Manchas do Passado: Até logo

Capítulo 6

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Gigante?

Enorme? Colossal?

Difícil

encontrar palavras que definissem o buraco sem fim nas terras devastadas,

cercado por labaredas roxas inapagáveis, causado pelo estrondo impiedoso que

Akechi e Kalila provocaram contra o Rei de Tétis.

No

interior do buraco, Akechi estava de joelhos, apoiando seu antebraço esquerdo

na coxa e segurando sua katana com a mão direita.

Ofegava,

cansado, sem as características de Kalila ou as chamas e raios que rodeavam sua

lâmina momentos antes.

Com seus

olhos brancos e azuis, observava o centro da cratera, onde o Rei de Tétis jazia

entre destroços e fumaça densa, aparentemente derrotado.

Akechi

inspirou profundamente, acalmando sua respiração.

...Kieta! — murmurou.

E

desapareceu do buraco.

Reaparecendo

na borda, em pé, observou pacientemente enquanto a fumaça ao redor do Rei de

Tétis se dispersava.

Utilizando

seu Gou, Akechi confirmou: o fluxo de energia ciano indicava que o inimigo

estava vivo, deitado, inconsciente... mas vivo.

Lentamente,

através da visão do Gou, Akechi viu o impossível.

O Rei de

Tétis se sentava no chão, tremendo, mas resistindo.

— Como é

que...?! — pensou, incrédulo.

Respondendo

seu pensamento, o Rei abandonou a fumaça do buraco.

Ferido,

mas não tanto quanto deveria.

E o

motivo tornava-se claro.

Uma

armadura revestia seu tronco, focada no tórax — exatamente onde Akechi havia

concentrado o ataque.

Era

vermelha, escura, pulsante.

Uma

Armadura de Sangue.

Akechi

estremeceu.

— Mas...

que porra é essa?!?!?!

O

silêncio dominou sua mente, até Kalila responder:

— Ele

usou nosso sangue!

— O

QUÊ?!?!?!

— Quando

você tirou suas mãos dele, achou que tinha absorvido suas lâminas. Mas ele

roubou o sangue enquanto você se distraía pegando a katana. Transformou-o em

uma armadura improvisada.

— Como

ele aguentou nosso sangue no corpo?!

— Ele

não aguentou. Expeliu o máximo que pôde para formar essa "proteção"

nojenta.

— E ela

aguentou por quê?!

— O que

mais, além de Eu, aguentaria Eu?! — expressou Kalila, indignada.

Enquanto

Akechi pensava, o Rei de Tétis avançava lentamente.

Apesar

da postura arrogante, seus movimentos denunciavam o cansaço, a dor e a

lentidão.

Enquanto

restaurava parcialmente seu tórax com Gou, se aproximava da rampa onde Akechi o

esperava.

O Rei

pensava:

Subestimei esse garoto... — olhou para Akechi, ainda pasmo. — Mesmo abaixo de

um Rei, seu Gou era imenso. Herdeiro de um artefato... e ainda assim o vi como

um mero espadachim.

Após

regenerar-se e estancar o sangramento, o Rei de Tétis parou de subir.

Observou

a cicatriz brutal que atravessava lateralmente seu tórax — uma lembrança

dolorosa do inferno que enfrentara.

Ele

lançou um olhar agressivo para Akechi.

Recebeu

de volta um olhar firme e ansioso.

— Se

você quer que eu o veja como um desafio... assim será!

Era

o último pensamento antes do confronto final.

****

Akechi

saltou para o interior do buraco com um mortal frontal.

No meio

do salto, disparou uma bola de fogo de seus pés em direção ao Rei.

Ao

pousar, manteve a katana baixa, atrás das costas, descendo rapidamente em

direção ao oponente.

Como

contra-medida, o Rei de Tétis manipulou a bola de fogo, desviando-a para a

esquerda junto com seu corpo.

Revestiu

a chama com água, extinguindo-a, e moldou uma lâmina de água acima da cabeça,

curvada como uma guilhotina.

A lâmina

voou em direção a Akechi.

