O eco das correntes metálicas batendo contra as paredes úmidas das masmorras se misturava com os murmúrios de desespero e frustração que preenchiam o ar. As masmorras do castelo de Sorano, antes um símbolo de segurança e autoridade, agora eram um labirinto de sombras e frieza. O chão de pedra, coberto por uma camada de sujeira e restos de comida, exalava um cheiro nauseante de mofo e umidade. As tochas penduradas nas paredes lançavam uma luz tremulante, projetando sombras dançantes nas paredes de pedra, criando um ambiente ainda mais sombrio e opressor.
Léo, Lumina, Lucas, Alex, Cedric e Annie estavam trancados em uma cela estreita, com barras de ferro grossas que mal permitiam que a luz penetrasse completamente. O pequeno espaço estava mal ventilado, e a umidade escorria pelas paredes, aumentando a sensação de desconforto. Annie estava jogada no chão, inconsciente, com o rosto pálido e um ferimento na cabeça que sangrava lentamente. Léo, com a respiração ofegante e os olhos carregados de preocupação, se ajoelhou ao lado dela, examinando-a com cuidado. Ele sentiu um misto de alívio e angústia ao perceber que Annie estava viva, embora em um estado preocupante.
— Annie! — Léo murmurou. — Por favor, acorde.
Cedric, com um olhar preocupado, se abaixou ao lado de Annie e começou a cuidar dos ferimentos dela. Seus movimentos eram rápidos e precisos, demonstrando sua experiência com primeiros socorros. Ele usou um pedaço de tecido que ele tinha em seu cinto para estancar o sangramento na cabeça de Annie. A luz fraca das tochas destacava as linhas de preocupação em seu rosto, enquanto ele trabalhava com a determinação de salvar a amiga.
— Ela vai ficar bem, — Cedric disse, tentando oferecer um pouco de consolo. — Só precisa de um pouco de tempo para se recuperar.
Lucas, de pé em um canto da cela, estava visivelmente indignado e frustrado. Seus punhos estavam cerrados, e seus olhos brilhavam com uma fúria contida. Ele andava de um lado para o outro, passando a mão pelo rosto, tentando conter a raiva que sentia. A situação era desesperadora, e o fato de estarem trancados ali, sem uma saída aparente, só intensificava sua frustração.
Lumina, sentada em um canto da cela com os ombros caídos, chorava silenciosamente. Seus cabelos loiros estavam desgrenhados e sua roupa estava suja de sujeira e sangue. Ela se culpava pela situação em que estavam, sentindo um peso imenso em seus ombros. Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar, e ela tentava se consolar, embora a culpa a consumisse.
— Se eu não tivesse insistido para vir aqui... — Lumina murmurou para si mesma, a voz abafada pela dor. — Talvez nada disso tivesse acontecido.
Léo se aproximou de Lumina e se ajoelhou ao seu lado, colocando uma mão gentil sobre sua cabeça. Ele tentou suavizar a culpa que ela sentia, sabendo que não era o momento para que ela carregasse mais peso do que já estava.
— Lumina, não é sua culpa. — Léo disse com um tom suave e encorajador. — Todos nós estamos nessa juntos, e vamos sair dessa situação. Eu prometo.
Alex, que estava encostada em uma parede, observava a cena com uma expressão de cansaço e preocupação. Seus olhos estavam fixos em Léo, e ela parecia tentar encontrar uma solução para a situação. Quando finalmente decidiu falar, sua voz era firme, mas havia uma nota de frustração em seu tom.
— Léo, precisamos sair daqui. E, por favor, tente não paquerar Lumina nesse tipo de situação.
— Não é hora para piadas, Alex. — Léo disse com um tom leve, tentando aliviar a tensão. — Precisamos focar em como sair daqui.
Nesse momento, um som inesperado de passos ecoou pelos corredores das masmorras. Os passos eram pesados e firmes, e um brilho de esperança surgiu nos olhos de Léo e dos outros. A presença de alguém, seja amigo ou inimigo, poderia ser uma oportunidade para resolver a situação.
