Ser ou Não Ser

Antártica - 14:45PM

A explosão de luz cesava por todo o campo de batalha, agora com Rafael no meio, brilhando intensamente uma aura que parecia ser divina, em um tom mais puro da coloração verde, Rafael pousava suavemente no solo gélido, Nergal não parecia tão surpreso no entanto, na verdade, ele parecia ainda mais animado.

Nergal: — Muito bom! Agora estamos falando, talvez assim eu posso aproveitar ainda mais sua dor ao ver você completamente sem esperança.

Nergal em uma ação imprudente, avançava em Rafael, agora assumindo uma pose diferente do que fazia.

Nergal avançava com toda a sua fúria, suas garras escuras cortando o ar. Porém, Rafael, agora completamente dominando suas novas habilidades, não recuava. Ele assumia uma postura relaxada, pés firmes no solo. Quando Nergal se aproximava, Rafael desferia um Ippon Seoi Nage com uma precisão perfeita, lançando o inimigo ao chão em um impacto que fazia a terra tremer.

Nergal: — Judô?

murmurou Nergal ao se levantar, os olhos brilhando de surpresa e excitação.

Nergal: — Interessante.

Rafael não lhe dava tempo de reagir. Com passos calculados e uma precisão sobre-humana, ele avançou como um vendaval. Seu primeiro ataque foi um chute giratório frontal, que atingiu em cheio o tórax de Nergal, fazendo o cavaleiro recuar dois passos enquanto suas costelas vibravam com a luz sagrada que se infiltrava em sua carne. Antes que Nergal pudesse se estabilizar, Rafael deslizou pelo solo com a fluidez de um mestre de Karatê, disparando uma palma aberta ascendente que encontrou o queixo do cavaleiro. A cabeça de Nergal foi forçada para trás, e uma rachadura de energia percorreu sua espinha.

Com um giro rápido, Rafael desferiu um chute lateral direto no estômago de Nergal, que se dobrou de dor, vomitando uma sombra densa que evaporou ao entrar em contato com a aura sagrada de Rafael. Aproveitando o momento, ele juntou as mãos e lançou um golpe de palma dupla contra as costelas de Nergal, enviando uma onda de luz que penetrou o corpo do cavaleiro, criando rachaduras brilhantes ao longo de seu torso.

Nergal tentou contra-atacar, mas Rafael já estava em movimento, girando novamente para executar um chute invertido que acertou o ombro direito do cavaleiro com força brutal. O braço de Nergal foi jogado para trás, e uma luz intensa começou a irradiar de sua junta, como se o próprio tecido espiritual estivesse se desintegrando. Cada golpe deixava as cicatrizes sombrias de Nergal em chamas com a luz regenerativa de Rafael, que agora carregava o peso do conceito de cura e regeneração em sua forma mais pura.

São Rafael: — Eu evoluí, Nergal.

declarou Rafael com firmeza.

São Rafael: — A cura não é apenas remédio para os fracos. É uma arma mortal para os desesperados.

Nergal soltava um urros de dor ao ser atingido por aquela sequência de golpes sincronizados, mas, mesmo assim, sorria. Ele arrancava o próprio braço com suas garras sombrias e, num golpe rápido, o lançava contra Rafael. Mas desta vez, a ferida de Rafael se fechava instantaneamente.

São Rafael: — Agora não é tão fácil, não é?

Rafael murmurava, seus olhos fixos em Nergal.

Mesmo assim, o cavaleiro se ajustava. A dor parecia alimentar sua fome ancestral, e sua velocidade aumentava drasticamente. Nergal desferiu uma sequência de socos e chutes com força e velocidade que ultrapassavam muitas vezes a luz, cada golpe imbuído de energia sombria. Rafael, no entanto, estava um passo a frente, antecipando a direção dos golpes. Seus movimentos fluíram com a precisão e a economia de Systema. Ele absorveu os impactos com seu corpo relaxado, desviando os ataques para ângulos desfavoráveis e minimizando os danos. Mesmo que cada golpe estragava todo o interior de Rafael a cada golpe desferido de Nergal, mas ele conseguia curar boa parte no meio da trocação de golpes.

