Capítulo 1: Admirável mundo novo.  

De pé no telhado elevado, Chris tinha uma visão panorâmica de todo o castelo. Em torno dele, paredes grossas e bandeiras negras tremulavam ao vento. Fora dos limites do castelo, vastos campos de trigo se estendiam até as florestas, com montanhas elevando-se à distância.

 

Ele esfregou a testa, sentindo uma dor de cabeça latejante. 'Como eu vim parar aqui? Onde é isso?' pensou, tentando organizar os pensamentos confusos.

 

Um lampejo de lembrança surgiu — ele estava em um tribunal, vestindo seu terno de advogado. Lembrava-se claramente do sorriso em seu rosto quando saiu vitorioso de um dos maiores processos de sua carreira, uma batalha judicial contra uma corporação poderosa. Ele havia vencido... mas a vitória custou caro. Em algum momento depois disso, ele foi emboscado e assassinado, vítima de uma retaliação por parte dos que perderam milhões com o processo.

 

'Eu fui assassinado...' A memória bateu com força. Mas agora, inexplicavelmente, estava no telhado de um castelo medieval. O nome "Christopher Wayne" ecoou em sua mente, mas o resto era um vazio.

 

Enquanto tentava lembrar mais, algo começou a acontecer. Uma pressão invisível invadiu sua mente. Uma dor de cabeça intensa surgiu do nada, como se algo estivesse forçando seu cérebro a se expandir para acomodar informações. Ele caiu de joelhos, levando as mãos à cabeça, sentindo que algo monumental estava se formando em sua mente.

 

De repente, uma voz mecânica, fria e precisa, ecoou em sua consciência:

[Acesso à Biblioteca do Conhecimento Ilimitado, estabelecido!]

 

Chris piscou, surpreso, ainda sentindo a pressão crescente. Ele não entendia o que estava acontecendo, mas, dentro de sua mente, uma vasta estrutura começou a se formar. Ele pôde "ver" algo como uma imensa biblioteca, uma construção colossal que se erguia em meio a um vazio infinito. Estantes de livros invisíveis, cheias de conhecimento que ele nunca havia acessado antes, apareciam diante dele, organizadas em corredores intermináveis. Cada setor representava uma disciplina: ciência, tecnologia, química, física, engenharia e uma infinidade de outros conhecimentos. Conhecimentos além até mesmo do que a humanidade havia alcançado.

 

O impacto disso foi esmagador.

 

'Que... o que é isso?' Chris pensou, ofegante. Seu cérebro parecia estar processando uma quantidade colossal de informações, mas ainda assim ele sentia que podia acessar tudo aquilo de forma organizada. Cada descoberta científica, cada invenção, cada teoria — tudo agora estava gravado em sua mente. Ele poderia acessar esses conhecimentos sempre que quisesse.

 

A dor de cabeça intensificou-se. Chris se contorceu, lutando para suportar a agonia. Era muito para absorver de uma vez. Ele sentia que seu corpo estava à beira do colapso, e, enquanto a pressão aumentava, a escuridão começou a tomar conta de sua visão. Ele caiu no chão, a mente ainda girando com o impacto do que acabara de receber, e então, tudo se apagou.

 

Quando Chris abriu os olhos novamente, viu o teto de seda de uma cama luxuosa. A decoração ao seu redor era exuberante, mas o estilo excessivamente ornamentado o incomodava. 'Parece uma mistura entre o renascimento europeu e o medieval,' pensou. 'Um exagero.'

 

Ele tentou falar, mas sua garganta estava seca e sua voz saiu rouca. "Onde estou?"

 

A pergunta fez com que várias figuras ao lado da cama se aproximassem rapidamente. O homem de armadura negra foi o primeiro a se curvar respeitosamente. "Meu senhor, você está em seu quarto."

 

Chris piscou, ainda confuso. O homem em armadura o tratava como se ele fosse alguém importante, mas nada daquilo fazia sentido. Ele sabia que não estava sonhando. 'Eu realmente... estou em outro lugar. Em outro mundo.' A ideia de estar em um ambiente desconhecido não o assustava tanto quanto deveria. Na verdade, ele se sentia estranhamente calmo.

 

Dois homens de meia-idade, vestidos com trajes formais, estavam ao lado do homem em armadura. Eles se entreolharam antes de se curvarem para Chris, suas expressões carregadas de preocupação.

 

Um dos homens, o que tinha cabelos longos e esvoaçantes, falou primeiro: "Meu senhor, tudo ficará bem. Não há necessidade de tomar atitudes extremas. Mesmo que nossos impostos agora sejam de 1.000 moedas de ouro por ano, encontraremos uma solução."

 

O outro homem, mais robusto e careca, acrescentou: "Sim, senhor. Nunca houve uma crise que não pudéssemos superar."

 

Chris franziu o cenho. 'Impostos? 1.000 moedas de ouro?' Ele percebeu que a situação era mais complexa do que ele havia imaginado.

