A cidade de "Noxhaven" era um lugar onde a luz do sol parecia ter medo de entrar. Conhecida como a Cidade das Sombras, ela era governada por um tirano chamado "Lord Malvyn", um homem cuja ganância e crueldade eram lendárias. As ruas estreitas e sinuosas eram pavimentadas com pedras irregulares, e os edifícios altos e sombrios pareciam se inclinar sobre os transeuntes, como se quisessem esmagá-los. O ar estava carregado com o cheiro de fuligem e decadência, e os olhares desconfiados dos habitantes eram tão cortantes quanto as facas que carregavam escondidas.
Lyra e seu grupo entraram na cidade disfarçados, vestindo capas escuras e mantendo os rostos ocultos sob capuzes. Eles sabiam que não podiam chamar atenção para si, especialmente em um lugar como Noxhaven. A missão era clara: encontrar um mapa que supostamente revelava a localização da Estrela de Elyndor. O problema era que o mapa estava nas mãos de Lord Malvyn, e ele não era do tipo que compartilhava seus tesouros.
Enquanto caminhavam pelas ruas estreitas, Lyra sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A cidade era um labirinto de becos escuros e esquinas perigosas, e cada som parecia uma ameaça. Ela olhou para Kaela, que estava ao seu lado, e viu que a jovem humana também estava tensa. Seus olhos dourados brilhavam com uma intensidade incomum, como se estivessem tentando penetrar as sombras ao seu redor.
— Esta cidade... — sussurrou Kaela, sua voz quase inaudível. — É como se estivesse viva, e nos odiasse.
Lyra concordou com um aceno. Ela sentia o mesmo. Noxhaven não era apenas uma cidade; era uma entidade sombria que devorava aqueles que ousavam entrar.
— Fiquem alerta — disse Lyra, voltando-se para o grupo. — Não sabemos o que nos espera aqui.
Thalos, o arqueiro, segurava seu arco com firmeza, enquanto Eryndor, o feiticeiro, murmurava encantamentos de proteção. Sylva, a caçadora, estava alguns passos à frente, seus olhos atentos a qualquer movimento suspeito.
Foi em um beco escuro que o grupo encontrou "Ryn". Ele estava sentado em um barril, jogando uma faca de um lado para o outro com uma habilidade impressionante. Seus olhos verdes brilhavam com uma mistura de curiosidade e desdém, e seu sorriso era tão afiado quanto a lâmina que ele manipulava.
— Bem, bem — disse Ryn, sua voz carregada de sarcasmo. — O que temos aqui? Um bando de elfos perdidos em Noxhaven? Isso não é algo que se vê todos os dias.
Lyra colocou imediatamente a mão no punho de sua espada, mas Ryn levantou as mãos em um gesto de paz.
— Calma, calma — disse ele, ainda sorrindo. — Não sou seu inimigo. Pelo menos, não ainda.
— Quem é você? — perguntou Lyra, sua voz firme, mas carregada de desconfiança.
— Eu sou Ryn — respondeu ele, saltando do barril com uma agilidade felina. — Ladrão, mercenário, e, se você estiver disposta a pagar, seu melhor aliado nesta cidade.
Kaela olhou para Ryn com uma mistura de curiosidade e cautela. Havia algo nele que a intrigava — talvez sua confiança, ou talvez a maneira como ele parecia se divertir com a situação.
— E por que deveríamos confiar em você? — perguntou Kaela, cruzando os braços.
Ryn deu uma risada baixa, como se a pergunta fosse engraçada.
— Porque, minha querida, vocês não têm escolha — respondeu ele. — Noxhaven não é um lugar para estranhos, especialmente elfos. Sem mim, vocês não durariam uma noite aqui.
Lyra hesitou, sabendo que ele tinha razão. Eles precisavam de ajuda, mas confiar em um estranho era arriscado.
— O que você quer em troca? — perguntou Lyra, seus olhos verdes fixos nos de Ryn.
— Ah, direto ao ponto — disse Ryn, ainda sorrindo. — Eu gosto disso. Bem, eu quero uma parte do tesouro que vocês estão procurando. E, claro, a satisfação de ver Lord Malvyn com raiva.
Lyra considerou suas palavras por um momento antes de acenar com a cabeça.
— Muito bem — disse ela. — Mas se você nos trair, não hesitarei em matá-lo.
Ryn colocou uma mão no peito, fingindo estar ofendido.
— Tão desconfiada — disse ele, rindo. — Mas tudo bem. Eu gosto de um desafio.
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Com Ryn como guia, o grupo se dirigiu ao castelo de Lord Malvyn. O caminho foi repleto de perigos — guardas corruptos, ladrões famintos e criaturas sombrias que pareciam surgir das próprias paredes. Mas Ryn conhecia cada beco, cada túnel secreto, e logo eles estavam diante das muralhas do castelo.