As chaves tilintaram na fechadura da cela, e a porta se abriu lentamente. Para surpresa do grupo, Hugo, o tio de Léo, apareceu na entrada, com uma expressão resoluta em seu rosto. Ele usava uma armadura simples, mas sua presença era marcante. Hugo, um homem de estatura média, com uma careca visível e uma barba bem aparada, exalava um ar de autoridade e experiência. Seu olhar atento e sua postura firme mostravam que ele não estava ali por acaso.
— Tio Hugo! — Léo exclamou, seus olhos se enchendo de alívio ao ver seu tio. — O que você está fazendo aqui?
Hugo entrou na cela e se aproximou de Léo e dos outros. Sua expressão era séria, mas havia um brilho de determinação em seus olhos.
Hugo olhou para Léo, o rosto marcado pela seriedade da situação. Ele suspirou profundamente antes de começar a falar, a voz carregada de uma mistura de cansaço e determinação.
— Depois dos acontecimentos na capital real, as famílias reais pediram que cavaleiros antigos voltassem à ativa para reforçar a proteção do reino. Seu pai, Léo, preferiu ficar com sua mãe no vilarejo, mas eu... — Hugo fez uma pausa, os olhos se suavizando por um momento. — Eu deixei Alaric com ele e vim para a antiga capital, para servir as famílias reais. Foi então que percebi que algo estava errado por aqui. E mais cedo, vi você sendo levado para as masmorras. Não podia ficar parado, tinha que agir.
Enquanto Hugo ajudava Léo e seus amigos a se levantarem, a atmosfera na cela mudou. O ambiente carregado de desespero começou a se iluminar com uma nova esperança. Hugo revelou um conjunto de chaves que usou para destrancar a cela, e o grupo começou a se preparar para sua fuga.
— Precisamos sair daqui rapidamente. — Hugo disse, olhando ao redor com um olhar cauteloso. — A segurança do castelo está em alerta, e não temos muito tempo antes que descubram que estamos fugindo.
O grupo, agora com a ajuda de Hugo, começou a planejar sua próxima ação. Eles sabiam que a situação ainda era precária, mas a presença de Hugo trouxe um novo ânimo para eles. Com a ajuda de seu tio, Léo e seus amigos estavam prestes a enfrentar novos desafios, mas com a certeza de que não estavam sozinhos.
Hugo liderou o grupo pelo corredor escuro, sua armadura fazendo um som leve de metal a cada passo. A atmosfera estava carregada de tensão e expectativa, e o grupo estava em alerta constante. As paredes das masmorras eram cobertas por musgo e líquen, e a luz fraca das tochas lançava sombras dançantes que pareciam acompanhar seus movimentos.
— Sigam-me de perto — instruiu Hugo, sua voz firme e autoritária. — Vamos usar os corredores secundários para evitar a detecção.
À medida que avançavam pelos corredores, Léo e seus amigos notaram que Hugo conhecia o castelo melhor do que ninguém. Ele guiava o grupo por passagens estreitas e escadas escondidas, cada passo dado com precisão e conhecimento íntimo do terreno.
Enquanto se aproximavam de uma saída, um som sinistro ecoou pelos corredores, fazendo o grupo parar abruptamente. O som era como um rugido baixo e gutural, que parecia reverberar pelas paredes de pedra. Léo e seus amigos se entreolharam com preocupação, percebendo que algo estava prestes a acontecer.
Hugo fez sinal para que se escondessem atrás de uma esquina, e o grupo se agrupou, tentando manter o silêncio. Com a respiração suspensa, Léo ouviu passos pesados e uma série de grunhidos próximos. Ele sentiu um frio na espinha quando percebeu que os sons se aproximavam rapidamente.
Quando finalmente ousaram espiar, o que viram fez seus corações acelerarem. No corredor à frente, uma matilha de mafiosos transformados em lobisomens avançava. Os seres eram monstruosos e imponentes, com olhos brilhando em um tom âmbar e pelagem negra como a noite. Seus corpos musculosos e ferozes se moviam com uma agilidade predatória, e os dentes afiados eram visíveis em seus rosnados ameaçadores.
— São os lobisomens da máfia Wolfs — sussurrou Hugo, a voz cheia de preocupação. — Precisamos nos mover rápido antes que eles nos peguem.
No entanto, os lobisomens estavam em busca de qualquer sinal de movimento, e logo um deles farejou a presença do grupo. A situação se tornou desesperadora quando um lobisomem de tamanho colossal, olhou diretamente para a posição de Hugo e dos outros.