Akechi,

rápido, caiu de joelhos e deslizou pelas paredes inclinadas do buraco,

impulsionado por Gou de Vento, desviando da lâmina no último segundo.

Ainda

descendo, girou o corpo para manter o controle da queda — e, num piscar de

olhos, desapareceu.

Quando o

Rei de Tétis procurava seu paradeiro, Akechi reapareceu à sua frente,

desferindo um chute frontal no tórax do inimigo.

O

impacto lançou o Rei vários metros para trás.

Sem dar

tempo, Akechi girou no ar e aplicou um chute lateral no rosto do Rei, fazendo-o

rolar desajeitadamente em direção ao centro do buraco.

Akechi

também perdeu um pouco o equilíbrio e começou a deslizar pelas paredes.

Porém,

diferente do Rei, mantinha certo controle.

No meio

da rolagem, Akechi agarrou um pedaço do solo e o lançou contra o oponente.

O Rei,

atento, percebeu o movimento mesmo rolando.

Girando

o corpo, desferiu um gancho de esquerda no ar, manipulando a terra.

O

pedregulho lançado virou uma parede de terra, bloqueando a visão de Akechi.

O Rei

continuou o movimento, erguendo outra parede atrás de si para parar a rolagem.

Ao se

levantar, correu em direção à parede que ergueu, esperando que Akechi fizesse o

mesmo.

E estava

certo.

Akechi

avançou rapidamente, destruindo a parede com um corte diagonal da katana.

Usou o

próprio impulso para saltar da parede destruída em direção ao Rei, pronto para

atacar.

O Rei

esperou até o último segundo.

Segurou

o antebraço de Akechi, interrompendo o ataque, e contra-atacou com uma joelhada

violenta no estômago.

Imobilizando

o braço de Akechi, ele iniciou uma sequência brutal:

Um soco

no rosto; Um soco no tórax; Outro soco no rosto; E, por fim, um chute frontal

que lançou Akechi metros para longe, caído no chão.

Akechi,

ainda caído no chão, grunhiu:

Urgh... uh...

O Rei de

Tétis cruzou os braços e zombou:

— Parece

cansado...

O

insulto atingiu Akechi como uma faísca na pólvora.

Enraivecido,

ele correu em direção ao Rei, realizando a mesma finta do início da batalha: um

ataque lateral da esquerda para a direita.

Em

seguida, saltou girando para a esquerda e desferiu um chute frontal de direita.

O Rei de

Tétis, no entanto, manteve-se parado até o último instante.

Com um

gesto, ergueu mais uma parede de terra entre eles, fazendo com que Akechi

acertasse a parede, e não seu corpo.

Akechi

aterrissou no chão, encarando a parede por alguns segundos.

Antes

que pudesse destruí-la, foi surpreendido: a parede moveu-se sozinha e acertou

um soco no centro de seu rosto.

Atordoado,

Akechi se afastou, mas a parede avançou rapidamente, desferindo uma sequência

de socos — o Rei de Tétis havia se fundido a ela!

Akechi

reagiu quase instintivamente.

Os

ataques da parede se assemelhavam muito aos movimentos de um Ren Zhuang, usado

em seus treinos, e sua memória muscular respondeu imediatamente.

Enquanto

deixava sua katana flutuando próxima às costas com o Gou de Vento, Akechi

bloqueava socos com os antebraços, rebatia golpes com cotoveladas rápidas e

usava as mãos para contra-atacar.

Era uma

batalha frenética: socos no rosto, tórax, costelas, abdômen — cada golpe

trocado ou defendido com precisão quase mecânica.

Em um

movimento decisivo, após bloquear um golpe da direita, Akechi virou seu corpo,

agarrou a katana e desferiu um ataque lateral contra a parede.

Sua

lâmina cortou o barro, e também o Rei de Tétis escondido nela.

Mas algo

estava errado.

Sua mão

e sua katana começaram a afundar na parede, como se ela se tornasse lama, mas

mantendo seu peso.

Foi

então que ouviu a voz do Rei de Tétis ecoando pela estrutura:

— Ryusa!

