Avatar

Algumas semanas se passaram desde que Dorian recebeu seu nome. Ele descobriu que o nome completo do Sr. Borba era Alexander Nikolaevich Borba. Além do nome, também descobriu o quão direto e sem paciência para burocracia era aquele homem. 

Sua revelações eram um impacto atrás do outro, e ele não tinha paciência para deixar as crianças absorverem a informação de que magia realmente existia, muito menos para deixa-las entender aos poucos como ela funcionava. Ele explicava sobre a magia como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como se estivesse explicando para uma classe do ensino médio como se fazia multiplicação.

Quando Dorian finalmente teve seu descanso é que ele pôde notar algumas coisas estranhas nesse 'orfanato'. Primeiro, todas as crianças sobreviventes naquele incidente vieram para cá. Até mesmo as que supostamente deveriam voltar para o abraço apertado dos pais. Voltando um pouco atrás, Sr. Borba realmente havia mencionado que algumas crianças tinham sido vendidas pelos pais antes de estarem aqui.

Os quartos foram divididos entre 21 crianças, dividindo os quartos igualmente por 7, mas isso não era muito importante. Afinal, eles só ficavam no quarto depois de um toque de recolher, o que significava que pouco depois de entrarem nos quartos, não tardaria para que todos fossem dormir... Na maioria das noites.

'Huh... Eu realmente deixei sobreviver tanta gente naquele container?' Gilgamesh pensou.

No quarto de Dorian haviam 4 garotas e 3 garotos.

Haviam Jessie, Arthur e Dorian entre os meninos.

E entre as meninas haviam Amanda, Michelle, Ryoko e Eleonor.

Jessie e Arthur eram bastante barulhentos para o desagrado de Dorian, tinham um comportamento bastante extrovertido e gostavam de liderar o grupo. Eles acabavam guiando o resto do quarto para brincar junto com as crianças dos outros quartos. Claro, brincadeiras mais brutas como guerra de travesseiro ou lutinha era mais do gosto deles. Na verdade, se não fosse pela aparência, eles seriam uma cópia um do outro.

Nesse pouco tempo que estiveram aqui, as crianças conseguiram ao menos ganhar algum peso, e Jessie era o mais encorpado. Ele não era gordo de forma alguma, mas parecia o mais saudável de todas as crianças no 'orfanato'. Ele tinha um ou outro dente faltando, os cabelos eram castanho claro e seus olhos tinham a mesma cor do cabelo. Ele tinha 9 anos.

Arthur era careca, tinha um ou outro fio de cabelo crescendo desde que chegou, mas no geral, rasparam o cabelo do garoto no transporte. Ele era quem mais tinha dentes faltando, os dentes de leite ainda nascendo. Ele também tinha 9 anos.

Amanda mais parecia uma boneca. Seus cabelos eram loiros e seus olhos eram azuis. Era a menor em estatura dentre todos ali, apesar de ainda ser um ano mais velha do que Dorian. Refletindo sua aparência, também era uma das mais tímidas. Ela tinha 7 anos.

Michelle tinha uma pele mais escura, como um bronzeado. Uma típica latina americana. Cabelos pretos e olhos verdes. Era extremamente mal humorada, fazia biquinho para tudo. Ela tinha 9 anos também.

Ryoko era uma menina japonesa de 7 anos. Junto de Amanda, faziam uma dupla de meninas tímidas, mas na última semana, Ryoko deu um soco no nariz de Jessie e veio perdendo bastante dessa timidez.

Ah, sobre o soco no nariz? Bom, foi meio que um acidente. Algo como um susto. De qualquer jeito, Jessie esqueceu bem rápido.

