A Batalha do Mais Fraco

Antártica - 14:36PM

Rafael ainda estaria ofegante, apenas a presença daquele ser primordial estando na sua frente, ele sentiria o desespero se espalhando em cada canto de seu corpo, completamente trêmulo diante de Nergal.

Nergal: — Não fique assim, foram apenas uma sugestão da Abaddon, ela detesta gente que nem você que prolonga o inevitável... Mas estou nervoso, você nem me parece apetitoso o suficiente pra eu comer sua carne.

Em apenas alguns instantes, Nergal aparecia no lado de Rafael, abrindo sua boca para abocanhar a orelha dele, Rafael era lento em sua reação e não dava tempo para escapar, tendo sua orelha arrancada pela a boca de Nergal, o mesmo se afastava um pouco para mastigar, enquanto colocava sua mão sobre seu queixo.

Nergal: — Hmmm... Não é ruim e nem bom, esperava mais de uma carne que deveria ser de primeira, já que você é um arcanjo...

Rafael não se desesperava ainda, mas sentia uma dor horrível, colocando sua mão na área onde teve sua orelha arrancada, curando no mesmo instante.

Rafael: — Merda... Não é possível que eu irei ser inútil novamente...

Flashback

Dimensão Celestial – Séculos atrás

Miguel estava ao lado de um jovem Rafael, que mal conseguia olhar para cima por causa do peso do desprezo que sentia em seus ombros. Os outros arcanjos, Jofiel, Castiel, Zadiel, Gabriel e Uriel, o observavam com olhares duros.

Miguel: — Este é Rafael. Ele foi rejeitado por sua própria família celestial por ser uma geração falha. Mas eu vejo potencial nele. Não em combate direto, mas como suporte. Sua cura pode ser a diferença entre a vida e a morte em batalhas cruciais.

Castiel: — Cura? Só isso? Ele não despertou nem o "São"? Como espera que ele sirva para algo?

Uriel: — Nunca ouvi falar de alguém nascido nas Dimensões Celestiais com tão pouco potencial.

Jofiel: — Uma alma fraca como ele realmente tem o direito de se sentar nesta mesa...? Parece que o tempo mudou mesmo...

Gabriel: — Não devemos questionar os métodos do nosso senhor... Mas de fato, é uma escolha um pouco incomum, não esperava que faria algo como isso, pelo menos... Não com ele.

Zadiel, no entanto, sorriu levemente, mas permaneceu em silêncio. Miguel continuou, mesmo com a evidente desaprovação.

Nos anos seguintes, Rafael curava soldados angelicais, salvando incontáveis vidas, mas nunca regenerando membros perdidos. Castiel foi o primeiro a reconhecer seu valor, notando como seu exército parecia invulnerável. Com o tempo, outros arcanjos também o elogiaram, mas Miguel permaneceu frio e distante.

Certa noite, após mais uma campanha...

Miguel: — Certo, muito obrigado, à todos vocês por mais uma vitória, dessa forma, poderemos conquistar todas as províncias demoníacas na Terra em menos de dois séculos.

Assim que a reunião terminava, todos os arcanjos seriam dispensados, Rafael se levantava para se retirar, mas era interrompido pela a ordem de Miguel

Miguel: — Fique.

Ele virou-se, agora sem esconder sua severidade. Rafael não diria nada ainda.

Miguel: — Por que você ainda não consegue regenerar membros perdidos?

Rafael: — A cura e a regeneração são conceitos diferentes, meu senhor. A regeneração depende do próprio indivíduo. É raro alguém capaz de regenerar alguém ou um grupo inteiro completamente...

Miguel empurrou Rafael contra a parede, com uma raiva fria em seus olhos.

Miguel: — Eu só te resgatei por dever. Meu esquadrão deve ser invencível. E você não é capaz nem de regenerar alguns membros?! Isso não é uma desculpa pra você, tu veio de uma dimensão superior, então age como tal!—

Antes que pudesse dizer mais, a porta se abriu. Gabriel entrou, e Miguel rapidamente mascarou sua atitude. Rafael, no entanto, levou o aviso consigo, sofrendo em silêncio.