De

repente, tudo ao redor de Akechi se transformou em uma intensa e poderosa areia

movediça.

Ele foi

arrastado furiosamente para o centro do buraco.

Sentiu

seu corpo tornar-se mais pesado, seus movimentos mais lentos.

Tentou

pensar numa forma de escapar, mas então viu, a alguns metros à frente, uma

figura se erguendo da lama.

Era o

Rei de Tétis.

Postura

imponente, olhar superior.

— Pensei

que fosse melhor no corpo a corpo. — disse ele, com desdém.

Akechi

respondeu, irritado:

— Aquele

que só usa armas brancas e Gou?

O Rei

sorriu.

Verdade. Isso deixou claro que não sou o melhor em artes marciais. — então

completou, em tom provocativo: — Se interessa em usar só isso?

— Ann?!

— Akechi franziu o cenho, desconfiado.

— Meu

Gou está quase na metade. O seu, acabando, não é? E você evita usar aquela

energia desde o começo... — provocou o Rei. — Vamos terminar isso no corpo a

corpo, como verdadeiros guerreiros.

Akechi o

encarou, raiva e dúvida no olhar.

O

silêncio entre eles era quase palpável.

Pela

primeira vez na batalha, os olhares se inverteram:

O Rei de

Tétis agora expressava arrogância, desprezo, intimidação, displicência e ódio.

Akechi,

por outro lado, carregava frustração, dúvida, medo, ansiedade... e

determinação.

Por fim,

Akechi murmurou:

— Tudo

bem.

A areia

movediça cessou lentamente, solidificando-se no chão.

Assim

que pisou no solo firme, Akechi virou sua katana e a embainhou.

No

momento em que a lâmina desapareceu na bainha, ouviu Kalila gritar furiosa em

sua mente:

— PORRA,

É SÉRIO QUE VOCÊ VAI FAZER ISSO?!?! É ÓBVIO QUE VOCÊ TÁ ENTRANDO NO JOGO DELE,

PORRA!!!!!!

Akechi

respondeu com calma:

— Eu

sei. E vou fazer com que vire meu. Assim como fiz com todos, nessa luta.

— Então,

que se foda! Morre! — rosnou Kalila.

— Até

logo. — respondeu Akechi, encerrando a comunicação ao selar a katana.

Enquanto

isso, o Rei de Tétis discretamente observava ao redor e percebia algo crucial

faltando.

Seu

olhar endureceu.

Merda... — pensou. — Na?!?!

Inesperadamente,

Akechi lançou uma grande bola de fogo com um chute.

Com bons

reflexos, o Rei de Tétis abaixou-se para trás, deixando a bola passar sobre

ele.

Ergueu

a mão e, com um movimento rápido, dividiu a bola de fogo em vários pedaços,

dissipando-os para os céus.

Ao se

levantar, o Rei sorriu genuinamente.

— Quanta

hipocrisia...

No mesmo

instante, sua Armadura de Sangue começou a se desmanchar, caindo no chão.

Ele

permanecia apenas com as roupas inferiores.

No lugar

do antigo símbolo de Tétis, uma enorme cicatriz atravessava seu peitoral.

Akechi,

firme, declarou:

— Eu sou

um espadachim. Não sou nada sem minha honra! Isso foi para ver o quanto você

manteria a sua.

O Rei de

Tétis sorriu.

— Então

venha conhecê-la!

Ambos

assumiram posturas de combate.

O Rei

rugiu:

— Passou

da hora das ondas da minha honra apagarem as chamas da sua!

Sem

hesitar, Akechi correu para o ataque.

— ENTÃO

FAÇA ISSO, ANTES QUE EU QUEIME SUA MATRACA!!!!!

****

1 minuto

e 50 segundos para 2 minutos.

Começou

uma luta puramente física.

Trocação

brutal de socos, chutes, rasteiras, ganchos, joelhadas — tudo sem Gou, apenas

corpo contra corpo.

Akechi

lutava com unhas e dentes.

