Capítulo 44 - Antigas Lágrimas de Revolta; Parte 1

A poeira fina da montanha ainda se assentava atrás deles quando o grupo finalmente pisou no solo úmido que antecedia a Floresta dos Goblins. A vegetação densa abafava a luz do sol, criando sombras inquietantes que pareciam se mover conforme caminhavam. Midoki mantinha os sentidos aguçados, enquanto Elyra caminhava ao seu lado, observando atentamente os arredores. Neptune parecia perdido em pensamentos, enquanto Belphegor, sempre atento, franzia a testa de maneira séria.

Foi ele quem parou primeiro.

Belphegor: "Parem de se esconder." - Sua voz cortou o silêncio pesado, carregada de autoridade.

Os arbustos estremeceram e, aos poucos, silhuetas pequenas e maltratadas emergiram de entre as folhagens. Goblins. Suas vestes estavam em frangalhos, e seus corpos apresentavam cicatrizes, hematomas e queimaduras mal cicatrizadas. Um deles, que parecia ser o líder, deu um passo à frente. Seu rosto era marcado pela exaustão e pela fúria contida.

Tadyus: "Não queremos mais invasores em nossas terras. Vão embora." - A voz rouca de Tadyus tremia, mas não por medo. Era raiva.

Elliot abriu a boca para perguntar algo, mas antes que pudesse formar uma frase, Tadyus rugiu:

Tadyus: "Cale a boca!"

Elliot recuou um passo, pego de surpresa pela agressividade. Elyra, por outro lado, adiantou-se com cautela, sua expressão gentil. Sua voz veio como uma brisa leve, tranquilizadora:

Elyra: "Perdoe-nos. Não viemos para trazer mais sofrimento. Podemos entender o que aconteceu? Prometo que não causaremos nenhum mal."

Os olhos amarelados de Tadyus cravaram-se nela, avaliando. Por fim, ele respirou fundo, relaxando levemente os ombros.

Tadyus: "Há um tempo atrás… um ano e nove meses, para ser exato… um Gigante apareceu aqui e fez essa mesma pergunta. Logo depois, um homem assustador, que se autodenominava com um tal de Geulim, massacrou nossa vila. Os poucos que sobreviveram fugiram e passaram a viver entre os arbustos. Nosso objetivo agora é apenas impedir aventureiros desavisados de entrarem na floresta, pois ela se tornou um território de morte."

Houve um silêncio carregado. O próprio ar parecia pesar sobre o grupo.

Midoki: "E… o que aconteceu com essa vila depois disso?" - Perguntou, sua expressão sombria.

Tadyus: "Os invasores a tomaram para usá-la como base de suprimentos. Eles transportam cargas direto para a Prisão de Surtur. Mas recentemente, ouvimos que um Gigante, uma Anã e um Dragonoid derrotaram todos os demônios lá." - Tadyus estreitou os olhos. - "Também havia outra pessoa com eles, mas o informante que conversava com os demônios afirmou que ele se cobria com um manto."

Midoki arregalou os olhos, seu coração disparando com a súbita conexão.

Midoki: "Você ouviu os nomes do Gigante ou da Anã?

Tadyus balançou a cabeça.

- Tadyus: "Infelizmente, não."

O grupo trocou olhares. Algo maior estava se desenrolando ali.

A cena muda para um campo devastado pela batalha.

O cheiro de enxofre e sangue impregnava o ar. Corpos de demônios jaziam espalhados pelo solo negro e retorcido, enquanto, ao centro, uma figura colossal permanecia de pé, ofegante. Gronnak. Seu corpo imenso, coberto de cicatrizes novas, tremia levemente. A Benção de Gaia já não o sustentava como antes.

Ao redor dele, Palnak e Grendor dormiam profundamente, exaustos. Um pouco afastado, Keldor estava sentado sobre uma rocha, observando Gronnak com um olhar crítico.

Keldor: "Você se segurou." - Sua voz era calma, mas carregada de insatisfação. - "Poderia ter acabado com Agares sozinho, mas hesitou."

Gronnak fechou os olhos por um instante antes de responder:

Gronnak: "E você também se segurou contra os demônios daqui."

Keldor desviou o olhar por um momento, um raro indício de desconforto em sua expressão.

Keldor: "Tsc… talvez. Depois do treinamento no Vulcão de Uatumã, Generais Infernais de baixo escalão não são mais um desafio para nós."

Um sorriso cansado surgiu no rosto de Gronnak.

Gronnak: "Então admita que também gosta de prolongar uma luta."

Keldor: "Hah… talvez." - Keldor cruzou os braços, um brilho de diversão nos olhos.

Nesse momento, um som oco preencheu o ar.

*BAM!*

Grendor e Palnak se levantaram abruptamente, cada um segurando um barril de cerveja retirado de suas bolsas que estavam seguras entre as rochas.

Palnak: "Malditos sejam os demônios, mas glória à cerveja." - Exclamou.

Os dois abriram os barris e começaram a beber, rindo. Gronnak e Keldor, contagiados pelo espírito, se juntaram a eles.

Palnak: "Thaldirur! Venha beber também! - Gritou muito alto.

O elfo sombrio, que observava a cena à distância, recusou com um aceno de cabeça.

Thaldirur: "Meu corpo é incrivelmente resistente ao álcool. Não faz sentido para mim."

Palnak fez uma careta de decepção, mas logo voltou a cantar.

A quietude momentânea foi interrompida quando Durin, que até então estava inconsciente, moveu-se levemente. Seus olhos se abriram, e ela encarou Thaldirur.

Durin: "Você…" - Sua voz era fraca, mas carregada de algo profundo.

Thaldirur virou-se para encará-la.

Durin: "Eu me lembro do seu rosto…" - Ela continuou, sua expressão se tornando amarga. - "Você é o monstro que trouxe tanto sofrimento para Elyra e seu povo no passado."

O ar pareceu se congelar.

Mas, então, ela estreitou os olhos, analisando-o mais uma vez.

Durin: "Mas há algo errado… Sua energia espiritual… é diferente."

Um silêncio tenso se instalou.

Durin: "Mesmo desacordada, consegui sentir as vibrações da sua habilidade… e é algo muito além do que Thaldirur deveria possuir."

O elfo sombrio permaneceu em silêncio por um longo momento.

Thaldirur???: "…Eu não posso revelar nada agora. Mas prometo que, em breve, tudo será explicado."

Durin estreitou os olhos, desconfiada.

Durin: "E o que precisa acontecer para que nos diga a verdade?"

Thaldirur???: "Precisamos primeiro chegar ao Abrigo de Refugiados do Reino de Lior."

Durin observou-o por mais alguns instantes, então sorriu, um sorriso cansado, mas genuíno.

Durin: "Tudo bem. Mas não ache que esqueci do passado."

O grupo relaxou, mas uma sensação de mistério permaneceu no ar.