Capítulo 11

Localização; Avalon - Avalon

Eros

No céu de Avalon voava uma ave cor de sangue. Seu rabo era do tamanho do seu corpo, e suas penas eram tão macias que pareciam algodão.

A forma como voava era cheia de elegância e graça, e tinha até um pouco de arrogância em seus movimentos.

O vento da bela manhã assobiava em seu ouvido, batia em seu rosto e soprava suas asas, levando-o cada vez mais longe.

A sensação era familiar e aconchegante, precisando tanto do voo quanto de ar, Eros nem se lembrava de quando foi a última vez que teve essa liberdade de se aventurar nas alturas.

De cima, dava para apreciar a vista de Avalon, o gigante castelo ao leste, com suas incríveis nove torres por volta do edifício, os mercados cobertos com magos tão pequenos que pareciam formigas, casas com entrelaçados de madeira e as fortificações fronteiriças perto da área mais protegida do reino, o arsenal.

Lá havia as mais poderosas armas de toda Adira, tanto forjadas por magos quanto confiscadas por eles.

Para Eros diversos assuntos sobre Avalon não lhe chamavam sua atenção, política, nobreza, mas armas era um dos seus passatempos preferidos, pois o que mais fazia em seu reino era lutar, disputar, ganhar elas em torneios. Ter interesse por armas era mais natural que a luz do dia para Eros.

Por isso, seus olhos cor de terra pairaram próximo. Uma pena que duas fileiras de magos cobriam toda a frente da estrutura com seus corpos e pareciam proteger o local com suas vidas.

Ele teria que adiar sua visita ao local, talvez pediria para Davina mostrar outrora. Ela não negaria um pedido assim.

Seus olhos passaram por lá e então miraram na figura de um homem em pé em frente às estatuetas dos deuses, seus longos cabelos eram soprados junto com o manto escuro que cobria seu corpo, sua expressão parecia entediada enquanto encarava-o.

Eros a princípio não reconheceu de quem se tratava, pensando talvez que fosse alguém que estivesse o desafiando, era comum aves lutarem nos ares de Zamoria por território ou por diversão, mas como não estava em casa teve que abaixar para poder ver direito, a figura era ninguém mais que Ambrose, o mago da rainha.

Para não fazer desfeita ao homem que parecia esperá-lo, Eros acelerou e começou a descer para encontrá-lo, pousando instantes depois. Sua transformação foi rápida, indolor e inquietante. Ele não queria se tornar humano ainda, queria se distrair mais um pouco, ficar distante, aproveitar mais.

Havia algumas regras tolas para serem seguidas pelas fênix, e uma delas era poucas mudanças, uma no dia apenas, e só por supervisão.

Em seu caso o que Eros estava fazendo era indevido, completamente contra as regras de seu povo, e ainda o enfraquecia, tanto sua mente quanto seu corpo, mas ele não era bom em ser correto ou muito menos preocupado com os danos.

Então, desde a primeira luz do sol ele se alçou pela janela e voou pelas nuvens cinzentas. Connor nem sonhava com o porquê da sua fugidinha, mas certamente já tinha sentido falta do príncipe quando acordou.

Em poucos segundos as garras começaram a se tornar dedos, asas em braços e patas em pés, as penas se tornaram pele e o cabeça oval tomava uma forma quadrada e humana, Eros finalmente voltou, e o cansaço em seus olhos era evidente pela profundeza abaixo deles.

Se Ambrose notou sua falta de avidez não comentou.

— Caro Príncipe, dando uma refrescada pelos ares.

Não era uma pergunta, mas Eros completou.

— Sabe como é, o sol faz bem, deixa minha pele reluzente.

Ambos começaram a caminhar de forma natural como se soubessem para onde estivessem indo, mesmo sem ter combinado. Eros deixou-se guiar por enquanto.

Ambrose gesticulou para o príncipe.

— Pensei que essa liberdade fosse mais regrada em seu reino.

— A exceções…

— Acredito que sim, — especulou — mas duvido quando se trata do senhor. Por ser quem é, é que deveria seguir as leis à risca.

Eros o fitou bem, seu reino era rígido, cheio de normas tolas, até a liberdade era medida. E burro fosse aquele que não sabia das leis que construíram Zamoria, mas Eros não seguia os padrões estabelecidos, e essa talvez fosse as duas coisas que qualquer um precisava saber sobre seu reino. Ambrose parecia ser um deles, mas ainda assim a forma como ele dizia o óbvio ou o tom que usou incomodou o príncipe.

— Não preciso que acredite, senhor.

Ambos forçaram um sorriso falso, o de Eros muito maior.

— Aqui, — estendeu ele uma túnica comprida — para vossa alteza se vestir antes que evacue a cidade com sua nudez.

Eros soltou uma gargalhada sincera com a mudança de assunto, talvez estivesse tão acostumado com estar nu na frente do seu povo que fazia sem pensar agora, como tinha que se transformar, poucas roupas facilitaram, além de suas terras serem localizadas em uma área muito quente para estarem sempre bem cobertos.

Ele pegou mesmo assim o tecido, e disse reparando na atenção que provocou entre os magos próximos.