Eleonor era uma garota francesa com cabelos castanhos. Ela não falava inglês, então acabava bastante isolada comparada às outras crianças, mas aparentemente o Despertar, unido a um aprendizado precoce, fez com que o aprendizado fosse bastante rápido, então ela já conseguia entender a maioria das coisas. Ela tinha 5 anos

Quanto ao Avatar Gilgamesh, nenhuma das crianças conseguia mais ver seus fragmentos, até mesmo Dorian não conseguia mais ver sua versão mais completa do homem mesopotâmico. O espirito, entidade ou qualquer denominação que você queira dar a ele, estava aprendendo bastante sobre como seria a sua vida daqui pra frente. A absorção de conhecimento, na verdade, era bastante rápida. Conceitos modernos já eram bastante comuns para ele, parecia que gírias e conhecimentos comuns simplesmente apareciam em sua mente.

É claro, ele tinha conhecimento do que era um Avatar e de sua serventia, mas ele não sabia exatamente como era ser um.

Seu papel era o de um guia. Qualquer ambição ou desejo mundano foi completamente abandonado. Ele não sentia mais necessidade de nada disso. Na verdade, a sua única necessidade, o único desejo que cobria todo o seu ser era o da evolução de Dorian.

Na verdade, ele ficou bastante surpreso em saber que ele já não tinha mais vontade de cometer as maldades de cometia, pelo menos não sem propósito. Todos os seus desejos eram para com o garoto. Claro, ele também sentia que a evolução de Dorian o traria mais perto de algo que ele ainda não sabia dizer o que era, mas que ele absolutamente queria, então ele não diria que era um sentimento altruísta pelo garoto. No final, o garoto era sua reencarnação.

É claro, ele ainda era o Avatar de Dorian. O Avatar nada mais era do que o Eu-Mágico do Mago. Muitos diriam que é o verdadeiro eu do Mago. Evoluir como um Mago significava conhecer a si mesmo, para um mago, isso significava que ele assimilaria muitos aspectos de seu próprio Avatar. Magos poderosos normalmente eram alienígenas para humanos comuns, até mesmo para outros magos, por se parecerem muito mais com seu próprio Avatar do que com um humano comum. Assimilar o conhecimento e a personalidade de um espírito que não tem aspirações humanas os tornavam estranhos. Mas quem liga quando isso lhe traz poder?

Outro aspecto sobre o Avatar era seu nível. O Avatar era o responsável pela reserva de Quintessência do mago. Quanto mais forte, mais Quintessência o Mago poderia usar de uma vez.

A quintessência era o nome que os Magos deram ao que gamers e otakus mais comumente chamam de mana. A quintessência servia para deixar a magia mais forte ou facilitar a sua conjuração. Ela também era usada em contratos com espíritos, já que os mesmos se alimentavam dela.

Os Magos modernos dividiam os Avatares em 5 níveis.

Um Avatar de nível 1 era abaixo da média, dando ao Mago a capacidade de apenas usar 1 conta de Quintessência por feitiço.

Um Avatar de nível 2 estava na média, dando ao Mago a capacidade de usar 2 contas de Quintessência por feitiço.

E isso iria até o ápice do nível 5, onde o Mago poderia usar 5 contas de Quintessência por feitiço.

Sr. Borba informou às crianças que tais personagens, Magos com Avatar de nível 5, estavam catalogados e haviam registros de apenas 16 indivíduos vivos com tamanho potencial.

'Quando eu era vivo, meu Avatar seria classificado como um mero Avatar de nível 2. No final, essas classificações não definem em nada o nosso futuro. O que define o poder de um mago são suas Esferas, ou seja, seu conhecimento.' pensou Gilgamesh.

"É claro, não pensem no Avatar como algo que define seu futuro. As próximas etapas de seu aprendizado serão muito mais importantes do que o quão poderoso é o seu Avatar. Pense nele como algo secundário, uma ajuda bem vinda, mas não tão primordial." Disse Sr. Borba em uma de suas aulas.

