Capítulo 49 - A Aurora sob as Cinzas

O silêncio do planalto negro foi rompido apenas pela expressão confusa de Midoki, os olhos arregalados ao encarar aquela figura, a mulher de cabelos esbranquiçados e expressão flamejante, avançando a passos impacientes. Berith. Ele não entendeu como ela o havia encontrado, justo ali, naquele momento de fraqueza.

Ao lado dele, sentado sobre um pedaço de rocha como se contemplasse um espetáculo inevitável, Aurelius sorriu levemente, os olhos semicerrados.

Aurelius: "Bem..." - Disse ele em tom quase profético. - "Eu já sabia que isso aconteceria."

Midoki o olhou com desconfiança.

Midoki (pensando): "Será que esse cara pode prever o futuro ou algo assim?" - Pensou, enquanto franzia as sobrancelhas.

A voz estridente de Berith cruzou o abismo entre eles como uma lâmina:

Berith: "SEU FUGITIVO DESPREZÍVEL!!!!!!!"

Midoki suspirou, cambaleando um pouco.

Midoki: "Agora não adianta... Eu não tenho nenhuma energia espiritual restando..."

Aurelius se levantou, com um ar de quem havia terminado o café da manhã.

Aurelius: "Libere Zyndera... O dragão ainda tem energia em si. Isso será suficiente para firmar o contrato."

Midoki hesitou. Ele fechou os olhos, e por um instante, sentiu o cheiro de madeira queimada e cerveja derramada, lembrança viva de sua taverna favorita, agora em ruínas. Seu punho se fechou e então... desmaiou.

Berith avançou com fúria desmedida, sua adaga envolta em energia sombria pronta para o golpe final. Mas quando ela desceu sua lâmina... dois dedos da mão esquerda de Aurelius a impediram.

Aurelius: "Bem, você nunca foi do tipo que recorria aos Fragmentos do Caos... por acaso se sente fraca demais e mudou de opinião?"

Berith rosnou, explodindo em raiva:

Berith: "UM HUMANO COMO VOCÊ, JAMAIS DERROTARIA UM DEMÔNIO, SEU VERME!!!"

Aurelius girou o pulso, afastando a lâmina com elegância.

Aurelius: "Bem, enquanto ele não acorda, vou ter que me impor um pouco... Dakuwaqa, liberar!"

Um brilho intenso emergiu da palma direita de Aurelius. Um pequeno espírito-tubarão surgiu, flutuando no ar.

- Dakuwaqa: "Por que foi que você me invocou, mestre?" - Disse Dakuwaqa, bocejando.

- Aurelius: "Nada muito sério. Você sozinho pode dar conta da General Berith logo ali?"

Dakuwaqa lançou um olhar preguiçoso para Berith e suspirou.

Dakuwaqa: "Ahhh... o senhor me acordou apenas para derrotar um simples demônio? O senhor é muito mais poderoso que ela, então por que-"

Aurelius: "Calado. Apenas quero ver Midoki dormindo. Então não pretendo perder nem um segundinho!"

Dakuwaqa não entendeu, mas sua forma cresceu até dominar o horizonte. Transformado num colosso tubarônico de energia, ele avançou. Berith tentou reagir, mas foi engolida.

Dentro do estômago espiritual de Dakuwaqa, ela lutava contra tsunamis cósmicos que colidiam entre si. Mas nada disso bastava. Sua raiva era mais forte. Rompendo as águas, rasgando a prisão espiritual, ela se libertou, emergindo num clarão escuro.

Nesse momento... Midoki estava em pé. Ou pelo menos, seu corpo. As pupilas, antes humanas, agora eram finas e verticais. Aurelius deu um sorriso de canto.

Aurelius: "Volte, Dakuwaqa."

E o espírito desapareceu.

Berith pousou os pés no solo, olhos fixos naquela nova versão de Midoki. Uma presença ancestral habitava aquele corpo.

A terra tremeu.

Midoki não disse nada. Seus braços se ergueram, e naquele gesto, a realidade começou a estremecer.

Berith avançou primeiro. Sua silhueta desapareceu num clarão escuro. Kurayami no Senkō. Várias imagens-sombra dançavam em torno de Midoki. Ele nem se moveu.

Ela surgiu atrás dele. Flash Abyss. Um corte veloz atingiu a região da espinha... mas não havia sangue. A lâmina atravessara matéria, mas não consciência.

Midoki girou o olhar. O espaço à volta de seu corpo se reorganizou com violentos estalos, como vidro quebrando ao contrário.

Berith: "Não vai reagir?!" - Gritou, saltando para trás, então disparando uma sequência de Golpes Fantasma.

Os impactos vieram antes dos próprios movimentos. Estouraram pedras, romperam fendas, explodiram o solo. Mas Midoki ainda estava de pé, imóvel.

Ele então estendeu a palma da mão esquerda. Um feixe de energia primordial saiu de seus dedos, branco, negro, e azul. Ao colidir com o ambiente, gerou destruição absoluta num raio de trezentos metros. Berith foi arremessada contra uma montanha distante.

Ela reapareceu com uma explosão de Eclipse Pulse, uma onda que paralisaria qualquer espírito comum. Mas Midoki apenas encarou.

Berith: "Você... não é aquele mesmo garoto..." - Disse Berith, arfando.

Ela invocou a Singularidade Sombria. O tempo distorceu-se em sua volta. Golpes começaram a acontecer fora da sequência, alguns antes de seus próprios movimentos. Cortes apareceram no peito de Midoki... seus olhos se fecharam por um instante.

Mas então, com um piscar de energia, ele manipulou a Lei Originalismo - Equilíbrio. Todos os golpes cessaram. A energia refluía, como um rio engolido pelo abismo.

Berith gritou, sua aura explodindo. Invocou Zero Impact.

O ataque não parecia surtir efeito, até que segundos depois, uma força invisível esmagou Midoki contra o chão. O impacto abriu uma cratera colossal. Mas de dentro dela, emergiu algo impossível. Midoki ergueu-se, intacto, e com um movimento de seu dedo, criou matéria espiritual pura. Uma lâmina imaterial formou-se e atravessou as defesas de Berith com um único gesto.

Ela caiu de joelhos, sangue escorrendo da boca.

Berith: "Isso... isso não é possível..." - Disse ela, cuspindo sangue e energia. - "Eu sou uma General Infernal..."

Midoki se aproximou. Seus olhos não tinham emoção.

Com um último gesto, ele destruiu o núcleo de energia do fragmento do caos que pulsava no peito dela. A aura demoníaca se esvaía como fumaça. Berith tombou, desacordada, mas viva.

O silêncio retornou.

Aurelius cruzou os braços, observando.

Aurelius: "Bem... acho que posso tomar meu chá agora."