Capítulo 13 – Por trás do plano de Eduardo
O sol da manhã refletia nos pequenos pedaços de vidro que Helena segurava entre as mãos. Era uma peça quebrada de um espelho antigo, mas seu reflexo parecia tão nítido quanto as memórias que se agitavam em sua mente. Tudo estava diferente. Ela sentia o peso de algo que estava para acontecer, algo que não conseguia controlar.
Isolde estava na varanda, balançando suavemente a cadeira de madeira, seus risos leves flutuando pelo ar. Levítio estava com ela, mas seu olhar estava distante, como se os mesmos pensamentos que atormentavam Helena o assombrassem também.
Quando Helena se aproximou, Levítio levantou a cabeça, mas algo em seu olhar fez com que ela se detivesse por um momento. Ele parecia mais pálido do que o normal, mais cansado. O que ele sabia que ela ainda não sabia?
— Helena... — Levítio começou, sua voz grave, como se estivesse ponderando as palavras. — Você está bem?
Ela se sentou ao lado dele, encarando as mãos dele que estavam firmemente entrelaçadas.
— Melhor do que ontem... mas ainda não posso dizer que estou bem. Eduardo... está me confundindo. E eu estou começando a me perguntar se ele sempre foi assim, ou se as mentiras que ele me contou foram todas parte de um jogo desde o começo.
Levítio olhou para ela, os olhos cheios de preocupação, mas também de uma força silenciosa.
— Eu não gosto disso. Você não deveria carregar isso sozinha, Helena.
Ela suspirou, sentindo as palavras dele como um bálsamo, mas também como uma carga. Era difícil deixar ir. Mas, talvez, esse fosse o primeiro passo.
— Mas como posso confiar, Levítio? Como posso acreditar que ele é quem dizia ser, quando tudo ao meu redor está desmoronando? — Ela olhou para o horizonte, onde o céu parecia guardar segredos em suas nuvens escuras.
Levítio colocou a mão no ombro dela, com a delicadeza de quem sabia que nada que dissesse poderia apagar a dor, mas talvez pudesse aliviar a carga.
— Não precisa decidir tudo agora. Às vezes, o tempo é o único que pode trazer clareza. Mas... se você precisar de algo, qualquer coisa, sabe onde me encontrar.
Helena olhou para ele, sentindo uma onda de gratidão. A segurança que ele oferecia não tinha preço. E, por mais que ela sentisse que o peso de suas escolhas fosse grande demais para carregar, Levítio parecia ser o único porto seguro em um mar revolto.
Enquanto Helena se perdeu nos próprios pensamentos, uma batida rápida na porta os interrompeu. Levítio levantou-se imediatamente, o semblante sério, como se já soubesse que aquilo não era uma visita qualquer.
Ele foi até a porta, abriu e se deparou com uma mulher misteriosa, de olhar calculado e passos firmes. Seu capô cobria parcialmente o rosto, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade que Helena reconheceu como perigosa.
Levítio hesitou por um momento, mas a mulher não o deixou falar.
— Não temos tempo a perder — disse a mulher, em uma voz baixa e urgente. — Helena precisa saber a verdade.
Levítio olhou para Helena, que ainda estava sentada, com o rosto marcado pela dúvida e confusão. A mulher entrou sem esperar permissão, fechando a porta atrás de si com firmeza.
— O que você sabe? — Helena perguntou, levantando-se rapidamente. Sua voz soou tensa, mas cheia de uma necessidade de respostas. Ela queria entender, queria desesperadamente saber o que estava acontecendo.
A mulher misteriosa começou a falar— Eduardo não é quem você pensa que é. Nenhuma das intenções dele eram reais, Helena. Desde o começo, ele tinha outros planos. Ele queria se aproximar de você para conseguir o que sempre desejou: o trono de Harvel. E não é só isso... Há algo mais que ele esconde, algo que envolve toda a sua família.
Helena engoliu em seco. Cada palavra daquela mulher parecia um golpe direto. Mas ela precisava saber.
