Capítulo 5

Como na segunda não tinha aula na universidade o que definitivamente falando era um alívio, pude colocar meus estudos em dia já que por ter tido um final de semana agitado nem pensei nos meus 'que fazer'.

Enfim, pela manhã como as meninas tinham aula e eu não, me dei ao luxo de acordar mais tarde, o que segundo elas era uma completa injustiça, mas fazer o que, a vida é do jeito que ela é, aqui nota-se meu sorrisinho vitorioso.

Como literatura, era minha matéria preferida eu sabia que só uma leitura pelo material seria o suficiente, pois não apresentava dificuldades nessa matéria, diferente de muitos dos meus colegas eu tinha certa facilidade com ela, era meu neném. História, bom, mesmo sendo estrangeira vivi a vida toda nos Estados Unidos, então, não era minha matéria favorita onde eu passaria com o pé nas costas, mas também não seria uma que eu teria que ralar até chegar as minhas vísceras. Biologia, era minha segunda aula favorita, com todos aquelas aulas sobre corpo humano, sério, eu quase podia me sentia no casting de Greys Anatomy, apesar de ser bem diferente. Para começar não tinha todo aquele romance e tensão sexual entre os estudantes, nem professores.

Chegando naquela matéria que com certeza me daria uma úlcera até o final do semestre...temos matemática. Não é que a matéria seja difícil, ou que eu tenha dificuldade, muito pelo contrário sou muito boa na disciplina, afinal depois desse semestre quero ingressar de vez em ciências contábeis, sonho dos meus pais, meu coração não salta da boca com a expectativa de exercer a profissão, mas também não sinto que estou pendurada por uma corda presa ao teto.

O meu imenso problema com a matéria é o meu infame professor Leroy. Ele era o perfeito diabo comigo. E o pior, eu não fiz nada para que isso chegasse a esse ponto, apenas ocorreu, do nada ódio à primeira vista.

Começo de mais um semestre.

Quando fui pegar qual seria minha grade curricular desse semestre, nenhuma das aulas que tinha coincidiam com as de Annelise e Isabel, o que era uma droga, mas também já dividíamos o apartamento, acho que para se ter uma amizade saudável precisamos respirar um pouco e de preferência, mais afastadas.

E no meu caso, em alguns minutos eu já teria aula com o famigerado professor Leroy, ele era muito bom professor, mas também um carrasco nato, por isso já me inscrevi para sua tutoria, como era de conhecimento de todos sua fama, eles nem estranharam.

Ele era um Deus grego, sem brincadeira, ele era francês, tinha olhos cor de mel, era forte tipo atlético e media 1.80. As veteranas do ano passado babavam nele. Quer dizer eu nunca tinha tido aula com ele, mas o via pelos corredores e isso por si só já me fazia entender o fascínio. Sem contar minha felicidade por ele ser estrangeiro, quer dizer, mesmo não sendo italiano como eu, aquilo me deixava alegre

-Melhor eu ir indo, os boatos dizem que ele odeia atrasos – disse para as garotas.

-Tem razão. Eu vou ir para minha aula de inglês - disse Isabel.

-E eu para minha classe de biologia- disse Annelise.

Algo para se ter em mente sobre Anne, é que ele enganava a todos os outros alunos como se fosse aquele estereótipo "loura burra" e tudo piorava quando percebiam que ela era estrangeira, mais especificamente alemã, mas na verdade ela era bem inteligente, só gostava que os outros não vissem isso. Segundo Isabel a vantagem estava em deixar com que os outros criem suas próprias teorias e não havia nada de errado com isso.

Segui meu caminho para a minha sala e lá encontrei aquele homem vestido em um conjunto de terno de três peças, aquilo por si só já era uma imagem que me faria ter desejos inadequados mais tarde, mas mesmo assim segui para meu assento bem na cadeira da frente no meio.

Eu não me considerava uma sabe tudo, mas gostava que meus professores soubessem que tinha um conhecimento acima da média e por essa razão iria tirar o máximo de proveito disso e deles o quanto me fosse possível.

Aparentemente meu professor odiava o fato de eu ser assim, por que era evidente o quanto ele se controlava na hora de responder minhas perguntas, sempre respirando fundo. Cheguei a repassar minhas perguntas mentalmente para ver se não estava sendo uma pentelha, mas elas eram muito pertinentes, queria saber sua metodologia, de como gostava que fossem nossas respostas nas provas, qual abordagem planejava para o restante do semestre e principalmente frente aos trabalhos.