— Aqui é onde eu entro — disse Ryn, apontando para uma pequena entrada escondida atrás de uma pilha de entulho. — É uma passagem secreta que leva diretamente aos aposentos de Malvyn. Mas cuidado — ele olhou para Lyra com seriedade. — Ele não é um homem comum. Ele tem... aliados sombrios.
Lyra acenou com a cabeça, sentindo um frio na espinha. Ela sabia que o perigo era grande, mas também sabia que não podiam recuar.
— Vamos — disse ela, liderando o grupo pela passagem secreta.
Dentro do castelo, o grupo encontrou Lord Malvyn em seu salão sombrio. Ele era um homem alto e magro, com olhos frios e um sorriso que parecia esculpido em gelo. Ao seu lado estava uma figura encapuzada, emanando uma energia sombria que fez o ar parecer mais pesado.
— Bem, bem — disse Malvyn, sua voz suave, mas carregada de malícia. — Parece que temos visitantes.
Lyra avançou, com sua espada em punho.
— Nós viemos pelo mapa — disse ela, sua voz firme. — Entregue-o e talvez poupemos sua vida.
Malvyn deu uma risada baixa, como se a ameaça de Lyra fosse uma piada.
— Ah, minha querida elfa — disse ele. — Você realmente acha que pode me derrotar?
Sou o deus dessa cidade - como ousam entrar aqui e dizer essas coisas?
Foi então que a figura encapuzada se moveu, revelando-se como uma criatura sombria, com olhos vermelhos brilhantes e garras afiadas. O grupo se preparou para a batalha, sabendo que isso seria uma luta difícil.
A batalha foi intensa. Lyra lutou com toda a sua habilidade, enquanto Kaela usou seus poderes para criar barreiras de luz que mantinham a criatura sombria à distância. Thalos disparou flechas com precisão mortal, e Sylva se movia como uma sombra, atacando pelos flancos.
Ryn, por sua vez, mostrou-se um aliado valioso. Ele usou suas facas com uma habilidade impressionante, atacando a criatura sombria com golpes precisos. Mas mesmo assim, a batalha estava longe de ser fácil.
Finalmente, com um esforço conjunto, o grupo conseguiu derrotar a criatura sombria. Malvyn, percebendo estar em desvantagem, fugiu, deixando o mapa para trás.
— Pegue o mapa! — gritou Lyra, enquanto o grupo corria para escapar do castelo.
Com o mapa em mãos, o grupo fugiu de Noxhaven, perseguido pelos guardas de Malvyn. Ryn os guiou por túneis secretos e passagens escondidas, até que finalmente estavam fora dos muros da cidade.
— Bem, isso foi divertido — disse Ryn, ainda sorrindo, apesar de estar respirando pesadamente.
Lyra olhou para ele, sentindo uma mistura de gratidão e desconfiança.
— Você nos ajudou — disse ela. — Mas ainda não confio em você.
Ryn deu uma risada baixa.
— Justo — disse ele. — Mas talvez, com o tempo, você mude de ideia.
Após a fuga do castelo de Lord Malvyn, o grupo se escondeu em um antigo armazém abandonado nos arredores da cidade. O local estava em ruínas, com paredes rachadas e o chão coberto de entulho, mas era o refúgio perfeito para descansar e planejar o próximo passo. O mapa estava seguro, mas o preço da vitória havia sido alto — todos estavam exaustos, feridos e com os nervos à flor da pele.
Ryn, sentado em um barril quebrado, observava o grupo com um sorriso irônico. Ele parecia imune ao cansaço, como se a adrenalina da fuga o tivesse revitalizado.
— Bem, isso foi emocionante — disse ele, brincando com uma faca em suas mãos. — Malvyn deve estar furioso. Adoro quando ele fica assim.
Lyra olhou para ele, desconfiada e curiosa.
— Por que você nos ajudou? — perguntou ela, sua voz firme. — O que você ganha com isso?
Ryn deu de ombros, como se a pergunta fosse irrelevante.
— Eu já disse — respondeu ele, ainda sorrindo. — Eu gosto de ver Malvyn com raiva. Além disso, uma parte do tesouro não faria mal a ninguém, não é?
Kaela, sentada em um canto do armazém, olhou para Ryn com uma expressão pensativa. Ela não conseguia decifrá-lo — ele era sarcástico, imprevisível e, de certa forma, encantador. Mas também era perigoso, e ela sabia que não podia confiar nele completamente.
— E se ele nos trair? — sussurrou Kaela para Lyra, enquanto Ryn distraía Thalos com uma história exagerada sobre uma de suas façanhas.
— Ele pode tentar — respondeu Lyra, baixando a voz. — Mas estamos preparados. E, se for necessário, lidaremos com ele.
