Enquanto todos se distraiam na Taverna Precipício, um flash abrupto de energia sombria devastou o local com uma violência quase ritualística. A madeira se partiu como se implorasse por misericórdia, o fogo crepitava no ar rarefeito, e o som da destruição reverberava como um trovão impiedoso. A taverna, outrora santuário dos guerreiros, foi completamente arrasada.
No mesmo instante, uma tropa colossal cercava o local. Humanos e demônios marchavam lado a lado, cada um portando marcas da corrupção, olhos queimando em tons rubros, veias pulsando com energia maldita, e auras que oscilavam entre agonia e poder absoluto. Midoki, ao presenciar aquela cena, cerrou os punhos e sentiu o coração apertar em uma memória visceral, aquilo era o efeito do fragmento do caos. O amargo gosto da lembrança se alojou em sua garganta.
A milhas dali, no topo da Fortaleza de Tirza, uma figura feminina desativava sua aura. Os resíduos de energia sombria se dissipavam em espirais lentas ao redor de Berith, seus olhos ainda incandescentes pela descarga que havia arremessado contra Midoki e seus companheiros. Ela observava a destruição com o semblante carregado, mas sem remorso.
Na base dos escombros, Midoki andava entre as cinzas, o cheiro de madeira queimada e cerveja evaporada se mesclava ao de memórias recentes.
- Midoki: "Minha taverna favorita... o bolo ainda nem estava pronto..." - Murmurou com amargura. A raiva tomava forma em sua expressão. - "O bolo..."
- Midoki: "Eu vou destruir quem fez isso... com minhas próprias mãos." - Sua voz ecoou sombria.
Elyra, ao seu lado, tocou-lhe o ombro, com os olhos serenos e firmes:
- Elyra: "Midoki, ninguém morreu. Isso não foi um ataque para nos matar, apenas para nos chamar atenção. Respire. Controle-se."
Belphegor, encostado em um destroço de pilar, ofegava levemente:
- Belphegor: "Nos entregar é a melhor opção... Eles querem algo. E se nos mantermos vivos, talvez tenhamos uma chance de virar o jogo."
Neptune e Elliot trocam olhares breves, e são os primeiros a levantar as mãos em rendição. Midoki hesita, mas acaba por seguir, ainda com a fúria velada nos olhos. Elyra caminha ao seu lado. Por fim, Belphegor se entrega.
A Fortaleza de Tirza os esperava como um mausoléu vivo. As torres negras pareciam sussurrar ameaças. Dentro, General Berith aguardava em um salão de pedra e ferro. Seu grito rasgou o ar:
- Berith: "COMO RAIOS CRIANÇAS COMO VOCÊS OUSAM INVADIR MEU TERRITÓRIO?! JÁ NÃO BASTA TEREM DERROTADO O MEU FORNEUS? SEUS CAVALEIROS INÚTEIS!!"
O silêncio da comitiva foi tumular. Belphegor ergueu os olhos, encarando-a. Berith se aproximou dele, o rosto uma máscara de desprezo:
- Berith: "Você... seu traidor miserável. Não posso acreditar..." - Ela cuspiu as palavras como veneno.
Ela levanta o punho, pronto para desferir um golpe fatal contra ele, mas antes que pudesse tocar o ar, um soldado irrompe no salão.
- Soldado: "G-General! Uma mensagem urgente... da Lady Ardat Lili."
- Berith: "Fale logo ou eu te rasgo em duas partes, verme!" - Grita ela, girando o corpo com fúria acumulada.
- Soldado: "L-Lady Lili... convocou vossa presença. Ordena que leve os invasores ao castelo... de Siquém.
O rosto de Berith se contorceu em fúria pura, mas ela conteve o ódio como se fosse um vinho amargo engolido seco.
A caravana chega ao monumental castelo de Siquém, envolto por colinas púrpuras e um jardim de beleza sinistra. Berith desmonta do cavalo com brutalidade. Seu exército permanece do lado de fora, junto dos prisioneiros.
