Alguns dias após o treino, o grande salão do Império Sol e Lua estava banhado por uma luz dourada suave, projetada por cristais solares e lunares cravados nas colunas. No centro, uma mesa circular com cadeiras de aço branco e negro recebia os maiores nomes do continente.
Tiberios Light, o Grande Imperador do Império Sagrado — sempre conhecido por sua expressão séria e postura firme — esboçou um raro sorriso e falou com a voz quente de um avô orgulhoso:
— “Meu netinho querido, venha aqui.”
Ele então virou-se para Charlotte, e disse com entusiasmo:
— “Garotinha… já que ele é seu irmão, então você é minha netinha também!”
Em seguida soltou uma risada animada, que ecoou pelo salão.
— “Agradeço ao mundo por me dar dois netos. E sem dúvida, seu tio Apollo sente o mesmo!”
Astracar respondeu com tranquilidade:
— “Obrigado, avô, por ter vindo ao Império Sol e Lua.”
Charlotte se pronunciou em seguida, com elegância:
— “Obrigada por vir ao Império Sol e Lua, Imperador Light.”
Ela o saudou de forma respeitosa, porém sem se ajoelhar ou abaixar a cabeça, afinal, ela mesma era uma imperatriz.
Tiberios sorriu com ainda mais carinho.
— “Me chame de avô, garotinha. Me sinto honrado por meus netos me chamarem assim. Não precisamos dessas formalidades entre família.”
Charlotte, notando o olhar de Astracar sobre ela e vendo o sorriso gentil em seu rosto, tentou:
— “A… a… avô…”
Mas ficou muito envergonhada, o que impressionou a todos, pois era raro vê-la demonstrar esse tipo de emoção.
Ainda assim, ela se esforçou e disse normalmente:
— “Avô…”
Tiberios riu baixo, satisfeito:
— “No seu tempo, netinha.”
Ao lado de Tiberios estava Apollo Light, o herdeiro do Império Light. Ele observava tudo com um leve sorriso no rosto, feliz por saber que sua família havia crescido. Ver o pai tão animado lhe dava ânimo também.
Então, uma voz cortou o clima caloroso com um tom bem-humorado, porém direto:
— “Charlotte, quem diria que até você poderia ficar envergonhada? Mas deixando o momento de lado… vamos focar!”
A voz vinha de Eveline Tesla, Rainha do Reino Razemberg, que fazia aqui sua primeira aparição.
Alta e imponente, sua presença era marcante como um trovão silencioso. Usava um vestido metálico com circuitos embutidos que brilhavam sutilmente — uma mistura de moda e engenharia de ponta. Seus cabelos eram longos, brancos como prata líquida, e seus olhos cibernéticos escaneavam o ambiente com precisão. A tiara flutuante sobre sua cabeça projetava símbolos tecnológicos em forma de hologramas, exibindo informações em tempo real.
Ela olhou brevemente para Astracar com um sutil sorriso nos lábios — algo que Charlotte, mesmo tímida, não deixou de perceber.
Logo após o comentário da Rainha Eveline, todos no salão voltaram sua atenção para os demais presentes.
Eleonora, a Brilhante, estava sentada com postura reta, seu manto branco com detalhes dourados captava a luz como se ela própria fosse uma extensão do sol. Seus olhos azuis celestes observavam tudo com firmeza e serenidade.
Solaris, o Defensor Radiante, vestia uma armadura reluzente que emitia uma leve pulsação solar. Sua presença inspirava segurança e força, como um escudo vivo.
Vespira, a Silhueta do Anoitecer, permanecia em uma sombra sutil, mesmo em meio à luz do salão. Seus olhos, verde oliva, analisavam todos silenciosamente. Ela mal se movia, mas sua presença era sentida com intensidade.
Nyctea, a Espreitadora Noturna, observava com seus olhos pretos atentos, já havia mapeado todas as saídas, janelas e guardas. Sua capa prateada oscilava como névoa, e ela raramente piscava.
Lunadia, a Refletora, usava vestes de cetim branco prateado com bordados lunares. Seu semblante sereno e sua aura calma equilibravam a energia da sala.
Declina, a Guardiã do Equilíbrio, usava sua tradicional armadura que mesclava luz e sombra. Ela segurava um cetro dividido ao meio — uma metade dourada, outra prateada — e seu olhar era afiado como lâmina, mas com um calor maternal.
