O campo de batalha era um cenário de destruição caótica.
A vila de Vallon, tomada pelos bandidos por tempo demais, ardia em labaredas criadas pelas magias de Amir e pelos confrontos que se espalhavam como uma praga viva pelas ruas estreitas. As construções tremiam, as pedras fendiam-se sob os pés dos combatentes, e o ar se carregava de tensão, cinzas e medo.
Alastor sentia o suor escorrer sob a armadura carmesim dracônica enquanto observava seus companheiros recuarem, feridos e cansados.
Erina cambaleava, a respiração irregular e o corpo marcado por pequenos cortes causados pelas lâminas dançantes de Callius. Mesmo assim, seus olhos dourados mantinham o foco, e a raiva contida.
Sorya respirava com dificuldade, sua energia mágica visivelmente esgotada por manter os feitiços de contenção contra Beren, o espadachim silencioso. Ele havia feito jus à sua presença sinistra, quase ferindo-a gravemente com um golpe apenas, não fosse a Barreira Arcana que ela conjurara no último instante.
Amir ainda exalava confiança, embora seus cabelos estivessem em desalinho e parte de sua túnica estivesse chamuscada. Já Grorun, o brutamontes do machado, urrava de frustração cada vez que Alastor desviava ou bloqueava seus ataques com habilidade refinada e fria persistência.
E no centro de tudo, Azriel, o jovem vampiro, lutava como podia, suas habilidades elétricas brilhando, mas ainda insuficientes contra inimigos tão acima do seu nível.
Estavam perdendo.
Não por falta de vontade, mas por puro desnível de poder. E o verdadeiro líder dos saqueadores ainda não havia se mostrado.
Alastor rangeu os dentes.
— Desse jeito nós vamos perecer aqui. Não posso hesitar mais…
Ergueu o braço e gritou:
— Todos, recuem um pouco! Protejam-se! Agora!
Os quatro obedeceram de imediato, confiando cegamente em seu líder. Mesmo sem saber o que ele planejava, sabiam que Alastor jamais os abandonaria.
Ele abriu a interface mágica da Orbe do Gacha. Ícones familiares surgiram, e com um movimento da mão, ele selecionou três itens há muito guardados. Era hora de virar o jogo, mesmo que fosse por um triz.
Alastor se virou para Azriel, que sangrava de um corte profundo no flanco esquerdo, ofegante mas de pé.
— Azriel, pegue isso. — disse ele, sua voz carregada de autoridade e esperança. — A Espada do Trovão Antigo. Só você pode empunhá-la como deve ser.
O jovem vampiro arregalou os olhos ao ver a arma surgir, envolta em um brilho dourado-azulado. A lâmina reverberava com eletricidade pura, como se o céu tivesse sido fundido em aço.
Ao tocá-la, sentiu uma onda de energia percorrer seu corpo. Seus olhos escureceram com raios violetas.
— Isso… isso é... — ele sussurrou, estendendo a mão com reverência.
— Lute, Azriel. Deixe o trovão responder por nós.
Em seguida, Alastor retirou de seu inventário um bastão negro como breu, entalhado com runas em espiral e uma cabeça em forma de dragão com olhos rubros.
Ele o empunhou com as duas mãos, canalizando sua mana restante.
— Essa vai esgotar tudo o que resta de mim, mas vale a pena...
— Cajado do Dragão Negro! Responda ao chamado!
O céu escureceu imediatamente, nuvens negras surgindo em rotação sobre a vila. Um trovão ressoou, e logo, cinco círculos mágicos surgiram ao redor do campo.
Desses círculos, dragões sombrios se ergueram um a um, cada um diferente, com asas membranosas, olhos flamejantes e presas como adagas. O menor deles era do tamanho de uma casa. O maior, quase um prédio de dois andares.
Os bandidos recuaram de terror, gritando.
— D-DRAGÕES! DRAGÕES SOMBRIOS!
As criaturas soltaram rugidos ensurdecedores que estremeceram até as pedras da praça. As chamas ao redor oscilaram. E os corações dos inimigos, até então confiantes, titubearam.
Alastor caiu de joelhos, suando frio. A invocação drenara toda a sua mana, até mesmo parte de sua vitalidade. Mas ele sorriu.
— Vamos ver se agora vocês ainda querem lutar…
Com um gesto, Alastor estendeu o último artefato para Sorya, que o recebeu com um leve arquejo. O cajado era esguio, com uma madeira preta estranha, veios de energia cristalina pulsante e um cristal cinzento em sua ponta.
— Crie uma vantagem, Sorya. Use ilusões. Crie passagens. Vamos confundir esse campo de batalha.
Ela assentiu com determinação.
— Sim, mestre. Eu vou mostrar por que eu sou chamada de Guardiã do Nexus Sombrio.
Ela cravou o cajado no chão. Imediatamente, sombras se estenderam como tentáculos vivos. Portais ilusórios começaram a surgir pelas laterais das construções, replicando os aliados e os dragões em miragens perfeitas. Toda a vila se tornou um labirinto sombrio e confuso, onde os inimigos perdiam o senso de direção.
O primeiro a agir foi Azriel. Com a Espada do Trovão Antigo em mãos, seu corpo foi envolvido por uma aura elétrica ainda mais poderosa que antes. Seus ataques, antes apenas lampejos de energia, agora se tornaram verdadeiras tempestades eléctricas concentradas.
— RAIO OSCILANTE!
Ele cortou o ar em direção a Callius, utilizando uma habilidade da própria espada e uma lâmina de energia elétrica disparou como um relâmpago. O assassino tentou desviar, mas ainda assim foi atingido de raspão e seu braço esquerdo ficou completamente paralisado por segundos cruciais.
— Essa dor...Haaa! — Callius recuou, os olhos arregalados. — O que diabos você fez, pirralho!?
— Eu só comecei.
Azriel não era mais uma criança. Agora, havia se tornado uma ameaça.
Ao mesmo tempo, os dragões sombrios mergulharam sobre os bandos espalhados. Um deles engoliu três bandidos inteiros em um único jato de chamas negras. Outro atravessou uma parede de pedra como se fosse papel, esmagando dois homens com as garras.
E entre cada ataque, os portais ilusórios de Sorya confundiam os generais. Amir atacava uma imagem ilusória de Alastor. Beren girava a espada contra sombras que se dissipavam em fumaça. Grorun urrava de frustração ao tentar acertar um dragão que desaparecia segundos antes do impacto.
E então veio o rugido.
Um rugido mais alto que o dos dragões. Mais profundo. Mais antigo.
Do centro da vila, uma energia negra se espalhou como uma tempestade etérea. As ilusões tremularam. Até os dragões hesitaram por um segundo.
O verdadeiro líder do grupo de saqueadores havia acordado.
Dos destroços de uma das casas no centro, surgiu uma figura. Alta, musculosa, envolta em uma armadura pesada decorada com crânios. Seus olhos brilhavam em vermelho.
Nas costas, ele carregava uma espada duas vezes maior que qualquer arma vista naquele combate.
— Quem ousa desafiar a soberania de Draakir, o Flagelo das Vilas?
Sua presença era sufocante. Até mesmo Amir recuou um passo. Callius, Grorun e Beren se calaram. Agora, todos esperavam.
A batalha final estava prestes a começar.
E Alastor, ainda de joelhos, ergueu o rosto para o céu.
— Então o chefe finalmente decidiu aparecer…