Quando Nergal tentou um soco direto no rosto, Rafael bloqueou o braço com o antebraço, que era completamente quebrado e quase tem seu braço arrancado, apenas tendo sua pele sustendo o braço de Rafael, ele ignorava a grande dor que sentia e não perdia a oportunidade, torceu-o rapidamente, utilizando uma chave de braço típica de MMA. Nergal rugiu, tentando girar para escapar, mas Rafael respondeu com um golpe rápido de cotovelo no peito do cavaleiro, interrompendo sua movimentação e desequilibrando-o.

Nergal recuperou o equilíbrio e disparou uma joelhada ascendente em direção ao estômago de Rafael, mas este girou lateralmente e prendeu a perna com uma trava, derrubando Nergal com um movimento de varredura. O cavaleiro se levantou com agilidade sobre-humana, mas Rafael já estava em movimento, misturando sua defesa fluida com contra-ataques precisos.

Uma investida lateral de Nergal foi desviada por um movimento circular de Systema, e Rafael aproveitou para dar um soco martelo na têmpora de Nergal, seguido de um gancho ascendente que o jogou para trás, mas o gancho também prejudicava seu punho, já que a resistência de Nergal parecia aumentar cada vez mais com os golpes, tendo seus dedos quebrados no processo. O solo ao redor deles estava rachado e afundado pelas ondas de choque geradas a cada impacto, suas auras colidindo em uma dança violenta de luz e sombra.

Flashback

Nergal caminhava sozinho pelo deserto congelado de um mundo esquecido, o vento cortando sua pele morta com a força de lâminas invisíveis. Seus olhos, antes cheios de ambição e desejo, agora não passavam de cavernas escuras e sem vida. Seus passos vacilantes o levaram a um precipício gigantesco, onde as nuvens pareciam engolir o abismo infinito abaixo. A escuridão era sufocante, e o silêncio absoluto fazia seu espírito se despedaçar ainda mais.

Ele parou na beirada, olhando o vazio como se fosse a única resposta que restava. O peso de sua existência caía sobre seus ombros. Já não era humano, mas tampouco conseguia se enxergar como monstro. Ele havia fracassado em tudo: vida, morte e qualquer tentativa de redenção.

— Nada mudou. Nada nunca mudará. — Sua voz era um sussurro rouco, carregado com o peso de séculos de sofrimento. — Não há ninguém para lamentar, ninguém para lembrar. Que diferença faz continuar existindo?

Ele fechou os olhos e deu um passo à frente.

Mas antes que pudesse cair, uma voz fria e firme interrompeu o silêncio.

— Isso não é a sua hora de morrer.

Nergal abriu os olhos de súbito. Diante dele, três figuras emergiam das sombras. Abaddon, a cavaleira da morte, estava no centro. Sua armadura negra irradiava uma energia opressiva, mas seus olhos eram intensos e misteriosamente compreensivos.

Ao seu lado, Raiden, o cavaleiro da guerra, exalava poder bruto e letalidade, mas ao mesmo tempo parecia desleixado com suas roupas casuais de praia, enquanto Enoch, o cavaleiro da conquista, parecia um fantasma, uma sombra viva, mas parecia ser imponente, com sua armadura branca.

Nergal os encarou, confuso, com os pés vacilando à beira do precipício.

Nergal: — O que... vocês são?

Perguntou ele, a voz quase falhando.

Raiden deu um passo à frente, sua presença esmagadora.

Raiden: — Nós somos os Três Cavaleiros do Apocalipse. Raiden, Abaddon e Enoch.

Nergal olhou ao redor, hesitante.

Nergal: — Não deveria haver um quarto? O cavaleiro da fome?

Enoch respondeu com um tom sombrio.

Enoch: — Havia. Mas ele se suicidou. Ele era gentil demais para este trabalho. A bondade o destruiu.

Abaddon se ajoelhou diante de Nergal, seu olhar penetrante cravado nele como uma lâmina.

