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Querido diário.

Não, não, não vamos começar com isso. Eu sou Victor, e escrevo isto não para lamentar minha sorte, mas para registrar minha existência antes que ela se dissipe como um sussurro na tempestade.

Estou no Laboratório de Ravet, oculto nas profundezas da Floresta de Alfen. Sim, Ravet, o Pesadelo Vermelho. Aquele cujos experimentos sem alma reduziram raças inteiras ao esquecimento. O exterminador dos grifos, dos pégasos, dos qilins. Um monstro de intelecto divino e moral ausente.

E eu sou sua cria.

Mas não vamos falar sobre isso. Ravet, na intenção de criar o ser perfeito, misturou de forma imprudente inúmeras linhagens e físicos dentro do meu corpo. Sim, isso mesmo que você leu. Ravet conseguia extrair físicos de outras pessoas. Eu simplesmente não entendo como isso é possível, sendo que ou você nasce ou não com isso, mas aquele monstro conseguiu um jeito de extraí-los e transplantá-los. Sinceramente, acho que não deveria escrever isso, já que a simples menção sobre isso poderia gerar uma guerra.

É exatamente isso, meu corpo é uma quimera. Uma junção grotesca de linhagens e físicos arrancados de criaturas inomináveis. Um amontoado de poder sem estrutura, um vaso rachado segurando um oceano de força instável. Não sou belo. Não sou humano. Mas sou vivo. E para permanecer assim, devo absorver mana constantemente. Sem ela, meu corpo se colapsa, se deteriora, se desfaz.

Pelo menos ele deixou uma grande quantidade de conhecimento na biblioteca dele, desde princípios da alquimia, à origem da formação de matrizes, coisas relacionadas à ferraria e à criação de artefatos, mas nada muito impressionante, só o básico, além de uma grande quantidade de livros de história e geografia. Foi assim que descobri o nome do local onde estou, que é a Floresta de Alfen, localizada nas profundezas do Império Zenara.

Se você por acaso não sabe a história deste lugar, eu vou explicar. O Império Zenara é um dos três grandes impérios deste continente. Pelos livros de geografia que tenho, ele mostra inúmeras massas de terras espalhadas pela água. Isto porque o mapa só mostra as regiões próximas, não é nem um mapa completo. Então, suponho que esse mundo seja inúmeras vezes maior do que o que eu venho.

O Império Zenara é dividido em seis áreas, cada uma sendo protegida por uma sentinela, que são os guardiões do império. Não se sabe ao certo quão fortes são as sentinelas, mas alguns estimam que eles sejam pelo menos de formação de núcleo*. Sinceramente, não sei o quão forte é isso, mas tendo em vista que esse império nunca foi invadido, sendo protegido somente por eles, eles devem ser terrivelmente fortes.

A floresta em que estou fica bem na fronteira com o Império Eons, e a fronteira é guardada pela sentinela Rantar, o mestre do fogo. A idade dele é desconhecida, mas os livros sugerem que ele tenha pelo menos 500 anos de idade. Sinceramente, para alguém que veio de um lugar onde a expectativa de vida era de uns 70 anos, ver alguém viver tanto é desconcertante, mas isso também me motiva a me tornar um Aeternus o quanto antes.

Já o imperador é alguém que está no reino da Ascensão. Sinceramente, não consigo nem imaginar uma pessoa nesse nível. A força e seus fragmentos são desconhecidos para o público, já que todas as lutas ele venceu usando somente o corpo. Muitos sugerem que ele tenha despertado somente no caminho do paragon, mas pelas regras da própria família real, o imperador deve poder trilhar no mínimo dois caminhos, assim como o primeiro imperador.

Ah, certo, talvez você esteja se perguntando o que eu comi esse tempo todo. Bom, na floresta onde estou tem muitas bestas de mana. Algumas são muito fortes para eu enfrentar, mas outras, principalmente herbívoros, são fáceis de capturar. Confesso que na primeira vez que fiz isso me senti um pouco relutante em tirar a vida de um animal, mas Yoskar me encorajou a fazê-lo.

E não me arrependo disso, porque olha, eu já provei algumas carnes boas, mas nenhuma se comparou à carne do veado de galhada dupla que foi o primeiro animal que consegui caçar. Não foi muito difícil capturá-lo, eu só tive que usar um pouco de fruta topan misturada com outras que essa espécie normalmente come. Os livros são realmente úteis. Ele era um veado considerado jovem pelo tamanho da galhada em sua cabeça, mas por algum motivo os animais são muito maiores que o normal. Ele tinha 3 metros de altura e 4 de comprimento, uma linda pelagem branca dourada que agora uso como capa, deliciosas coxas. Ok, estou divagando.

E então, há Yoskar.