Com

tantas sequências de chutes e saltos que mal tocava o chão, ignorava

completamente o cansaço, concentrado apenas em vencer.

Enquanto

trocavam golpes, Akechi pensava:

— Lhe

dei a vantagem de guardar a Kalila... mas minha vantagem ainda é maior nesse

tipo de luta!

— Seria

meu sangue? Não... Não sinto Gou. Então o que ele quer?

O

Rei de Tétis, bloqueando um chute, zombou:

— Você

adora dançar com essas pernas, não é?!

Akechi,

cerrando os dentes, pensava:

— Eu vou

vencer esse maldito!

As

palavras ecoavam em sua mente:

"Você

não vai morrer, eu não vou deixar!"

Akechi

gritou em pensamento:

— EU

PRECISO VENCER!!!!

****

1 minuto

e 20 segundos para 2 minutos.

Enquanto

isso, o Rei de Tétis também lutava com metade de seu conhecimento em taijutsu.

Sabia

que qualquer erro custaria caro.

Refletiu:

— Está

mais rápido do que antes... seria o medo da morte correndo em suas veias? Mesmo

ao lado daquele demônio maldito?

Eles

pararam por um breve momento, apenas para recuperar o fôlego.

Se

encararam.

Ambos

esperando quem atacaria primeiro.

O Rei

pensava:

— Só

preciso aguentar mais um pouco...

Foi

então que Akechi rompeu o silêncio:

— Devia

entrar pro meu dojô!

O Rei de

Tétis riu, sincero, apesar da tensão:

— Me

recuso a ir no período infantil! Seria muito cruel causar pesadelos com o

mestre morto!

 

56

segundos para 2 minutos

O Rei de

Tétis, ofegante mas firme, declarou:

— Não

importa o quanto eu sangre, quantas cicatrizes eu ganhe... vou te deixar morto

no chão! Não vai se levantar dessa vez.

Como

esperado, Akechi foi o primeiro a retomar o combate.

Principalmente

depois de ouvir o futuro que o Rei prometia construir, dando seu sangue em

troca de força.

Akechi

pensava, focado:

— Não tô

conseguindo desequilibrá-lo como antes... é ele quem está controlando isso! Se

acalma... mantém o foco... respira...

Preparado

para reagir a um chute lateral, o Rei foi surpreendido quando Akechi mudou de

plano — acertando-lhe um soco de esquerda no rosto.

Num

piscar de olhos, Akechi transformou todo seu corpo em uma arma letal.

Suas

sequências de chutes e saltos agora se combinavam com socos, cotoveladas e

joelhadas numa velocidade absurda.

Ele

atacava sem freio, aproveitando cada pequena abertura do Rei de Tétis.

E, em

momentos estratégicos, esperava o avanço do inimigo para contra-atacar

instantaneamente, como uma armadilha viva.

****

27

segundos para 2 minutos

O Rei de

Tétis pensava, enquanto tentava resistir:

— Esse

cara tem uma força sobre-humana... e nem está usando o maldito demônio!

Os

golpes de Akechi começavam a causar hematomas por todo o seu corpo.

Ao

comparar os danos, o Rei percebeu que causara apenas metade dos ferimentos que

havia recebido.

Seus

olhos pousaram nas inúmeras cicatrizes que marcavam o corpo de Akechi.

E, mesmo

em meio à batalha, se perguntou:

— O que

esse moleque sofreu para ficar desse jeito...?

A

distração lhe custou caro.

Recebeu

um chute frontal violento no abdômen, que o lançou ao chão a vários metros de

distância.

Ainda

caído, o Rei murmurou, resignado:

Talvez tenha valido a pena...

****

16

segundos para 2 minutos

Determinado

a encerrar a luta, Akechi montou sobre o Rei de Tétis, desferindo uma enxurrada

brutal de socos e cotoveladas.

O Rei

tentou bloquear, tentou se esquivar, mas era inútil.

Akechi

anulava todos seus movimentos com força e precisão.

Como um

aviso final para que desistisse, Akechi aplicou uma cabeçada.

