Capítulo 44.4 - Antigas Lágrimas de Revolta; Parte 5 (Final)

A névoa densa pairava sobre o campo de batalha, onde o silêncio era apenas quebrado pelo som gotejante do sangue de Pyus se misturando à terra. Tadyus ainda tentava, em vão, se comunicar com os outros grupos, mas seu dispositivo permanecia mudo. Seu coração pulsava acelerado, e seu olhar vacilava entre o cadáver mutilado de seu companheiro e a silhueta sombria de Black Shuck.

A criatura, antes um monstro grotesco e colossal, agora se encontrava reduzida à sua forma pequena e sinistra. Ela se aproximava lentamente, os olhos vermelhos reluzindo com uma malevolência faminta. Tadyus piscou, confuso. Onde estava aquela besta descomunal de antes? Sua mente oscilava entre o terror e a curiosidade. Instintivamente, ele se abaixou para examinar melhor a criatura.

Foi quando Black Shuck escancarou a boca, sua mandíbula se alargando de forma impossível, revelando fileiras de dentes serrilhados prontos para engoli-lo inteiro. Tadyus, porém, sorriu. Era um sorriso estranho, quase perturbador, um reflexo do êxtase macabro que a iminência da morte lhe trazia. Mas a mordida fatal nunca veio.

De repente, um uivo agônico preencheu o ar. Black Shuck recuou em um frenesi desesperado, sua boca queimando em chamas azuladas e profanas. Eram as Chamas Infernais de Belphegor. O demônio surgira das sombras como um arauto da destruição, seus olhos bruxuleando com uma frieza calculista.

Belphegor: "Fardo das Chamas Eternas..." - Murmurou o nome de sua habilidade, enquanto a criatura se debatia.

Black Shuck arfava, tentando escapar da dor incinerante. Sem outra alternativa, correu até um lago próximo e mergulhou a cabeça nas águas escuras. Mas o inferno dentro de sua boca era insaciável. O fogo não se apagava. Pelo contrário, devorava a criatura de dentro para fora, selando seu destino.

A cena se dissolveu brevemente, transicionando para os outros grupos de goblins que haviam fugido para o acampamento. Lá, encontraram Midoki e seus companheiros. Desesperados, explicaram o que ocorrera. Midoki apenas franziu o cenho, seu olhar se tornando cortante como a lâmina de sua katana.

Midoki: "Vamos." - Sua voz foi um comando silencioso, mas carregado de determinação.

A cena volta para Belphegor, que sem perder tempo, avançou em direção a Black Shuck, que agora cambaleava, sua forma disforme sendo consumida pelo fogo. O monstro tentou atacar com suas garras, mas suas forças estavam dissipando. Tentou ativar o Blackout, sua habilidade mais temível. Porém, o mecanismo não se concretizou. A boca, agora um poço de chamas e dor, era sua única via de ativação. Belphegor não hesitou. Com um golpe limpo e implacável, decepou a cabeça da criatura.

O corpo de Black Shuck tombou, finalmente inerte. Um silêncio sepulcral preencheu o ar.

O cheiro de carne queimada impregnava o ar. As Chamas Infernais de Belphegor ainda dançavam ao redor da cabeça decepada de Black Shuck, uma Quimera de Helheim cuja fúria havia sido silenciada de forma brutal. O lago próximo refletia o clarão azulado, tremeluzindo como se o próprio mundo tivesse prendido a respiração diante do fim abrupto da criatura.

Tadyus, ajoelhado no solo úmido, ofegava. O calor ainda emanava de seu corpo, resquício da proximidade com o combate. Sua expressão não era de medo, nem de alívio, mas algo mais complexo, um misto de fascínio e gratidão contida. Seus olhos se fixaram em Belphegor, e então, ele abriu um sorriso cansado.

Tadyus: "Eu sabia que você viria." - Murmurou, quebrando o silêncio sepulcral.

Belphegor ergueu uma sobrancelha e soprou uma pequena labareda para o lado, como se quisesse afastar o cheiro da morte.

Belphegor: "Você sabia?" - Retrucou o demônio, sua voz grave carregada de ironia. - "Pois eu não sabia. Foi por isso que me preparei."

Ele cruzou os braços, observando os restos carbonizados da besta que momentos atrás poderia ter devorado a todos sem hesitação.

