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"Bom, eu imagino que isso que saiu de você sejam suas impurezas", Yoskar falou tentando me dar uma pista para minha condição.

"Impurezas?", eu questionei enquanto me lavava.

"Sim, elas são detritos, ou coisas descartadas que se acumulam no corpo das pessoas conforme elas vivem, não leu nos livros?"

"Acho que lembro de algo assim, mas devo ter ignorado", eu respondi enquanto me secava.

"Então, como se sente? Se sente mais forte ou melhor?"

"Sim, me sinto mais leve e mais forte, e minha coordenação motora melhorou muito em comparação a antes", eu disse me alongando. Eu ainda parecia uma criatura deformada, mas meus membros estavam melhores agora.

"Quão forte?", ele perguntou com expectativa.

"Só tem um jeito de saber", eu respondi com um sorriso.

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Um dos motivos de eu ainda estar nesse laboratório, tirando o fato de que eu morreria sem os cristais de mana e o meu corpo defeituoso, eram também as bestas de mana na floresta. Ainda me lembro do terror que foi quando eu encontrei uma, quase não sai vivo dessa.

Meu corpo, mesmo defeituoso, era muito mais forte do que uma pessoa normal. Eu felizmente descobri isso logo cedo, então pude caçar presas maiores com o passar do tempo.

Eu podia correr mais rápido, pular mais alto, andar por horas a fio, minha visão era excelente, podia ver muito bem de dia e à noite também.

Mas as feras que estavam nessa floresta não eram brincadeira, elas eram maiores, mais fortes e rápidas do que eu, e algumas conseguiam usar os elementos ao redor para atacar.

Algumas, as mais fracas e simples, eu conseguia caçar com um pouco de astúcia e preparação, mas outras, como a que eu estava prestes a enfrentar, precisavam de outro método, um mais brutal.

A lua cheia pairava no céu, iluminando a floresta com um brilho pálido e fantasmagórico. O vento uivava entre as árvores, carregando o cheiro acre de terra revirada e sangue fresco. Victor sentia o suor escorrer pelo rosto enquanto mantinha sua postura de combate, os punhos cerrados e o coração martelando no peito como um tambor de guerra.

Diante dele, uma fera colossal emergia da escuridão. O Javali de Presas de Ferro. Seu corpo era um amontoado de músculos cobertos por um couro espesso e escurecido, como se houvesse sido temperado pelo próprio inferno. Os olhos da besta brilhavam com uma fúria assassina, refletindo o luar como dois orbes ensandecidos. Mas o mais aterrador eram suas presas: longas, afiadas e revestidas de um metal negro que faiscava a cada movimento.

Victor soube naquele instante que esta não seria uma luta simples. Ele não estava enfrentando um animal comum. Ele estava diante de um monstro.

Sem aviso, o javali investiu.

O chão tremeu sob o impacto. A criatura era rápida, muito mais do que seu tamanho sugeria. Victor se esquivou por pouco, rolando para o lado enquanto a fera passava por ele como um relâmpago de fúria. O solo onde antes ele estivera foi arremessado para cima em uma explosão de terra e pedras, árvores sendo estilhaçadas como gravetos.

Victor saltou para um galho baixo, recuperando o fôlego por um instante, mas a criatura já estava se virando. Ele não teria tempo para descansar.

Com um rugido gutural, o javali ergueu-se sobre as patas traseiras e golpeou a árvore com suas presas. O impacto foi devastador. A árvore rachou ao meio com um estalo seco antes de tombar com um estrondo ensurdecedor. Victor se impulsionou para longe no último momento, aterrissando no solo com um rolamento, mas não a tempo de evitar completamente o golpe. Uma lasca de madeira afiada cortou seu braço esquerdo, jorrando sangue quente pelo seu antebraço.

Ele rangeu os dentes, ignorando a dor. Seu corpo já estava coberto de cortes e hematomas das lutas anteriores. Mas não importava. Ele não podia fraquejar agora.

O javali atacou novamente, desta vez impulsionando todo o seu peso para frente em um impacto destruidor. Victor ergueu os braços em defesa, sentindo o choque atravessar seus ossos como um trovão. Ele foi jogado para trás, o corpo deslizando pelo solo e colidindo com uma rocha que rachou com a força do impacto.

Ele cuspiu sangue. Algo dentro dele havia trincado. Talvez uma costela, talvez mais.

A besta não lhe deu um segundo de trégua. Avançou com um urro ensurdecedor, o cheiro de ferro e carne impregnando o ar. Victor não tinha escolha. Ele precisaria contra-atacar.

Com um impulso desesperado, ele se ergueu e saltou em direção ao monstro. No último segundo, ele desviou para o lado, escapando da investida mortal e golpeando com toda sua força a lateral da criatura. O impacto foi feroz. Ele sentiu o punho afundar no couro espesso da besta, rachando os ossos sob sua pele endurecida.

