Encurralados

Eu sinceramente não sei por quanto tempo estamos lutando, mas desde que aquele cara de pedra foi embora... As coisas só pioraram.

Minutos depois:

???: — Merda... Mas que merda...!

Um ser estaria correndo desesperadamente no meio das ruínas antigas que tinha sido completamente destroçadas por explosões, ele continuava correndo até se esconder atrás de um pilar caído de pedra.

???: — Como... Como tudo isso ocorreu tão mal...?!

A figura se mantinha em silêncio, até que ele ouvia algo chegando, ou melhor... alguns.

???: — !!

Uma rã pulava por cima do pilar caído e o olho dele se encontrava com a dele, a rã então abria sua boca, não pra lamber ou lançar sua língua, mas sim pra falar:

Rã: — Eu... Te achei... Líder dos caçadores... Aetherbond.

Ezra: — Merda!!

Ele voltava a correr, vendo que atrás dele agora tinha centenas de milhares sapos pulando em direção do caçador, e em um momento de distração, um sapo que estava escondido nos escombros pulava no lado dele, com seu corpo começando a brilhar intensamente.

Ezra: — Oh merda...—

E assim, o sapo explodiria, e assim ocorrendo uma reação em cadeia onde todos os outros sapos que estavam perseguindo ele, explodiriam em conjunto.

Quando a explosão finalmente cessava, lá estava Ezra, ainda tentando se manter de pé, seu rosto estava encharcado de sangue e suas roupas/armas estavam danificadas, como se eles tivessem chegado ao seu limite de defesa, a única coisa que restava era seu tampa olho, que ainda brilhava intensamente.

Ezra: — Seu merda... não é justo... Você mandou essa porra umas 9 vezes seguidas...

Uma figura medonha se criava com os sapos que se juntaram e se deformavam apenas para criar o corpo daquela praga, ele era curvado e estava em quatro patas, como se fosse um réptil, com olhos completamente negros, e sua coleção de dentes humanos como seu colar.

Grohgoth: — Devo admitir, humano... Vocês evoluíram bastante durante estes séculos, tanto que me dá ânsia de ver cada um de vocês se matando com suas próprias invenções... Os animais precisam voltar a dominar este mundo... E os meus sapos serão os primeiros a devorar os humanos.

Ezra: — Merda... Que seja, pode vir, sua peste desgraçada, eu mesmo enfiarei cada sapo na sua garganta quando eu for te derrotar.

Grohgoth: — KiKiKi... humano insolente... pois venha, eu irei mostrar a força de uma praga com séculos de dor armazenados pela a sua raça.

O momento congelou.

Ezra, avançando enquanto firmava a luva de couro na sua mão, que aparentemente ainda funcionava contra a praga, enquanto Grohgoth, com sua mandíbula monstruosa arreganhada, estava pronto para devorar o caçador.

Ambos colidiram no centro das ruínas.

Luz, sangue e energia explodiram para todos os lados.

O embate — brutal, direto, animalesco.

Dois mundos distintos colidindo: a astúcia humana contra a fome deformada da natureza.

Ezra (gritando): — NÃO VOU MORRER PRA UM MALDITO SAPO!!

As chamas de suas luvas cortavam as patas deformadas de Grohgoth, enquanto os olhos grotescos do monstro brilhavam com fúria primitiva.

Grohgoth: — VOCÊ É FRACO... HUMANIDADE SEMPRE FOI!

BOOOM!

A poeira ergueu-se, a cena congelou...

E a imagem foi puxada de volta — para o presente.

O grupo agora estava parado, encarando o trio de maldições.

Erith-Zin, com seu enxame de piolhos rodopiando o ar como uma tempestade viva de pestilência espiritual.

A’Zebeth, flutuando logo acima, com sua aura vermelha que parecia inundar o próprio espaço de sangue.

Grohgoth, em sua forma original ainda não deformada em batalha, rosnava com saliva ácida pingando de suas presas tortas.

O ar estava espesso de energia espiritual, como se o próprio Saara estivesse sufocando.

Kazuhiko (ofegante): — ...Então... agora são três.

Ezra: — Pois é, ganhamos logo o jackpot.

Viktor estava extremamente cansado com o uso da sua transformação anterior com Zadiel, não é como se em batalha tivesse o cansado muito, porém era a batalha interior que ele estava tendo dentro de si mesmo para se manter no controle, o que desgastou muito, conforme ele voltava ao normal, seu braço monstruoso expandia novamente, tão vívido quanto antes, Zoya estaria do lado do seu irmão, ajustando sua meia-máscara que tampava a falta do rosto dela.

Zoya: — Isso é um grande problema, não creio que eles sejam tão fortes quanto aquele Hadad... Mas eles são três, o que pode ser ainda mais problemático.