Belphegor: "Eu dormi mais cedo porque senti que algo estava fora do lugar. Quando a diversão era demais, quando as risadas pareciam genuínas demais... era porque a noite nos reservava algo. Então acordei e, resolvi ficar de guarda, vigiar os caminhos para garantir que, ao amanhecer, pudéssemos partir sem surpresas."

Tadyus assentiu, finalmente se pondo de pé. O vento noturno acariciava sua pele, fria em contraste com o calor que ainda dançava no ar.

Então, os goblins chegaram.

Midoki estava à frente, os olhos brilhando com um misto de preocupação e vigilância. Elyra foi o primeiro a correr em direção a Tadyus, segurando-o pelos ombros.

Elliot: "O que aconteceu aqui?" - Elliot perguntou para Belphegor, os olhos vasculhando o campo de batalha.

Belphegor: "Bem...'

Elyra: "Você está bem? Tadyus..."

Antes que Tadyus pudesse responder, os outros goblins o cercaram. Pequenas mãos tocaram seu rosto, seus braços, como se quisessem se certificar de que ele era real, que estava inteiro. Eles choravam, suas vozes um emaranhado de pedidos de desculpa e alívio incontido.

Belphegor, ainda parado junto ao corpo caído de Black Shuck, limpou a sua luva com um gesto meticuloso antes de responder a Elliot.

Belphegor: "Essa coisa..." - Ele chutou o cadáver com desprezo, arremessando-o para longe. - "Era uma Quimera de Helheim. Para ser mais exato, era..."

Antes que pudesse terminar sua explicação, um fenômeno inesperado os interrompeu. A cabeça de Black Shuck começou a inchar e crescer, vibrando com uma energia maligna. As cores ao seu redor se distorciam em tons de negro profundo, e um som grave e ameaçador preencheu a área.

O som cortou o ar.

Um ruído profundo e ensurdecedor.

Cabeça de Black Shuck: "WOOOOOOOOOOON!" - O ruído reverberou como um sino funesto, seguido por um som fino e penetrante.

A cabeça de Black Shuck inchou. Expandiu-se como se algo dentro dela tentasse escapar. Fendas negras se abriram em sua superfície, liberando uma luz distorcida, como se o próprio espaço estivesse se dobrando ao redor. O corpo e a cabeça da criatura se desfizeram em um redemoinho de trevas.

Belphegor franziu o cenho, os punhos se cerrando em um reflexo instintivo.

Belphegor: "O que foi isso...?" - Murmurou.

Midoki se virou para Belphegor, a tensão evidente em sua postura.

Midoki: "Tenho um mal pressentimento." - Sua voz era firme, mas havia um peso nela.

Elyra, ao contrário dos outros, não olhava para a criatura desaparecendo. Seu olhar estava fixo no vazio além, como se enxergasse algo que os outros não viam. Neptune notou e se aproximou.

Neptune: "Elyra? O que está vendo?" - Perguntou, o tom preocupado.

Então, o ar ao redor deles pareceu se retorcer, como se a própria realidade estivesse se ajustando à presença de algo maior. Passos lentos ecoaram no chão de terra batida. A figura que emergiu era elegante e soturna, seu andar tranquilo, quase desinteressado. Os olhos eram de um azul claro profundo e insondável, como se continham o próprio abismo.

??? "Olá, senhora e senhores." - A voz era suave, mas carregada de um poder velado. Um sorriso quase cortês curvou seus lábios. - "Prazer em conhecê-los." - A voz era arrastada, melodiosa, carregada de uma arrogância sutil.

O silêncio era absoluto. Todos podiam sentir a aura esmagadora da entidade diante deles.

Astaroth: "Eu sou... Astaroth. - Ele fez uma pausa, como se estivesse se deleitando com o peso de seu nome. - "Isso mesmo, sou Astaroth, um dos 10 Decretos do Abismo. Conhecido como o Decreto da Demora." - Ele abriu um sorriso pálido.

Os olhos de se estreitaram, um brilho sombrio neles. Seus olhos varreram o grupo, detendo-se em Midoki, depois em Belphegor. Seu sorriso se alargou.

Astaroth: "Eu sou Astaroth da Demora." - Repetiu, cada sílaba um gotejar de veneno.

E assim, o verdadeiro pesadelo começava. A noite, que já era densa e opressiva, tornou-se ainda mais sombria.