Ele devorou livros, estudou por séculos, mas nunca conseguiu encontrar uma maneira de desbloquear seu verdadeiro potencial. O medo e a pressão mental de Miguel o corroeram lentamente, até que ele se tornou um fantoche obediente, incapaz de resistir, mesmo se ele contasse pra alguém, ele tinha medo de não acontecer nada, e de apenas o estressar ainda mais. Ele tinha medo de tudo, até mesmo medo de seu próprio reflexo, vendo como ele era fraco.

Então veio Kazuhiko.

No momento de seu sequestro durante a guerra santa, Rafael já havia aceitado que morreria, acreditando que era inútil. Mas depois que foi levado por Kazuhiko , após muita desesperança e sem mais vontade de continuar lutando, as palavras de Kazuhiko iluminaram algo em sua alma.

Como... Mesmo que éramos inimigos, que estava no lado dos arcanjos, que queria erradicar completamente sua vida... O mesmo estava estendendo sua mão para se juntar no seu time? Rafael tinha tantas perguntas no momento, mas tudo aquilo foi apagado quando Kazuhiko disse que não importa se é um arcanjo, se é um demônio, um anjo caído ou um mero humano, todos aqui eram como uma família pra mim... E aquilo fez ver, uma bondade que ele nunca tinha testemunhado, ele é realmente uma pessoa má? Eu sou do bem? Se estou com pesoas más eu também sou mal? Ele se questionava ainda mais... Não entendendo, o que o fazia Kazuhiko ser uma pessoa intrigante, e pela a primeira vez em sua vida celestial, Rafael queria continuar.

Desde então, algo mudou. Ele desafiou Asmodeus pela primeira vez, e agora estava diante de Nergal, mais forte do que nunca – não por causa de seu poder, mas por sua força de vontade.

De volta ao presente

Antártica – 14:38PM

Rafael se endireitou, mesmo tremendo de dor.

Rafael: — Não desta vez.

A luz divina que irradiava de suas mãos parecia diferente. Não era apenas uma luz de cura; era uma força de determinação.

Nergal avançava como uma fera faminta, ignorando completamente a dor e a surpresa de antes. Suas garras deixavam sulcos profundos no gelo enquanto ele rugia, a fome de destruição queimando em seus olhos vazios. Sua velocidade cósmica, no entanto, estava reduzida. Ele sentia isso, mas não entendia por quê.

Rafael estreitava os olhos, observando os movimentos do inimigo. Seu corpo tremia não de medo, mas de pura energia acumulada.

Flashback

Dimensão Celestial — Anos antes

Rafael, ainda um jovem arcanjo, passava horas escondido na biblioteca celestial, folheando tomos antigos sobre anatomia humana. Ele estava fascinado com a resiliência dos humanos, especialmente quando assistia aos seus torneios de combate. Boxe era sua obsessão secreta. Ele observava como os boxeadores resistiam, como suportavam a dor e se erguiam para mais um round, mesmo à beira da derrota. Aquilo era mais do que técnica. Era força de vontade.

Por um breve momento, Rafael sonhou em adotar aquela disciplina. Mas Miguel e os outros destruíram sua motivação antes que ele pudesse sequer tentar.

Agora, Rafael estava de volta ao presente, e aquele sonho antigo finalmente ganhava vida.

Rafael: — Nergal, há algo interessante que aprendi com os humanos... Eles acreditam que a cura é um dom, mas às vezes ela pode ser uma maldição.

Nergal parou, intrigado pela provocação.

Rafael: — O que acontece quando se cura um morto-vivo? Isso o beneficiaria ou o destruiria completamente?

Nergal estreitou os olhos, percebendo tarde demais a intenção de Rafael. O arcanjo concentrou toda a sua luz divina em seus punhos. Ele avançou com um movimento rápido e firme.

