Capítulo 6 - Não perca o controle.

๑ ⋆˚₊⋆────ʚ Thalia ɞ────⋆˚₊⋆ ๑

Não perca o controle.

Acabo acordando no meio da madrugada escura e fria como uma pequena época de inverno, não gosto de acordar de madrugada por ela ter essas características que me assustam. Levanto da minha cama de forma suave para que meu corpo consiga despertar aos poucos, dou pequenos e leves passos em direção a varanda que parecia estar iluminada com aquela enorme noite ladrilhada de adoráveis estrelas no vasto céu.

Eram tantas estrelas que era impossível uma pequena humana como eu contar todas aquelas grandes e pequenas estrelas. Eu queria poder pegar uma delas e fazer apenas um pequeno pedido: "Por favor senhora estrela, que um dia eu possa ser liberta."

Sei que isso pode ser uma coisa tola de se pensar, dizem que as estrelas foram feitas pelo senhor para que os humanos pudessem fazer pequenos pedidos a ele pois as pessoas tinham medo de pedir diretamente. Também completam que as estrelas sempre contavam a ele, e ele por compaixão aceitava o pedido dos humanos pequenos.

Sabe, às vezes tenho inveja dos humanos que adoram ao senhor, sei que inveja é um pecado, mas não consigo me conter em relação a isso. Deus tem tanta compaixão pelos fiéis, mas quando é pra ter compaixão comigo parece que eu não mereço, acho que aos olhos de Deus eu ainda sou má.

Quando contei esse meu pensamento ao Papa, ele me repreendeu severamente com longas e torturante chicotadas enquanto profanava que eu era uma criança má e pecaminosa que não merecia a compaixão de Deus por ter tais pensamentos impróprios. Após isso, peguei todos os meus pensamentos e os guardei para mim pois se qualquer coisa podia ser considerada blasfêmia diante do Papa cruel e rígido.

Foram tempos difíceis, mas eu pude suportar tudo aquilo porque todos à minha volta esperavam pelo meu sucesso pela igreja católica. Mas se eu falasse, seria severamente castigada e considerada uma mulher que comete blasfêmia.

Agora que penso melhor, me lembro das palavras de Zeus naquela noite... Aquelas terríveis palavras que eu estava tentando ignorar até agora. Não consigo acreditar que sou fruto de um relacionamento impróprio do Papa da Igreja com a Princesa de um país vizinho...

Sempre quis ter pais presentes, mas nunca pensei que eu poderia ser fruto de algo tão impuro. Como poderei olhar para o papa agora? Terei coragem de dizer a ele todas as coisas que o imperador me contou?

Se ele é mesmo o meu pai, porque ele nunca me tratou como uma filha? Por que aos olhos dele eu sou apenas um sacrifício para o senhor? Eu não consigo entender os planos do Papa.

Olho para o grande céu iluminado diante de mim até que uma estrela cadente surge de repente em minha visão por alguns segundos.

- Não seria ruim acreditar nisso, certo? - Sorriu meio sem jeito e em seguida junto as minhas mãos para fazer um pequeno pedido. - Por favor adorável estrela cadente, envie o meu desejo ao senhor.

- Eu espero não ser uma pecadora neste momento mas, desejo do fundo do meu coração que eu seja uma pessoa livre em um futuro próximo. Não posso dizer em uma vida próxima, pois os humanos não podem ter mais de uma vida, mas eu adoraria ter.

- Parece que até mesmo a santidade possui as suas aflições. - Uma voz extremamente poderosa que carrega muita intimidação, sussurra em meu ouvido enquanto segura a minha cintura.

- Quem ousa! - Grita o mais alto que posso.

Mas quando olho para o rosto daquela pessoa, vejo a figura do imperador que eu passei a odiar após conhecê-lo. Porém, mantenho a minha calma para ter energia para enfrentar esse demônio.

- O que o imperador faz em meu palácio a essa hora? - Comento de uma forma que não transmita o meu nervosismo.

- Eu apenas vim visitar a minha futura mulher. - Ele esboça um sorriso que não era um sorriso de alegria mas sim carregado de deboche e ironia.

- Se Vossa graça precisar de algo, por favor marque um dia para poder me ver. - Indago enquanto tento tirar a sua mão da minha cintura.

- Mas eu sou o imperador, não preciso marcar um dia para ver a minha adorável imperatriz. - Ele me agarra com mais violência enquanto profere tais palavras em meu ouvido.

- Não é querendo ser desrespeitosa mas eu tenho coisas a se fazer, não possuo tempo para sua majestade. - Respondo de forma firme.