— O que mais? — Helena forçou, a dor em sua voz agora clara.
A mulher respirou fundo, seus olhos focando em Helena.
— Ele não estava sozinho nisso. Sua irmã, Levítio, estava com ele. Eles arquitetaram o sequestro para que você acreditasse que ele estava morto. E a mãe de Eduardo... ela estava envolvida, apoiando tudo nas sombras, mantendo o segredo até do próprio rei Edgar.
O silêncio na sala foi opressor. Helena piscou algumas vezes, tentando digerir o que acabara de ouvir. Como isso era possível? Como ela não tinha percebido antes? Como havia sido tão cega?
A mulher continuou, quase como se estivesse antecipando as perguntas de Helena.
— Mas há mais, Helena. Não se engane. O plano perfeito dele começou a falhar quando Isolde entrou na jogada. Ninguém sabia da existência dela, nem mesmo o próprio Eduardo. Ela é uma ameaça para tudo o que ele construiu.
Helena olhou para Levítio, confusa, mas também buscando respostas nele. Ele parecia tão calado, tão distante. Ela queria não acreditar, mas as palavras daquela mulher estavam queimando sua mente.
— O que você quer de mim? — Helena finalmente perguntou, a voz rouca.
A mulher não respondeu imediatamente. Ela se aproximou de Helena, com um olhar grave.
— Você vai ter que procurar as respostas por si mesma. Não posso revelar tudo. Não posso dizer tudo de uma vez. Mas saiba que sua luta está apenas começando. E Eduardo... ele não é o único que esconde segredos. — Ela olhou por um momento para Levítio e depois voltou sua atenção para Helena. — O que você decidir a partir de agora mudará tudo.
Ela se virou, indo em direção à porta. Antes de sair, olhou uma última vez para Helena, seus olhos carregando uma mistura de urgência e advertência.
— Seja forte. As mentiras que você acredita agora são só o começo. A verdade está mais perto do que você imagina.
E, com isso, a mulher desapareceu, deixando Helena e Levítio sozinhos novamente, imersos no caos de um jogo de poder que nem ela nem ele tinham escolhido jogar.
O silêncio que ficou depois da saída da mulher era sufocante. Helena sentia o coração batendo forte, as palavras ecoando em sua cabeça. Levítio estava pálido, a respiração pesada, o olhar perdido.
Ele quebrou o silêncio primeiro:
— Helena… quem era aquela mulher?
Helena se virou para ele, surpresa.
— Você não a conhece?
Levítio negou com a cabeça, confuso.
— Nunca vi na minha vida. Eu… achei que fosse alguém a seu mando. — Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente abalado. — O que ela quis dizer com "a irmã de Levítio"? Isso… isso não faz sentido.
Helena respirou fundo, sentindo o peso daquelas palavras.
— Ela está falando da sua irmã, Levítio… Parece que ela está envolvida nesse plano com Eduardo… e a mãe dele.
Levítio ficou imóvel, tentando processar.
— Minha irmã? — ele murmurou, a voz vacilante. — Isso não pode ser…
Isolde, que até então estava quieta no canto da sala, se aproximou devagar. Seus olhos, grandes e atentos, mostravam que ela entendia o clima tenso, mesmo sem conseguir falar. Ela apontou para a porta por onde a mulher saiu, o olhar fixo em Helena.
Helena se abaixou até ficar na altura dela.
— Está tudo bem, Isolde. — disse com a voz mais calma que conseguiu. — Ela foi embora.
Isolde segurou na mão de Helena e tentou dizer algo, mas só conseguiu emitir um som baixinho.
— Fa… fa…
Helena sorriu triste, passando a mão no cabelo da menina.
— Eu sei… você está tentando. — Ela olhou para Levítio,com um olhar de felicidade,por ver a menina quase falando novamente,mas ao mesmo tempo no fundo daquele olhar contia um medo inexplicável.
Isolde então apertou com mais força a mão de Helena, apontando de novo para a porta, os olhos pedindo que não deixassem aquilo passar.