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Enquanto o grupo descansava, Ryn começou a contar histórias sobre sua vida em Noxhaven. Ele falou sobre como havia crescido nas ruas, aprendendo a sobreviver roubando e trapaceando. Suas histórias eram cheias de humor e exageros, mas também revelavam um lado mais sombrio — um passado marcado por traições e perdas.
— Eu tinha um irmão — disse Ryn, sua voz mais séria do que o habitual. — Ele era mais novo, mais ingênuo. Um dia, ele tentou roubar o lugar errado e... bem, você pode imaginar o resto.
Kaela sentiu uma pontada de empatia ao ouvir a história de Ryn. Ela sabia o que era perder alguém que amava, e isso a fez ver Ryn de uma maneira diferente.
— E Malvyn? — perguntou Kaela, curiosa. — Por que você o odeia tanto? Deve ter um motivo.
Ryn olhou para ela, com seus olhos brilhando com uma intensidade incomum.
— Malvyn matou meu irmão — respondeu ele, sua voz carregada de ódio. — Ele não gostou que nós dois tentássemos roubá-lo. Então, ele fez um exemplo do meu irmão. Desde então, eu jurei que faria tudo para vingá-lo.
Lyra observou Ryn em silêncio, sentindo que ele estava dizendo a verdade. Talvez ele não fosse tão diferente deles — talvez ele também estivesse lutando por algo maior do que ele mesmo.
Com o mapa em mãos, o grupo sabia que precisava deixar Noxhaven o mais rápido possível. No entanto, a cidade estava em alerta máximo, com guardas patrulhando as ruas e portões fortemente vigiados.
— Não podemos sair pelos portões principais — disse Thalos, examinando o mapa da cidade que Ryn havia roubado. — Eles estão muito bem guardados.
— Há um túnel — sugeriu Ryn, apontando para uma área no mapa. — Ele leva para fora da cidade, mas é perigoso. Dizem que é habitado por criaturas sombrias.
— Criaturas sombrias? — perguntou Kaela, seus olhos dourados brilhando com preocupação. — Que tipo de criaturas?
Ryn deu uma risada baixa.
— O tipo que gosta de elfos e humanos como lanche — respondeu ele, brincando. — Mas, se formos rápidos e silenciosos, podemos passar por elas.
Lyra considerou as opções por um momento antes de acenar com a cabeça.
— Vamos tentar — disse ela. — Mas fiquem alerta. Não podemos nos dar ao luxo de mais surpresas.
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O grupo seguiu Ryn até a entrada do túnel, que ficava escondida atrás de uma parede falsa em um beco escuro. O ar dentro do túnel era frio e úmido, e o cheiro de mofo e podridão era quase insuportável. As paredes estavam cobertas de musgo, e o chão era irregular, cheio de buracos e pedras soltas.
— Mantenham-se juntos — sussurrou Lyra, segurando uma tocha que Ryn havia providenciado. — E fiquem em silêncio.
O grupo avançou pelo túnel, cada passo ecoando nas paredes de pedra. De repente, ouviram um som — um arrastar de pés, seguido por um sussurro baixo.
— O que foi isso? — perguntou Kaela, sua voz quase inaudível.
— Não sei — respondeu Lyra, segurando sua espada com firmeza. — Mas não gosto disso.
Foi então que as criaturas apareceram. Eram sombras vivas, com olhos vermelhos brilhantes e garras afiadas. Elas se moveram rapidamente, cercando o grupo em questão de segundos.
— Lutem! — gritou Lyra, avançando com sua espada.
A batalha foi rápida e brutal. Lyra e Thalos lutaram com habilidade, enquanto Kaela usou seus poderes para criar barreiras de luz que mantinham as criaturas à distância. Ryn, por sua vez, mostrou-se um lutador ágil e letal, usando suas facas com precisão mortal, mesmo que as facas nao ajudasse muito com as sombras, mas ele estava disposto a mostrar que podiam confiar nele.
Finalmente, o grupo conseguiu derrotar as criaturas sombrias, mas não sem custo. Todos estavam feridos e exaustos, e o túnel parecia não ter fim.
— Vamos continuar — disse Lyra, ajudando Kaela a se levantar. — Não podemos parar agora.
Após o que parecia uma eternidade, o grupo finalmente avistou a luz no fim do túnel. A saída estava bloqueada por uma grade de ferro, mas Ryn rapidamente a abriu com um par de ferramentas que ele carregava.
— Depois de vocês — disse ele, fazendo uma reverência irônica.
O grupo saiu do túnel, encontrando-se em uma floresta densa e escura. O ar fresco foi um alívio após o cheiro sufocante do túnel, mas todos sabiam que ainda estavam longe de estarem seguros.
— O que faremos agora? — perguntou Kaela, olhando para Lyra.
— Agora — respondeu Lyra, examinando o mapa — seguimos em direção à próxima pista. A Estrela de Elyndor está próxima, e não podemos nos dar ao luxo de falhar.