— Eles nos viram! — gritou Hugo, com um tom de urgência. — Preparem-se para lutar ou correr!
Léo, Lumina, Lucas, Cedric e Annie que tinha acabado de acordar, estavam preparados para enfrentar o perigo, mas Hugo sabia que não poderiam lutar contra a matilha e escapar ao mesmo tempo. Com um olhar resoluto, ele se virou para Léo e seu grupo.
— Vou distraí-los para que vocês tenham uma chance de escapar — disse Hugo, sua voz grave e firme. — Corram e não parem até estarem fora do castelo. Eu irei lutar contra eles para garantir que vocês tenham uma chance.
Antes que alguém pudesse protestar, Hugo avançou para os lobisomens, chamando a atenção deles com gritos desafiadores e lançando uma série de ataques rápidos com sua espada. O som do combate era ensurdecedor, misturado com os rugidos dos lobisomens e o clangor das armas. Hugo lutava com bravura e habilidade, enfrentando os lobisomens com uma destreza que lembrava seus dias como cavaleiro.
Léo e os outros, com os corações pesados, seguiram as instruções de Hugo e começaram a correr pelos corredores do castelo. Eles ouviram os gritos e rugidos de Hugo se distanciar e se misturarem com os sons da batalha. Cada passo parecia um peso a mais sobre seus ombros, e a culpa pela decisão de Hugo se tornando mais intensa a cada segundo.
O grupo encontrou uma saída emergente que dava para o exterior do castelo. A luz da lua iluminava o caminho, e eles se encontraram fora das paredes do castelo, ainda ouvindo os ecos distantes da batalha de Hugo. Léo parou por um momento, olhando para trás com uma expressão de dor e perda. Ele sabia que Hugo estava dispo a dar sua vida para garantir que eles escapassem, e o sacrifício de seu tio seria sempre uma lembrança dolorosa.
Hugo se posicionou com firmeza, segurando sua espada mágica que brilhava com um intenso azul do mar. Ele estava cercado pelos lobisomens da máfia Wolfs, criaturas ferozes que rosnavam e avançavam com garras afiadas. Mesmo em desvantagem, Hugo estava determinado a proteger Léo e os outros a qualquer custo.
O primeiro lobisomem atacou com rapidez, mas Hugo foi mais ágil, desviando e cortando com precisão, sua espada liberando uma onda de água que atingiu a criatura em cheio. O monstro foi jogado para trás, mas antes que pudesse se recuperar, Hugo desferiu outro golpe, derrotando-o.
Outro lobisomem se aproximou por trás, mas Hugo girou rapidamente, bloqueando o ataque com sua espada e, em seguida, contra-atacando com um golpe certeiro que envolveu o monstro em uma torrente de água, imobilizando-o. Cada movimento de Hugo era calculado, mas ele sabia que estava ficando cansado.
A luta continuou feroz, com os lobisomens atacando em grupo. Hugo defendeu-se como pôde, mas não conseguiu evitar alguns golpes. Um dos monstros conseguiu rasgar a pele de seu braço, e outro atingiu sua perna, forçando-o a recuar brevemente. Mesmo assim, Hugo não desistiu. Ele lutou com todas as suas forças, cada golpe carregado com a energia de sua espada mágica.
Finalmente, depois de uma batalha exaustiva, Hugo conseguiu derrotar o último lobisomem, qu estavam no local. Ele estava ferido e exausto, mas havia cumprido sua missão. A espada mágica em suas mãos começou a perder seu brilho, como se estivesse sentindo o cansaço junto com ele.
Hugo deu um último olhar em volta, certificando-se de que o perigo havia passado. Um leve sorriso surgiu em seu rosto. Ele havia protegido Léo, e isso era o que mais importava. Com um suspiro final, Hugo caiu de joelhos, sua espada transformando-se em cinzas, um símbolo de sua bravura e sacrifício.
— Devemos seguir em frente — disse Alex, sua voz firme apesar da tristeza. — Seu tio Hugo fez isso por nós, e não podemos deixar que seu sacrifício seja em vão.