- Seu dever é apenas me dar filhos fortes e saudáveis, me satisfazer enquanto me ama e me coloca como prioridade. Você deveria ser mais leal aos seus deveres de esposa, minha adorável santa. ‐ Ele comenta com um ar de indignação e revolta.

- Eu posso lhe dar filhos como parte do meu deve de Imperatriz, mas não garanto que poderei satisfazê-lo, amá-lo ou lhe dar prioridade, "Vossa Majestade". - Respondo de forma sarcástica

- Possuo assuntos importantes da igreja católica para serem aprovados, e ainda tenho a reforma deste palácio para ser feita, Também tenho os meus estudos para entender sobre política.

- Eu tenho certeza que a senhorita Annaelise seria ótima para ajudá-lo nesses requisitos. - Indago de uma forma que pareça que não me importo com isso.

- Então você prefere que outra mulher satisfaça o seu marido? - Ele se envolve em volta do meu corpo enquanto comenta palavras tão irrelevantes para mim.

- Te parece uma boa ideia o seu marido com outra?

- Sim, receio que não terei tempo para isso, Vossa majestade. - Tento parecer indiferente.

Isso também faz com que você se mantenha longe de mim, o que mais quero é alguém sujo como você longe de mim. Não suporto mais ter alguém tão pecador perto de mim, até a sua respiração me incomoda.

- Bem, já que prefere dessa forma eu não irei reclamar disso, mas... - Ele faz uma leve pausa. - Prefere ficar neste lugar sujo ao em vez do meu quarto? Se você implorar para mim eu posso reconsiderar.

- Esse "lugar sujo" irá aceitar mudanças, já você, eu não acho que seja dessa forma. - Retruco com indiferença.

- Você realmente é bem orgulhosa, prefere ficar em um lugar tão sujo como esse apenas porque não quer implorar a mim.

- Eu não me incomodo com esse lugar, e muito menos com o relacionamento que você possui com outras mulheres.

- Sabe, eu adoraria que a santa ficasse de joelhos diante de mim assim como faz em suas orações ao seu Deus. ‐ Ele comenta de um jeito tão despreocupado como se o que tivesse falado fosse normal. - Afinal, eu também posso ser considerado um Deus neste império, então não teria problema da santa se ajoelhar diante de mim.

A raiva me consolo instantaneamente, quando volto a mim vejo que fiz algo que poderia me causar uma prisão, eu simplesmente bati no rosto do imperador do Império Celestia. Porém, se for para ser presa que seja por um motivo maior que isso, então não me seguro em minhas palavras.

- Seu humano indecente, como ousa se comparar com o meu pai? Você até pode ser o imperador, mas nunca será como o meu pai. - Grito o mais alto que minhas cordas vocais me permitem.

- Acha que meu pai vai ter misericórdia de um ser tão repugnante como você? Feche a sua boca suja, você não tem direito de se comparar ao meu pai um ser tão celestial e maravilhoso. Tu é envolvido por extremo pecado e nunca poderia ser um Deus, nem mesmo o meu pai vai ter misericórdia de alguém como você. - Não consigo mais medir as minhas palavras diante desse homem pecador.

Eu não o suporto, eu o odeio com toda a força que habita em mim, maldito e merecedor do meu ódio é aquele que blasfêmia o nome de meu pai. Esse homem de carne e osso nunca poderá ser igual ao meu pai, jamais, nem mesmo se ele reencarnar várias vezes.

Ele apenas fica calado por alguns segundos após ver o meu ataque de raiva que recebeu início após tamanha blasfêmia. Mas em vez de parecer arrependido, ele apenas começa a rir de uma forma diabólica como se fosse o próprio demônio.

- Ah santa. - Ele começa a se aproximar de mim novamente.

- Tem vezes que você realmente consegue me divertir de uma forma interessante, eu gosto disso e isso me atrai de certa forma. Me parece que você está começando a criar o seu próprio valor diante de mim.

- Por que você não me mostra, mas esse seu lado interessante? Ele me deixa curioso e excitado, desejo ver mais me mostre mais. - Quando vejo ele me prende contra o vão da varanda.

- Receio que Vossa majestade deve ir embora agora. - Tento falar mais a minha voz falha um pouco.

Eu tenho medo do que esse louco pode fazer, se ele deseja pode me derrubar daqui com um simples empurrão, preciso fugir dessa situação o mais rápido possível.

- Não posso, a santa está me entretendo agora. - Ele profere tais palavras enquanto se aproxima do meu pescoço e começa a me morder de uma forma violenta.

- Eu peço mais uma vez que se retire. - Tento mais uma vez convencê-lo a sair de perto de mim, mas é algo sem resultado.

