Ava deliberadamente ignorou o telefone vibrando em seu criado-mudo e saiu furiosa do quarto. Encontrou seu pai no corredor, lendo o jornal, com uma xícara de café descansando na mesinha ao lado. Afastando a irritação, ela se aproximou dele.
"Bom dia, Papa," ela o cumprimentou, o rosto iluminado com um sorriso radiante.
"Bom dia." Thomas retribuiu o sorriso, colocando o jornal de lado. "Dormiu bem?"
O sorriso de Ava vacilou. As memórias de sua vida passada, os pesadelos de traição e perda a assombravam, e ela não conseguia dormir nada. Mas rapidamente se recompôs, forçando o sorriso de volta ao rosto.
"Sim—como uma criança. Sinto falta de estar aqui com você." Ela se sentou ao lado dele, entrelaçando seu braço no dele e se inclinando gentilmente em seu ombro.
"Fique o tempo que quiser," Thomas disse suavemente, acariciando seu cabelo com afeto paterno.
O olhar de Ava desviou para a xícara de café quase vazia na mesa. Seu estômago se retorceu ao se lembrar do que Dylan havia dito sobre envenenar lentamente seu pai em sua vida passada. Mas nesta vida, ela não deixaria ninguém machucá-lo. Ela precisava tomar o controle, começando por se livrar de qualquer um que pudesse estar trabalhando para Dylan.
"Que tal eu fazer o café da manhã para você?" ela perguntou, exibindo um sorriso encantador.
Thomas riu, claramente contente. "Isso seria ótimo. Eu realmente sinto falta da sua comida."
"Ok, vou preparar suas panquecas de batata favoritas agora mesmo." Ava se levantou e foi para a cozinha.
Uma jovem empregada já estava preparando torradas. Ava parou, seu olhar se estreitando enquanto ela examinava a garota. Ela não reconhecia essa empregada. Ela era nova? Ou pior, seria ela uma espiã de Dylan?
"Você, qual é o seu nome?" Ava perguntou, seu tom frio.
"Eu sou Lia," a empregada respondeu com um sorriso educado.
"Lia!" O olhar de Ava varreu-a de cima a baixo, analisando cada detalhe. Ela pensou que essa empregada poderia estar envenenando Thomas sorrateiramente. "Há quanto tempo você trabalha aqui?"
"Alguns meses—seis meses, para ser precisa," Lia respondeu, ainda sorrindo educadamente.
"Entendo." Os olhos de Ava endureceram. Seis meses. Sua dúvida ficou ainda mais forte. Dylan poderia tê-la colocado lá para vigiar Thomas. Mas ela não deixaria ele ter sucesso em seu plano.
Ava ergueu o queixo e declarou com autoridade fria, "Não precisamos mais de você. Acerte seu saldo e saia imediatamente."
Lia piscou, seu sorriso vacilou em choque. "Mas... Senhorita, eu—"
"Sem discussões," Ava a interrompeu. "Arrume suas coisas e vá embora. Agora."
O rosto de Lia empalideceu. Ela queria protestar, mas se calou ao ver a determinação ardente nos olhos de Ava. Silenciosamente, ela saiu da cozinha com a cabeça baixa.
Enquanto a agitação se acalmava, Ava se movia rapidamente pela cozinha, ocupada em preparar as panquecas. Ela estava feliz e aliviada por finalmente ter expulsado a espiã de Dylan da casa. A partir de agora, ela permaneceria vigilante. Proteger seu pai era sua maior prioridade.
Assim que as panquecas ficaram prontas, ela montou a mesa meticulosamente. Thomas se juntou a ela, ocupando seu lugar de costume. Um sorriso tocou seus lábios ao inalar o aroma quente e saboroso. "O cheiro está bom. Vamos ver como está o gosto."
Ele cortou a panqueca e deu uma mordida, murmurando de satisfação enquanto mastigava. "Está perfeito. Você me lembra a comida da sua mãe." Ele sorriu enquanto continuava a comer.
Ava tinha lágrimas nos olhos enquanto o observava. Em sua vida passada, ela não tinha prestado atenção nele em sua busca para conquistar Dylan. No final, ela o havia perdido. Desta vez, ela estava determinada a compensar isso.
Contendo as lágrimas, ela fez um sorriso e estendeu a mão para colocar mais panquecas em seu prato. "Coma mais, Papa," ela insistiu gentilmente.