— Jab!

O soco atingiu Nergal no rosto com uma força devastadora. O nariz dele quebrou instantaneamente, liberando um jato de sangue negro. Nergal recuou, atordoado.

— Direto!

O segundo golpe foi uma sequência imediata, atingindo o peito de Nergal com força suficiente para ecoar pela Antártica. Nergal tropeçou para trás, sentindo algo estranho—dor. Uma dor infernal, como se sua própria essência estivesse sendo destruída de dentro para fora.

Nergal: — Como... você...?

Rafael assumiu uma pose de boxe, respirando profundamente.

Rafael: — Você comeu minha orelha, mas roubou algo que não pode usar. Eu te conheço muito bem Nergal, você era conhecido por causar desespero, e usar os próprios poderes para causar eles uma morte lenta e dolorosa, Miguel me contou que você é um dos cavaleiros mais bizzaros e amendrontador... Quando te vi na minha frente, eu quase queria fugir pela a minha vida, mas eu soube que isso era a minha chance perfeita pra crescer.

Nergal rugiu de ódio. Mas Rafael não recuou. Ele avançou novamente, usando um movimento clássico do boxe:

— Um-dois!

A sequência rápida de golpes atingiu Nergal antes que ele pudesse reagir, cada soco carregado com uma luz divina que queimava seu corpo de dentro pra fora, graças a cura sempre entrando dentro do mesmo. Nergal sentia sua velocidade cósmica continuar a diminuir, como se estivesse sendo puxado para uma prisão de luz pura.

Nergal: — Chega!

Ele liberou uma explosão sombria, tentando afastar Rafael, mas o arcanjo se esquivou com uma graça surpreendente, recuando com alguns pulos para atrás, ainda mantendo sua postura defensiva.

Rafael: — Já tive medo de tudo nesta vida. De falhar, de perder, de ser fraco. Mas agora entendo que não é o medo que nos define—é a coragem de enfrentá-lo.

Com uma última explosão de luz, Rafael concentrou a sua energia em um golpe decisivo. Ele gritou com todas as suas forças:

— CRUZADO DA CURA!

O punho de Rafael atingiu Nergal no centro do peito, liberando uma onda de luz purificadora. Nergal gritou enquanto sua forma começava a desmoronar, No entanto, seu corpo seria curado quase que instantaneamente na mesma hora.

Nergal rugia de dor enquanto seu corpo morto-vivo queimava por dentro, mas ao invés de recuar, ele esboçou um sorriso distorcido, seus dentes podres gotejando veneno negro.

Nergal: — Hahahaha... Interessante. Rafael, você acha que me destruirá com essa luz divina? Não, apesar de eu estar sendo afetado negativamente, sua mera cura não é o suficiente para me matar, e nunca será.

Ele limpou o sangue que escorria de seu nariz quebrado e assumiu uma postura feroz, os músculos se contraindo com uma força sobrenatural.

Ele rosnou, os olhos brilhando com um ódio crescente.

Nergal: — Você se tornou o meu inimigo natural, Rafael. Um parasita que fica me corrompendo com esse truque barato de cura! Mas isso só me dá mais um motivo para destruir você.

Sem aviso, Nergal se lançou para frente, os punhos envoltos em uma escuridão mortal. Rafael conseguiu desviar de um golpe lateral, mas o segundo soco acertou seu ombro com força suficiente para quebrar ossos. No entanto, antes que a dor pudesse se instalar, Rafael sentiu seus ossos se soldarem instantaneamente, sua regeneração ultrapassando o dano.

Eles trocaram golpes com uma fúria incontrolável. O som dos impactos ecoava como trovões através da Antártica congelada. Cada soco de Nergal vinha com uma força destrutiva, capaz de pulverizar rochas. Rafael, no entanto, se curava mais rápido do que podia sentir a dor completamente.

