A névoa rarefeita que envolvia o jardim escondia um mundo à parte, suspenso na fronteira entre o real e o ilusório. Midoki atravessou a barreira energética como quem ultrapassa o limiar de um sonho. Do outro lado, um campo florido se estendia por centenas de metros, respirando vida em cada pétala e cada sopro do vento. O céu ali parecia mais próximo, como se todo o universo silenciasse para ouvir o que se seguiria.
À frente, envolto por um brilho quase etéreo, havia um lago perfeitamente límpido, onde a água refletia com precisão divina o céu florido. No centro, sobre a superfície, uma mesa redonda com um guarda-sol de linho branco se erguia elegantemente. Sentado em uma cadeira, um homem imóvel, com olhos fechados, mantinha-se como uma estátua viva. A imagem contrastava violentamente com o que Midoki conhecia de Siquém.
- Midoki: "O que é esse lugar...?" - Sussurrou ele, mais para si mesmo do que para qualquer entidade que ali pudesse ouvi-lo. Cada passo que dava sobre a superfície do lago, seus pés não afundavam. A água o sustentava como se reconhecesse a essência de sua alma.
Enquanto isso, dentro do castelo, o caos tomava forma. Guardas corriam em pânico, arrastando os prisioneiros até Berith, que aguardava do lado de fora do salão de Ardat Lili. Um dos soldados, com os olhos arregalados, gritou:
- Soldados: "General Berith! Ele... Ele escapou! Midoki sumiu!"
Berith sentiu seu peito arder. A pressão de sua energia se ergueu como uma tempestade em ebulição. Seu rosto se distorceu de raiva pura. Os ecos de seu poder fizeram as paredes do corredor tremerem. Sem dizer uma única palavra, ela explodiu em velocidade, destruindo parte das muralhas do castelo ao passar. Um turbilhão de energia e ódio.
Ardat Lili, sentindo o distúrbio, levantou-se abruptamente de seu trono. Seus olhos dourados brilharam com uma centelha de tensão. Em instantes, atravessou o salão como uma flecha, abrindo as portas com violência. Mas o que viu a fez parar: partes das paredes haviam ruído, algumas colunas quebradas, e Berith já não estava ali. Um rastro de destruição marcava sua trilha.
À esquerda, alguns guardas gemiam, feridos, enquanto correntes quebradas pendiam de mãos vazias. Todos haviam fugido, todos, exceto um.
Belphegor permanecia ali, acorrentado, ajoelhado, com o rosto sereno e olhar penetrante. Ardat Lili o fitou com desprezo e frieza.
- Ardat Lili: "Só restou você... verme? Mas você é um demônio?" - Seu tom era cruel, inquisitivo.
Belphegor levantou levemente o queixo. Um meio sorriso se formou em seus lábios.
- Belphegor: "Você não se lembra de mim, Lilith?"
O silêncio pairou por um momento. A general franziu o cenho.
- Ardat Lili: "Não faço ideia de quem seja essa pessoa."
Mas Belphegor mantinha o olhar firme, penetrante. Pensava consigo:
- Belphegor (pensando): "Definitivamente é ela. Mesmo com o tom do cabelo levemente diferente... essa energia, essa arrogância. A personalidade... o nome. Só pode ser Lilith. A minha irmãzinha."
Lili, desconfiada, desviou o olhar. Concentrou-se e, com delicadeza brutal, projetou sua percepção. Uma presença singular se destacava: poderosa, distinta, viva. Seus olhos se arregalaram levemente.
- Ardat Lili: "Standard-Ôou..." - Murmurou, desaparecendo em um piscar de olhos.
No jardim, Midoki se aproximava da mesa. Ainda desconfiado da natureza do lugar, ergueu o pé hesitante sobre a água. Para sua surpresa, a superfície sólida o recebeu sem resistência, como se reconhecesse o peso de sua existência.
Enquanto avançava, contemplava o mundo em volta. Nenhuma casa, nenhuma torre, nenhuma muralha visível. Era como se tivesse sido arrancado da realidade.
Isso não é Siquém... Não está dentro dela. É outro plano? Um fragmento selado? Um eco do mundo?
A poucos passos da mesa, ele parou. O homem continuava imóvel, olhos cerrados, mãos repousando sobre a mesa como folhas em uma brisa calma.
Midoki hesitou, mas puxou a cadeira e se sentou.
Então, como se aquele movimento tivesse ativado uma sequência ancestral, o homem abriu os olhos. Pupilas douradas brilharam com uma luz antiga e intransigente. Um sorriso discreto surgiu.
- ??? "Finalmente... Após milhares de anos, você está aqui."
A voz era profunda, pausada, como se arrastasse ecos de eras.
- ??? "Midoki Lior... ou devo lhe chamar por seu verdadeiro nome..."
O homem inclinou-se levemente à frente, os olhos brilhando intensamente:
- ???: "Midoki Enshin."
Naquele momento, Midoki estreitou os olhos, sua voz grave atravessando o ar estático:
- Midoki: "Quem é você? E do que exatamente está falando?"
O homem respirou profundamente, como se suas palavras estivessem trancadas há milênios:
- Aurelius Seraphis: "Eu me chamo Aurelius Seraphis... e sou um dos Sete Sacramentos Arcanos."
O silêncio se instaurou como uma sentença. E o capítulo se encerrou.