Ao passo que ele respondia tudo com um ar de deboche como se estivesse dizendo "mais alguma coisa senhorita Bernardi?" eu nunca tinha tido um problema desses com um professor antes, eles sempre gostavam quando eu questionava bastante pois dessa forma evitariam erros futuros e desnecessários, mas ele não.

Talvez o que eu estivesse sentido naquele momento foi uma sensação de que estava deslocada ali, não é como se eu estivesse vindo com pensamentos mimados do tipo "por que ele não gosta de mim? Todos meus professores gostam de mim", quando além de não ser verdade, era infantil, mas aquilo ali parecia pessoal.

Ele muito se assemelhava como sendo um diabo que usa um tridente quando me olhava com aqueles olhos tão expressivos por debaixo dos óculos de aro grosso.

Um diabo bem sexy devo admitir.

Assim que o sinal tocou, resolvi falar com ele, já que a minha próxima aula só seria daqui há meia hora. Era uma flexibilização que eles faziam no primeiro dia de aula.

-Com licença professor Leroy.

-Sim, senhorita Bernardi. - disse ao voltar o olhar para mim, já que antes estava ocupado limpando o quadro.

-Gostaria de falar com o senhor sobre a tutoria da sua disciplina.

-Não está muito cedo para falar sobre isso? - arqueou a sobrancelha.

-De fato, estaria, mas a sua fama o precede professor. - Respondi na maior cara de pau.

-Compreendo – ele tinha aquela cara que demonstrava deboche – de qualquer maneira, a secretaria quem cuida desses horários. - disse já me dispensando.

-Pois eu estive hoje lá e me comunicaram que deveria me reportar diretamente ao senhor para chegarmos a um acordo de horários, acho que a justificativa mais exata foi eu ser "a primeira estudante que procura garantir manter minhas notas em conformidade com meu histórico escolar e ainda assim passar nos exames e por isso faz perguntas pertinentes durante a aula "- disse cinicamente com aquela alfinetada.

-Eles disseram isso mesmo? - questionou.

-A primeira parte sim e a segunda poderiam ter dito, já que é verdade, mas o que houve foi que sou a primeira a solicitar a tutoria de sua matéria. - Poderia ser de todas as matérias, mas acontece que Isabel é tão tensa quanto eu, então.

-Vou precisar ir lá conferir? - disse desconfiado.

-Fique à vontade. A secretaria fica no térreo, terceira porta a esquerda. Ah e caso se perca tem uma fonte na frente. - disse de forma sarcástica.

-Cuidado com a ironia. - Me alertou.

-Apenas indicando o melhor caminho professor Leroy. - disse de forma bem pausada acentuando meu sotaque italiano.

Se na aula ele tinha sido o diabinho e agora com a nossa conversa tinha demonstrado um pouco mais de humanidade, assim que falei de forma tranquila e serena, ele voltou a ser um diabo e me espetar com seu tridente.

-Mandarei via e-mail os meus horários disponíveis. Era somente isso senhorita Bernardi? Por que se for, tenho que dar aula em outro andar. Tenha um bom dia.

Fiquei sem reação, mas isso não durou muito por que antes de sair, ele se virou para mim e disparou.

-A proposito não se atrase novamente, odeio atrasos. Tenho certeza de que a precedência de minha fama a alertou sobre isso.

QUE BABACA! Eu não me atrasei coisíssima nenhuma, fui uma das últimas a entra, mas não cheguei depois de já ter começado a aula. Que disparate.

Pelo visto este vai ser um longo semestre.

Sai dos meus devaneios quando, meu celular tocou, era um número desconhecido, mas atendi apenas curiosa para saber quem estaria me ligando.

-Hey..Giu!

-Hey!

Era George. Ele fazia parte da minha turma de matemática, e era minha dupla nesse trabalho que iríamos entregar quinta. Na verdade, nem salvei o número dele em meu celular, nem sabia que ele tinha meu número.

George era um gato, definitivamente lindo, bem construído, sorriso fácil, um meninão. Ele deveria vir com um letreiro "ALERTA TAMANHA DOÇURA PODE CAUSAR DIABETES".

-Não te atrapalhei, não é? - ele interrompeu minha análise.

-Não, eu estava realmente pensando em te ligar para falar sobre a entrega do trabalho. - Menti.

-Ohh...que conexão de mentes por que também estava pensando em você, quer dizer, ligar pra você. - Tinha que admitir ele ficava uma graça quando se embaralhava.