 

'Então é isso... eu sou um nobre ou algo assim?' Ele olhou ao redor para tentar captar mais detalhes. As figuras ao seu redor continuavam falando, mas ele decidiu que era hora de assumir o controle da situação. Para ganhar tempo, ele resolveu apelar para uma estratégia clássica: amnésia.

 

"Eu... não consigo me lembrar de nada," disse Chris, tentando soar confuso. "Minha mente está em branco."

 

Os homens ao seu redor trocaram olhares novamente, agora com expressões de espanto e preocupação.

 

O homem de armadura, ajoelhado ao lado da cama, exclamou: "Meu senhor! Sou Wagron, seu mais leal general! Você não se lembra de mim?"

 

"Eu sou Dines, seu mordomo," disse o homem de cabelos longos. O homem careca também se apresentou rapidamente: "E eu sou Gregory, seu conselheiro."

 

Chris forçou uma expressão de dor e frustração. "Eu gostaria de me lembrar... mas minha mente está um caos." Ele olhou para Wagron. "Estou com fome. Pode providenciar algo para comer?"

 

Assim que Chris pediu comida, os servos ao seu redor começaram a se mexer apressadamente. Pouco depois, uma refeição foi trazida até ele — pão, purê de batatas e um pedaço de carne mal passada.

 

Enquanto Chris comia o purê de batatas e o pão, ele olhou para os homens ao seu redor. O silêncio era pesado, carregado com a expectativa de que ele tomasse uma decisão. Não podia fugir da responsabilidade que agora lhe caía nas mãos, mas também não poderia agir precipitadamente. Ele precisava de informações.

 

"A situação da cidade de Serris," começou ele, colocando os talheres de lado. "Parece bem grave. O que exatamente aconteceu?"

 

Dines foi o primeiro a responder. "Meu senhor, o Império Arante impôs um novo tributo recentemente. O imposto, que antes era de 300 moedas de ouro anuais, subiu para 1.000. Isso é mais do que podemos suportar. Nossa cidade principal, Serris, foi lentamente drenada de seus recursos, e o povo está começando a sofrer as consequências. Os campos estão sendo abandonados, e o comércio está minguando."

 

Gregory, o conselheiro, completou. "Se continuarmos nesse ritmo, será apenas uma questão de tempo até que não tenhamos mais como alimentar as tropas ou o próprio povo. A insatisfação está crescendo, e o risco de rebelião não pode ser ignorado."

 

Chris inclinou-se para trás na cadeira, processando as informações. 'Então, esse reino está à beira do colapso econômico. Aumento de impostos... campos abandonados... falta de recursos...' Seus pensamentos corriam rapidamente enquanto tentava traçar um plano.

 

'Eu tenho acesso a uma biblioteca com uma infinidade de conhecimentos, eu só preciso escolher do jeito certo.' A vastidão de informações em sua mente era ao mesmo tempo sua maior vantagem e um peso. Se usasse isso de forma errada, poderia atrair atenção indesejada ou causar caos. Ele precisava ser meticuloso.

 

"Precisamos de uma solução imediata," disse ele, com firmeza. "Não podemos deixar que a situação piore. Diga-me, há algum plano que já tenha sido considerado para aliviar essa carga?"

 

Wagron, o general, balançou a cabeça. "Não há muitos recursos sobrando. Já cortamos tudo o que podíamos. Sem mão de obra e sem fundos, nossas opções estão limitadas, senhor."

 

Chris estava prestes a propor algo quando algo em cima chamou sua atenção. Olhando para o teto, ele notou um imenso mural que cobria toda a extensão da sala. A pintura mostrava um dragão colossal, com escamas brilhantes, envolto em uma armadura de metal, cuspindo fogo sobre soldados que lutavam contra ele. A cena era épica, com um exército inteiro enfrentando a criatura monstruosa.

 

"Esse mural..." murmurou Chris, intrigado. "É uma representação de alguma história local?"

 

Wagron, ao ver para onde Chris olhava, sorriu levemente. "Sim, meu senhor. Essa é a história de seu avô. Ele liderou nossas tropas na batalha contra um dragão que aterrorizava nossas terras. Dizem que foi uma das maiores conquistas da nossa família."

 

Chris piscou, ainda processando a ideia. 'Dragões? Eles realmente acreditam que isso aconteceu?'

 

"Dragões..." ele repetiu, sem acreditar totalmente. "Vocês estão dizendo que eles realmente existem?"

 

Wagron assentiu com naturalidade. "Claro, meu senhor. Dragões são criaturas poderosas e raras, mas existem, sim. Não são apenas lendas."

 

Chris ficou em silêncio, encarando o mural. A ideia de dragões ser uma realidade nesse mundo era, para dizer o mínimo, desconcertante. Ele estava em um lugar que parecia uma versão medieval de um conto de fadas, mas com problemas muito reais para resolver. 'Se dragões existem aqui... o que mais esse mundo esconde?'