O grupo continuou a se afastar do castelo, agora sem rumo definido, mas com a determinação de honrar Hugo e enfrentar os desafios que ainda estavam por vir.
O sacrifício de Hugo não seria esquecido, e sua memória se tornaria um farol de coragem e esperança para Léo e seus amigos enquanto enfrentavam os perigos e desafios que aguardavam no horizonte.
Léo e os outros avançaram pela escuridão, agora fora dos muros do castelo e em uma região florestal que se estendia até onde a vista alcançava. A lua estava alta no céu, lançando uma luz prateada sobre o cenário, e as árvores ao redor ofereciam um manto de sombras que ajudava a ocultar o grupo dos possíveis perseguidores.
— Precisamos encontrar um lugar seguro para nos esconder — disse Lumina, ofegante. — Devemos continuar com cautela.
Enquanto avançavam, a tensão era palpável. Cada estalo de galho ou sussurro do vento fazia os membros do grupo se encolherem e se prepararem para qualquer possível ataque.
— Onde vamos agora? — perguntou Cedric, com um tom de frustração. — Não sabemos para onde ir e estamos sem rumo.
— Precisamos de um plano — respondeu Léo, com a voz firme, apesar da dor. — Se Hugo era conhecido por conhecer o castelo e a área em volta tão bem, talvez ele tenha planejado algo para o caso de precisarmos fugir. Vamos procurar uma cabana ou algo que possa nos dar algum abrigo temporário e pensar em um plano para continuar.
Após alguns minutos de caminhada, eles encontraram uma pequena cabana abandonada, oculta entre as árvores. O lugar parecia seguro e foi rapidamente decidido que seria o local onde passariam a noite.
— Vamos ficar aqui por enquanto — disse Léo, enquanto entravam na cabana. — Precisamos nos recompor e pensar em como enfrentaremos o que está por vir.
Dentro da cabana, eles se acomodaram e começaram a fazer uma rápida análise da situação. Léo e Lumina, ainda lutando contra a tristeza, revisaram suas opções enquanto Cedric e Annie verificavam os suprimentos que haviam conseguido durante a fuga.
— Lembrem-se do que vimos no castelo — disse Léo, quebrando o silêncio. — Quando Lucius Perlasca falou conosco, seus olhos estavam roxos. O único mago que eu vi usando magia com esse tom roxo era Fockz, com suas correntes.
Léo fez uma pausa, seu rosto mostrando uma mistura de incerteza e preocupação.
— Não tenho certeza se é verdade, mas não posso ignorar a possibilidade. Se Lucius está sendo controlado por Fockz, precisamos encontrar uma maneira de libertá-lo dessa influência. E também precisamos entender como enfrentar a ameaça que Fockz representa.
— Isso faz sentido, Lucius nunca faria mal para o reino — concordou Cedric, com um tom grave. — Se Fockz tem a capacidade de manipular alguém como Lucius, ele deve ser muito mais poderoso do que imaginávamos.
— Precisamos nos preparar — disse Annie, que parecia está melhor, enquanto olhava pela janela da cabana. — Se Fockz está por trás disso, o castelo ainda pode estar cheio de perigos. E não podemos esquecer que as famílias reais estão correndo perigo.
Léo olhou para a equipe, o peso das palavras de Annie ressoando em sua mente. Hugo havia sacrificado sua vida para garantir que eles tivessem uma chance de escapar, e agora eles estavam em uma corrida contra o tempo para resolver a situação e evitar mais tragédias, eles teriam que voltar para o castelo.
— Não podemos deixar o sacrifício de Hugo ser em vão — disse Léo com determinação. — Precisamos agir com rapidez e estratégia. Vamos usar a noite para descansar e planejar, antes de amanhecer, decidiremos nosso próximo passo, amanhã só haverá a votação das famílias reais, o anúncio deve ocorrer em outro dia.
O grupo passou a noite na cabana, cada um lidando com suas próprias preocupações e preparando-se para o que estava por vir. O ambiente era sombrio, com o som distante de animais da floresta misturando-se com os pensamentos silenciosos de cada um.
Enquanto isso, a ameaça de Fockz e os lobisomens permaneciam como uma sombra constante, uma lembrança de que a batalha estava longe de acabar e que o futuro ainda guardava muitos desafios e incertezas.