Sekiro, o Lich Guerreiro, permanecia em pé, levemente afastado da mesa, como uma sentinela. Sua armadura negra e seu elmo de ossos brilhavam com runas sagradas e profanas, fundidas. Uma aura de morte e luz se misturava em torno dele — e ele observava tudo em silêncio.
Apollo Light, o príncipe herdeiro, mantinha-se em pé ao lado do pai, trajando um uniforme cerimonial branco com detalhes dourados e azuis. Ele observava Astracar com admiração genuína, e lançava olhares discretos a Charlotte, que ele respeitava profundamente.
O clima estava prestes a se tornar mais sério, mas Charlotte desviou os olhos da mesa para Eveline Tesla, que ainda sorria com aquele ar provocador.
Charlotte pigarreou e se aproximou com o queixo erguido:
— “Rainha Eveline, sua presença é uma honra para o Império Sol e Lua. Sabemos que sua agenda é repleta de compromissos, então agradeço por aceitar o convite pessoalmente.”
Eveline cruzou as pernas com elegância, apoiando o queixo em uma das mãos metálicas.
— “Honra? Achei que você preferia manter aliados a distância. Fico feliz que esteja amadurecendo, Lua Celestial.”
Charlotte manteve o olhar firme.
— “O amadurecimento exige enfrentarmos quem somos. E quem está à nossa volta.”
Eveline sorriu, dessa vez sem provocação.
— “Boa resposta. A propósito… gostei do vestido. Você finalmente está descobrindo o poder de uma boa apresentação.”
Charlotte arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços levemente:
— “Prefiro espadas a vestidos. Mas entendo que certas guerras exigem... outras armas.”
Eveline riu, dessa vez suavemente.
— “Está aprendendo rápido. Talvez mais rápido do que seu irmão.”
Astracar, ouvindo a provocação de longe, balançou a cabeça com um leve sorriso. Era impossível não notar que Eveline estava claramente interessada nele, mas Charlotte parecia determinada a manter a rainha em cheque.
Declina se inclinou para Eleonora, cochichando:
— “Elas vão se matar… ou se tornar melhores amigas.”
Eleonora sorriu com um ar sábio:
— “Ambas as coisas são possíveis.”
Astracar se ergueu com firmeza. Seu tom, calmo e autoritário, silenciou o salão.
— "Todos, foco aqui por favor. O que irei dizer... poucos sabem."
Os olhos se voltaram para ele. Alguns — como Charlotte e Sekiro — já suspeitavam. Mas mesmo eles sentiram o peso do momento. Astracar fechou os olhos por um instante... e então, começou a mudar.
— “Ciclo Divino: Guaraci — Iluminação.”
O mundo ao redor estremeceu.
Escamas surgiram. Não eram simples: eram forjadas de ouro líquido entrelaçado com a vastidão do cosmos. Cada escama refletia galáxias inteiras, espalhando-se por seus braços, lateral do peito e costas. Pulsavam como estrelas vivas, irradiando uma luz ancestral que forçava os presentes a desviar o olhar.
Uma cauda cósmica brotou de sua lombar, feita da mesma substância estelar. Flutuava como um cometa vivo, desenhando constelações passageiras no ar.
Seus cabelos se tornaram uma cascata flamejante, caindo até os ombros. Misturavam-se em tons de branco ardente, dourado solar e negro profundo, tremulando como chamas divinas, oscilando entre o calor da criação e o frio do fim dos tempos.
Mas foram os olhos que fizeram o salão prender a respiração: neles, giravam sóis, nebulosas, estrelas em nascimento e morte. Um universo inteiro pulsava em cada pupila — um olhar que mostrava a ascensão e o colapso da existência.
Tatuagens douradas se expandiram violentamente sobre sua pele negra, como relâmpagos ancestrais talhando sua lenda. Rios de luz contavam histórias de eras esquecidas, vidas passadas, e destinos ainda por vir.
Então, sua voz ecoou novamente — grave, viva, celestial:
— "Quando alcancei essa forma... entendi. Este mundo nos prende. Esta barreira, esta realidade... nos limita. Impede nossa evolução verdadeira."
Ele olhou para todos.
— "Nosso inimigo, Eclipse, já entendeu isso. Ele rompeu as correntes... e declarou guerra. Não há mais volta. Se quisermos sobreviver... teremos que fazer o mesmo."
Um silêncio abissal caiu sobre o salão. A projeção da barreira ainda pairava sobre todos, agora refletindo nos olhos de cada um não só um limite... mas um destino a ser quebrado.