Abaddon: — Vemos sua fome. Não fome por carne ou poder, mas por significado, por importância. Sabemos que você deseja mais, mesmo que não tenha forças para pedir. Você quer morrer porque nunca pôde ser forte o bastante.

As palavras dela perfuraram a alma quebrada de Nergal. Ele desviou o olhar, lágrimas negras manchando seu rosto desfigurado.

Nergal: — Eu sou fraco. Eu sempre fui fraco. Nunca fiz nada que valesse a pena. Apenas um morto-vivo sem propósito... Eu nem mereço estar aqui.

Abaddon estendeu a mão, a voz ainda firme, mas com uma ponta de ternura.

Abaddon: — Por que morrer como ninguém, quando pode renascer como alguém que pode mudar o mundo? Venha, Nergal. Alimente sua fome. Marque seu nome na história como o próximo cavaleiro da fome.

As palavras ressoaram dentro dele. Pela primeira vez, algo em seu peito despertava. Uma esperança frágil e tremulante, mas inegável. Ele olhou para a mão dela, depois para o abismo.

Nergal: — Eu posso mesmo?

murmurou, o medo e a dúvida ainda dançando em seus olhos.

Nergal: — Eu posso ser forte? Eu posso fazer a diferença?

Raiden cruzou os braços, um sorriso feroz atravessando seu rosto.

Raiden: — A força não é dada. Ela é tomada. E você está à beira de algo grande, Nergal.

Com um suspiro trêmulo, Nergal estendeu a mão e segurou a de Abaddon. Quando os dedos se tocaram, uma onda de poder atravessou seu corpo. Sua fome, antes uma maldição, agora se tornou uma força. Ele renasceu ali, no precipício onde quase morreu.

Presente

De volta ao campo de batalha, Rafael e Nergal trocavam golpes brutais. Os olhos de Nergal estavam fixos no inimigo, mas dentro deles havia algo estranho. Uma lágrima negra escorreu por sua face, misturando-se ao suor e sangue.

Rafael notou a mudança.

São Rafael: — Nergal, o que está acontecendo com você? Não estou sentindo tanto desejo em seus golpes mais.

O cavaleiro da fome hesitou, sua respiração irregular. Mas em vez de responder, ele soltou um grito desesperado e investiu com uma brutalidade redobrada. Cada golpe era mais feroz, mas havia algo por trás deles — não apenas loucura, mas desespero. Um desespero insaciável, como se ele ainda estivesse lutando não apenas contra Rafael, mas contra o vazio que nunca deixou seu coração.

Nergal: — Calado! Eu preciso de mais força!

O campo de batalha estava impregnado de tensão. O céu, tingido de um vermelho sombrio, parecia refletir a batalha feroz entre Rafael e Nergal. As ondas de energia irradiavam a cada golpe desferido, deixando marcas profundas no solo enegrecido.

Nergal rugia, sua forma evoluindo diante dos olhos de Rafael. Sua armadura antes rachada agora parecia feita de obsidiana viva, pulsando com uma energia faminta. Seus golpes, antes caóticos, agora seguiam um padrão letal, adaptando-se ao estilo imprevisível de Rafael. Contudo, algo estava errado. Mesmo em meio à fúria, os olhos de Nergal traíam um medo profundo e primordial, como se ele estivesse lutando não apenas contra Rafael, mas também contra algo dentro de si.

Rafael percebeu as lágrimas negras escorrendo pelo rosto de Nergal, misturadas com suor e sangue. Ele sabia que precisava agir rápido. Canalizando sua energia curativa, ele envolveu seus punhos em uma aura brilhante. Cada soco agora não apenas feriria Nergal, mas também purificaria as feridas invisíveis que corroíam sua alma.

À distância, Raiden observava com fascinação. Ele apontou para a luta, virando-se para Abaddon com um sorriso excitado.

Raiden: — Não disse? Ele é forte. Só precisava de um apelo maior.

Abaddon, no entanto, mantinha os olhos fixos em Nergal, a preocupação evidente em seu rosto.

Abaddon: — Ele está fora de controle. Isso não pode ser um bom sinal.

Sua voz era um sussurro cheio de apreensão.