Andressa, sempre tentando se manter calma e racional, suava enquanto pensava em uma estratégia que poderia dar vantagem à eles.

Andressa: — Não sei se a gente poderia aguentar num confronto direto, teríamos que no mínimo separar eles pra cada grupo abater uma praga.

Ibrahim: — Isso até poderia ser possível, se cada um deles fossem é claro, possíveis de se encostar, um literalmente vira partículas, poderia deformar seu corpo inteiro de piolhos e estes outros dois... Nem consigo imaginar o que eles são capazes.

Arjun: — Se acalme-se, sabemos que nossas chances não são das melhores... Mas ainda temos a vantagem numérica, além de termos mais poder de fogo, não podemos nos esquecer que os dois anjos no nosso grupo tem capacidades de desintegrar imediatamente tais pragas com luz divina...

Kazuhiko que até então se mantinha calado, abria sua boca pra falar rapidamente, enquanto seu corpo se metarmorfava em um anjo em que ele já consumiu anteriormente no passado.

Kazuhiko: — Eu também serei capaz de fazer isso. Nós todos podemos fazer isso, precisamos apenas sobreviver pra fazer isso se tornar uma realidade.

Erith-Zin dava um leve suspiro, olhando para o céu distorcido, ele sussurava, quase como somente ele poderia ouvir aquilo.

Erith-Zin: — Vamos...terminar logo com isso, irmãos.

Ambos A'Zebeth como Grohgoth acenavam e em um movimento sincronizado, ambos avançaram no grupo, enquanto Erith-Zin, desta vez com.um rosto sério, olhavam para eles se preparando, enquanto seu corpo se despedaçava em milhares de piolhos.

Erith-Zin: — Boa sorte...

Com isso, ele desaparecia completamente, com os piolhos se separando individualmente pela área inteira. Kazuhiko, que estava prestando atenção em Erith-Zin, via o rosto dele antes do corpo do mesmo se dissipar.

Kazuhiko: — Tem algo...estranho...

Andressa: — Sem tempo pessoal! temos que manter a formação defensiva—

Grohgoth: — Hihihihi, acho que não!!

Com isso, alguns sapos pequenos e totalmente ressecados surgiam na areia no meio do grupo, Gabriel e Castiel era o primeiro a reagir, tentando alertar todo mundo antes de um desastre:

Gabriel: — Pessoal, estes sapos, fiquem longe deles imediatamente!—

Mas o aviso não foi rápido o suficiente, os sapos que estavam aos seus pés explodiriam no mesmo instante que tinham surgido, gerando uma cadeia de explosões pequenas diante todo grupo.

Kazuhiko: — Merda!—

Kazuhiko era um dos que estavam mais próximos de um dos sapos implatados, se defendo com seus braços, mas o poder de fogo era mais que o previsto, sendo jogado pra longe enquanto seu corpo estaria totalmente destroçado e queimado. Enquanto Ezra que estava perto de Andressa, a defendia, abraçando ela contra o raio da explosão.

Ezra: — Urgh!

Ele sentia a explosão bater nas suas costas, porém sua capa teria protegido quase que completamente, tendo apenas algumas queimadas de primeiro grau e sua costa, que agora, estava exposta.

Arjun e Ibrahim apenas tentava amenizar o máximo de dano sofrido, porém Ibrahim teria seu braço esquerdo completamente queimado, enquanto Arjun, sua maldição teria absorvido a maioria dos danos.

Ryuji apenas defendia cortando o raio da explosão que vinha na sua direção no meio, porém ainda pegava nele, queimando uma parte lateral de seu rosto.

Ryuji: — Merda! Não fui rápido o suficiente...

Ele apesar de ter dissipado a explosão em sua direção, a pressão do ar quente ainda o impulsionava para atrás, sendo jogado um pouco para atrás.

Wulfric vendo que ele também estava prestes a ser atingido, por sua sorte, Zoya tinha sido rápida o suficiente de projetar uma barreira mágica com sua arma na frente dos dois, aguentando o impacto.

Viktor não tinha ninguém ao seu redor, então só podia se defender com seu braço monstruoso, que amenizava o dano na parte superior de seu corpo, porém a inferior, suas calças seriam quase que instantaneamente queimadas, assim como suas pernas.

Por último, os anjos já com consciência do que haveria, Castiel apenas erguia seu escudo, enquanto Gabriel se deslizava por trás do mesmo.

Depois da fumaça cessar, Kazuhiko olhava pro meio, vendo as diversas crateras dos sapos, ele via seus braços, e já estavam com queimaduras de 3° grau, praticamente chegando ao 4°, ele sentia uma dor gigante pelo o corpo inteiro depois que a adrenalina daquele momento tinha cessado.

