Capítulo 14: O Bode Expiatório

Os soldados de Ferry City já haviam se rendido, e Berman sabia que o exército inimigo estava entrando na cidade. Tudo o que ele tinha agora era a esperança de escapar com a frota ancorada no porto.

Fugir pelo mar! Esse era o único pensamento que ocupava sua mente. Se conseguisse sair de Ferry City, ao menos salvaria sua vida.

"Meu senhor, meu senhor! Vamos descansar, só por um momento..." O único oficial que havia fugido com ele se jogou no chão, exausto, parecendo um cão sem fôlego.

Ambos estavam ofegantes depois de uma corrida desesperada, e Berman sabia que, com sorte, o inimigo ainda estaria ocupado consolidando o controle sobre a cidade. Talvez eles tivessem tempo.

"Que raios são aquelas explosões? Como algo assim pode ser comparável à magia?" Berman murmurou, encostando-se em uma parede para se recompor.

Ele estava encharcado de suor, com o corpo tremendo de medo e exaustão. Quando fugia, pensava em vingança, mas agora sua única preocupação era sobreviver.

Diante de um inimigo assim, nem mesmo o Império Arante se atreveria a provocá-lo. Berman sabia que sua vingança era impossível, mas se conseguisse enviar um relatório ao Império denunciando os "poderes mágicos" de Serris, isso poderia acabar com Chris e sua cidade.

Um sorriso cruel apareceu em seu rosto enquanto ele pensava. "Sim, a destruição de Serris vai compensar a minha derrota."

"Eu... eu não sei o que eram aquelas explosões!" O oficial ao seu lado, igualmente aterrorizado, balbuciou. "Talvez fossem trovões do diabo?"

"Trovão do diabo? Você poderia dizer que foi a arte de fogo de um mago!" Berman gritou, irritado. "Inúteis! Onde estão os guardas? Por que ninguém veio nos proteger?"

"Senhor, com tudo o que aconteceu, ninguém ouviu minhas ordens..." o oficial lamentou, quase em lágrimas.

Ele havia tentado reunir guardas para escoltar o senhor até o porto, mas as explosões tinham deixado o caos total. Todos corriam desesperados, e o próprio Berman liderou a fuga, sem dar a chance de organizar qualquer tipo de defesa.

Berman percebeu que não adiantava culpar seu subordinado. "Esqueça, não é sua culpa. A culpa é da maldita arma do inimigo... Agora, venha comigo para o porto. Precisamos partir imediatamente!"

Ouvindo as palavras de Berman, o oficial sentiu um fio de esperança e respondeu energicamente: "Sim, meu senhor! Vou segui-lo até o fim!"

Jogando sua pesada armadura de lado, Berman limpou o suor da testa e, sem perder mais tempo, continuou correndo em direção ao porto.

...

No cais, Lawnes observava calmamente o mar com sua espada na mão, enquanto os marinheiros se preparavam para zarpar.

Um oficial se aproximou dele, abaixando a cabeça: "Senhor, ouvimos explosões vindas da muralha. Parece que Berman está em apuros."

"Hah! Ele fez de Ferry City um verdadeiro inferno. Agora está colhendo o que plantou", respondeu Lawnes com desdém. "Tratou as pessoas como brinquedos, abusou de seu poder... Já estava na hora de alguém lhe dar o que merece."

O oficial riu e balançou a cabeça. "Parece que Serris veio rápido. Não esperávamos que vencessem Mayne e chegassem até nós tão rápido."

Lawnes cuspiu no chão. "Se Berman tiver a chance, gostaria de dar a ele uma boa lição em nome de todas as pessoas que ele destruiu."

Enquanto conversavam, viram duas figuras correndo desajeitadamente em direção ao cais. Era Berman e seu confidente.

"Rápido, precisamos de um barco!" Berman gritou, desesperado.

Lawnes apertou o punho ao redor da espada, com um sorriso frio no rosto. "Parece que a oportunidade chegou."

Berman, desconfiado, parou a uma distância segura de Lawnes. "O que estão esperando? Vamos, preparem o barco!"

"Para onde você pretende ir, meu senhor?" Lawnes perguntou, com um tom de provocação.

"Para o Império Arante, claro! Sou o lorde nomeado por eles, e vou relatar o que aconteceu aqui!" Berman gritou, tentando esconder seu pavor.

Lawnes fez um gesto teatral, indicando o caminho. "Muito bem, meu senhor. Entre no barco."

Berman, no entanto, já havia entendido que Lawnes tinha outras intenções. Ele apertou a empunhadura da espada, olhando para Lawnes com desconfiança. "Você vai me trair, Lawnes?"

"O senhor da cidade... já deveria partir." Lawnes respondeu friamente, aproximando-se de Berman.

"Você não se atreveria!" Berman rosnou.

"Claro que não," disse Lawnes, com um sorriso frio. "Mas você será morto pelas mãos dos soldados de Serris, durante o caos da batalha."

Berman percebeu que Lawnes estava decidido. Tentou sacar sua espada, mas Lawnes foi mais rápido. Com um movimento ágil, a espada de Lawnes cortou a garganta de Berman.

Berman caiu de joelhos, sufocado pelo próprio sangue, com a visão se tornando turva. Ele tentou gritar, mas tudo o que saiu foi mais sangue. Ele viu seu confidente ser abatido pelos marinheiros e ouviu as últimas palavras de Lawnes: "Berman está morto! A esperança finalmente chegou a Ferry City."

Enquanto seu corpo caía, Berman olhou para o céu cinzento e as nuvens de fumaça sobre a cidade. Ele se foi, sem tempo de sentir arrependimento por seus atos.

...

Chris, montado em seu cavalo, olhava para o cadáver de Berman e para Lawnes, parado no cais com sua espada. Ele sorriu.

"Você o matou?" Chris perguntou, com um tom de interesse.

"Você o matou," Lawnes respondeu calmamente, olhando para Chris sem hesitação.

Chris acenou com a cabeça. "Muito bem, vou carregar esse fardo. Sou Chris, Lorde de Serris."

"Meu nome é Lawnes, comandante naval de Ferry City." Lawnes indicou os veleiros atrás dele, prontos para zarpar.

Chris sorriu, observando os navios. "É um prazer conhecê-lo, General Lawnes."

"O prazer é meu, Lorde Chris. Tenho uma pergunta... aqueles produtos de madeira e tecidos que estão vendendo tão bem... foram realmente criados por você?"

"Sim, fui eu." Chris respondeu. "Se não inovarmos, não teremos como pagar os impostos ao Império."

Lawnes ergueu as sobrancelhas, satisfeito com a resposta. "Então, Lorde Chris, que tal encontrarmos uma maneira de aumentar nossa renda aqui em Ferry City? Se concordar, estarei ao seu lado para lutar."