Capítulo 41: A Ascensão no Coração da Tempestade

O silêncio que se seguiu ao surgimento de Draakir, o Flagelo das Vilas, foi como a calma sufocante antes da tormenta. A terra parecia prender a respiração. Os dragões sombrios, até então ferozes, mantinham-se atentos, sem atacar. O próprio ar pareceu pesar mais.

Os olhos carmesim de Alastor encaravam o gigante de armadura escura. Ainda ajoelhado, ele fechou os punhos. Seus pulmões ardiam. Sua mana estava esgotada, e seus músculos gritavam por alívio. Mas a luta ainda estava longe de terminar.

Ele ergueu a mão.

— Ainda não…

De sua caixa de inventário, puxou duas poções: uma de vitalidade intensa, a outra de cura acelerada. Em poucos segundos, o líquido rubro percorreu suas veias como fogo vivo. A dor foi substituída por calor. A exaustão, por energia crua.

— Ainda tenho mais um trunfo…

Sua mão mergulhou uma última vez no inventário e puxou um cristal cintilante, de coloração púrpura com veios dourados pulsando como o coração de um ser vivo.

Cristal da Convergência Arcana (Épico).

— Se é agora ou nunca... então que seja agora.

Ele ergueu o cristal sobre a cabeça. O brilho da gema iluminou todo o campo, ofuscando aliados e inimigos por um breve instante.

— Cristal da Convergência… ativar!

O cristal se dissolveu em partículas que o envolveram num vórtice de energia arcana. As runas de sua armadura carmesim começaram a brilhar intensamente. A Umbraeternal pulsava, emitindo pequenos estalos de energia sombria. E então...

Seu corpo foi preenchido com poder.

Era como se todas as habilidades, toda a experiência de batalha, todo o sangue e suor anteriores tivessem se multiplicado. Um salto de 10 níveis temporários. Um avanço que distorcia os limites do possível.

Um segundo depois, Erina, Sorya e Azriel consumiam suas próprias poções. O brilho das curas e recuperações intensas restaurou seus corpos e revitalizou suas forças. O campo de batalha, agora quase dividido entre aliados e inimigos, viu-se novamente envolto na maré da mudança.

Sorya, com o Cajado do Caminho Oculto, ampliou as ilusões a tal ponto que Draakir se viu cercado por cópias de Alastor — todas em posições diferentes, se movendo de forma sincronizada.

Erina voltou a agir como uma sombra viva, suas lâminas surgindo entre as dobras das sombras, atingindo alvos vulneráveis. Ela era o caos na forma de dança.

Azriel, empunhando a Espada do Trovão Antigo, parecia um demônio celestial. Relâmpagos percorriam seu corpo. Seus olhos irradiavam energia. Ele se movia rápido, seus ataques agora explosivos. O tempo entre cada golpe parecia diminuir. E cada corte zumbia com eletricidade pura.

Alastor, por sua vez, se ergueu devagar.

— Hora de quebrar um império.

Draakir avançou como uma muralha viva. Cada passo fazia o chão tremer. Seu grito de guerra foi gutural, selvagem, ancestral. A espada colossal que carregava rasgou o ar com um rugido de aço.

Alastor saltou para frente, sua velocidade agora descomunal, interceptando o golpe. A Umbraeternal e a espada de Draakir colidiram com um impacto tão violento que criou uma onda de choque que lançou pedras e destroços em todas as direções.

O trovão que se seguiu não veio do céu — veio da terra, da colisão de pura vontade e força.

Draakir recuou um passo, surpreso. Alastor não era mais um inseto — era um igual.

— Você ousa me igualar, pirralho? — rosnou Draakir, seus olhos flamejantes.

— Não. — respondeu Alastor, girando a lâmina em posição. — Ouso te superar.

Enquanto o chefe enfrentava Alastor, os generais, embora desgastados, ainda eram ameaça constante.

Amir, o mago do fogo, concentrava sua mana para uma última e poderosa explosão ígnea. A energia em suas mãos flamejava como o sol.

— Morram todos nas chamas da Coroa de Sol Ardente!