Raiden, no entanto, apenas ignorou, perdido na euforia da batalha.

Cada golpe de Nergal desintegrava as defesas de Rafael, mas Rafael, mesmo encurralado, não desistia. Ele continuava a gritar, tentando alcançar o coração do Cavaleiro da Fome.

São Rafael: — Nergal! Lute contra isso! Eu sei que você está aí dentro!

Rafael exclamava, suas palavras ressoando com uma intensidade quase desesperada.

Nergal, no entanto, parecia incapaz de parar.

Nergal: — Mais força... Eu preciso de mais força!

Ele repetia, como um mantra macabro.

Numa última oportunidade que Rafael via, ele conseguia derrubar Nergal em um momento de desespero do mesmo e o ficava por cima dele, agora desferindo socos no rosto dele.

São Rafael: — Acorde, Nergal!

Mas algo dentro dele começou a ceder. Enquanto ele deixava aqueles golpes o acertarem, em um canto distante de sua mente, memórias esquecidas começaram a emergir.

Flashbacks inundaram sua mente. Ele viu-se como um cavaleiro, sofrendo de dores de cabeça constantes. Lembrou-se de uma conversa com Abaddon, onde ele questionou o motivo do último Cavaleiro da Fome ter tirado sua própria vida.

Nergal: — Por quê? Por que ele faria isso?

Nergal perguntara na época, confuso.

Abaddon, com um suspiro pesado, desviou o olhar.

Abaddon: — É melhor você não saber. Por seu próprio bem.

De volta ao presente, Rafael derrubou Nergal e se posicionou sobre ele, desferindo socos consecutivos no rosto do cavaleiro.

São Rafael: — Acorde! Você nem está me provocando mais!

Ele gritava entre os golpes, tentando quebrar a muralha de escuridão que envolvia a mente de Nergal.

Dentro da mente de Nergal, uma cena se desenrolava. Ele vagava em um vazio escuro, vendo figuras borradas que pareciam familiares. Quando tentou se aproximar, os rostos permaneceram indistintos, aumentando sua confusão.

Ao longe, ele avistou sua forma de morto-vivo, sentado à beira de um precipício. Quando tentou se aproximar, a figura olhou para ele, mas não disse nada. De repente, os três Cavaleiros apareceram.

Raiden, Enoch, Abaddon: — Você é o Cavaleiro da Fome. Não é óbvio?

Declararam em uníssono.

Nergal hesitou.

Nergal:— Mas... eu não me lembro disso. Quem sou eu realmente?

Sua versão atual, vestida com a armadura de cavaleiro, avançou em direção ao precipício e deu um tapa em seu ombro.

— Eu vou na frente, não sei por que está demorando ora decidir algo tão bobo. Enfim, nos vemos lá embaixo.

Então pulou, desaparecendo no abismo.

A figura morto-viva olhou para ele novamente.

— Pule rápido. Sua fome está logo abaixo. Lá você descobrirá tudo, terá tudo que você quiser.

Mas antes que Nergal pudesse decidir, uma voz distante gritou seu nome.

Nergal!

Ele congelou. A voz ecoou novamente, mais forte desta vez.

— Nergal!

Memórias começaram a se formar. As figuras borradas se aproximaram, e os rostos tornaram-se claros: um homem, uma mulher e uma menina pequena. Eles sussurraram em uníssono:

Você é Nergal. Nergal Voches.

O vazio ao redor dele começou a se despedaçar. De volta ao campo de batalha, Nergal, com o rosto coberto de lágrimas negras, murmurou com uma voz quebrada:

Nergal: — Meu nome é Nergal Voches. Eu era humano. Tinha uma família linda...

Rafael parou, percebendo que Nergal finalmente recuperara sua consciência. O peso do passado e do presente convergiram, mas algo mudou. Nergal agora parecia ter reencontrado não apenas sua humanidade, mas também sua verdadeira força.

Nergal: — Eu... Cansei...

Raiden perceberia imediatamente a mudança de aura de Nergal, o que o deixava furioso.