— Não acho que minha nudez seja motivo para alguém ir embora, e sim ao contrário.

— Bom, eu dispensaria tal demonstração.

O príncipe ficou calado, não porque concordava, mas sim porque não queria brigar em território inimigo. Ele já tinha atingido um limite de problemas e precisava resolvê-los antes de começar outro.

Ele ouviu Ambrose questionar.

— O que está achando de Avalon?

— Um reino enorme, acolhedor, poderoso, mágico, bonito. Viveria bem aqui tranquilamente.

Eros dizia com entonação na voz após trocar olhares com uma moça que passava por eles. Ela olhava para trás e dava risadinhas para o príncipe, que retribuiu dando uma boa olhada nela por inteiro.

O reino conseguia ter infinitas mulheres atraentes para os olhos do príncipe distraído.

— Claro, talvez não conheça os melhores lugares para se passar o tempo, Alteza.

— O que? Ohh, realmente não, — respondeu se virando finalmente para o mago ao seu lado. — Em pouco tempo aqui, não consegui conhecer muito.

— Terei a honra de apresentá-lo, conheço o reino como a palma de minha mão.

— Agradeço, mas… — Eros engoliu as palavras, depois reformulou. —Na verdade, tem um lugar em específico que quero frequentar na minha estadia por aqui.

— Certo. Posso levá-lo agora mesmo.

O sorriso felino de Eros cresceu ainda mais.

*

Mais tarde Eros já estava sentado próximo a um balcão com um caneco de álcool em seus dedos, a velocidade que virou o copo foi tão assustadora para Ambrose que ele cresceu os olhos e moveu a mão para dizê-lo para parar. No entanto, ao pensar melhor se calou.

Ele parecia desconfortável, atento e incomodado, do jeito que Eros gostava. O príncipe pegou outra jarra e encheu ambos os copos na intenção de fazer um brinde.

— Não gosto. Me perdoe, Alteza.

— É uma desfeita tamanha. Mas sombra mais para mim.

Ambrose apenas assentiu e permaneceu ali sentado por mais algum tempo, enquanto se contorcia por estar em um local que pouco frequenta.

Eros se sentia em casa. Bebendo todas, trocando olhares com as mulheres que dançavam em volta e quase animado para dançar. Apesar de ainda ser dia, o movimento no local não era nem um pouco escasso.

Tinha vários rostos desconhecidos, em grande parte mais velhos que Eros e Ambrose em aparência, mas não menos insistentes. Em sua maioria queriam mulheres e brigavam por elas

Eros só assistia com diversão, já havia vinte canecas todas vazias em sua mesa e ele ainda estava bem.

Ambrose estava ao contrário, o rosto sempre ficava vermelho e quando assistiu duas mulheres com poucas roupas se agarrando ao mesmo tempo, faltou cair para trás.

Os lábios de Eros se curvaram quando sugeriu.

— Talvez devesse procurar alguma que o satisfaça.

— Acredito que essa é a minha deixa.

— Está tão cedo. Porque não espera até a noite?

— Planeja ficar aqui até mais tarde? — sua testa enrugada acusava.

— Planejo voltar só amanhã ao meio dia.

Ambrose parecia quase ofendido com as palavras do príncipe, que se divertia cada vez mais e tomava outra caneca como se não houvesse amanhã.

— Não fique assustado, essa é minha rotina em Zamoria.

— Bem agitada. — reparou — agradeço, mas gosto de preservar os bons modos.

Eros deu uma risada histérica e bebeu, sem vontade alguma de discutir. Depois deixou que o homem voltasse para o buraco onde havia saído, não suportando mais sua presença. Sua conversa com ele foi infrutífera. Ele queria saber de Avalon, mas nada de útil saiu da boca do homem. Ele apenas voltava ao assunto que Eros detestava, Maeve. Só de lembrar no demônio seu humor azedava.

Por isso, precisava estar afastado do que estivesse relacionado a ela por enquanto, assim decidiu procurar refúgio na casa dos prazeres. Ele não mentiu quando disse que frequentava bastante, só não podia ir todos os dias, seu cargo no reino acarretará outras responsabilidades que impedia ele de seus divertimentos momentâneos.

Agora, sem supervisão, podia se divertir sem se preocupar com quem estivesse de olho. Uma moça loira apareceu ao seu lado e disse em seu ouvido.

— Olá, belo príncipe, deseja uma bebida, uma diversão?

Ela passou os dedos pelos braços fortes e grandes, sua cara era de satisfação, e Eros mostrou suas covinhas.

— Uma companhia seria agradável.

A mulher escorregou para se sentar na cadeira, se aproximando o máximo que podia de Eros. Ela era bonita, curvilínea e atraente. E faltou beijar sua boca.

— Claro, Vossa Alteza Real. — gemeu em seus lábios.

Outras mãos deslizaram em seus ombros de forma precisa, e massagearam o lugar fazendo Eros fechar os olhos de satisfação.

A voz feminina soou atrás de si. — Só uma companhia?

Ele olhou para a morena tão linda quanto a loira e sorriu para sua falta de roupas.

— Acho que duas é bom. Muito bom.