Ele apenas finge que não escuta as minhas palavras enquanto me viola de forma violenta. Além de lutar contra ele, eu tento lutar contra a minha própria carne, pois isso me trazia sentimentos contraditórios que fazem eu perder completamente o controle de mim mesma. Isso é tão assustador para mim pois tenho medo que o desejo desse homem acabe me contaminando.

De repente ele me levanta e me coloca sob os seus ombros fortes, o medo tomou conta de mim novamente pois não estava preparada para sentir aquela sensação novamente. Se eu sentir aquilo novamente irei perder o controle de mim mesma, por favor meu Deus me ajude a evitar isso não quero cair em tentação, me teste de outra forma.

- Me largue! - Tento gritar.

Fecho os meus olhos, mas sinto um medo terrível enquanto sou jogada violentamente na cama, sinto o seu corpo grande e forte por cima de mim, Daí se dá início a beijos violentos que me deixavam sem ar, tento encontrar um máximo de ar possível mas é impossível com esse homem violento que me prende contra a minha vontade.

Porém, começo a analisar que ele apenas me envolve em beijos selvagens, será que ele está tendo piedade de mim? Será que esse animal perverso realmente sente pena de alguém como eu?

À medida que passa, os seus beijos deixam de ser selvagens e começam a ser doces como adoráveis frutas frescas numa tarde de verão. O ar volta aos meus pulmões, sinto que ele está sendo piedoso comigo com esses beijos suaves que possuem um doce que me hipnotiza. Mas eu volto pra realidade e me lembro vividamente de como este homem é cruel.

Ele não dá espaço para minha fala, apenas me beija de forma doce que me hipnotiza, eu tenho certeza que isso é uma tentativa de fazer com que eu me corrompa com o seu desejo sufocante.

- Parece que a adorável santa esperava mais de mim. - Ele comenta de forma sarcástica.

- Eu espero que vá embora. - Digo de forma indiferente.

- Você age como se me odiasse, mas sei bem o que a santa pensa de mim. Sei exatamente que a santa se sente atraída por mim. - Ele responde enquanto se aproxima do meu ouvido com uma voz tentadora. - Se a santa me implorar, eu posso satisfazê-la.

- Prefiro que não seja assim, não tenho intenção alguma de sentir prazer com isso e muito menos te implorar por algo. - Acabo correspondendo com desdém.

- Bem se a santa diz, quem sou eu para ir contra a filha de Deus. - Ele se levanta enquanto retira suas mãos de mim em um tom de deboche intenso.

- Mas saiba santa, por bem ou por mal, você irá fazer a minha vontade enquanto permanecer no meu palácio. - Ele se direciona para a varanda. - Afinal, a filha de Deus é minha.

- Se eu quiser o seu corpo, ele vai ser totalmente meu. Se eu quiser a sua alma, ela será completamente minha. Serei bondoso por enquanto, mas a minha bondade não durará por muito tempo, santa. - Ele parou diante da porta da varanda enquanto evita olhar para mim.

- Meu corpo e alma pertencem ao senhor meu pai. - Retruco com indiferença.

- Assim que esse seu Deus nos unir, você pertencerá a mim, somente a mim e fará as minhas vontades. - Sem eu a menos ver, ele aparece diante de mim segurando o meu queixo.

- Se elas forem a vontade de Deus as farei, apenas faço o que Deus me ordena. - Completo com desânimo.

- Bem, então eu farei as minhas vontades serem de Deus. - Ele responde com um sorriso que possuía maldade.

Após tais palavras assustadoras, acabou despertando de repente. Tudo que aconteceu foi apenas um pesadelo terrível projetado pela minha própria mente. Eu já estava começando a achar que era um sonho mesmo, estava tranquilo demais para ser a realidade.

Lágrimas caem pelo meu rosto de forma formosa e entristecente. Até a minha própria mente está contra mim nesse teste de fé, me sinto perdida e desolada neste local tão terrível e desconfortante.

Mas se as pessoas soubessem como me sinto e o quanto murmuro, eu nem ao menos seria considerada uma santa diante deles. Uma santa na visão dos humanos é algo inumano, mas eu preciso ser pois fui escolhida por esse papel.

As vezes acho que não sou uma santa de verdade, fui treinada a minha vida toda para isso, mas nem nisso eu consigo ser boa. Será que realmente valeu a pena?

O céu ainda estava escuro, e a luz pálida da lua entrava pelas frestas da janela do meu quarto, iluminando o lugar de forma melancólica. O sonho ainda parecia real, como se o toque do imperador e suas palavras impregnassem o ar ao meu redor. Passei os dedos pelo meu pescoço, procurando por marcas que sabia que não existiam, mas minha mente ainda insistia em me atormentar.

