Na majestosa fortaleza do Culto de Santirama, onde as sombras das tapeçarias dançavam sob a luz suave das tochas, Eclipse e Queen permaneciam em um dos grandes salões. As paredes de pedra negra brilhavam com runas antigas que pareciam pulsar ao ritmo de uma energia desconhecida.
Eclipse, de pé diante de Queen, exalava uma presença imponente, mas não hostil. Seus olhos, profundos como o universo estrelado, carregavam um brilho quase paternal enquanto ele observava a filha. Sua postura era relaxada, mas sua voz soou firme e carregada de significado quando ele falou:
"Criança, me chame de pai ou diga meu nome!"
O tom era sério, mas sua expressão suavizou, os olhos radiantes de um raro calor. O contraste entre a autoridade em sua voz e a alegria em seu olhar fazia o ar ao redor vibrar com uma sensação de expectativa.
Queen, de pé diante dele, arregalou os olhos por um momento, claramente pega de surpresa. O peso daquelas palavras era mais profundo do que qualquer comando que ele já tivesse dado. Ela desviou o olhar por um instante, sentindo o calor subir em suas bochechas.
"Sim… pai!" respondeu ela, a voz hesitante, mas cheia de emoção contida.
Ela mordeu levemente o lábio, envergonhada por sua própria timidez, mas, ao mesmo tempo, havia algo reconfortante em pronunciar aquela palavra. Era como se um elo antigo entre eles fosse reforçado naquele instante, algo que transcendia o poder e o título.
Eclipse riu suavemente, um som que ecoou pelas paredes como um trovão distante, mas acolhedor. Ele se aproximou, colocando uma mão sobre o ombro de Queen. Seu toque era firme, mas gentil.
"Isso não foi tão difícil, foi?" ele disse, com um sorriso que parecia iluminar o ambiente.
Queen ergueu os olhos para ele, agora mais confiante, embora ainda carregasse uma leve cor nas bochechas. "Não… não foi, pai."
Eclipse inclinou a cabeça, satisfeito, e afastou a mão do ombro dela. "Muito bem. Lembre-se sempre de que, mesmo que o mundo inteiro esteja contra você, eu estarei ao seu lado, minha filha."
Queen sorriu, agora mais relaxada. "Obrigada… pai. Isso significa muito para mim."
Eclipse, imponente como sempre, coçou o queixo enquanto considerava suas próximas palavras. "Talvez…", murmurou, antes de voltar sua atenção para sua filha. "Queen, onde aquele garoto está?"
Antes que Queen pudesse responder, uma batida frenética na porta interrompeu o momento.
"Entre," disse Eclipse, sua voz firme, mas curiosa. "Garoto, me diga o que é tão urgente?"
Um jovem entrou, claramente nervoso. Ele engoliu em seco antes de começar: "Senhor, trago notícias." Sua voz vacilava, mas ele continuou. "Uma de nossas bases caiu... e o Lorde Osíris… sua chama de vida desapareceu!"
Houve um momento de tensão antes que ele completasse: "O último fragmento de sua chama de vida mencionou algo… o Herói-Santo voltou. Seu nome é Astracar." O jovem fez um gesto específico da cultura do culto, sinalizando respeito e encerrando seu relatório.
Queen, que até então ouvia atentamente, cruzou os braços e exclamou com desgosto: "Aquele Osíris! Quantas vezes eu disse para ele não causar problemas para pessoas comuns?"
Eclipse permaneceu calmo, mas um sorriso sutil, talvez de orgulho, curvou seus lábios. "Então, ele voltou mesmo. Tinha minhas dúvidas sobre esse tal de Astracar, mas agora tenho certeza."
Queen, surpresa, deu um passo à frente. "Pai, o Herói-Santo e Astracar são o mesmo ser? Mas… esse corpo não é do Herói-Santo, não é?"
Eclipse riu baixinho, quase como se estivesse se divertindo com a inocência de sua filha. "Minha criança, é compreensível que você não saiba. O nome do Herói-Santo foi apagado da história, restando apenas seu título. Quando digo que ele se libertou, quero dizer de sua vida passada." Ele respirou fundo, como se pesasse cada palavra que diria a seguir. "Esse Astracar, sem dúvidas, é ele. Contudo, preciso confirmar isso pessoalmente."
Queen levou uma mão ao queixo, claramente pensativa. "Pai, tem certeza de que essa é uma boa ideia? Posso enviar minha filha para tentar contato. Ele não a atacará."
Eclipse balançou a cabeça lentamente, mantendo seu tom calmo. "Não se preocupe. Vamos nós três juntos. Esta é uma questão que eu mesmo devo resolver."
Queen hesitou por um momento, os olhos buscando alguma confirmação no semblante sereno de Eclipse. Ela sabia que, quando tomava uma decisão, raramente mudava de ideia. Ainda assim, sua mente estava repleta de possibilidades, de riscos que poderiam surgir ao confrontar alguém como Astracar.
"Pai, sei que você é poderoso, mas Astracar não é um adversário qualquer," disse ela, tentando esconder sua preocupação. "Se ele realmente é o Herói-Santo renascido, isso significa que ele carrega não só força imensa, mas também uma vontade que já desafiou os próprios deuses."
Eclipse sorriu novamente, o tipo de sorriso que não transmitia arrogância, mas uma confiança inabalável. Ele colocou ambas as mãos atrás das costas e começou a caminhar lentamente pelo salão, os passos ecoando como um tambor suave.
"Minha filha, é justamente por isso que quero encontrá-lo pessoalmente," respondeu ele. "Astracar não é apenas força bruta. Ele é um enigma que transcende eras. O que o move agora? O que ele busca? Será que ainda há um fragmento do Herói-Santo dentro dele? Essas são perguntas que só podem ser respondidas cara a cara."
Queen suspirou, mas não conseguiu conter um leve sorriso. Ela sabia que discutir com Eclipse era inútil, e, no fundo, admirava sua determinação. "Muito bem, pai. Mas prometo que vou garantir nossa segurança. Não vou permitir que um encontro como esse termine em tragédia."
Horas depois, na plataforma superior da fortaleza, Eclipse e Queen estavam prontos para partir. Acompanhando-os estava uma terceira figura, cuja presença era tão discreta quanto mortal: a neta de Eclipse, uma jovem de cabelos vermelhos com pontas brancas e olhos dourados que refletiam a luz das tochas.
"Você está pronta, pequena?" perguntou Eclipse, com um tom paternal enquanto olhava para a jovem.
Ela inclinou a cabeça em respeito antes de responder. "Sempre, avô. Astracar provavelmente nos escutara, afinal ele é legal!"
Queen olhou para sua filha e colocou uma mão sobre seu ombro. "Confio em você. Mas lembre-se: siga as instruções do meu pai. Ele sabe o que está fazendo."
A jovem assentiu, determinada.
Eclipse ergueu a mão, e uma aura escura começou a emanar ao seu redor. Símbolos antigos se formaram no chão, girando em um círculo que brilhava com um misto de energia negra e dourada. Era um portal, que pulsava como um coração vivo.
"Vamos," disse Eclipse, entrando no portal sem hesitar.