Dorian Pius

A van parou na grande entrada do Orfanato de Hermes, os motores zumbindo quando pararam na entrada de cascalho. Os imponentes portões de ferro se abriram, revelando um mundo que parecia muito distante da dura realidade que as crianças conheciam. Um vasto jardim estava diante deles, seus gramados meticulosamente cuidados se estendiam em todas as direções, interrompidos apenas por canteiros de flores vibrantes e uma ou outra árvore antiga cujos galhos se estendiam para o céu como braços protetores. O ar, rico em aromas de rosas e lavanda, carregava uma calma que parecia quase surreal.

Quando as crianças saíram da van, seus olhos se arregalaram ao ver o prédio que mais parecia com uma mansão no horizonte. A grande estrutura era alta, a fachada de pedra brilhava à luz do sol, com elegantes janelas em arco que refletiam o mundo ao seu redor. As varandas superiores, adornadas com grades de ferro forjado, ofereciam vistas da extensa propriedade abaixo. No interior, o edifício prometia algo muito além das suas expectativas. Parecia mais um palácio do que um orfanato, com seus longos corredores, candelabros ornamentados e quartos luxuosos que sussurravam sobre uma vida que eles nunca poderiam ter imaginado. As crianças, ainda acostumadas ao ordinário, foram conduzidas para dentro de quase que um paraíso, as grandes portas fechando-se atrás delas com um eco suave.

Senhor Borba foi na frente, orientando as crianças e organizando-as em fila indiana.

"Vocês todos vão morar aqui a partir de hoje. Terei que ser extremamente realista com cada um de vocês, a educação dentro deste Orfanato, se podemos chamar assim..." Ele pausou por alguns segundos, deixando apenas o som de sua botina ecoar. "Bom, vamos chamar esse lugar de academia, tamanha rigorosidade de sua educação. Mas não estamos preocupados com sua vida acadêmica, mas sim com sua vida mágica."

As crianças gaguejaram confusas.

"Mágica? O quê?" Uma das garotas mais velhas disseram. Ela já tinha 11 anos e não era ingênua o suficiente para acreditar em contos de fadas.

"Uh... O que você quer dizer, senhor Borba?" Um menino de 8 anos perguntou.

Borba ponderou por um momento e disse: "Alguns dos que estão aqui reunidos foram vendidos pelos pais para a academia por causa de seu imenso potencial. A verdade é que a magia existe e vocês despertaram a capacidade de manipulá-la. O que quer que tenha acontecido com vocês naquele cargueiro, expôs vocês a uma carga de trauma e magia tão intensa que despertou todos vocês. Talvez um de vocês já fosse um desperto naquele momento e posteriormente despertou o resto, ou talvez um evento ainda mais estranho tenha acontecido. A verdade pode nunca ser descoberta, mas, todos vocês despertaram naquele lugar, na mesma hora."

Como que para provar seu argumento, Sr. Borba ergueu a mão e, num instante, as crianças tiveram uma estranha sensação, como se tivessem sido arrancadas brevemente de seus corpos. Por apenas uma fração de segundo, eles não estavam mais presentes no mundo físico. Quando voltaram a si, viram algo impossível.

Ao lado deles, fragmentado como pedaços quebrados de um espelho estava a figura de um homem antigo – um nobre babilônico, majestoso e rico de uma forma que não parecia estar ligado ao próprio tempo. Sua imagem tremulou diante deles, cada criança vendo diferentes partes dele: uma mão, um olho, a silhueta de uma figura alta. Apenas uma criança teve um vislumbre completo e fugaz do homem em sua totalidade, Gilgamesh, em toda a sua glória. Os outros ficaram apenas com fragmentos, como peças de um quebra-cabeça que nunca se conectariam totalmente.

'Que merda! Eles podem ver o Avatar um do outro?' Quando Gilgamesh percebeu que as crianças podiam ver seu Avatar, mas logo ele percebeu que não podiam ver o Avatar um do outro. Felizmente, isso significava que o Sr. Borba também não pôde o ver. Ele respirou aliviado.

'Que alívio. Quanto a magia evoluiu para ele ser capaz de forçar um Avatar a se manifestar?'

"Não importa o que você veja ao seu lado, esse é o seu Avatar. Seu Eu Mágico. Talvez o seu verdadeiro eu, se eu puder ser poético. Quando despertamos, o Avatar ganha vida e nós, Magos, evoluímos ao lado dele. Ele é o seu guia no mundo que você tem pela frente."

Ele continuou andando, abrindo a pesada porta de madeira do 'Orfanato' revelando o interior da mansão.

Lá dentro, o ar estava fresco e cheiroso, repleto do leve aroma de madeira polida e livros antigos. O hall de entrada estendia-se diante deles, com seus tetos altos e intrincados trabalhos em pedra. Um grande lustre pendurado no topo com prismas de cristal. O chão era de mármore polido, liso e frio sob seus pés, enquanto tapetes grossos e luxuosos cobriam o chão. Grandes janelas alinhavam-se nas paredes, permitindo que raios de luz solar entrassem na sala, iluminando os móveis de madeira escura que preenchiam o espaço. Toda a atmosfera parecia mais um palácio medieval.

Todas as crianças ainda estavam meio assustadas, mas Borba não prestou atenção nisso no momento, deixou que elas se acostumassem com a visão do seu Avatar. Algumas das crianças não conseguiam mais ver seu Avatar, tão fraco era seu fragmento.

Ele os guiou por toda a mansão, apresentando seus quartos, onde dormiriam acompanhados de outras seis crianças. Esse não seria o procedimento, dentro dessa enorme mansão havia quartos o bastante para que cada um tivesse seu próprio quarto, um enorme quarto, mas ainda assim o fator psicológico fez diferença para que Borba organizasse as crianças para que ficassem juntas.

'Não parece um orfanato no entanto... Não há crianças aqui, exceto por essas que chegaram hoje. Este lugar foi construído para uma ocasião tão rara que dói pensar no trabalho que seria necessário para limpar tudo. Um completo desperdício de espaço, pelo menos até agora. Esse lugar foi projetado especificamente para crianças despertas.' Gilgamesh pensou consigo mesmo, forçando-se a manter esse pensamento em seu subconsciênte e não falar em voz alta para que a criança ouvisse. Ele tinha medo de que todas pudessem o ouvir e, não acostumado com essa forma de existência, ele ainda tinha muitas dúvidas de como sua vida funcionaria daqui para frente.

Por fim, tiveram finalmente seu tempo de descanso, com cada criança designada em seu quarto acompanhado de outras 6 crianças. Sr Borba, porém, visitou o único garoto que tinha Gilgamesh completamente, o que fez Gilgamesh prender a respiração, mesmo sendo apenas um espírito no momento.

"Desculpe, eu deveria deixar vocês descansarem por enquanto, mas, como você é o único sem nome ou registro, vim lhe dar isso." Ele disse, apresentando uma certidão de nascimento. "De agora em diante, você se chamará Dorian Pius." Ele sorriu para o garoto.

'Dorian? Bom, pelo menos agora tenho um nome para chamar o garoto.' O Avatar pensou em voz alta por acidente. Porém o garoto o ignorou, como se não tivesse nem ouvido.

"Dorian..." Ele repetiu seu próprio nome e assentiu com a cabeça, gravando profundamente esse nome em sua mente.