Raiden: — Não, de novo não, não vou perder mais um cavaleiro!!

Raiden pulava com velocidade, indo rapidamente até lá, e Abaddon acompanhava.

São Rafael: — Como assim?! Você recobrou sua consciência?

O corpo musculoso que tinha sido gerado por Nergal por sua incansável fome de mais força, agora diminuiria drasticamente, voltando a ser um morto vivo magro e fraco.

Nergal: — Eu nunca quis isso de verdade... Eu achava que com força, eu poderia proteger alguém, impedir de que outras vidas tivessem o mesmo destino que eu... Eu apenas queria fugir da minha realidade... Não adianta ser forte se não tiver ninguém pra proteger... Eu queria ser fraco... Queria ter pulado daquele precipício naquele dia... Assim eu poderia ter visto por uma última vez a minha família no além.

Rafael ficava paralisado com aquelas palavras, vendo que ele realmente tinha retornado a quem ele realmente era antigamente, mas antes de falar algo, um estrondo aterrisava, gerando uma cratera ainda maior, era Raiden, e pela a primeira vez, ele realmente parecia irritado.

Raiden: — Que história é essa Nergal? Não te salvamos pra você fazer todo esse teatro, continue lutando e mate esse bostinha.

Rafael saía de cima de Nergal, o que o mesmo se levantava, num estado mais deplorável do que algum dia era antes, Raiden ficava extremamente confuso ao ver Nergal tão fraco.

Raiden: — O que... O que aconteceu enquanto lutavam?! Por quê você parece estar tão fraco?!

Nergal: — Eu desisto dessa guerra, Raiden. Eu quase fui completamente sucumbido pela a fome... Milênios atrás, eu apenas pensava em ficar forte para proteger aqueles que estavam agora ao meu alcance, mas eu não tinha mais ninguém para proteger, nem você, nem Abaddon e nem mesmo Enoch, eu não precisava proteger ninguém, todos eram extremamente fortes e independentes... Eu pensava em renunciar, mas fui sucumbido pela a desgraça dessa maldição, a fome.

Abaddon chegava logo depois de Raiden, com uma expressão incomum, ela podia ver a hora de Nergal lentamente chegando ao seu fim.

Abaddon: — Escute, Nergal, isso foi apenas um!—

Nergal: — Cale-se, Abaddon, eu pensava que tu era a única que parecia a me entender, mas quando mais precisei, você se fingiu de desentendida e me deixou apodrecer nessa maldição, na verdade... O motivo do antigo cavaleiro da fome ter se suicidado, foi exatamente por causa disso, não estou certo?

Abaddon parecia sem palavras, ela sabia muito bem que fez errado, Raiden no entanto, dava um passo à frente.

Raiden: — Nós demos uma nova chance a você, tu sabe o quanto queríamos te salvar naquele dia—

Rafael agora o interrompendo, ficava de frente com Raiden, mesmo que ele sabia que se ele enfrentasse o mesmo, não teria nenhuma chance de sobreviver.

São Rafael: — Você sabe muito bem, Raiden... Você não queria salvá-lo de fato, só queria uma desculpa pra recolocar um novo cavaleiro, e não só isso, como sabia as consequências do que ele teria ao virar um cavaleiro da fome, você no final das contas, apenas o usou, e o aproveitou da sua situação deplorável para o convencer a viver da forma que mais o desejava, você é deplorável.

A aura se estremecia ao redor deles, e estava vindo diretamente de Raiden, seu corpo mudava de cor em um tom avermelhado, veias saltando de sua feição extremamente rígida.

Raiden: — Repete, se for capaz. Como ousa dizer tais palavras tão ridículas... Ter bolas pra dizer isso na minha cara só por que ganhou um novo par de asas, quer que eu te mate bem aqui?!

Rafael não recuava, mesmo sabendo que qualquer movimento em falso significaria sua morte.

São Rafael: — Eu já morri muitas vezes por dentro, Raiden. Você acha que me intimidar com sua força bruta vai mudar algo? Não tenho medo de morrer, porque quem não tem mais nada a perder só busca um propósito. E o meu... é acabar com essa manipulação absurda que você chama de redenção. Ser ou não ser livre, Raiden, essa foi a verdadeira escolha que você roubou de Nergal.