Mas antes que pudesse lançar, Sorya sussurrou algo em uma língua antiga. Uma névoa ilusória surgiu sob os pés do mago, e o chão se abriu.

Um falso abismo.

Instintivamente, Amir saltou, perdendo o foco da conjuração. Foi tudo que Azriel precisava.

Com a espada zumbindo em trovões, ele cortou o ar.

— Rugido Celeste!

O ataque atingiu Amir diretamente no ombro e o lançou contra uma parede. O mago caiu, inconsciente.

Callius, ainda com suas adagas, duelava contra Erina em um combate de sombras e aço. Ambos ágeis, ambos calculistas. Mas Erina estava focada, e seu olhar dizia mais que palavras.

Com um giro, ela cravou uma lâmina na coxa de Callius e outra no flanco. O homem gritou, e antes que pudesse reagir, um chute o derrubou.

Ela o olhou, sem piedade.

— Cale-se. Você fala demais.

Grorun e Beren, os dois últimos, recuavam. Os dragões os mantinham ocupados, cuspindo fogo negro em suas direções, forçando-os a uma defesa constante.

Alastor e Draakir se enfrentavam como deuses em miniatura. Cada golpe era uma sentença. Cada desvio, um milagre.

A cada segundo, Alastor sentia o poder do Cristal da Convergência Arcana aumentar sua força, sua velocidade e até mesmo o poder das habilidades.

Sem perder tempo, ele começou a utilizar suas habilidades.

— Explosão Sombria! — Um campo de energia sombria explodiu do chão sob os pés de Draakir.

Logo após a explosão Alastor se desatou a correr em direcção ao inimigo.

— Dança das Sombras! — seus movimentos ficaram imprevisíveis, rápidos, como se houvesse três dele.

Draakir, ficou confuso e começou a balançar sua enorme espada de forma aleatória em direcção as miragens produzidas pela velocidade de Alastor, na esperança de acertar ele de algum jeito.

Ao perceber o perigo do ataque, Alastor que já estava próximo ativou mais uma habilidade, mesmo sabendo que isso iria denunciar sua posição real, mas era única forma de se aproximar o suficiente.

— Barreira das Sombras! — absorveu parte dos golpes, permitindo-lhe aguentar ataques que teriam partido um cavalo em dois.

E então ele ativou a habilidade que ele considera como um ultimato no seu nível actual:

— Lâmina de Eclipse!

A lâmina da Umbraeternal se envolveu em uma energia púrpura-azulada, e ao cortar o ar, deixou um rastro que parecia dissolver a própria realidade por onde passava.

Alastor saltou e golpeou de cima, mirando o ombro direito de Draakir.

Draakir tentou aparar, mas o peso de todos os confrontos anteriores cobrava seu preço. O golpe atravessou a armadura como manteiga quente e rasgou a carne. Sangue escuro jorrou. Draakir urrou de dor e caiu de joelhos.

— Impossível… eu sou… o dominador…

Alastor encostou a ponta da espada em seu peito.

— Você era.

E com um último golpe direto no coração, Draakir tombou, sua espada enterrando-se na terra ao lado.

O silêncio tomou o vilarejo.

O último rugido de um dragão se perdeu nos céus. As chamas cessaram. Os poucos bandidos sobreviventes largaram as armas e fugiram, ou foram rendidos.

E o sistema reagiu:

Chefe Derrotado: Draakir – Flagelo das Vilas.

Alastor: +3 níveis (Nível atual: 20).

Sorya, Erina: +2 níveis cada.

Azriel: +7 níveis

Novo título desbloqueado: “Tempestade Silenciosa.”

O grupo mal conseguia ficar de pé, mas haviam vencido. A vitória, porém, cobrara seu preço. E o vilarejo, ainda tomado por destroços, clamava por reconstrução.

Alastor se aproximou de Azriel, e mesmo exausto, sorriu.

— Você foi brilhante.

Azriel, ofegante e segurando ainda a Espada do Trovão, apenas assentiu. Seus olhos brilhavam de orgulho.