O javali guinchou em dor, recuando por um instante. Mas Victor também sofreu com o ataque. Seu punho latejava, a pele rachada e sangrando devido à dureza do inimigo.

A batalha continuou em uma tempestade de golpes brutais e destruição desenfreada. A cada impacto, árvores eram despedaçadas, pedras se estilhaçaram e o solo era revirado como se uma catástrofe natural estivesse em andamento. Victor sentia a dor crescer em cada fibra de seu corpo, mas sua determinação queimava ainda mais forte.

Finalmente, em um último e desesperado movimento, Victor reuniu suas últimas forças. Quando o javali se preparou para mais uma investida, ele saltou para cima da fera, agarrando-se firmemente ao seu dorso. Com um grito furioso, ele desceu um golpe brutal contra a nuca da criatura, concentrando toda sua energia no ataque.

Um estalo ressoou pelo ar.

A fera guinchou uma última vez antes de desabar no solo com um estrondo ensurdecedor, seu corpo já sem vida.

Victor rolou para longe, seu corpo completamente exausto, o peito arfando e os olhos fixos no céu estrelado. Ele havia vencido. Mas a um custo terrível.

Seu corpo estava coberto de feridas, sangue escorrendo livremente por cortes profundos e hematomas se formando por toda parte. Mas, apesar da dor excruciante, um sorriso cansado se formou em seus lábios.

Ele sobreviveu. E isso era tudo o que importava.

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Eu arrastei o corpo do javali de volta ao laboratório. Confesso que não foi uma tarefa fácil com um só braço. Meu corpo estava em frangalhos dessa vez, inúmeros ossos trincados e meu braço esquerdo estava inutilizável, mas sinceramente eu senti que valeu a pena.

Atrás de mim estava o corpo imenso do javali. Para minha sorte, ele não tinha nenhuma habilidade de mana e seus métodos de ataque eram bem simples, onde ele só podia investir para frente sem fazer curvas muito fechadas. Essa foi uma das razões da minha vitória, a outra foi realmente que minha força aumentou com a remoção das impurezas do meu corpo.

Eu não entendia exatamente como essas impurezas me enfraqueciam, mas agora que eu podia aumentar minha força só de retirá-las, eu simplesmente não podia parar.

Chegando ao laboratório, arrastei o corpo da fera para dentro. As portas eram bem espaçosas e podiam comportar o corpo dela com facilidade. Levei-o até a cozinha. Não havia muitas coisas lá; muitas se desfizeram com o passar do tempo, mas ainda restavam alguns utensílios, principalmente facas.

Confesso que, na primeira vez que fiz isso, causei uma bagunça. Fiquei encharcado de sangue e o cervo virou uma bagunça de retalhos de carne. Desde então, melhorei meus métodos de dissecar carne. Quem diria que o conhecimento para cirurgias que aprendi serviria para isso?

A pele do javali era muito dura, então comecei a cortar a partir da boca. Fiz um corte limpo até a barriga, abrindo-a e retirando os órgãos, deixando o sangue escorrer.

As coxas eram muito robustas e duras, o que não facilitava o fato de eu só ter uma mão boa. Cortando no sentido contrário às fibras musculares, lenta, mas seguramente, consegui retirá-las. Logo após, coloquei-as em cima de uma tábua de pedra que ficava sobre a formação de fogo do laboratório.

Yoskar disse que as formações funcionam com runas de fogo, que eram um subproduto dos fragmentos, mas que, para poder usá-las, era necessário mana e ser um caminhante no caminho da Anima. Então, eu não tinha essa possibilidade.

Yoskar apareceu silenciosamente ao meu lado, mas não falou nada. Um chiado agradável logo se transformou em um barulho de fritura por causa da gordura da carne, junto com o cheiro maravilhoso de carne frita. Minha boca já salivava incontrolavelmente só de imaginar o gosto.

"Como foi?" Yoskar perguntou.

"Difícil, mas não impossível. Se minha força continuar aumentando tanto quanto dessa vez, acho que podemos limpar um dos obstáculos que nos impedem de sair", eu disse com confiança.

Após um momento de espera, a carne estava no ponto ideal. Eu não me importei em colocar tempero; o gosto puro dela já era maravilhoso.

Arrancando um grande pedaço de carne, eu mastiguei lentamente, apreciando o gosto divino e a fraca quantidade de mana que a carne continha. Fiquei surpreso quando ela não desapareceu no meu corpo como de costume, mas começou a correr pelo caminho que eu estava criando. Uma parte se espalhou, mas a maior parte se focou nas minhas feridas e em meu braço ferido. Senti um formigamento irritante pelo corpo, como se milhares de formigas rastejassem por debaixo da minha pele.

Então, senti o inchaço e a dor diminuírem um pouco. Um sorriso adornou meus lábios enquanto eu tirava mais um pedaço. "Sim, definitivamente valeu a pena."