-Bom, o trabalho está 90% pronto, faltando apenas a conclusão, acho que como ele quer uma análise mais pessoal sem deixar o lado científico da coisa, acho que podemos nos reunir para finalizar. O que pensa? - decidi livrá-lo do embaraço me concentrando unicamente no nosso trabalho.

-Certo, eu falei com Rudolph e ele disse exatamente isso.

Rudolph era nosso professor de biologia que estava passando esse trabalho em conjunto com a disciplina do professor Leroy, ou seja, era um trabalho interdisciplinar e que iria compor 40% da nota das disciplinas e como eram duas das disciplinas que mais reprovavam, todos levaram o trabalho bem sério. Basicamente era um texto científico com dez laudas, sobre qualquer tema que tivesse haver com as duas disciplinas, por ser um trabalho longo deveria ser entregue a nota apenas no final do semestre, e como ninguém queria bombar nas matérias, todos se esforçavam além da conta para garantir as notas necessárias.

Neste momento as meninas chegaram da universidade e me viram na sala com alguns papéis espalhados na mesinha de centro, com notebook ligado e com celular no viva-voz já que odiava ter que ficar com ele segurando sendo que tinha outras coisas para fazer.

-Que tal nos encontrarmos na biblioteca da universidade de tarde? - perguntei depois que mandei um beijo para elas que estavam chegando em casa àquela hora, o que me lembrava de ter que fazer o almoço.

-Ok, por mim tudo...

-Hey, é Gerond, certo? - o infeliz nem teve chance, Anne já foi interrompendo sua fala se debruçando para pegar o celular de cima da mesa de centro.

-É..George, na verdade. - disse ele encabulado.

-Tanto faz, olha por que não vem aqui em casa e fazem o trabalho juntos? O que acha? Muito melhor que na universidade, teremos comida e será tão silencioso quanto, eu prometo.

Eu levantei de imediato quando saquei o jogo dela, e fui em sua direção, mas fui interceptada por Isabel, apesar de ser mais baixa que eu, ela era definitivamente mais agressiva, mas eu também tinha sangue quente nas veias, então tentei dar a volta no sofá apenas para ser jogada nele e ter aquele monstrinho em cima de mim. Foi o impedimento mais ridículo da minha vida.

-Oh, não irá incomodar? - perguntou ele.

-Imagina será um prazer. Te esperamos aqui as 2 P.M, o que acha?

-Para mim tudo bem. - Era nítido a alegria em sua voz, assim como era nítido o revirar de olhos na minha cara.

-Então tá marcado, tchau Gerond.

-É George.

-Tanto faz.

Quando ela desligou o celular, finalmente pude sair do aperto de Isabel.

-Você por acaso enlouqueceu? Perdeu a cabeça? - questionei.

-Ele gosta de você amiga, e se não quisesse que Anne tivesse feito isso poderia lutar com mais afinco para se livrar dos meus braços. - disse Isabel bem convencida.

-Exibindo os problemas com sua alegação. Primeiro, acabamos de comprar esse vaso lindo e com certeza quebraríamos ele. Lembra de como o antigo "acidentalmente" foi parar do outro lado da sala? Segundo essa situação já estava ridícula sem testemunhas, com elas, a humilhação seria eterna.

-A única coisa que ouvi foi blá blá blá vaso caro, blá blá blá humilhação. Sem contar que Gerond é uma graça. - disse Anne.

-É George. - dissemos Isabel e eu.

-Puxa, não consigo acertar. Ele tem cara de Gerond, é essa minha defesa. Mas de qualquer jeito, ele tem um crush em você e é um cara legal, devia dar uma chance. - disse ela. - Agora, pede algo pra comermos pois estou faminta e considerando essa sala, você malmente tomou o café da manhã antes de mergulhar nos estudos.

-Como você sabe disso? - perguntei espantada.

Isabel apontou para o canto da mesa onde tinha uma xícara vazia e um pedaço de brioche em um prato.

-Anda logo vai, pede tailandesa. Faz tempo que não comemos. -Reiterou Annelise.

-Pelo visto sou eu quem vou pagar também, não é? - perguntei enquanto vasculhava no celular o número do restaurante.

-Claro, devido a sua malcriação. - disse Isabel.

Revirei os olhos.

Enquanto fazia o pedido, só uma coisa vinha a minha mente. Pelo visto, George virá em minha casa por dois dias, eu estou ferrada.