62 - Eclipse Demoníaco I

No Extremo Norte do Continente

O ar gélido do norte carregava um peso que parecia transcender o tempo, espalhando-se pelas vastas paisagens cobertas de neve e alcançando as muralhas de uma fortaleza imponente. Construída com um aço opaco de tonalidade translúcida, a fortaleza refletia tanto a luz dourada do sol quanto o brilho prateado da lua, como se fosse um monumento à dualidade do mundo.

As torres altas erguiam-se como sentinelas eternas contra os céus, suas superfícies metálicas cintilando durante o dia e brilhando suavemente à noite. O som de uma saudação ecoava pelas paredes, um testemunho do respeito e da reverência que impregnavam aquele lugar.

Dentro das muralhas, o ambiente era rígido, mas profundamente imponente. Grandes salões de tetos altos e minimalistas eram iluminados por candelabros de cristal, cujas luzes dançavam nas paredes de aço, lançando sombras que se moviam como se tivessem vida própria. O chão era coberto por tapetes intricadamente decorados, enquanto tapeçarias bordadas com cenas de batalhas passadas e heróis lendários adornavam as paredes.

O vento frio soprava pelas janelas estreitas, trazendo consigo o cheiro fresco da neve e o som distante de lobos uivando. Na sala principal, uma figura feminina de postura altiva e presença marcante inclinava levemente a cabeça.

"Eu, Queen, saúdo Eclipse Demoníaco, Aquele Que Está Além do Tempo," disse ela, com um tom que misturava reverência e afeto.

De pé diante dela, uma figura de aura quase divina respondeu com um sorriso nostálgico. Seus olhos, profundos e enigmáticos, pareciam conter o próprio cosmos. Sua presença irradiava um poder que transcendia os limites mortais.

"Oh, minha criança," respondeu Eclipse, sua voz ressoando pelo salão como uma melodia distante. "Recordo-me do dia em que nossos caminhos se cruzaram como se fosse ontem."

Queen sorriu, embora seus olhos brilhassem com emoções contidas. "Senhor, nunca me esqueci do momento em que o senhor me salvou da extinção. Serei eternamente grata por isso."

Eclipse deu um passo à frente, colocando uma mão firme, mas afetuosa, no ombro de Queen. "A juventude que radia em você é tão pura quanto quando nos encontramos pela primeira vez. Mas não precisa ser tão formal comigo, afinal, sou seu pai. Agora, me diga, minha pequena, como está este continente enquanto eu estava me adaptando? Conseguiram quebrar a barreira que protegia este mundo, ou apenas a do sertão?"

Queen ergueu os olhos para ele, o orgulho evidente em sua voz. "Pai, o continente tem prosperado em sua ausência. A barreira do sertão foi quebrada e integrada ao mundo, graças a um homem chamado Astracar. Mas a barreira do continente permanece intacta, como um muro imbatível."

Eclipse arqueou uma sobrancelha, intrigado. "Parece que você conhece esse tal de Astracar, pelo modo como fala dele. Diga-me, minha filha, como ele é?"

Queen franziu o cenho, os punhos cerrados enquanto relembrava. "Esse insolente me impediu quando tentei dominar uma vila no sertão. Mas, devo admitir, ele é... interessante. Ele ajudou minha filha a superar um medo antigo. Ele é forte, pai, e obstinado."

Eclipse riu suavemente, um som que ecoava pelo salão como um trovão distante. Queen arregalou os olhos, surpresa com a reação inesperada dele.

"Ah, Astracar," disse Eclipse, com um tom de admiração contida. "Ele conseguiu se libertar das amarras do seu passado, preciso confirmar. É um jovem notável, sem dúvida. Ele não apenas desafiou seu destino, mas também teve a coragem de agir com autonomia. Isso é raro e precioso."

Ele fez uma pausa, seu olhar se tornando mais sério e penetrante enquanto fixava os olhos nos de Queen. "Mesmo sendo meu inimigo, devo agradecê-lo. Ele me deu seu corpo antigo, que foi fundamental para minha recuperação. É mais do que isso, ele representa algo maior: uma força de mudança que este mundo precisa."

Queen ponderou, tocando levemente os lábios com os dedos. "Sim, pai, Astracar é diferente. Ele tem mostrado uma força e determinação que impressionam até os mais céticos do nosso culto. Talvez ele esteja destinado a algo maior, algo que nem ele mesmo compreende."

Eclipse assentiu, seus olhos brilhando com convicção. "Ele é o equilíbrio entre o caos e a ordem, entre o velho e o novo. Seu destino não é apenas liderar a resistência contra a barreira do continente, mas também moldar o futuro deste mundo. Devemos guiá-lo, mas permitir que ele tome suas próprias decisões. Pois é justamente a liberdade de escolha que forjará seu caminho até a verdadeira grandeza."

Do lado de fora, a noite começava a cair sobre a fortaleza, e os lobos uivavam como se pressentissem que algo monumental estava prestes a acontecer.