No salão real, entre colunas douradas e cortinas escarlates, Ardat Lili repousava em um trono de cristal negro. Seu sorriso era indecifrável. Homens fortes massageavam seus ombros e pés, como se ela fosse o centro gravitacional de um mundo submisso.
Berith se ajoelhou diante dela, respirando fundo:
- Berith: "Lady Lili... por favor, permita-me dar um fim a esses cavaleiros... Não merecem continuar vivos. Lúcifer desejaria isso, tenho certeza..." - Sua voz treme, mas não era por medo ou ansiedade. - "Ele preferiria vê-los mortos do que-"
- Ardat Lili: "Chega, Berith." - Interrompeu Lili, com voz melodiosa e afiada. - "Lúcifer odeia os humanos, sim... mas ele não pediu para aniquilá-los. Aplicarei minha habilidade espiritual neles. Desde que os controle, servirão bem ao nosso exército. Ajoelhados, obedientes... ele gostará."
Berith bufava internamente, cerrando os dentes.
- Berith (pensando): "Tsc…" - Berith range os dentes, com o olhar em brasa. - "Já basta passar pano para aquela miserável da Andras..."
A porta do salão se abriu. Andras surge, leve como uma brisa traiçoeira.
- Andras: "Irmã Lili, reguei o jardim, como me pediu. Ah, e aquele homem... continua lá no jardim. Uma pena não podermos invadir aquela parte. Dizem que precisamos de um "convite", né?" - Disse Andras, sorrindo.
Seus olhos logo caíram sobre Berith, ainda ajoelhada.
- Andras: "Ora, ora... Irmã Berith. Você fica tão fofa ajoelhada..."
Berith fechou os olhos, o maxilar tenso. Estava prestes a explodir, mas Lili interveio:
- Ardat Lili: "Chega de brincadeiras, Andras. Temos assuntos sérios."
Ordenou que os prisioneiros fossem trazidos. Berith sai do salão e instrui os soldados:
- Berith: "Tragam os prisioneiros. Se algum tentar fugir... matem sem hesitar."
No interior da carroça, Midoki encara a madeira úmida ao redor. Sente o cheiro de ferro, de energia antiga... e o olhar de alguém observando-o de longe. Em uma das janelas, Andras o observa.
- Andras (pensando): "Aquele garoto... é tão fofo. Que sentimento é este que estou... sentindo?" - Pensou, sentindo algo que não conhecia, um calor estranho no peito.
Dentro do castelo, Midoki cochicha a Belphegor:
- Midoki: "Era isso que você queria, não é? Chegar a Siquém... E agora?"
Belphegor retribui com uma seriedade sombria:
- Belphegor: "Preciso encontrar a "rainha" deste lugar." - Respondeu Belphegor, sem olhar para ele. - "Mas... não espero que entenda. Se quiser fugir, fuja agora. Eu provavelmente não volto com vocês."
Midoki o observa em silêncio. Algo se rompe dentro dele... confiança, talvez. Mas não havia tempo. Midoki segue em silêncio. Seus olhos analisam cada parede do castelo, buscando saídas. Ao avistar uma janela aberta para o jardim, algo o chama. Um sussurro, uma energia.
- Midoki (pensando): "Lá... aquele... jardim."
Ele concentra o que resta de sua energia. Seu corpo vibra. Então, num movimento preciso, ativa:
- Midoki (sussurra): Lei Manipulacionismo - Espaço.
Um corte invisível rasga o espaço e ele desaparece, surgindo instantaneamente no jardim. Lá, a energia era antiga. Quase viva.
- Midoki (pensando): "Esse corpo... de sete mil anos atrás... o teste na Zona Espiritual... refinou essa lei. Mas... agora, o que restou da minha energia espiritual após a batalha contra Astaroth, se foi completamente."
Soldados gritam atrás. Olham pela janela e o veem no jardim. Correm. Mas quando chegam...
Midoki já havia desaparecido. A janela aberta balança levemente com o vento.
O jardim guarda o silêncio.
E o capítulo termina.