Kazuhiko: — Ahh... Caralho...!

Kazuhiko não teria nem tempo de agonizar em dor, sendo que A'Zebeth já tinha escolhido quem ia atacar logo em seguida, que era ele. A praga de sangue chegaria numa velocidade inimaginável, com a intenção de fincar suas unhas no peito do jovem.

Kazuhiko ouviu a voz de Kokuei ressoar em sua mente como um estalo — como se sua consciência estivesse sendo esbofeteada. Seus olhos, meio fechados pela dor extrema e a fumaça sufocante, se arregalaram num instante ao ver a figura deformada e pulsante de A'Zebeth avançando. O inimigo era como uma miragem sangrenta, gotejando podridão e ódio, com garras estendidas como lanças profanas em direção ao seu coração.

Kokuei: (SE MOVER OU MORRER, ESCOLHA.)

Kazuhiko, quase por instinto, fez sua Ganância pulsar. Num rugido que saía mais como um grito animalesco que humano, ele se forçava a erguer o corpo estourado e destruído, os ossos rangendo como madeira velha sendo entortada.

Kazuhiko: — NÃO... VAI... ME TOCAR!

No último segundo antes do impacto, ele girava o corpo em rotação explosiva, e com o braço esquerdo queimado, canalizava a energia vital absorvida pela Gula num único movimento de contra-ataque. A carne se reconstituía em tempo real, se moldando em uma lâmina de energia negra misturada com fumaça e sangue — era a manifestação física da dor e raiva.

CLANG!

As garras de A'Zebeth colidiam com a lâmina improvisada de Kazuhiko, que por milímetros afastava o golpe de seu coração. Mas isso não bastava. A força de impacto o lançava para trás, fazendo seu corpo atravessar a areia até se chocar contra uma pedra sagrada fincada nas dunas — uma das runas de defesa colocadas anteriormente por Andressa.

Kazuhiko cuspia sangue, mas seus olhos brilhavam.

Kazuhiko: — Você quer me matar... então VEM COM TUDO!

A'Zebeth avançava novamente, a criatura deformada agora urrando em mil vozes, cada uma amaldiçoando os vivos. Mas Kazuhiko, no calor da dor e do sangue, começava a despertar um estágio parcial da Luxúria. Seus olhos agora assumiam um tom violeta vibrante, e a energia do ambiente parecia se condensar ao redor de seu corpo como ondas de calor distorcendo a realidade.

Ele não se movia com velocidade. Ele era a velocidade.

Em dois passos, já estava acima da cabeça de A'Zebeth, e o chutava com o calcanhar flamejante, usando o impulso para enterrar a criatura no chão ensanguentado. O impacto fazia surgir um pilar de sangue e vapor, como se o próprio deserto estivesse gemendo em desespero.

Kazuhiko: — Eu vi o inferno de perto... fui esfolado... esmagado... e torturado por anos dentro de minutos! VOCÊ NÃO É NADA PERTO DAQUILO!

Ele aterrissava ao lado da criatura caída. A'Zebeth ainda estava vivo — era resiliente, grotesco, imortal aos olhos dos fracos. Mas agora Kazuhiko já tinha deixado de ser fraco.

Usando a Gula mais uma vez, ele fincava a mão diretamente no peito da criatura, tentando arrancar sua alma contaminada. Um vórtice negro se abria no ar, e a areia ao redor começava a ser sugada junto com o sangue do monstro.

A'Zebeth: — Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!!!!

Kazuhiko: — ?!

O monstro voltava a sua postura, endurecendo seu sangue ao redor da mão de Kazuhiko, imobilizando aquele mesmo braço com sangue endurecido, que não parecia sair de forma nenhuma.

Kazuhiko: — Seu... Tu quis que eu fizesse isso..!

Antes de Kazuhiko reagir mais agressivamente, o braço da figura agora ainda mais deformada, fincava seu braço que parecia mais uma lança no braço preso do jovem, atravessando sem dificuldades e abrindo um buraco que não só atravessava a carne, como destruia os ossos no mesmo momento, distorcendo o braço dele, a figura dava uma risada ainda maior.

A'Zebeth: — Eu que vou te sugar, seu pirralho exibido!

Neste mesmo momento, o braço do Kazuhiko se ressecava, como se tivesse perdendo todo o sangue naquela área.

Kokuei: (Eu recomendo fortemente arrancar seu antebraço o mais rápido possível.)

Kazuhiko tremia de dor. O braço esquerdo, já antes queimado e regenerado, agora pulsava em necrose acelerada, como se estivesse sendo esvaziado de dentro para fora — as veias negras se espalhavam como raízes secas num terreno morto, subindo até o ombro.