Uma pseudo-alma, um eco de consciência criada por Ravet, preso a este laboratório como um fantasma que não pode partir. Guia, professor, amigo... mesmo que eu não o chame assim em voz alta.

Bem, isso é um resumo. Espero estar vivo para continuar a escrever isso. Tchau.

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"Sinceramente, isso parece tão constrangedor. Cara, você é o quê, uma garota escrevendo em um diário?", Yoskar zombou, sua voz reverberando no ar como um sussurro carregado pelo vento.

"Não enche, Yoskar." Fechei o caderno com força. "Eu não sei se vou estar vivo amanhã. Estou apenas tentando deixar um registro de mim mesmo."

Ele flutuou ao meu lado, sua presença como um eco de calor em um mundo de gelo. "Tenha um pouco mais de fé, Victor. Seu método faz sentido. Você vai conseguir."

"Esse é exatamente o problema. Parece viável, mas e se não for? E se eu simplesmente explodir em uma pilha de carne e osso?"

"Eu admito que exagerei da última vez…" Ele riu, sem jeito. "Mas eu garanto: você não vai explodir."

"Esse é exatamente o problema! Isso só parece, não tenho certeza se vai funcionar. Eu posso acabar explodindo em uma pilha de carne se isso der errado", eu disse assustado enquanto me direcionava até uma sala adjacente onde se encontrava um enorme cristal de mana, o mesmo que Yoskar usou para me alimentar e me estabilizar.

"Olha, eu reconheço que exagerei naquele dia, isso não tem como acontecer, você não vai explodir", ele disse em um tom de desculpa.

"Certo, certo." Eu subi no cristal, a energia quente da mana causava um arrepio na minha pele. Eu podia sentir meu corpo pedindo por mais, mas ignorei esse sentimento. Durante todo esse tempo, aprendi mais sobre mim mesmo e sobre as espécies que me compõem.

"Isso seria muito mais fácil se a matriz de atração de mana ainda estivesse funcionando." Eu suspirei.

"Não adianta chorar sobre o leite derramado."

Respirei fundo e comecei a atrair mana para dentro de mim. Dentre todos os livros que falavam sobre começar no caminho do Aeternus, todos tinham um ponto em comum, que era que eu tinha que fazer a mana passar por dentro de mim, criar uma espécie de canal ou corredor por onde a mana vai passar. Infelizmente, nenhum livro tinha um método para isso. Eu só podia atribuir a cautela para que o conhecimento não fosse usado indevidamente.

Mas se fosse cautela ou mesquinhez, meu problema não mudaria. Sem um método já feito, tudo o que eu podia fazer era testar. Desde que comecei a manipular a mana, descobri algumas coisas. A primeira era que ela respondia à minha vontade. Depois que eu absorvia mana, desde que eu me concentrasse nela, a mana respondia suavemente à minha vontade.

Com isso, testei mais algumas aplicações e teorias. Yoskar me ajudou em alguns momentos. Infelizmente, Ravet não ensinou nada a ele, então o conhecimento dele era limitado ao que ele observou e conseguiu compreender. Ele me ensinou algumas técnicas básicas que todo Aeternus sabe. Uma delas era uma técnica de análise, onde a mana era utilizada para analisar objetos e pessoas. A mana servia como uma extensão dos sentidos.

Normalmente, somente uma pessoa que já estivesse no estágio da criação de vórtices poderia usá-la, já que eles tinham mana suficiente para mantê-la.

Usando a técnica em mim mesmo, tive uma visão do meu corpo por dentro, como uma visão de raio-x. Com esse conhecimento, junto com as escassas informações dos livros, desenvolvi minha própria técnica de circulação de mana.

Utilizando a mana que coletei dentro de mim, comecei a circular a mana no meu corpo. Lentamente, pude sentir meu corpo se aquecer como se estivesse com uma febre leve.

Lentamente, imaginei a mana me percorrendo, criando canais por onde ela pudesse correr. Lenta, mas seguramente, pude sentir a mana fluir por mim cada vez melhor e mais fácil. Também pude sentir algo saindo de mim e me cobrindo, mas ignorei.

Continuei com isso até que toda a mana que absorvi se esvaísse de mim. Quando tentei abrir os olhos, eles estavam pegajosos e grudentos.

"Yoskar, que porra aconteceu?", perguntei confuso.

"Ah, cara, como eu queria ter uma daquelas câmeras que você falou! Hehehe, parece que alguém cagou em cima de você!", ele riu enquanto pairava sobre mim. Com muita dificuldade, abri meus olhos. Meu corpo estava coberto por uma gosma preta, e o cheiro... Meu Deus, que coisa pavorosa

"Mas que porra é essa?", questionei enquanto corria para o banheiro na tentativa de me limpar daquela inhaca.