O tempo parecia se arrastar na densa escuridão da floresta. A quietude, antes um manto acolhedor da noite, tornara-se uma presença opressora, como se algo invisível pairasse sobre a terra, sufocando até mesmo o vento.
Tadyus não conseguia afastar a inquietação que lhe apertava o peito. A ausência de Edwald, o ar carregado... Havia algo profundamente errado.
De súbito, ele se ergueu. Seus olhos percorreram a paisagem, mas tudo que enxergou foi um negrume avassalador.
A escuridão havia se tornado... absoluta.
Como um Blackout.
Seu coração acelerou. Ele se virou rapidamente, estendendo a mão e sacudindo um de seus companheiros.
- Tadyus: "Acordem. Todos vocês."
Um a um, os goblins despertaram, piscando os olhos, confusos. Alguns grunhiram, outros levaram as mãos às armas instintivamente. Mas assim que notaram a expressão de Tadyus, a hesitação sumiu.
- Pyus: "O que houve?" - Um deles perguntou, voz baixa.
Tadyus não respondeu de imediato. Ainda fitava a escuridão ao redor. A floresta já era densa, mas agora parecia que a própria noite engolira qualquer resquício de luz.
- Tadyus: "Algo mudou. Algo está aqui." - Ele enfim murmurou, antes de tomar uma decisão.
Havia perigo. Ele sabia disso. Mas acordar Midoki e seu grupo...? Não. Não agora.
- Tadyus: "Nós encontraremos Edwald sozinhos."
Os outros assentiram, confiantes. Eram vinte e um ao todo, e seguiam em silêncio pela trilha que Edwald havia tomado mais cedo.
A cada passo, o mundo parecia perder um pouco mais de sua forma. Árvores se tornavam vultos indistintos, o chão desaparecia sob seus pés. A própria floresta parecia uma entidade viva, respirando em sombras.
Quando finalmente chegaram à grande pedra... algo estava errado.
Tadyus parou abruptamente, em frente a pedra que Edwald e Edyna estariam. Nenhuma veste, nenhum osso. Nenhum indício de que algo estivera ali.
Um silêncio denso caiu sobre o grupo.
- Geul: Isso é estranho... - Murmurou um dos goblins.
- Seang: O que esperávamos encontrar? - Outro rebateu, franzindo o cenho.
Tadyus, no entanto, apenas cerrou os dentes. Ele não sabia dizer o que estava errado, mas sentia isso no âmago de seu ser.
E então, tomou uma decisão.
- Tadyus: "Vamos nos dividir. Se encontrarem algo, usem a minha Telepatia."
Os goblins assentiram. Telepatia era uma habilidade que Tadyus aperfeiçoara com anos de furtos ao Império Assírio. Agora, seria sua arma mais valiosa.
Dividiram-se em quatro grupos. Três grupos com cinco membros, e um último, com seis. Cada um partiu para uma direção distinta, desaparecendo na noite.
O grupo de Tadyus seguiu adiante.
Eles caminharam... e caminharam... e caminharam.
A floresta parecia interminável. Não havia marcos, nenhum sinal de que estavam avançando. Mas Tadyus não se preocupou. Ele ainda podia se conectar com os outros.
Ou ao menos, assim pensava.
Quando tentou alcançá-los com a mente, encontrou apenas silêncio.
Ele parou abruptamente.
- Pulwan: "O que foi?" - Perguntou um dos goblins ao seu lado.
Tadyus franziu o cenho, fechando os olhos. Tentou novamente.
Nada.
Seus punhos se cerraram.
- Tadyus: "Não consigo senti-los."
O grupo trocou olhares inquietos.
Foi então que o viram.
A mesma criatura de antes, aquela pequena e fofa besta, estava ali.
Mas não era mais pequena.
Não era mais fofa.
Ela cresceu.
Não apenas em tamanho, mas em presença. Seu corpo, antes inofensivo, agora se expandia como uma entidade colossal, um amálgama grotesco de sombras e bestas. Sua forma envolvia a própria floresta, como se a engolisse.
E então... ela falou.
- Besta Demoníaca: "Blackout."
O mundo desapareceu.
- Narrador: "A besta que se erguia diante deles era um Quimera. Uma das maldições do Abismo. Criaturas criadas da energia profana do vazio abissal. Cada uma delas nascia da corrupção de uma alma, transformada em uma besta de fúria e horror. Podiam assumir inúmeras formas, dragões, leões, lobos, ou até mesmo misturas caóticas de todos esses seres. Mas entre todas, uma delas era temida acima das demais.
A Besta Demoníaca do Clã dos Quimera.
O Black Shuck."
E agora, sua escuridão havia se espalhado pela floresta.
Cada grupo de goblins foi dominado. Suas mentes, seus sentidos, tudo foi tomado pela ilusão do Black Shuck.
E Tadyus...
Tadyus viu ela.
O amor que um dia perdeu.
Sua pele macia. Seus olhos brilhando sob o luar.
- Elan: "Tadyus..."
Ele se esqueceu da floresta. Do perigo. Do terror.
Só havia ela.
Então, ela estendeu a mão.
Mas o perfume doce de flores deu lugar ao cheiro de sangue.
As memórias invadiram sua mente.
O grito de dor. O calor do corpo dela esfriando em seus braços.
Sua morte.
O encanto se quebrou.
Ele piscou, voltando à realidade.
E então, viu os corpos.
Os cinco goblins que o seguiam... estavam destroçados.
Antes que pudesse reagir, um dos outros grupos encontrou algo.
Uma pata colossal.
Eles tentaram chamar Tadyus, mas o silêncio os consumiu.
Não tendo escolha, atacaram.
E, por um instante, a concentração da fera foi quebrada.
Tadyus se libertou da ilusão.
Mas então...
O Black Shuck voltou-se para seus atacantes.
E abriu suas mandíbulas.
A criatura mordeu lentamente, esmagando ossos um por um. O som de carne sendo dilacerada encheu o ar.
Tadyus gritou.
Ele finalmente conseguiu se conectar com a Telepatia aos outros grupos.
- Tadyus: "PEÇAM AJUDA! AGORA!"
Mas a única resposta veio de um único goblin.
- Pyus: "Eu... estou preso entre os dentes dela..."
Era Pyus.
- Tadyus: "Pyus, aguente! Vamos derrotá-la!"
Silêncio.
Então, o Black Shuck ergueu uma de suas garras.
E arrancou Pyus de seus dentes.
Por um instante, houve apenas o som de garras cortando carne.
E então, o grito final de Pyus.
Tadyus caiu de joelhos.
E enquanto lágrimas escorriam por seu rosto, o nome de seu amigo escapou de seus lábios.
- Tadyus: "PYUS!!"
A escuridão engoliu tudo.