Ambos

ficaram tontos, quase inconscientes — mas ainda de pé.

***

5

segundos para 2 minutos

Um olho

inchado. Outro, vermelho e fechado. Nariz quebrado. Boca sangrando.

E,

contra todas as expectativas, o Rei de Tétis sorriu.

Um

sorriso meigo, sincero, no rosto do derrotado.

O

sorriso fez o sangue de Akechi ferver.

Coberto

pelo sangue do inimigo, rangendo os dentes, ele concentrou todo o seu ódio em

seu punho.

Antes de

terminar, rugiu:

— QUAL É

A GRAÇA?!?!?!

*****

0

segundos... 2 minutos

Tão

focado, determinado e decidido a dar o golpe final...

Algo

desviou a atenção de Akechi.

Não foi

um comentário de Kalila.

Não foi

um movimento do Rei.

Foi algo

simples.

Uma

gota.

Uma gota

de chuva.

Confuso,

Akechi observou a gota secar em sua mão.

Como

se ela nem devesse estar ali.

Hehe... — riu o Rei de Tétis, fraco.

Akechi

ignorou a gota e voltou seu olhar frio para o Rei.

Este,

com esforço, abriu seu olho direito e respondeu:

— Olhe

você mesmo!

Num

movimento súbito, o Rei encheu as bochechas e cuspiu uma pequena lâmina de

sangue.

Akechi

desviou para a esquerda, evitando o golpe.

Então...

Uma

garoa intensa começou a cair sobre eles.

Rapidamente,

transformou-se numa chuva forte e convectiva.

Akechi

observava, atônito.

— O que

é isso...? Não havia nuvens esse tempo todo... NA?!?!

De

repente, uma estaca de água caiu em sua direção.

Ele

desviou desesperadamente — e uma sequência de estacas começou a chover sobre

ele.

Enquanto

Akechi lutava para se esquivar, o Rei de Tétis se erguia lentamente.

De pé,

imóvel, esperou uma estaca de água cair sobre si.

Quando

veio, ele a segurou facilmente.

E, num

gesto impressionante, absorveu a estaca dentro do corpo, começando a recuperar

seus ferimentos.

Com as

mãos nos bolsos e o olhar baixo, ele caminhava calmamente em direção a Akechi.

A chuva

castigava o campo.

Akechi,

agora parado e ofegante, viu o inimigo se aproximar, absorvendo cada estaca que

caía.

O Rei

ergueu o rosto, e o olhar de superioridade, o sorriso maléfico, retornaram.

Com uma

"humildade" cruel, agradeceu:

— Não

sabe o quanto me deixou feliz com aquela bola de fogo!!!

Akechi

franziu o cenho:

Minha bola de fogo...?

O Rei de

Tétis sorriu largamente.

— Vou

dar uma breve aula de física!

Levantou

as mãos de costas, cruzando os dedos, deixando apenas os indicadores erguidos:

o Selo do Cavalo.

Em

seguida, mudou a formação: cruzando indicadores e médios, deixando os anelares

e mínimos erguidos e juntos: o Selo do Pássaro.

Com

esses dois selos, lâminas de água e trovões começaram a cair violentamente

sobre Akechi.

Ele

desviava com dificuldade, mal conseguindo acompanhar a velocidade dos ataques.

Enquanto

isso, o Rei explicava, com a voz carregada de triunfo:

— Quando

você aceitou meu acordo, eu queria juntar todas as labaredas que vocês causaram

e levá-las para os céus, disfarçando como precaução!

Aumentou

o tom:

— MAS

FIQUEI FURIOSO QUANDO PERCEBI QUE AS APAGUEI COM A LAMA...

E então,

gritou:

— ATÉ

QUE VOCÊ TEVE A MESMA IDEIA QUE EU, E O MEU PLANO PÔDE CONTINUAR!!!!!!

As

estacas de água começaram a se liquidificar exatamente na área visada pelos

trovões.

Não

bastava atingir Akechi — a água eletrificada também explodiria ao tocar o chão,

forçando-o a ser atingido de todos os lados.

