Capítulo 47 - Precipício: A Taverna dos Sonhos

O sol poente tingia os céus da cidade de Tirza com um dourado caloroso quando os heróis finalmente alcançaram as muralhas do Reino de Siquém. O clima era quase pacífico demais, contrastando com os horrores que haviam enfrentado nos últimos dias. Midoki, Elyra, Neptune, Elliot e Belphegor estavam exaustos, mas determinados. A Capital de Siquém os aguardava um pouco distante, e nela, o homem mencionado por Spencer.

Elyra foi à frente. Conversou com os guardas num tom firme, mas respeitoso. Os portões se abriram com certa hesitação, mas nenhum obstáculo real foi imposto. Os olhos do grupo se arregalaram ao adentrar a cidade. Civis sorriam, dançavam, comiam... e entre eles, demônios. Conviviam como iguais, como se nenhuma guerra jamais houvesse acontecido.

Elliot: "Moça, tu... você sabe que seu marido é um demônio, certo?" - Perguntou Elliot a uma jovem mulher, confuso.

Ela virou-se com os olhos semicerrados e respondeu com uma mistura de orgulho e provocação:

Moça: "É claro que sei. Ele é tão tentador... e gostoso." - Seu olhar pousou sobre o marido demônio com um brilho faminto e apaixonado.

Belphegor, que já estava desconfortável, desviou os olhos. Até ele não sabia o que sentir.

Neptune cruzou os braços, ponderando:

Neptune: "Se isso for real... talvez Astaroth estivesse certo. Talvez nem todos os demônios desejem a guerra."

Midoki, de olhos semicerrados, deu alguns passos à frente e resmungou:

Midoki: "Não importa... vamos logo."

Enquanto cruzavam as vielas de Tirza, os olhos de Midoki se perderam em lembranças. Uma brisa leve soprou, e ele disse:

Midoki: "Ahhhh, que nostalgia. Eu me lembro muito bem desse lugar."

Elyra o olhou, surpresa:

Elyra: "Você... já esteve no continente de Solvaris?"

Midoki sorriu, quase com doçura:

Midoki: "Quando eu era pequeno, meu mestre, Alden, me trouxe até essa Taverna. Aqui vendiam os melhores bolos confeitados..." - Ele engoliu em seco, com a memória quase saborosa nos lábios.

Adentraram o estabelecimento. O ar estava carregado de especiarias, risos e música suave. Sentaram-se numa mesa afastada, onde a luz era mais branda. Aos poucos, foram se soltando. Histórias foram compartilhadas entre taças e pães quentes.

Belphegor, com os olhos fundos de cansaço, quebrou o silêncio:

Belphegor: "Qual é o sonho de cada um de vocês? Sei que talvez seja tarde pra perguntar... mas como fui o último a entrar no grupo, ainda não os conheço direito."

Midoki cruzou os dedos sobre a mesa, pensativo.

- Midoki: "Você conhece a antiga lenda dos Cavaleiros Templários, certo? Quero cumprir essa profecia. Mas... tem algo mais." - Sua voz vacilou por um instante.

Midoki (pensando): "Desde pequeno, escuto uma voz. Uma bruxa... uma feiticeira envolta em mantos negros e roxos. Quero entender quem ela é, por que me chama."

Elyra ergueu os olhos com suavidade ao ouvir o objetivo de Midoki, mas não o questionou. Sua voz era serena, quase mística:

Elyra: "Meu sonho é dar minha vida para ajudar Midoki. Quando ele me salvou... senti que ganhei um novo sentido. Depois disso, ninha raça foi extinta. Hoje, ele é meu único porto seguro."

Neptune a olhou de relance. Seu olhar era enigmático. Pensava? Sentia?

Neptune: "E se você encontrasse mais alguém da sua espécie?" - Perguntou ele, com voz baixa.

Elyra não respondeu. Apenas olhou para Midoki. Longamente.

Elliot, por sua vez, permaneceu em silêncio. Mas achou Elyra incrível por falar com tanta coragem, ali, diante do homem que amava.

Neptune pigarreou.

- Neptune: "Tenho uma dívida com os Templários. Vou ajudá-los a qualquer custo. Mas meu verdadeiro sonho é..." - Ele ergueu o queixo com orgulho. - "Ser um rei ainda mais poderoso do que meu pai, Poseidon."

Elliot sorriu.

Elliot: "Eu quero ser um Emissário do Zodíaco invencível. E, pra isso, preciso quitar minha dívida com Midoki."

Midoki voltou-se então para Belphegor:

Midoki: "E você?"

Belphegor fixou os olhos na taça. A luz refletida em seu rosto revelava angústia contida:

Belphegor: "Meu objetivo está aqui. Em Siquém. É só isso que quero."

Midoki arregalou os olhos.

Midoki: "Então você se aliou a nós apenas pra chegar aqui? E depois...?"

Silêncio. A mesa ficou gelada por um instante. Mas logo, Midoki soltou uma risada seca.

Midoki: "Heh... que tipo estranho você é."

O Barman ligou uma música animada. A tensão se dissipou pouco a pouco. Os heróis comeram. Riram. Esqueceram-se momentaneamente de seus objetivos.

Mas fora da Taverna de Tirza, um homem encapuzado atravessava a noite com um papel nas mãos. Seguiu até a Fortaleza de Tirza. Um soldado demônio o recebeu, leu o papel e partiu apressado até a ala principal.

Solado Demônio: "General Berith, uma carta para a senhora."

Berith leu com olhos de brasas. Ao terminar, rasgou a carta com um gesto furioso.

- General Berith: "Como ousam... Eu vou destruir esses pirralhos!"

E o capítulo se encerra com os olhos ardentes da General, a promessa da destruição ressoando como um trovão silencioso nos corredores de pedra da fortaleza.