Kazuhiko: — Urgh... N-Não...!

O sangue endurecido que o prendia começava a se estender como uma prisão viva, puxando-o cada vez mais perto da boca grotesca de A’Zebeth, que se abria verticalmente como uma flor carnívora cheia de presas, pronta para devorar não só carne, mas alma, essência, identidade.

A’Zebeth: — Você achou que tinha me vencido? Eu SOU o sangue! EU sou a PRAGA! Você achou que podia me consumir? EU SOU A GULA MAIOR!

Kazuhiko: — Cala... a... boca!

Num instante de lucidez forçada pela dor, Kazuhiko concentrou toda sua energia espiritual no braço oposto, a mão direita tremendo, pegando a lâmina encrustada em suas costas — um fragmento de ferro negro que tinha coletado na sua guerra anterior.

Ele ergueu a lâmina em um arco firme, ignorando as ondas de dor insanas que sacudiam sua espinha.

Kokuei (em tom grave): (Agora. Ou será devorado vivo.)

Kazuhiko: — ENTÃO TOMA, DESGRAÇA!!

Com um rugido desesperado, ele corta o próprio braço esquerdo com um golpe brutal. O som de ossos se partindo e carne se rasgando era abafado apenas pela explosão de energia que saiu do corte.

A lâmina atravessa pele, músculo e os restos do osso destruído, e o antebraço necrosado voa no ar, ainda preso no sangue endurecido de A’Zebeth. A criatura recua, urrando, como se tivesse engolido veneno.

A’Zebeth: — AARGHHH!! O QUE VOCÊ FEZ?! ISSO ERA MEU!!

Kazuhiko cambaleia, segurando o sangramento com o próprio tecido rasgado da roupa, e mesmo com metade do corpo destruído, seu olhar agora brilhava com fúria redobrada.

O sangue de A’Zebeth ainda pingava no chão, mas pela primeira vez... ele parecia hesitar.

Kazuhiko: — Você pode ser a praga dos rios de sangue...

Ele cospe no chão, o sangue escorrendo pelo queixo.

Kazuhiko: — ...Mas EU serei aquele que fará você apodrecer no inferno.

Kazuhiko usava o momento de choque para canalizar sua Inveja diretamente no sangue de A’Zebeth que ainda pingava em seu próprio corpo. Ele absorve parcialmente a estrutura da criatura, replicando seu controle sanguíneo, mas corrompendo-o com sua própria energia demoníaca.

Agora, com o braço direito tingido de um tom vermelho-petróleo e o olhar frio, Kazuhiko ergue a mão e a fecha lentamente.

A’Zebeth: — O qu—!?

O sangue endurecido que ainda estava ligado a A’Zebeth explode de dentro, como lâminas rompendo ossos. A criatura urra em desespero, seu corpo se contorcendo num espasmo descontrolado, sendo dilacerado por dentro por seu próprio sangue traído.

Ryuji (olhando de longe): — Ele... ele está usando o próprio poder da praga contra ela?!

Zoya (em choque): — Isso é impossível... só se ele...!

Grohgoth daria uma risada distorcida, enquanto se deslizava na areia.

Grohgoth: — Não é tão legal me ignorar assim... vermes!

Grohgoth abria sua boca, e na sua língua distorcia começava a gerar pequenas pererecas que pulavam na direção em todos.

Ezra colocava a Andressa pro lado, e ele logo tentava socar uma das pererecas que estava pulando em cima deles, mas era inútil, assim que ele escostava, a perereca brilhava com intensidade, gerando uma pequena explosão que não cobria muito espaço, mas foi o suficiente para destruir a luva mágica do caçador, o que pelo menos anulava o dano da explosão a queima roupa na sua mão.

Ezra: — Merda, é inútil! E era minha luva favorita também...

Gabriel (com expressão séria): — Esta praga é capaz de tornar todos os sapos criados em uma explosão dependendo do tamanho do sapo, é inútil tentar ir contra fisicamente... Por isso...

Ele retirava seu arco e sua alveja de flechas douradas e numa precisão perfeita, atirava numa outra perereca que ainda estava no caminho de Ezra, mesmo sendo tão pequena, ele conseguiria atravessar, onde a mesma explodia ali mesmo.

Gabriel: — Temos que manter a distância.

Wulfric arfava enquanto forçava sua visão, tentando rastrear os pequenos corpos saltitantes.

Wulfric: — Eles são rápidos demais! Se continuarem se espalhando assim, vamos ser cercados em segundos!

Zoya, ao lado dele, apertava sua arma contra o peito. Ela puxava novamente, se formando uma lâmina de luz arcana.