Um cruzado direto no queixo de Nergal o fez cambalear para trás, mas ele contra-atacou com um chute giratório, que explodiu uma nuvem de neve ao atingir Rafael no abdômen. O anjo cuspiu sangue, mas estava em pé novamente em um piscar de olhos, os olhos ardendo de determinação.

Rafael: — Você sente, não sente? A dor que nunca desaparece. Enquanto a mim... Eu sinto algo preenchendo minha alma, estou evoluindo conforme essa luta passa, e você está apenas sofrendo, incansavelmente.

Nergal rugiu e saltou sobre ele com uma velocidade assustadora, agarrando Rafael pelo pescoço e o arremessando contra o chão congelado. O impacto criou uma cratera enorme, mas Rafael simplesmente se levantou, seu corpo coberto por luz divina.

Nergal: — Por que você não morre?!

Rafael sorriu, mesmo com sangue escorrendo pelo canto de sua boca.

Rafael: — Porque tudo o que fiz nesta vida foi me curar. Agora, eu sou mais forte do que qualquer dor que você possa infligir.

Rafael se lançou novamente com uma sequência de golpes rápidos, os punhos estalando com energia sagrada. Os dois guerreiros se moviam como borrões no campo congelado, trocando golpes que faziam a terra tremer.

Cada soco de Rafael fazia o corpo de Nergal arder ainda mais com a dor corrosiva, mas o morto-vivo não desistia. Ambos estavam sangrando e feridos, mas Nergal, pela primeira vez em eras, sentia o peso da batalha e o cansaço que crescia a cada golpe que recebia.

Rafael avançou novamente, utilizando o movimento que tanto treinou em segredo durante séculos:

Rafael: — Um, dois!

O primeiro soco explodiu no rosto de Nergal, e o segundo atingiu seu peito com tanta força que o morto-vivo caiu de joelhos, quebrando todas as suas costelas, arfando em dor.

Rafael agora bem mais sério, abaixava um pouco sua postura defensiva, o olhava pra baixo.

Rafael: — O que você está fazendo? Você consegue lidar com isso, tu já deve estar curado agora, então levante.

Nergal já curado, ele socava o chão, partindo o iceberg onde estavam no meio, pela o puro ódio e a humilhação que estava passando naquele momento.

Nergal: — Não... Então é isso, iremos ficar nessa brincadeirinha até eu chegar ao ponto de querer desistir depois de me enlouquecer sobre a dor... Agora entendo, muito bem... Então também estarei te levando a sério a partir de agora.

Antártica – 14:43 PM

O chão gelado da Antártica tremia com o impacto dos golpes de Rafael e Nergal. As montanhas distantes de gelo desabavam, enviando avalanches em todas as direções. A batalha era um espetáculo que ninguém poderia ignorar.

Kazuhiko estava suando frio, encarando Asmodeus, que tinha acabado de invadir a base. Os soldados ao seu redor estavam aterrorizados e perdendo a esperança, suas armas tremendo em suas mãos. Mas antes que Asmodeus pudesse fazer seu próximo movimento para se infiltrar ainda mais pra salvar Kazuhiko, um estrondo ensurdecedor ecoou pelos céus, seguido por outro, e outro. Era como o som de trovões infinitos.

Kazuhiko ergueu a cabeça, olhos arregalados.

Kazuhiko: — Isso...

Ele não podia ver claramente o que estava acontecendo do outro lado do campo de batalha, mas seu coração sabia.

Kazuhiko: — É o Rafael, eu sinto isso.

Os soldados próximos o olharam em choque.

Kazuhiko: — Aquele que todos consideravam o mais fraco de nós está enfrentando um cavaleiro do Apocalipse, eu consigo sentir pela energia maléfica que está se chocando entre a aura calma de Rafael.

Ele olhou pra cima, vendo que o cavaleiro que faltava era Nergal, então apertou os punhos com força e gritou para os soldados.