Thomas riu, levantando a mão em protesto, mas Ava rapidamente afastou sua mão, forçando outra panqueca em seu prato. Ele riu e continuou a comer.
Por alguns momentos, ambos ficaram em silêncio. Apenas o leve tilintar dos talheres contra os pratos era audível.
"Por que você demitiu Lia?" Thomas quebrou o silêncio. "Ela fez algo errado?"
Ava congelou por um segundo, sua mente acelerada. Ela queria contar a verdade a ele, explicar o plano nefasto de Dylan para ferir sua família, mas ao mesmo tempo, ela não queria preocupá-lo. Esse era um peso que ela tinha que carregar sozinha.
"Não gostei dela," ela disse, fazendo bico. "Vou encontrar alguém mais confiável."
Thomas suspirou. Ele não sabia o que havia feito Ava odiar aquela pobre garota. Ele não havia a impedido naquele momento, pois não queria magoá-la questionando seu julgamento.
"Não sei que erro ela cometeu," Thomas começou gentilmente. "Mas Lia tem sido boa para mim. Sua mãe trabalhou aqui por anos antes de ficar doente. Quando ela não pôde mais trabalhar, mandou Lia, e a garota cuidou de tudo, assim como sua mãe fazia."
Ava ouviu, mas permaneceu inabalável. Sua mente estava decidida—ela estava convencida de que Dylan havia colocado Lia para espionar sua família e causar danos. Era melhor se livrar de uma pessoa assim o mais rápido possível.
"Às vezes, as pessoas em quem mais confiamos são aquelas que acabam nos machucando," Ava disse de forma enigmática.
Thomas balançou a cabeça, uma expressão confusa atravessando seu rosto. Ele não insistiu mais, mas sua confusão se mostrava na ruga de sua testa.
"Não entendo por que você disse isso. Tudo o que quero é sua felicidade, Ava." Ele estendeu a mão e acariciou sua cabeça carinhosamente, oferecendo um pequeno sorriso confortante.
Então, levantando-se, ele acrescentou, "Estou atrasado para o trabalho. Te vejo esta noite." Com isso, ele saiu de casa.
Ava assistiu ele partir, sua mente cheia de pensamentos que nunca havia permitido antes. Em sua vida anterior, ela tinha sido tão enredada em seus próprios problemas e em seu casamento tumultuado, que nunca havia questionado de verdade a tragédia que havia tirado a vida dos pais de Dylan. Ela se perguntava por que Dylan tinha esse mal-entendido de que seu pai tinha sido o responsável pelo acidente.
'Eu vou descobrir a verdade e limpar o nome dele,' ela resolveu.
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Ding-Dong…
A campainha soou, quebrando o silêncio da casa. Dylan foi abrir a porta e encontrou Erica e Gianna do lado de fora.
"Bom dia, Dylan!" Erica sorriu. "Viemos te ver assim que soubemos que você tinha voltado."
"Como você está, Dylan?" Gianna perguntou com um tom nasal, exibindo um sorriso doce.
"Tudo bem," Dylan respondeu secamente, voltando-se e caminhando de volta para dentro de casa.
Gianna e Erica o seguiram.
"Onde está a Ava?" Gianna perguntou, fingindo ignorar que Ava estava na casa do pai. "Como ela está agora?"
Dylan cerrou a mandíbula ao mencionar Ava. Ele estava furioso com ela. Essa mulher tinha ignorado suas ligações. 'Como ela se atreve!' ele murmurou para si mesmo.
"Gianna, você é tão gentil," Erica disse. "Ela te tratou tão mal no hospital. Mesmo assim, você ainda está preocupada com ela."
Dylan virou-se para encará-las, seus olhos se estreitando. "Ava maltratou você!"
"Não fique bravo, Dylan," Gianna disse calmamente, segurando sua mão. "Você não estava com ela no seu primeiro aniversário de casamento. É óbvio que ela ficou chateada."
"Eu estava em uma viagem de negócios importante," Dylan sibilou, "não de férias. Ela não deveria fazer disso um grande problema."
"Você está certo, Dylan," Erica entrou na conversa. "Ela foi longe demais desta vez. Ela tentou se matar. Quando fomos vê-la no hospital, ela nos humilhou. Ela até me empurrou. Olhe." Ela esticou o braço e mostrou a ele os hematomas no cotovelo. "Ela me machucou."