Capítulo 48.1 - O Nome Esquecido: Quando o Passado Clama Pelo Fim dos Tempos

"O tempo não anuncia quando pertencemos ao que é maior que nós. Apenas nos oferece enigmas que nossa alma teme decifrar." - Fragmento perdido do Manuscrito de Vissagars

Midoki franziu o cenho. Seus olhos azuis cintilavam à luz esbranquiçada da dimensão onde se encontrava. Uma aura densa e quase silenciosa os cercava, como se o ar estivesse à espera de uma revelação que não podia mais ser contida.

Ele fitava o homem diante de si, aquela figura enigmática, aureolada por um brilho tênue e dourado do sol, como se cada célula de seu corpo pulsasse com conhecimento proibido. E ainda assim, havia nele um traço de leveza, um sarcasmo insolente que deixava tudo mais incômodo.

- Midoki: "Sete Sacramentos Arcanos?... Esse nome... já ouvi antes. Foi o meu mestre quem comentou, brevemente, como se falasse de um segredo que não queria dividir... E aquele maldito do Spencer podia ter me contado mais sobre isso."

Pensamentos em espiral apertavam o peito de Midoki. Algo dentro dele se debatia.

Aurelius: "Você fica muito fofo pensativo desse jeito..." - Disse Aurelius Seraphis, rompendo o silêncio com uma voz aveludada, quase debochada. - "Desse jeito, acabo me apaixonando."

Midoki desviou o olhar, desconcertado, franzindo os lábios com desconforto.

Midoki: "Não brinca comigo." - Respondeu com frieza. - "E... o que quer dizer com "me chamar de Enshin"?"

Aurelius sorriu com um misto de ternura e provocação. Seu olhar parecia atravessar os véus do tempo.

Aurelius: "Esse é o seu nome, ué. Enshin... Foi o primeiro nome que recebeu. Concedido pelo seu verdadeiro pai."

Midoki estreitou os olhos, em uma mistura de confusão e negação.

Midoki: "Meu pai...? Está falando do Rei Canvos?"

Aurelius riu. Um riso curto, fino, quase infantil. E ao mesmo tempo, carregado de uma compaixão melancólica.

Aurelius: "O quê? Não... Enshin-kun, Canvos foi apenas uma centelha na sua trilha. Eu estou falando do seu pai verdadeiro. O Criador. O princípio de todas as realidades. Vissagars... O Espírito Divino Eminente.

O silêncio seguinte foi brutal. Midoki não conseguia sequer respirar. Seu corpo ficou leve, como se a gravidade o tivesse abandonado. Seu coração, antes tão convicto, hesitou.

Midoki: "Então..." - Murmurou, com a voz trêmula - "...não foi meu poder que criou tudo?"

Aurelius respirou fundo. Pela primeira vez, sua postura soou menos cômica. Quase reverente.

Aurelius: "Bem, o seu poder de fato criou este universo..." - Disse, vagarosamente. - "Mas não o multiverso. A verdadeira realidade transcendente vem de uma única fonte, e o seu poder... o Shinrei da Eminência... é apenas uma das manifestações da Trindade Absoluta de Vissagars. Onipotência, Onisciência, Onipresença."

Aquelas palavras pareciam afundar em Midoki como lâminas de memória. Dentro de sua mente, fagulhas de uma lembrança ancestral se acenderam. Um eco longínquo, um fragmento de uma voz antiga:

Midoki (Memórias de Vissagars): "Você... sempre irá se reencarnar com este mesmo nome, 'Midoki'... Mas... deixar você com todo meu poder... não posso fazer isso."

A visão o desequilibrou por um instante.

- Aurelius: "Enshin-kun..." - Chamou, com um tom suave e nostálgico.

Midoki ergueu os olhos, agora endurecidos pela negação.

Midoki: "Não me chame assim." - Disse com firmeza. - "Não somos próximos. Esse não é meu nome. Eu me chamo Midoki Lior."

Por um segundo, o brilho nos olhos de Aurelius apagou. Ele suspirou.

Aurelius: "Ah... que pena. Em uma das suas encarnações passadas, fomos bons amigos. Você até sorria quando eu te chamava assim. Mas, bem... naquela época eu ainda não possuía o conhecimento de todo o cosmo."

Essa última frase congelou Midoki. Ele a agarrou com urgência.

Midoki: "Espera. Como assim... "conhecimento de todo o cosmo"? Há quanto tempo está vivo para saber tanto assim?"

Aurelius se levantou da cadeira e se virou de costas, como se a pergunta o divertisse, mas também o incomodasse.

Aurelius: "Você está extrapolando minha boa vontade, sabia?" - Murmurou com um sorrisinho torto. - "Eu não vou te responder tudo, até porque, como você mesmo disse... não somos próximos. Mas... se quiser saber mais... há um preço, gatinho."

Midoki sentiu um calafrio.

Midoki: "Qual seria o preço...?" - Perguntou, engolindo seco.

Aurelius inclinou-se levemente à frente, virando-se com um sorriso, como se compartilhasse um segredo íntimo.

Aurelius: "Eu quero que você me deixe sentir..."

Midoki estreitou os olhos, cauteloso.

Midoki: "Sentir o quê?"

Aurelius: "A aura daquele dragão..." - Disse Aurelius, quase num sussurro faminto. - "Aquele que você aprisionou dentro de si. Me deixe senti-lo. Em troca... eu te mando de volta ao passado. Para que continue o teste que... falhou."

O coração de Midoki quase parou.

Midoki: "Isso é impossível..." - Respondeu, tomado pelo terror. - "Zyndera... não é mais o mesmo. Antes ele era duas entidades, Pyndera e Gyndera. Agora... ele se fundiu. Eu não controlo mais a sua fúria. Ele é... o Dragão do Equilíbrio. E ao mesmo tempo, o fim dele."

Aurelius ergueu os ombros, desinteressado.

- Aurelius: "Bem... então não há acordo, Enshin."

Midoki abaixou a cabeça. Um peso indescritível pousava sobre sua alma.

Midoki: "Tudo bem... eu..."

Nesse instante, o espaço tremeu.

Uma onda de energia espiritual rompeu a barreira que os isolava. Algo, ou alguém, atravessava, mesmo sem a permissão de Aurelius.

As árvores vibraram. O chão se partiu em fractais de luz escura.

E então, ela surgiu.

General Berith.

Mas não como antes. Sua presença agora era um vórtice de caos. A aura do Caos se entrelaçava em torno de seu corpo como serpentes negras. Seus olhos estavam diferentes, profundos, distorcidos, como se mil almas gritassem dentro deles.

Ela caminhava em direção aos dois... e nada mais importava.

Fim do capítulo.