Kazuhiko: — ELE ESTÁ LUTANDO BRAVAMENTE CONTRA NERGAL! SE ELE CONSEGUE ENFRENTAR UM CAVALEIRO DO APOCALIPSE, NÓS TAMBÉM CONSEGUIMOS!

Os soldados, antes tomados pelo medo, sentiram a energia e a esperança renovarem seus espíritos. Eles ergueram suas armas com gritos de guerra, enquanto Kazuhiko conseguia já ver Asmodeus no horizonte, se aproximando deles.

Kazuhiko: — Asmodeus!

Asmodeus soltou uma gargalhada profunda, mas havia algo diferente nela, enquanto ele observava o horizonte onde estava Rafael, ele só conseguia pensar em uma coisa: respeito.

Asmodeus: — Você está realmente levando a sério a ideia de me superar ein, Rafael. Estou ansioso para ver até onde a sua voz vai te levar.

Asmodeus continuava avançado, agora Ryuji chegando ao lado, mas ele estava todo ensanguentado e cheio de cortes.

Asmodeus: — Caramba, te pegaram de jeito ein!

Ryuji: — Cala a boca, você me deixou numa situação de quase morte, você é completamente insano, se eu tivesse morrido, eu puxaria sua alma junto comigo.

Asmodeus: — O que importa é que você conseguiu sair praticamente ileso, agora vamos focar em salvar a princesa!

Na distância, mais pra cima

Abaddon observava a batalha de longe, sua aura de destruição oscilando com inquietação.

Abaddon: — Nergal está perdendo. Se ele continuar assim... talvez devêssemos fazê-lo recuar.

Antes que ela pudesse agir, Raiden o interrompeu com um olhar fixo no horizonte onde Rafael e Nergal lutavam.

Raiden: — Não. Não há mais volta para Nergal agora. Se ele fugir dessa luta, não será digno de ser um cavaleiro. Todos nós enfrentamos nossas próprias batalhas impossíveis. Se ele vencer, então ele apenas provará que merece tal coisa.

Nergal tremia de ódio e dor enquanto socava o chão congelado, suas feridas ainda latejando com a cura em forma à uma luz verde corrosiva de Rafael.

Nergal: —Merda... Certo... percebi que tu vai continuar nessa brincadeira até eu desistir. Então, desgraça! E pensar que terei que me transformar pra um ser tão insignificante que em qualquer outra ocasião... Seria um inútil.

Seu corpo começou a se expandir e se distorcer, ossos estalando e pele rasgando enquanto ele assumia sua verdadeira forma. Carne humana e ossos antigos se fundiram para formar uma armadura grotesca e pulsante, e uma coroa de sangue flutuava acima de sua cabeça, emanando fome pura e insaciável. Ele agora era o próprio conceito primordial da fome encarnado.

Nergal: — Agora você enfrentará o verdadeiro terror, Rafael.

Rafael sentiu o peso esmagador da nova presença de Nergal, como se o próprio ar estivesse sendo sugado para alimentar sua fome infinita. Mas ele não recuou.

Rafael: — Vem então.

Eles se lançaram um contra o outro com uma fúria ainda maior, o gelo ao redor se transformando em vapor sob a intensidade de sua luta. Nergal atacou com garras afiadas, rasgando o peito de Rafael, mas a ferida se fechou antes que o sangue pudesse cair. Rafael contra-atacou com uma combinação rápida de socos, cada golpe irradiando sua cura que queimava as entranhas de Nergal.

A dor de Nergal era constante, mas sua fome também. Mesmo com cada parte de seu corpo gritando por alívio, ele continuava avançando.

Nergal: — Vamos ver até onde sua cura pode te levar, Rafael! AGORA EU NEM SINTO DOR, HAHAAHHAAHAHAH!!

O campo de batalha era agora um cenário de puro caos. O chão de gelo, antes sólido, estava repleto de fissuras profundas e vapor subia ao céu em nuvens densas. O ar tremia com cada golpe desferido, a energia dos dois combatentes abalando a terra.