Aos

poucos, o plano do Rei de Tétis estava funcionando.

— Uma

chuva de abrangência acontece quando há movimentação do ar! Quando o ar frio

desce...!!! — explicou o Rei, enquanto acertava raspando um raio no ombro de

Akechi.

— ...E o

ar quente sobe!!!

Com o

controle das águas acumuladas no solo, o Rei moldou um gigantesco

tubarão-martelo e o lançou contra Akechi, arremessando-o com brutalidade contra

o chão.

— O ar

carrega toda a umidade para iniciar a condensação, e depois, a precipitação da

chuva!!!

Akechi,

tentando resistir, usou o Kieta, transformando seu corpo em pura eletricidade

para enfrentar a água e anular os trovões.

Mas os

trovões começaram a cair incessantemente sobre ele, pressionando sua energia

como se estivesse sendo sobrecarregado por uma bateria infinita.

GRRR!!! — rugiu Akechi.

A duras

penas, resistia — graças à regeneração de Kalila —, mas a dor era avassaladora.

Enquanto

isso, o Rei se aproximava lentamente.

— Mesmo

sendo precipitada, eu precisava de pelo menos dois minutos para a tempestade

começar! — gritou. — Então, decidi ser seu saco de pancadas, irritá-lo, fazer

você esquecer o tempo... E VOCÊ NEM PERCEBEU A TEMPESTADE CRESCENDO SOBRE SUA

CABEÇA!!!!

Akechi,

ajoelhado, sentia seu corpo retornar ao estado de carne e osso.

Os

relâmpagos cessaram, mas ele ficou ali, ferido, queimado e ensanguentado.

O Rei,

triunfante, continuou:

— Você

nem reparou que aumentei as chamas para que elas subissem!!! Teria demorado

muito mais se deixasse as labaredas pequenas!!! HAHAHA!!! Achei que seria

engraçado ver você tentando encontrar onde eu havia "traído" nossa

honra!!!

Akechi,

trêmulo, mal se mantinha de pé.

Vendo

isso, o Rei ergueu o braço e lançou pequenas ondas de água que arrastaram

Akechi para longe, regenerando parcialmente seus ferimentos.

— Não se

preocupe... Você não vai morrer ainda.

Mesmo

assim, o Rei via algo inexplicável.

Akechi,

em completo estado de exaustão, lutava para não cair.

Tremores

percorriam suas pernas.

O Rei

riu, quase confuso:

Hahaha, ainda quer ficar de pé?

Akechi

ergueu lentamente a cabeça.

Seus

cabelos soltos e encharcados ocultavam parte do rosto.

Inspirava

e expirava em ritmo pesado.

Inspirando...

expirando... quantas vezes fosse preciso.

Então

abaixou levemente a cabeça e encarou o Rei com olhos que expressavam

desistência, mas escondiam persistência.

Se seus

olhares pudessem falar, o Rei teria ouvido:

"Não

importa o que meu corpo diga... Eu não vou perder."

O Rei de

Tétis sorriu, quase maravilhado.

Tsck... Há há... HAHAHAHAHAHAHA!!!! ISSO É INCRÍVEL!!! AINDA CONSIGO VER

ESPERANÇA EM SEUS OLHOS!!!

Ele

avançou, exaltado:

— POR

QUE NÃO CORRE, HEIN?!?!?! PRA MANTER SUA HONRA?!?!?! ENTÃO VOU TE AJUDAR!!!!!!

Bateu

seus punhos um contra o outro.

As

nuvens acima se tornaram ainda mais escuras e carregadas.

A terra

tremeu violentamente — como eles ainda conseguiam se manter de pé, era um

mistério.

Para

acabar com o suspense, o Rei bradou:

— Ryūgū

o Hiraku!!!

Separou

os punhos com força, abrindo os braços.

As

nuvens se romperam brutalmente, liberando mares de águas profundas que

desabaram sobre a terra, rasgando o solo sob seus pés.

As

chuvas colidiam com o oceano criado pelo Rei, destruindo tudo atrás dele.

