Miguel pegou a pasta com relutância, seus dedos roçando na capa antes de abri-la.
Ele folheou as páginas, seus olhos se estreitando enquanto absorvia os detalhes. Sua testa franzia mais a cada linha que lia, a tensão clara no nó apertado que se formava em sua testa.
Quando chegou à proposta, seus olhos pararam, analisando a oferta novamente para garantir que não havia lido errado. "Cinco milhões de dólares adiantados em troca de cinquenta por cento das ações da empresa."
Era um pedido alto, eu sabia disso. Mas... "Sou uma empresária, e pretendo recuperar o que investi. Isso não é caridade." Era estratégia.
Miguel ainda estava imerso em pensamentos e ainda não tinha olhado para cima, mas o peso da minha oferta estava sendo absorvido por ele.
Eu sabia que ele sabia o quanto isso significava — esse acordo poderia salvá-lo ou empurrá-lo mais para o canto.
Eu o observei silenciosamente enquanto ele processava a oferta, seus dedos agora segurando a borda da pasta um pouco mais apertados. Sua testa ainda estava franzida, e eu podia ver as engrenagens girando em sua mente enquanto ponderava os prós e contras.
"Por que você tem tanta certeza de que esse projeto vai dar certo?" ele perguntou.
Minha sobrancelha levantou. "Você não está confiante no seu próprio trabalho?"
"Estou," ele respondeu bruscamente.
Eu sorri. "Então vai dar certo."
Ele me olhou com uma expressão incrédula, como se eu fosse louca.
Inclinei-me um pouco para trás, dando-lhe espaço para pensar. "Vou deixar você ponderar sobre isso," eu disse, quebrando o breve silêncio. "Mas não demore muito. Não sou uma mulher muito paciente."
Ele olhou para mim, sua expressão ainda incompreensível. Eu sorri levemente, mantendo a compostura.
"Espero ouvir sua decisão em breve," acrescentei. "Porque com ou sem você, pretendo avançar. Mas preferiria que fizéssemos isso juntos."
A decisão estava nas mãos dele agora, mas eu não ia esperar para sempre.
=== 🤍 ===
Enquanto eu estava sentada dentro do meu carro, pensando no meu próximo passo, meu telefone vibrou. O nome Sofia apareceu na tela, e eu não pude deixar de gemer internamente.
*Agora não. Não ela.*
Deus sabe que eu não queria atender essa chamada, mas eu também não tinha muita escolha. A última coisa que precisava era dela pairando sobre mim, respirando em meu pescoço, analisando cada movimento meu.
Eu deslizei a tela e coloquei o telefone no ouvido. "Oi?"
"Eve? É assim que você cumprimenta sua mãe?"
Você não é minha mãe. As palavras estavam na ponta da minha língua, mas eu as engoli, me forçando a manter a calma. "Desculpe, Mãe. Estou meio ocupada agora."
"Ocupada?" A voz dela era afiada, cortando minha desculpa como uma faca. "Eu liguei para a sua escola, e você esteve ausente. O que você tem feito nesses últimos dias? Por que não tem comparecido às suas aulas?"
Massageei as têmporas. Certo, eu ainda sou tecnicamente uma garota de dezessete anos no meu último ano de escola. Eu sempre esquecia desse pequeno detalhe.
"Estou... ocupada com meu debut," menti, esperando que isso a calasse por enquanto.
Houve uma pausa, longa o suficiente para eu imaginar ela escrutinando cada palavra, cada respiração que eu tomava. "Eu não te disse para deixar tudo conosco?"
O tom dela era cético, e eu podia sentir sua desconfiança transbordando pelo telefone. Eu precisava pensar rápido e soar convincente. "Você sabe que eu não posso simplesmente ficar parada enquanto o evento mais importante da minha vida acontece em seis meses. Tudo precisa estar perfeito."
Outra pausa. Eu podia praticamente ouvir as engrenagens girando na cabeça dela. "Você está por aí procurando vestidos e joias?"
Eu segurei um suspiro de alívio e forcei uma risada, embora parecesse ácido na minha língua. "Você me conhece tão bem, Mãe." A palavra Mãe fazia minha pele se arrepiar, e eu lutei contra o arrepio que subia pela minha espinha.
"Pare o que você está fazendo agora, Eve. Você está perdendo seu tempo. Mesmo que percorresse toda Nova York, não encontraria nada melhor do que o que organizamos na Bijoux Moda e Joalheria. Já preparamos e encomendamos tudo para você."
Bijoux Moda e Joalheria. Claro. Tinha que ser um dos empreendimentos dos Fays. O que antes era apenas uma joalheria havia se transformado em uma marca de moda de alto padrão, graças a ninguém menos que Leanna Fay — a mãe do Cole. Aquela mulher tinha o toque de Midas. Ela poderia transformar qualquer coisa em ouro, ou pelo menos foi o que ouvi.
"Tudo bem, Mãe," respondi, tentando não ranger os dentes. "Então vou parar de perder meu tempo. Mas pelo menos me mande algumas fotos do vestido e das joias?"
"Como eu poderia fazer isso?" Sofia repreendeu, seu tom condescendente. "Eu não te disse que deveria ser uma surpresa?"
Revirei os olhos. Claro, não era uma surpresa porque eles queriam que fosse especial — era porque o vestido nem sequer era destinado a mim. Era para ela — para a Sophie.
"Que tal isso?" ela continuou, sua voz de repente doce demais. "Por que você não se junta a mim para o almoço hoje? Estou no Verdes. Vamos conversar. Faz muito tempo desde que tivemos uma conversa adequada."
Eu estremeci internamente, já imaginando a conversa forçada, os comentários passivo-agressivos sobre meu comportamento. "Você não está ocupada?" perguntei, na esperança de um escape. Por favor, esteja ocupada. Por favor, tenha uma agenda cheia.
"Não agora. Então venha, ok? Estou esperando por você."
Antes que eu pudesse sequer formar outra desculpa, a linha ficou muda.
Soltei um suspiro frustrado, segurando o volante com força. Sofia estava ficando desconfiada — graças à Sophie, sem dúvida. Meu comportamento estranho nos últimos dias não estava passando despercebido, e evitá-la agora só tornaria as coisas piores. Eu não tinha escolha a não ser aparecer.
O problema era... Verdes era mais um dos muitos negócios da família Fay.
Ótimo, pensei amargamente. Exatamente o que eu precisava — um lugar na primeira fila para mais drama da família Fay.