Zoya: — Eu seguro o flanco esquerdo com uma barreira rotativa. Viktor, recua pra cobertura da duna, você não vai aguentar outra explosão direta, Ryuji, ajuda ele!

Viktor, com as pernas ainda queimadas e a respiração pesada, rosnava em resposta:

Viktor: — Não vou recuar enquanto tu estiver aqui no campo!

Ele se levantava parcialmente, apoiando-se com o braço monstruoso no chão, e usava o outro para lançar fragmentos de pedra imbuídos com energia instável nas pererecas mais próximas — cada impacto criava ondas de concussão, impedindo-as de se aproximar.

Andressa via de longe, e veria duas pererecas atrás do Viktor.

Andressa: — Cuidado, Viktor!—

Mas antes dele reagir e olhar para atrás, Ryuji sacava novamente sua katana e dava um corte horizontal, acertando as duas pererecas simultaneamente, e invés delas explodirem, elas simplesmente desapareciam.

Viktor: — O que?! Como...?

Ryuji: — Até mesmo eu não sei... Mas minha arma parece cortar aleatoriamente um tempo da existência tudo que ela corta. E como essas pererecas foram criadas agora, o tempo deles eram quase nulos. Mas não temos mais tempo, venha, ainda tenho que fazer você recuar, tu lutou até demais!

Enquanto isso, Kazuhiko avançava.

A’Zebeth, ainda se contorcendo, agora tentava se recompor, regenerando os vasos rompidos com uma nova camada de sangue fervente. Porém, Kazuhiko já estava sobre ele.

Kazuhiko: — Vai regenerar o caralho...

A nova energia em seu braço direito começava a brilhar em padrões pulsantes. A fusão parcial com o sangue amaldiçoado de A’Zebeth lhe concedia o dom do Controle Hemofágico, mas agora contaminado pela sua própria essência demoníaca. Kazuhiko erguia o punho direito no ar, e todo o sangue fora do corpo de A’Zebeth começava a evaporar, como se estivesse sendo fervido de dentro pra fora.

A’Zebeth (em pânico): — NÃO! NÃO É POSSÍVEL! EU SOU O SANGUE! EU SOU O CICLO! IMPOSSÍVEL EU PERDER PRA UM GAROTO QUE TEM UM PODER INSIGNIFICANTE DOS PECADOS!!

Kazuhiko (avançando): — Então morre como a parasita que é.

Ele crava o punho direito diretamente no meio do peito do monstro.

O golpe não era físico — era espiritual. Ao entrar em contato com o núcleo sanguíneo de A’Zebeth, Kazuhiko ativava a Gula e a Inveja ao mesmo tempo, forçando um ritual de consumo reverso.

Por um instante, o tempo parecia parar.

O campo de batalha tremia.

Arjun: — Isso... não é só Gula... isso tá se tornando um ritual de negação!

Castiel (surpreso): — Ele está renegando a existência de A’Zebeth através da assimilação forçada... Ele está fundindo dois pecados para formar um mais forte... Mesmo ele sendo um inexperiente de tal poder estar conseguindo fazer tal feito, mesmo que incosistentemente... Que merda de garoto é este?!

Gabriel: — Talvez... Não seja só os pecados, ele emana energia demoníaca mesmo sem ter qualquer pecado ativado... talvez seja coincidência, ou por estar relacionado com aquele experimento.

Castiel: — Você está falando do...

Gabriel apenas acenava, não dizendo mais nada.

Kazuhiko sussurrava com a testa encostada no peito da criatura:

Kazuhiko: — Eu tirei meu próprio braço pra sobreviver... o que te faz pensar que não vou te arrancar da realidade?

E então...

A’Zebeth começava a se apagar.

Como se fosse uma falha na existência, a criatura se dissolvia em uma mistura de fumaça vermelha e cinzas — não restava alma, nem sangue, nem nome.

Ele estava sendo apagado do mundo.

A'Zebeth: — Não... NÃO NÃO NÃO NÃO... NÃO!!!!!

A criatura começava a berrar, começando a soltar lágrimas de sangue, ele estava se contorcendo, porém não tinha força o suficiente para retirar o braço de sangue do Kazuhiko.

A'Zebeth: — PAPAI, MAMÃE, EU TOU COM MEDO, AAAAAAAH!!!

Kazuhiko: — ?!

Kazuhiko parava um momento, vendo que tinha algo além de monstruoso naquela figura, ela tinha pais? Ele ficava um pouco incrédulo com as palavras, enquanto isso, Erith-Zin se formava novamente ao lado dele. Ainda com o rosto sério.

Erith-Zin: — Não se preocupe... Seu irmãozão irá te salvar... novamente.