Raiden avançava com uma velocidade devastadora, criando um vórtice de energia ao redor, mas antes que pudesse atingir Rafael, uma barreira de luz se formava. Nergal havia se colocado entre os dois, mas ficava ainda mais desgastado com aquilo.

Nergal: — Não encoste nele, Raiden. Não agora. Já basta.

Raiden parava, olhos cheios de fúria, mas algo em Nergal era diferente. Ele não estava mais com aquela expressão perdida, consumida pela fome. Seus olhos agora tinham foco, uma clareza que Raiden não reconhecia desde os tempos antigos.

Raiden: — Nergal, está louco? Você ao menos sabe o que está dizendo?

Nergal: — Eu sei. Eu já me decidi. Por milênios, me alimentei da fome, da necessidade de ser mais forte. Mas isso era apenas um vazio que nunca seria preenchido. Tudo que eu precisava... era um motivo para viver além da força. Rafael me mostrou que mesmo o mais fraco pode ser o mais forte quando se luta pelo que importa. Eu só queria isso. Paz. Família. E não vou mais ser uma ferramenta para seus jogos de guerra.

Abaddon, observando tudo em silêncio, deu um passo à frente, como se quisesse falar algo, mas Nergal a encarou com firmeza.

Nergal: — Você viu o que a fome fez ao meu predecessor. E me deixou no mesmo caminho, Abaddon. Mas agora, não quero mais culpar ninguém. Só quero minha vida de volta.

Raiden rugia de raiva, mas algo o impedia de atacar. Talvez fosse a força latente de Nergal, ou talvez algo mais profundo. Ele olhou para Abaddon.

Raiden: — Vai permitir isso?

Abaddon, pela primeira vez, abaixou os olhos, envergonhada.

Abaddon: — Não posso mais permitir mortes desnecessárias, Raiden. Se Nergal escolheu a vida, eu o apoio.

Raiden respirou fundo, seu corpo tremendo com a raiva que ele não conseguia mais conter.

Raiden: — Então vocês dois são traidores. E traidores não têm lugar entre nós. Mas hoje... hoje vou poupá-los. Porque ainda não terminamos essa guerra.

Ele se virou bruscamente e olhou para Rafael com olhos cheios de ódio.

Raiden: — Não ache que isso acabou, anjo patético. Da próxima vez, não haverá palavras. Só morte.

Raiden desapareceu em um clarão de energia, deixando a terra rachada e queimada onde esteve.

Nergal, enfraquecido, colocou a mão no ombro de Rafael.

Nergal: — Você me salvou hoje. Não com poder, mas ironicamente, com cura... Talvez, seus poderes realmente evoluíram de certa forma, espero te ver outra vez por aí e o mais importante de tudo... Obrigado.

Abaddon, em silêncio, observou os dois enquanto olhava para o horizonte. Ao longe, Kazuhiko continuava lutando por sua sobrevivência.

Nergal: — Ainda há algo que preciso fazer. Uma última coisa antes de descansar.

Ele olhou para Abaddon.

Nergal: — Prometa-me, apesar de todos os seus erros contra mim, não te odeio, e não morra, ainda tenho que conversar com você quando tudo acabar.

Abaddon hesitou, mas finalmente assentiu.

Nergal deu um último olhar para o horizonte antes de desaparecer, deixando Rafael e Abaddon sozinhos.

Abaddon: — Vamos voltar. Esse pode ter sido uma grande perda para nós, mas ainda não é o fim, Rafael. Mas você acabou de provar que nem toda batalha é vencida com força... Ainda o desprezo por impedir a morte certa, mas o respeito, apenas não me deixe te ver novamente, se não com certeza sua cabeça voará.

Após Abaddon voava para longe, Rafael respirou fundo, o peso das palavras de Raiden ainda pairando sobre ele. Mas pela primeira vez, ele sentia que havia algo dentro dele que ninguém poderia tirar. Propósito. E esperança.

Continua...