.

Mas

mesmo intangível, algo o alcançou.

Uma

forma elétrica surgiu no seu estômago, contorcendo-se mesmo através da água.

A

inferioridade da água contra o raio foi sua sentença.

O Rei

vomitou a forma elétrica.

Ela

começou a se solidificar.

Diante

dos olhos incrédulos do Rei, a figura tomou forma.

Era

Kalila.

Usando o

corpo forte de Akechi, ela havia aumentado a musculatura, elevando a altura

para 1,70 metros, afinando a cintura e fortalecendo sua presença de maneira

aterradora.

Kalila

olhou para o Rei de Tétis, segurando sua katana apontada para o chão, animada

para responder à pergunta desesperada dele.

Com um

sorriso sinistro, falou:

— Eu

sou...

Kalila

passou sua katana diante dos olhos do Rei, que, mesmo intangível, paralisou

diante da pressão insuportável.

Então,

sem aviso, ela arremessou a katana para o céu com força monstruosa, fazendo a

lâmina girar velozmente até desaparecer no brilho do luar.

Após o

lançamento, Kalila girou graciosamente no ar e pousou, dobrando os joelhos de

frente para o Rei.

Mas não

era uma reverência.

Era uma

sentença.

Ela

colocou as mãos para trás e concentrou sua energia desconhecida nas palmas,

fazendo eletricidade pura percorrer todo o seu corpo.

Uma aura

escarlate, sombria e absolutamente incomum explodiu ao seu redor.

Estava

na hora do Rei de Tétis entender o que um trovão é capaz de causar no mar.

E,

longe de ser mal-educada, ela respondeu a pergunta.

Gritando:

KAAALLLIIIILLLLLAAAAAA!!!!!!!

Num

piscar de olhos, seu sangue fluiu sobre seus antebraços, transformando-se em

lâminas de energia que revestiram metade de seus braços, brilhando intensamente

com a eletricidade acumulada.

Com

brutalidade, Kalila cravou as lâminas diretamente no abdômen do Rei de Tétis.

E, num

movimento em zigue-zague, ela disparou para os céus, levando o Rei consigo.

Ambos

subiam a uma velocidade insana, guiados pela luz violenta da aura de Kalila.

Desesperado

e enraivecido, o Rei tentou agarrar os braços de Kalila para arrancá-los, mas

viu — horrorizado — a transformação se desfazer.

As

escamas desapareceram.

Os olhos

voltaram ao azul.

A aura

escarlate deu lugar ao brilho azul de Gou.

Era

Akechi de volta.

O Rei de

Tétis arfava, fraco.

Arrghh... Urghh...

Akechi,

agora em pleno domínio da situação, falou em tom calmo, quase cruel:

— Sabe,

é difícil conseguir dominar muitos Gous... e manter o equilíbrio entre eles.

O Rei de

Tétis apenas rosnou, sangue escorrendo pela boca.

— Urg...

GRR...

Akechi

continuou:

— Mas eu

tive sorte. Cresci rodeado de mestres excelentes. E como você ama Água e

Vento...

Eles

então pararam de subir, começando a planar suavemente ao lado da katana de

Akechi, que agora começava sua queda lenta.

As

lâminas de energia nos braços de Akechi se desfizeram.

Ele

retirou as mãos do corpo do Rei e segurou o punho da katana flutuante.

Com um

sorriso frio, murmurou:

— Hi to

Kaminari...

No

mesmo instante, os sigilos da katana se transformaram em novos símbolos,

brilhando em vermelho e azul:

火と雷

(Fogo e Trovão)

Mas, em

um piscar de olhos, todos os sigilos brilharam em um tom violeta intenso.

A aura

explodiu em um poder absurdo.

Akechi

girou no ar e, com um golpe lateral devastador, desferiu seu ataque final.

Sua

katana, agora envolta em chamas e raios violetas em espiral, cortou o tórax do

Rei de Tétis.

O Rei

gritou em agonia, enquanto sentia seu corpo sendo consumido pela fusão insana

de fogo e trovão.

Com seus

olhos ardendo em violeta, Akechi e Kalila, juntos, gritaram:

TEMPESTADE FLAMEJANTE!!!!!!!!!!

O golpe

reverberou pelo céu, pela terra, pelos corações de todos que ainda lutavam

abaixo.

Era a

fúria combinada de dois seres imparáveis.

E o Rei de Tétis... finalmente conhecia o verdadeiro terror.