Séculos atrás. Antes das pragas do Egito. Antes da primeira lágrima do Nilo se tingir de vermelho.

Um deserto silencioso, muito mais vasto e intocado do que hoje. Os céus estavam límpidos, mas a terra tremia. No meio das dunas sem nome, duas figuras infantis andavam de mãos dadas — A'Zebeth e Erith-Zin, ainda em forma jovem, quase humanas, ainda sem corrupção. Seus olhos refletiam o céu estrelado como se buscassem um sentido na imensidão.

A'Zebeth, pequeno, com olhos grandes e cheios de inocência, olhava para o chão, tímido.

A'Zebeth (infantil): — Por que as pessoas não gostam da gente, irmão?

Erith-Zin, já com um semblante mais maduro, mas ainda com traços gentis, segurava sua mão com força.

Erith-Zin: — Porque elas têm medo. Medo do que não entendem. Medo do que está dentro da gente.

A’Zebeth chutava a areia, quase como uma criança triste.

A'Zebeth: — Mas eu só quero brincar... só quero ter amigos.

Erith-Zin (olhando pro horizonte): — E terá. Quando o mundo for nosso, quando os rios cantarem nosso nome... eles vão ter que nos aceitar.

A'Zebeth (sorrindo): — Você promete?

Erith-Zin: — Prometo.

(Ele põe a mão no peito de A’Zebeth.) — E mesmo que não aceitem… mesmo se todos quiserem te machucar… eu vou te proteger. Sempre.

(Pausa)

— Porque você é meu irmãozinho. E nenhum deus, nenhum homem, nenhuma maldição, vai te tirar de mim.

Eles seguiam caminhando pelas dunas. E na sua frente, o Nilo — ainda azul, ainda limpo — refletia a lua como um espelho celestial.

Dias depois, os experimentos começaram. Erith-Zin, agora junto de uma seita de magos exilados, começou a estudar o "Sangue Vivo", uma magia proibida que conectava a alma ao rio da criação.

A'Zebeth, sendo um dos únicos que resistiam à corrupção, foi usado como receptáculo.

Ele não gritou nas primeiras sessões. Nem nas segundas. Mas na nona... ele já não era o mesmo.

Magister Khnum (sussurrando): — O receptáculo aceita bem... mas ele está começando a chorar quando dorme.

Erith-Zin (frio): — Ele vai parar. Ele precisa. Quando tudo estiver completo, ele será adorado como um deus.

Khnum: — Você tem certeza?

Erith-Zin: — Não importa se tenho. Ele acredita que tenho. Isso basta.

Anos depois, A'Zebeth já não possuía rosto fixo. Seu corpo era uma massa de sangue coagulado e carne deformada que chorava o tempo todo.

Mas ainda falava.

A'Zebeth: — Irmão... dói...

(Ele tentava se limpar, mas o sangue não saía.)

— Eu quero voltar pra aquele lugar... aonde a gente viu o rio...

Erith-Zin (evitando encará-lo): — Não existe mais volta.

A'Zebeth: — Então... me abraça, pelo menos?

Erith-Zin hesitou. Por uma fração de segundo. E isso foi tudo o que A’Zebeth percebeu.

A'Zebeth: — Você... não quer mais...?

Erith-Zin (virando as costas): — Não podemos ter fraquezas. Nem mesmo as que amamos.

Algum tempo depois...

O sol escaldava o deserto do Sinai, e o mundo parecia sufocar debaixo de um céu parado — um céu que não chorava, mas também não perdoava. Erith-Zin caminhava pelas areias, o manto marrom cobrindo sua pele parcialmente escurecida pelas marcas da magia de sangue. Atrás dele, A’Zebeth andava como uma sombra vacilante, coberto dos pés à cabeça por panos pesados, costurados à pressa, como se a própria matéria tivesse vergonha de conter aquele corpo.

Eles estavam tentando viver... ou pelo menos fingir.

A cidade mais próxima ainda era controlada por soldados do Faraó, que impunham a ordem com arrogância e crueldade. Magos errantes e “curandeiros” como Erith-Zin eram permitidos à margem — desde que se curvassem. Desde que não fossem percebidos.

Mas A’Zebeth não passava despercebido por muito tempo.

Um mercado, no centro de uma vila murada. O cheiro de tâmaras, especiarias e areia impregnada de suor criava um ar pesado, quase podre. Erith-Zin tentava trocar raízes por água, discretamente. A’Zebeth permanecia num canto sombrio, quieto — mas sua presença... pulsava. O sangue que o compunha, mesmo contido sob camadas e mais camadas de tecido e feitiços, ainda vibrava. A terra abaixo dele escurecia com o tempo.

Uma criança passava perto demais. Ela parou. Arregalou os olhos.