Uma

enorme onda avançou, levando Akechi como um boneco, fazendo-o flutuar sem

controle.

Akechi

murmurou:

— Meu

Gou...

Quando

olhou para as águas, viu seu Gou azul sendo sugado.

Sua

energia escoava rapidamente.

O

Rei de Tétis, impassível, juntou as mãos de um jeito específico: dedos cruzados

para frente, polegares e mínimos erguidos.

O Selo

do Dragão.

— Ryoku!

O volume

das águas começou a diminuir enquanto estranhos sons ecoavam — sons de

serpentes... e de dragões.

Mudando

o selo, o Rei colocou a mão direita fechada, sobre a esquerda aberta.

O Selo

do Cão.

— Taiko!

Trovões

caíram como lanças do céu, moldando-se.

Um lobo

feito de raios surgiu, correndo sobre as águas, evaporando-as em seu rastro

brilhante.

O lobo

rodeava o mar, ocultando o que se formava no centro.

O Rei de

Tétis baixou lentamente suas mãos.

— Era

para essa chuva ter acabado há minutos... Mas você escolheu lutar contra aquele

que pode ignorar isso facilmente.

Akechi

permanecia imóvel.

O Rei

sorriu:

— Não se

preocupe, vai receber o que merece! — então gritou — TÁ VENDO MINHA NOVA

CICATRIZ?!?!?! POSSO CONSIDERÁ-LA UMA HONRA, FEITA PELA GRANDE KALILA, E UM DE

SEUS HERDEIROS!!!!

O

vórtice de raios finalmente começou a se desfazer.

Revelou

algo imenso.

Algo

que fazia a própria terra estremecer.

Não mais

sons de serpentes.

Só o

rugido de um único ser.

O

vórtice cessou.

E ali,

voando atrás do Rei de Tétis, estava ele.

Um corpo

serpentino.

Cabeça

de crocodilo.

Escamas

de lagarto.

Chifres

de cervo.

Olhos de

gato.

Nariz de

salamandra.

Garras

de águia.

Patas de

lagarto.

Juba de

leão.

Bigodes

de bagre.

Um

imenso, temível... Dragão Azul.

Ryujin.

Akechi

olhou nos olhos dourados da criatura.

E, pela

primeira vez, sentiu-se extremamente pequeno, intimidado e certo da própria

morte.

Esse não

era um dragão qualquer.

E seu

invocador, em êxtase, gritou:

— O QUE

ACHA DE SUAS PERNAS AFUNDAREM NAS PROFUNDEZAS PARA CONQUISTAR A HONRA DO DEUS

RYUJIN?!?!?!

Ryujin:

UUUUUAAAAAARRRRRGHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!

Akechi

apenas encarou, mudo.

O Rei,

com as mãos deitadas, colocou a direita sobre a esquerda, unindo-as com

firmeza.

Castigo de Tamatori...

O Dragão

Azul rodou para cima e para baixo, desenhando o símbolo do infinito no ar.

Seu

corpo começou a brilhar intensamente em dourado, iluminando todo o campo de

batalha.

Enquanto

as ondas ao redor de Akechi se transformavam num redemoinho, seu corpo era

elevado cada vez mais alto.

Lá de

cima, teve uma visão completa daquele Deus — tão poderoso e inigualável.

O Rei de

Tétis soltou os dedos, juntou-os novamente com os braços dobrados, polegares

cruzados e fechados, costas das mãos expostas.

Ryujin,

o dragão, iniciou um movimento em espiral, girando lentamente para trás.

O Rei

acompanhou, avançando um passo com a perna direita, dobrando os joelhos,

antebraço direito sob o esquerdo, punho esquerdo fechado e palma direita aberta

para frente.

Sem mais

delongas, golpeou o ar com a palma aberta.

Atraindo

Ryujin para passar por seu corpo!

E juntos

— Rei e dragão — gritaram e rugiram:

— IRÁ

DOS SETE MAAAAAREEEEEESSSSS!!!!!!!!

Ryujin:

AAAAAAAARRRRRGHHHHHHHHHH!!!