E no final ele estava certo, um feitiço não precisava de Quintessência para ser ativado. Não havia limites para quantos feitiços um Mago poderia fazer por dia, então, de que importa ter um Avatar de nível 1 ou 5 quando um Mestre de Primórdio pode simplesmente roubar toda a sua Quintessência em um milésimo de segundo? O Avatar é, e deve ser tratado como algo secundário. Claro, ainda era uma ajuda muito bem vinda assim como ele disse.

'Que coisa amarga.' Gilgamesh expressou, mesmo concordando com ele.

Sr. Borba também deixou claro que, em teoria, o Avatar poderia ir além do nível cinco. Havia um indivíduo muito respeitado na comunidade mágica moderna, cujo Avatar era classificado no nível 6.

Outra coisa que era muito perceptível para Gilgamesh, a presença de todas as crianças ao redor dele. Como todas elas tinham um fragmento dele, ele podia sentir onde elas estavam dentro de toda a mansão. Na verdade, ele conseguia saber também a localização dos policiais, enfermeiras e repórteres que tinham um fragmento dele.

'Isso vai ser bem útil. Se o moleque matar todas essas crianças e o resto dos Despertos com esses fragmentos ele vai poder me tornar mais forte. Estando mais forte, eu acabarei podendo ajuda-lo ainda mais a evoluir. Se ele for uma pessoa racional, vai ser mamão com açucar!'

Uma coisa o deixou bastante curioso. Será que todos os indivíduos com seus fragmentos despertaram? O moleque tinha cinco porcento dele e essa já era a maior quantidade dentre todas aquelas pessoas. Podiam haver indivíduos com menos de um porcento? O que acontecia com eles? Será que eles ainda precisariam de alguma ignição para o Despertar? Ou será que já estavam despertos mesmo assim?

Ele sabia que ele mesmo era um Avatar de nível 2. A maior parte de seus fragmentos estão à deriva no universo. As outras crianças deviam ter um Avatar de nível 1, já que tinham fragmentos muito menores de Gilgamesh do que Dorian.

Avatares normalmente eram personagens lendários, sejam eles da história ou da ficção. Quanto mais lendários, mais poderosos eram os Avatares. Claro, isso pode acabar sendo algo muito abstrato já que até mesmo personagens fictícios poderiam ser Avatares extremamente poderosos, mas o fato é:

O motivo de ele ter quebrado não foi outro senão seu poder. Ele era superior a um mero Avatar de nível 5.

Não era para menos, seu nome era temido em toda a comunidade mágica. Sempre que ele reencarnava e despertava, apareciam diversos despertos para mata-lo.

Um despertar acaba realizando o desejo do Mago em meio à um trauma mental extremamente grande. Talvez Gilgamesh tenha planejado reencarnar como um Avatar em sua vida passada para evitar morrer nesta vida.

'Os pontos foram apropriadamente ligados.' Quando percebeu, Gilgamesh ficou na verdade bastante satisfeito.

Ligando os pontos e raciocinando por bastante tempo, era bem fácil chegar à conclusão de que em sua última encarnação, antes de Dorian, ele havia desejado virar ele mesmo um Avatar em sua próxima reencarnação. Como um Avatar, magos como Borba não poderiam simplesmente rastreá-lo e mata-lo. Era o disfarce perfeito.

É claro, como um Avatar, Gilgamesh não sentia ressentimento ou arrependimento quanto à sua escolha. Ele não sentia mais nada quanto á isso, apenas o desejo de cumprir a sua função como Avatar de Dorian.

O problema era: Como?

Como ele poderia cumprir sua função se, em tese, ele seria tratado pelos Magos como uma espécie de Avatar corrompido? Será que Borba poderia manifesta-lo com força suficiente para vê-lo? Seria isso o suficiente para julgar o menino e mata-lo? A Ordem de Hermes nunca teve problema para matar crianças nas suas ultimas vidas. Não seria a primeira vez.

Então ele simplesmente ficaria quieto e deixaria esses paspalhos educar sua reencarnação? Isso não poderia acontecer! Mas ele tinha que racionalizar todo o cenário antes de começar a agir.