Criança: — Mãe... aquilo tá... chorando?

A’Zebeth: — (voz baixa, infantil) ... Me desculpa... eu não queria...

Mas já era tarde.

Um soldado egípcio, parte da patrulha do Faraó, observava a cena. Olhos pintados, armadura dourada, lança firme. Ele se aproximava.

Soldado: — Ei! Você aí. Tire essa coisa da sombra!

Erith-Zin se virou rápido, tentando impedir. Mas A’Zebeth, curioso, já levantava a cabeça. Seu capuz caía. E o que se via ali... não era um rosto humano.

Era um aglomerado disforme de carne e sangue coagulado, com olhos sem simetria, uma boca que tentava sorrir, mas sempre escorria. A essência viva que borbulhava por dentro dele tremia.

Soldado (em choque): — O que... que abominação é essa?!

Pessoas ao redor gritavam.

Soldado: — GUARDAS! GUARDAS!! CHAMEM OS SACERDOTES!! ELE É UMA PRAGA!! UMA PRAGA!!

Erith-Zin (tentando argumentar): — Ele é só uma criança! Ele não quer machucar ninguém!

Soldado (erguendo a lança): — ENTÃO VOU MATAR ANTES QUE ELE FAÇA ISSO!

Ele avançava com a lança, mirando o peito de A’Zebeth.

Mas...

Antes que o aço tocasse a carne profanada do menino-praga, uma mão firme segurou a haste da arma no ar.

Um homem. Roupas simples. Rosto coberto por areia e tempo. Olhos intensos, como se refletissem o peso de uma verdade antiga. Um homem que até aquele momento parecia ser só mais um mendigo... um andarilho qualquer.

Homem (calmo, mas firme): — Você não vai matar ninguém hoje.

Soldado: — Quem é você? Afaste-se, isso é uma criatura demoníaca!

Homem (ainda o segurando com uma força absurda): — Nem todo demônio nasce maldito. E nem todo homem é livre de maldição.

O soldado tentava forçar a lança de volta, mas a mão do homem não cedia. Nem tremia.

Homem: — Essa criança... foi feita para chorar. Mas não foi ela que escolheu isso.

A’Zebeth olhava para o estranho com seus olhos disformes... e pela primeira vez em muitos anos, não havia medo ali. Apenas silêncio.

O soldado se afastava, recuando com um misto de raiva e dúvida.

Erith-Zin (frio, observando): — Você... vai mesmo se meter nisso?

O homem olhava para ele. Não respondia. Apenas caminhava até A’Zebeth, se ajoelhava, e colocava a mão em seu ombro com delicadeza.

Homem (baixo): — Você não nasceu para ser adorado... nem temido. Ainda não sabe o que é ser livre... mas vai aprender. O rio te espera, menino.

A’Zebeth soluçava baixinho, como se aquela voz limpasse algo que ele nem sabia que ainda existia dentro de si.

Erith-Zin: — Quem é você?

O homem se levantava, encarando-o por um segundo. Um sopro de vento passava entre eles, trazendo o cheiro do Nilo, mesmo ali longe.

Homem (tranquilo): — Ninguém ainda. Sou apenas um homem fiel à Deus.

Erith-Zin: — D-Deus...?!

Homem: — É uma pena... Vocês parecem serem apenas crianças... Mas mesmo assim tem um destino tão... Enfim, cuide do seu irmão, pois em algum momento, ele estará em perigo, e quando isso acontecer, o proteja.

E então, sem dizer mais nada, ele desaparecia entre as tendas, como se o deserto o engolisse.

Erith-Zin ficava ali parado, em silêncio. A'Zebeth, pela primeira vez, dormiu sem chorar naquela noite.

Voltando ao presente

Erith-Zin: — Eu vou te proteger.

Com um movimento suave, seu braço despedaçava em centenas de piolhos minúsculos que entravam nas fendas do braço de sangue de Kazuhiko, e em poucos milésimos, a mão que estava dentro da barriga de A'Zebeth explodia, fazendo Kazuhiko recuar de dor.

Kazuhiko: — Porra!

Erith-Zin: — Você é apenas um garoto... que por acaso, terá o mesmo destino que a gente, você não é diferente de nós, Kazuhiko... Por isso nossa existência sempre irá trazer desgraça, e isso é inevitável.

A'Zebeth ainda estava respirando profundamente, ainda tentando recompor todas as células de seu corpo a não se dissipar.

O céu tremia.

Erith-Zin permanecia de pé, observando Kazuhiko recuar com o braço destroçado. O sangue escorria em filetes escuros, misturando-se à areia e à fumaça carregada da batalha. Ao lado, A'Zebeth — ou o que restava dele — ainda respirava, o corpo oscilando entre o colapso total e a regeneração impossível. Seu peito se inflava aos soluços, como se implorasse por ar… ou redenção.

