—O que está fazendo aqui?
— S-Surpresa?
Enquanto Naoya tentava processar o que estava acontecendo, Mayumi estava parada à sua frente com a cabeça baixa e o rosto envergonhado. O desaparecimento de Mayumi finalmente havia sido resolvido: ela estava ali, na frente dele, usando o mesmo uniforme. Aquela cena era informação demais para ele absorver.
Mayumi, o que está fazendo aqui?
"Ela" me pediu para me transferir para a mesma escola que você, pois disse que você estava sendo infiel ao nosso noivado.
Aquelas palavras atingiram Naoya como um soco. Como Mayumi sabia sobre a escola dele? E por que ela estava acusando-o de traição? Quem era essa pessoa que havia revelado informações que, até então, eram segredo?
Do que está falando? Quem é "ela"?
Ao ouvir a pergunta, um pequeno sorriso surgiu nos lábios de Mayumi. Ela ergueu o olhar, encarando-o diretamente. Em seguida, aproximou-se e segurou firmemente a gravata de Naoya, puxando-o para frente. O gesto o surpreendeu, e ele se viu olhando diretamente nos olhos dela.
Escuta aqui, Naoya Akagawa. Se você estiver realmente me traindo, eu vou te matar e, depois, vou me matar. Para o seu bem, espero que o que "ela" me disse não seja verdade.
O tom ameaçador e o olhar intenso de Mayumi deixaram Naoya sem palavras, enquanto ele tentava desesperadamente entender o que estava acontecendo e quem era essa misteriosa "ela" que havia colocado Mayumi contra ele.
Naoya ficou paralisado por alguns segundos, tentando entender a situação surreal em que se encontrava. O tom firme e ameaçador de Mayumi era algo que ele raramente presenciava, tornando o momento ainda mais desconcertante.
— Mayumi, calma! — ele conseguiu dizer, afastando levemente a mão dela da sua gravata. — Primeiro, que história é essa de traição? Eu nem sei do que você está falando!
— Então você não nega que estava escondendo algo de mim? — ela rebateu, ainda com o olhar fixo nele, agora misturando raiva e algo que parecia ser dor.
Naoya suspirou, tentando manter a calma apesar do turbilhão de emoções que o atingia.
— Eu não estou escondendo nada! Quem te disse essas coisas? O que essa pessoa te contou exatamente?
Mayumi cruzou os braços, como se estivesse deliberando se deveria ou não contar tudo.
— Ela disse que você anda muito próximo de uma garota, alguém da sua turma. E que até mesmo saem juntos fora do colégio!
— Isso é ridículo! — Naoya respondeu, levantando a voz. — Eu não tenho nenhuma relação com ninguém além de você, Mayumi. Quem quer que seja essa "ela", só está tentando criar confusão entre nós.
Mayumi estreitou os olhos, estudando cada expressão no rosto de Naoya, como se procurasse uma brecha para confirmar suas suspeitas. Após alguns segundos, ela respirou fundo e desviou o olhar.
— Espero que esteja falando a verdade, Naoya. Porque se não estiver... — Ela deixou a ameaça implícita no ar antes de se virar para sair.
Naoya passou a mão pelos cabelos, ainda tentando compreender tudo o que acabara de acontecer. Quem seria essa "ela" que estava manipulando Mayumi? E por que estava tentando destruir sua relação com ela? As perguntas continuavam girando em sua mente enquanto ele observava Mayumi se afastar, ainda vestindo aquele uniforme idêntico ao seu.Enquanto Naoya tentava processar o que estava acontecendo, Naomi se aproximou e deu um tapa em suas costas em forma de cumprimento.
— Nao-kun, o que está fazendo aqui? — perguntou ela, virando sua atenção para ele com um sorriso curioso.
Ele se assustou e olhou para ela, engolindo em seco. Em vez de dar uma explicação, decidiu ignorá-la e seguir em direção à sua sala.
— Nada, eu só estava indo para a biblioteca. Somente isso.
Ele tentou se convencer disso, mas, na verdade, queria encontrar Mayumi e perguntar a ela quem era essa "ela" que a estava fazendo acreditar em tudo.
— Já que não está fazendo nada, vamos para o refeitório.
Sem esperar pela resposta de Naoya, Naomi agarrou o braço dele e o puxou pelo corredor em direção ao refeitório, sem encontrar resistência. A mente de Naoya, no entanto, vagava para onde Mayumi estava — ele queria respostas.
— Naomi, eu preciso ir a um lugar antes. Vamos deixar para outra hora — disse ele, soltando-se do abraço dela e correndo pelo corredor.
Ao virar a esquina, esbarrou em Kaori, que carregava uma pilha de papéis.
Kaori soltou um pequeno grito de surpresa quando os papéis voaram para todos os lados, espalhando-se pelo chão do corredor. Naoya, ainda absorto em seus próprios pensamentos, demorou um segundo para processar o que havia acontecido.
— Ah, desculpa, Inoue-san! — disse ele, abaixando-se rapidamente para ajudá-la a recolher os papéis.
Kaori franziu a testa, claramente irritada, mas suspirou ao ver que Naoya realmente tentava ajudar.
— Cuidado por onde anda, Akagawa — resmungou ela, pegando alguns papéis do chão.
Naomi, que havia seguido Naoya sem que ele percebesse, chegou ao local e colocou as mãos na cintura.
— Nao-kun, você é sempre assim? Esbarra nas pessoas e foge? — brincou ela, rindo.