Akechi

viu o Dragão Azul disparar em sua direção a uma velocidade surreal, como uma

lança viva.

As ondas

consumiam seu Gou, enquanto a pressão esmagadora o envolvia.

Tristeza.

Cansaço.

Frustração.

Raiva.

Exaustão.

Fraqueza.

Todas as

emoções que Akechi sentira durante a luta se acumulavam... mas não havia mais

tempo para processá-las.

Seu

destino se selava diante dos seus olhos.

***

Subitamente,

em outro plano, quase totalmente escuro.

No

centro, um palanquim púrpura, sustentado por quinze humanos ajoelhados.

Adornado

em ouro, semelhante a um templo, no trono estava Kalila.

Sentada,

observava a cena de Akechi sofrendo.

Sem

emoção.

Sem

reação.

Com uma

voz apática, comentou:

— Pois

é... Acho que esse é o fim.

****

O céu

estava limpo.

A Lua

Cheia iluminava soldados, armas, comandantes, criaturas conjuradas...

E entre

as sombras, incontáveis corpos tombados.

Entre

eles, Akechi, caído de bruços.

Sangue

escorrendo de sua boca, de todo o seu corpo... e, principalmente, de suas

pernas, divididas ao meio — abaixo dos joelhos, restavam apenas sangue, dor e

desespero.

Seu

rosto parecia morto.

O olhar

esperançoso, que o Rei tanto admirara e odiara, havia desaparecido.

Mas...

uma teimosia persistia.

Com um

esforço sobre-humano, Akechi moveu a ponta dos dedos.

Depois a

mão.

O

pulso.

O braço.

Estendeu-se

em direção à sua katana.

Mas o

Rei de Tétis pisou nela, esmagando qualquer esperança de tocá-la.

O

silêncio pairou.

O Rei

disse, frio:

— Eu

suponho que se lembre do que eu disse mais cedo.

Akechi

permaneceu em silêncio.

— Sobre

quem sairia daqui vivo... e com esta katana.

O Rei

tirou o pé da lâmina e tentou segurá-la como um troféu.

Mas

assim que tocou nela, sentiu-se tonto, confuso, perdido.

Soltou a

katana imediatamente, enquanto a tontura cessava.

— Mas o

que... o que foi isso?!

Então, a

voz de Kalila ecoou pela katana, estridente e imponente:

Enquanto ele estiver vivo, ele é o único que poderá erguer minha katana!

Akechi

sorriu, fraco, em seus pensamentos:

Haha... Agora você quer ser fofa?

Kalila

respondeu, ríspida:

— Para

de falar e tira força do cu pra levantar daí, seu merda!

O Rei de

Tétis recuou alguns passos, desconfiado.

— É

realmente um artefato interessante... Vai ficar ótimo na minha coleção!

Determinadamente,

usou uma técnica de selamento.

Fitas

brancas com inscrições pretas envolveram a katana, suprimindo seu poder.

Só então

conseguiu pegá-la, colocando-a na cintura.

— Ela

ficará perfeita numa estante. E você... vá em paz!

Dito

isso, o Rei de Tétis transformou seu corpo em gás e dissipou-se no ar.

****

Akechi,

à beira da morte, chorava silenciosamente.

Sentia

sua alma se desprender pouco a pouco daquele corpo massacrado.

Pensava

em sua vida — cheia de dor, mas também de breves momentos de compaixão e

alegria.

Queria,

pelo menos, escolher como partir.

Movendo

os lábios com um último esforço, forçou um sorriso fraco.

Em seus

últimos instantes, murmurou:

...Irmã... até logo...

Compadecimento.

Foi seu

último ato.

Seu

último sentimento.

****

Mas

então...

Uma

silhueta masculina se aproximou através do campo de batalha.

Observou

o estado deplorável de Akechi.

Com um

sorriso sombrio, murmurou:

— Acho

que você ainda tem salvação... Me será uma boa cobaia.

Num

instante, a figura — junto do corpo desacordado de Akechi — desapareceu.

Sem

deixar rastro.