Nergal avançava com um sorriso insano, suas garras afiadas cortando o ar com precisão. Rafael desviava como podia, mas a velocidade de Nergal havia aumentado exponencialmente. Um único golpe atingiu o braço direito de Rafael, decepando-o com brutalidade. O arcanjo cambaleou para trás, segurando o coto ensanguentado, a dor intensa queimando seu corpo.

Rafael recuou instintivamente, mas sua perna esquerda foi arrancada até os dedos do pé por outro ataque veloz. Ele caiu sobre o chão gelado, ofegante, tentando se equilibrar, mas seu corpo já não conseguia sustentar o peso. Sua respiração era irregular, e seu rosto estava pálido pela perda de sangue e pelo esforço extremo de cura que mantinha até aquele momento.

Nergal: — HAHAHA! Agora está sentindo a realidade, Rafael! Acha que só cura pode salvar você? Eu me adaptei a você... e agora, nem sua luz pode me deter.

Ele se aproximou lentamente, deleitando-se com a fraqueza de Rafael.

Nergal: — Mas admito que você me surpreendeu. Alguém tão fraco quanto você conseguiu fazer um ser divino sentir dor. Mostrou coragem, pelo menos. Vou matá-lo rapidamente em troca desse espetáculo.

Mesmo à beira da morte, Rafael não perdeu o brilho em seus olhos. Ele manteve sua posição de defesa de boxe, mesmo com apenas um braço e quase sem equilíbrio.

Rafael: — Não... não acabou.

Com sua última gota de força, ele desferiu um único jab, concentrando tudo o que restava de sua cura e poder sagrado no golpe. A cabeça de Nergal explodiu em uma chuva de sangue e ossos, mas antes que Rafael pudesse cair, Nergal regenerou-se instantaneamente, mais forte e mais faminto do que nunca.

Nergal: — Caia, Rafael, esta luta... Acabou.

Rafael: — Eu...queria...ser...

Rafael desabou sobre o gelo antes de completar sua sentença, sem forças para continuar. Sua visão começou a escurecer.

Dentro da mente de Rafael

Fragmentos de memórias surgiram em sua mente. Palavras de Kazuhiko ressoavam em seu subconsciente.

"Eu não vou deixar ninguém te bater, e se eles fazerem isso, eu o protegerei, Rafael."

Ele viu rostos. Kazuhiko. Ryuji. Miyako. Pessoas que, de alguma forma, conseguiram se tornar especiais em tão pouco tempo.

Rafael: — Eu passei séculos com Miguel e os outros... e senti nada. Apenas uma aceitação fria.

Ele refletiu sobre Kazuhiko.

Rafael: — Você emana bondade, mas... também esconde algo sombrio. E, ainda assim, parece feliz com aqueles ao seu redor. Isso... isso é... família?

De repente, tudo ficou em silêncio em sua mente. Uma luz interna se acendeu em seu peito, crescendo rapidamente até explodir para o mundo exterior.

Quando Nergal ergueu a mão para o golpe final, uma explosão de energia sagrada sacudiu a terra, jogando o cavaleiro para longe. Do corpo caído de Rafael, uma luz dourada e verde emanava, iluminando metade do campo de batalha.

Todos os que lutavam pararam e olharam para a origem daquele brilho.

Beelzebub, Asmodeus, Leviathan, Kazuhiko, Ryuji, Miyako, Enoch, Raiden e Abaddon ficaram atônitos diante do fenômeno.

Duas novas asas brilharam atrás de Rafael, e suas antigas feridas foram curadas em instantes. Sua auréola dourada agora cintilava em um tom esmeralda, irradiando pureza e força.

Rafael havia transcendido. De arcanjo fraco, ele agora era um Santo.

Kazuhiko sussurrou: — Rafael...

O brilho intenso se expandiu ainda mais, silenciando o campo de batalha e deixando todos em estado de choque.

Fim do Capítulo.