- Por que minha própria mente se volta contra mim? - Falei, enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.

Me levantei da cama com um peso no peito que parecia impossível de carregar. Ajoelhei-me no chão frio e juntei as mãos para rezar, tentando buscar alguma paz nas palavras que aprendi desde a infância.

- Pai, me ajude. Sei que não devo questionar sua vontade, mas por que sinto que estou tão longe de Ti? Por que, em vez de luz, só vejo sombras ao meu redor?

Minha voz tremeu, e meu corpo se curvou, exausto, enquanto eu tentava conter os soluços. Ser uma santa significava ser perfeita, ser forte, ser a conexão viva entre o divino e os mortais. Mas, naquele momento, eu não sentia nada disso.

Ao longe, o som das badaladas de um sino ecoou. Devia ser quase amanhecer. Precisava me recompor. Com dificuldade, me levantei, ainda segurando o peso de meus próprios pensamentos.

Vesti-me com o roupão simples e branco, tentando ignorar como os meus pensamentos pareciam mais um fardo do que uma honra. Antes de sair do quarto, olhei para o espelho. Meus olhos estavam vermelhos, mas meus lábios ensaiaram o sorriso sereno que o mundo esperava de mim.

Assim que abri a porta, fui surpreendida por uma presença inesperada. Era Penélope, que estava na porta à minha espera, ela tinha um semblante preocupado e aflita.

- Perdoe-me pela intromissão, minha senhora, mas sua presença foi requisitada no palácio principal.

- A esta hora? - Perguntei, tentando esconder meu cansaço.

- O imperador está lá. Ele pediu para vê-la. - Ela hesitou antes de responder.

Meu coração disparou. Mesmo sabendo que o encontro do meu sonho não era real, o desconforto e a lembrança de suas palavras ainda pesavam sobre mim. Respirei fundo, tentando recuperar minha compostura.

- Muito bem, me ajude a me preparar por favor.

Penélope assentiu e entrou no meu quarto, mas sua expressão parecia carregada de preocupação. Fechei a porta e encostei minha testa contra ela. Por que ele insistia em me perseguir, mesmo em sonhos? Será que nunca terei paz?

( ... )

Com os passos pesados de quem carrega o mundo nas costas, segui até o salão principal. A cada corredor, sentia o frio das paredes de pedra, como se fossem uma prisão que me lembrava de que não havia escapatória.

Quando cheguei, o imperador já estava lá, sentado em um trono majestoso. Seu olhar imediatamente encontrou o meu, e o sorriso em seus lábios era exatamente como no sonho: malicioso e carregado de intenções ocultas.

- Minha adorável santa. Espero não ter interrompido seu descanso. - Ele disse com uma cortesia que parecia vazia.

- O que deseja, Vossa Majestade? - Perguntei, mantendo meu tom firme, mas sem confrontá-lo diretamente.

Ele se levantou e deu alguns passos em minha direção. Mesmo cercado por guardas e conselheiros, sua presença era avassaladora.

- Apenas quis vê-la antes que o dia começasse. Há algo de especial na luz da manhã refletindo em sua pele. É como se os céus quisessem me lembrar do presente que me deram.

- Sou apenas uma serva de Deus, Majestade. Não um presente.

Seus olhos brilharam com algo entre irritação e divertimento. Ele se aproximou ainda mais, parando a poucos centímetros de mim.

- E se eu disser que Deus e eu estamos em perfeita sintonia? Que minhas vontades são também as dele? Você não teria escolha a não ser obedecer, não é? - Suas palavras fizeram meu sangue gelar. O pesadelo estava se tornando realidade.

- Deus não é homem para ser manipulado. Suas vontades não são as mesmas que as dos mortais, Majestade. - Minha voz soou firme, mesmo enquanto meu coração batia descompassado.

- É isso que eu gosto em você, minha santa. Sua força, sua fé inabalável... Tudo isso será meu, mais cedo ou mais tarde. - Ele riu, mas havia algo perigoso em seu tom.

Eu não respondi. Apenas segurei o olhar dele com toda a força que consegui reunir. Não podia demonstrar medo. Não podia vacilar.

- Bem, além de vê-la eu gostaria de poder convidá-la para tomar café comigo.

Ele profere tais palavras surpreendentes a ponto de todos os empregados da sala ficaram surpresos, confesso que também fiquei meio surpresa.

- Seria prazeroso pra mim poder tomar café com a minha doce noiva. - Ele pega a minha mão e a beija delicadamente.

- E então, santa? Será que pode me acompanhar nessa refeição?

๑ ⋆˚₊⋆────ʚ Continua ɞ────⋆˚₊⋆