Helena entendeu.
— Nós vamos descobrir quem ela é. Prometo.
Levítio respirou fundo, ainda sem acreditar.
— Eu preciso saber o que está acontecendo. Preciso saber se isso é verdade… se minha irmã está mesmo envolvida.
Helena ficou de pé, com o olhar decidido.
— E nós vamos descobrir… juntos.
Isolde, mesmo sem dizer nada, assentiu com a cabeça.
Aquela noite tinha mudado tudo. A verdade estava se aproximando — devagar, em pedaços —, mas o suficiente para ameaçar tudo que restava.
Helena virou-se para Levítio,com o olhar firme mesmo com o coração pesado. Levítio ainda tentava se recompor, e Isolde, de alguma forma, parecia compreender o peso daquele momento.
— Amanhã — disse Helena, quebrando o silêncio — nós vamos sair daqui. Precisamos descobrir quem é essa mulher… e se minha intuição estiver certa, ela vai aparecer de novo.
Levítio hesitou.
— Você acha seguro? Depois de tudo o que ela disse…
— Não temos escolha. — Helena cruzou os braços. — Se ela está disposta a falar, mesmo aos poucos, significa que sabe mais do que aparenta. E se ela sabe… talvez tenha o poder de derrubar Eduardo, expor a verdade… e proteger Isolde.
Isolde segurou o vestido de Helena, como se buscasse segurança. A jovem sorriu para ela, passando a mão pelo cabelo fino e bagunçado da menina.
— Eu vou cuidar de você, pequena. — murmurou.
Levítio respirou fundo e se aproximou.
— Eu tô com você, Helena. Mesmo sem entender tudo… mesmo com medo. A gente vai até o fim.
Helena olhou para ele, emocionada.
— Obrigada, Levítio. De verdade.
Ele sorriu de leve.
— Não precisa agradecer. Você me salvou mais de uma vez… agora é minha vez.
Isolde olhou de um para o outro, um pequeno sorriso surgindo em seu rostinho, mesmo sem entender todas as palavras.
Helena então se virou para a porta.
— Vamos descansar. Amanhã… o jogo muda.
Do lado de fora, entre as sombras da floresta que cercava a velha casa, a mulher misteriosa observava. Os olhos atentos, o rosto meio oculto pelo capuz.
Ela sussurrou para si:
— É só o começo, Helena… só o começo.
E desapareceu na escuridão.
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•~Notas para o Leitor~•
(Este trecho não faz parte diretamente do capítulo, mas serve para você, leitor, entender melhor o que aconteceu nos bastidores dessa história cheia de segredos.)
Desde o início, Eduardo planejava conquistar o coração de Helena, não por amor verdadeiro, mas para tomar o trono de Harvel e unir os reinos sob seu comando.
Por trás disso, estavam:
A irmã de Levítio, cúmplice de Eduardo.
A mãe de Eduardo, envolvida secretamente, apoiando o plano e escondendo a verdade até mesmo do próprio rei Edgar.
Tudo estava saindo conforme o planejado. Eduardo sabia exatamente como fazer Helena se apaixonar — com gestos, palavras e atitudes cuidadosamente pensadas.
O plano era perfeito… até a chegada inesperada de Isolde.
Ninguém sabia da existência de Isolde — a filha bastarda mantida em segredo por Ragnar no porão do castelo. Quando Helena a descobriu, tudo mudou:
Ela confrontou Ragnar, exigindo respostas.
Brigou com o pai, desafiando-o diante de seus crimes e injustiças.
Como punição, foi presa no castelo, isolada e afastada das decisões do reino.
Esse ato quebrou o plano de Eduardo, pois sem Helena ao lado do rei Ragnar, o acesso ao trono de Harvel se tornou impossível.
Para piorar, Isolde também representava uma ameaça desconhecida, alguém que Eduardo não previu,uma peça nova no jogo, capaz de mudar tudo.
E ai o plano perfeito começou a desmoronar.