Naoya lançou um olhar cansado para Naomi, claramente sem paciência para suas provocações naquele momento.
— Eu disse que precisava resolver algo, Naomi.
Kaori, que observava a interação dos dois, arqueou uma sobrancelha.
— Vocês dois sempre agem como se fossem irmãos mesmo.Naomi abriu um sorriso convencido.
— Não "como", não somos irmãos. Eu sou a esposa dele.
Ela então virou-se para Naoya.
— Agora que já derrubou a Kaori-chan e pediu desculpas, vem logo comigo para o refeitório.
Naoya suspirou, ainda hesitante. Seu desejo de descobrir a verdade sobre Mayumi e a tal "ela" não havia desaparecido, mas sabia que Naomi não o deixaria em paz tão facilmente.
— Tá bom, tá bom... Mas só por um tempo.
Naomi sorriu vitoriosa e puxou o braço de Naoya de novo, ignorando completamente o olhar confuso de Kaori enquanto o arrastava pelo corredor.
— Esposa? O Akagawa-san já é casado? — murmurou Kaori, franzindo a testa.
Quando Naomi e Naoya chegaram ao refeitório, ela começou a falar sobre o tempo que morou nos Estados Unidos e como queria voltar para o Japão novamente. No entanto, Naoya não conseguia prestar atenção na conversa, seu olhar fixo na tela do celular.
— Será que eu mando mensagem para ela agora ou espero um pouco? Eu quero encontrar "ela", eu quero descobrir tudo sobre "ela", mas por que tanto mistério? Por que ela está se escondendo de mim? — pensou ele, mantendo a conversa com o número desconhecido aberta.
Quase como se o destino respondesse a seus pensamentos, uma nova mensagem chegou daquele mesmo número.
"Uau, que garanhão você é. Conseguiu resolver sua poligamia e encontrou sua esposa. Mas vamos ser sinceros: você realmente encontrou aquilo que procurava?"
Naoya sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ler a mensagem. Seu coração bateu mais rápido, e seus dedos pairaram sobre a tela, hesitantes. O tom provocativo da mensagem o irritou, mas, mais do que isso, atiçou sua curiosidade.
"Quem é você?"
Ele digitou rapidamente e enviou, tentando manter a expressão neutra para que Naomi não percebesse sua inquietação.
— Nao-kun, você não tá ouvindo nada do que eu tô falando, né? — Naomi estreitou os olhos, cruzando os braços.
Naoya levantou o olhar por um momento e forçou um sorriso.
— Claro que tô. Você quer voltar para o Japão, né?
Ela bufou.
— Já estou no Japão, baka. Eu disse que, quando estava nos Estados Unidos, sentia falta daqui e queria voltar logo.
— Ah… isso. Sim, claro.
Naomi não se convenceu, mas antes que pudesse questioná-lo mais, o celular de Naoya vibrou novamente. Ele baixou os olhos para a tela e sentiu sua respiração prender ao ler a nova mensagem.
"Eu sou aquela que te observa das sombras. Aquela que conhece seus segredos, suas dúvidas, seus medos. Mas a questão é… você realmente quer saber quem sou eu, Naoya?"
Um arrepio percorreu sua nuca. Ele apertou o celular com mais força, sentindo um desconforto crescente.
— Nao-kun, sério, o que tá acontecendo? Você tá estranho.
Naoya engoliu em seco.
— Nada. É só... um trote idiota.
— Trote? Posso ver? — Naomi estendeu a mão.
Ele rapidamente bloqueou a tela e a afastou.
— Não precisa, não é nada importante.
Naomi estreitou os olhos, claramente desconfiada.
— Sei…
Naoya voltou sua atenção para o celular, debatendo consigo mesmo se deveria continuar essa conversa. Mas antes que pudesse decidir, outra mensagem surgiu.
"Se realmente quer saber a verdade, encontre-me hoje à noite no parque perto da estação. Estarei esperando… se tiver coragem."
Naoya sentiu o estômago revirar. Ele queria respostas. Precisava delas. Mas o que o esperava naquela noite?
Ele não sabia, mas já estava decidido a descobrir.
Naomi frustrada por ser ignorada tão abertamente, ela tomou o celular de Naoya e olhou para ele nos olhos com uma expressão de fúria.
— Por que está me ignorando?
Antes que Naoya pudesse responder, o sinal sonoro para o final do horário de almoço, ele se levantou e caminhou em direção a sua sala novamente.
Mayumi estava esperando por ele na porta da sala e estendeu o braço para barrar sua entrada.
— Para onde você pensa que está indo?
— Como assim, eu quero entrar na sala de aula.
Mayumi puxou ele pela gravata e o puxou para uma sala vazia e trancou a porta atrás de si. A expressão de Naoya se tornou uma de medo e ele ficou encarando Mayumi.
— Sente-se, precisamos conversar.
Naoya se sentou na cadeira enquanto seus olhos passearam pela sala tentando não encontrar os olhos dela.
— Sobre o que devemos conversar?
Ela se aproximou dele e segurou sua gravata levantando para cima e encontrando o olhar de medo dele.
— Eu estou cansada de olhar para você e sempre achar que está acontecendo alguma coisa. O que você está escondendo? Seja sincero agora, eu não quero que me esconda nada.
Ele engoliu em seco e olhou para ela tentando esconder o pânico que se estendia pelo seu corpo todo.
— Eu…