Erith-Zin (frio, mas sincero): — Você não entende ainda, Kazuhiko. Nós não somos monstros por escolha. Somos monstros por natureza... E você está cada vez mais perto de tornar isso que tu sempre foi, desde a sua nascença.

Kazuhiko apertava os dentes, sentindo as palavras mais doerem que o buraco sangrento no braço.

Kazuhiko: — Eu não sou uma praga, eu tou tentando esta merda de mundo que está em colapso, eu tenho uma dignidade, uma família, amigos, colegas e...

Ele olhava pra baixo por um momento, pensando na Miyako.

Kazuhiko: — A quem eu quero proteger, nem que eu tenha que enfrentar o próprio Deus.

Erith-Zin ficava em silêncio, não por ignorância, era reflexão de si mesmo, sua existência, seu significado.

Erith-Zin: — Eu sinto que temos ainda mais conexão do que imaginava... Tu pode não perceber ou aceitar o que eu falei, eu mesmo demorei décadas pra aceitar aquilo que sou... Mas isso é apenas a vida.

Erith-Zin colocava sua mão no ombro de A'Zebeth, injetando piolhos dentro de seu corpo, mas não eram corrosivos, eram na verdade, curativos, usando a energia roubada dos caçadores anteriormente.

Erith-Zin: — Veja, Kazuhiko... não importa o qual forte você seja, tu não conseguirá mudar a natureza do mundo, muito menos das pessoas ao seu redor.

Mas não havia tempo para mais.

O chão tremeu violentamente quando um estrondo cortou o ar. A atenção de todos se voltou para o lado oposto da duna.

Grohgoth.

A grotesca criatura agora se erguia com o triplo de seu tamanho, seu corpo fervendo em mutações. As explosões anteriores haviam consumido boa parte da paisagem ao redor, criando crateras fumegantes. E mesmo assim, ele não parava. Pelo contrário...

Grohgoth: — EU TÔ CANSADO DE VOCÊS!! ME OUVEM?! CANSADO DE VOCÊS MATANDO MINHAS CRIAS!!

(Ele abre a boca.)

— ENTÃO AGORA VÃO TODOS BRINCAR COM ELAS!!

Sua língua inchada se rasga ao meio, liberando centenas de pequenas pererecas translúcidas e deformadas, que saltavam em direções aleatórias. Algumas explodiam ao tocar o chão. Outras pairavam no ar como balões vivos prestes a detonar.

Ezra: — MERDA, VAI COMEÇAR DE NOVO!

Zoya: — Eles estão nos separando! As explosões... são estratégicas agora!

Gabriel (gritando): — AFASTEM-SE! NÃO FIQUEM AGRUPADOS!

Grohgoth caminhava entre as dunas como um sapo monstruoso, a coluna vertebral saltando para fora das costas como ossos de vidro, os braços se tornavam longos e viscosos, com dedos pegajosos que se esticavam como chicotes.

Wulfric foi lançado longe por uma onda de choque. Viktor, ferido, tentava se levantar apenas para ser quase engolido por uma parede de sapos em combustão. Ibrahim protegia Zoya com seu próprio corpo, rolando por cima dela enquanto o céu explodia em fragmentos vermelhos.

Kazuhiko, de joelhos, encarava Grohgoth. Estava ferido. Estava fraco. Mas não podia cair.

Kazuhiko (sussurrando): — Esse bicho... não tem fim.

Erith-Zin olhava de longe, não interferindo mais. Apenas assistindo.

Erith-Zin: — Você tem que perceber... Que o egoísmo tem um limite, e tudo que você ama, poderá sumir em um instante com seu objetivo tolo.

Grohgoth rugia, sua voz reverberando como o coaxar de mil bocas:

Grohgoth: — VAMOS, KAZUHIKOOOO!! VOCÊ MATA UM IRMÃO... E QUER BRINCAR DE HUMANO?! ENTÃO BRINCA COMIGO TAMBÉM!!!

Ele salta.

O céu escurece pela sua sombra. Uma chuva de pererecas explodindo em todos os lados.

Kazuhiko levanta o olhar.

O braço direito já se regenerava lentamente, mas não teria tempo. Não como humano.

Ele respira fundo.

Kazuhiko (voz rouca): — Então que venha... monstruosidade por monstruosidade.

E antes da criatura tocar o solo...

Kazuhiko sorri, começando a soltar uma aura vermelha ao seu redor.

Kokuei: (Talvez seja hora de liberar mais uma vez... O pecado em que tudo começou.)

Continua...