O acampamento estava mergulhado em escuridão, iluminado apenas pelo brilho alaranjado das fogueiras espalhadas pelo campo. Os estandartes do reino de Thalgal tremulavam ao vento, e o cheiro de sangue ainda pairava no ar.
No centro, ajoelhado, o rei do reino de Lunaris estava amarrado e enfraquecido, sua armadura suja de poeira e cortes. Mas seus olhos, mesmo cansados, ainda carregavam desafio.
À sua frente, Nyx caminhava em círculos, os passos lentos e calculados. Seu olhar frio o analisava como um predador observando a presa.
— Onde está a pedra, Majestade? — sua voz era calma, quase divertida, mas com um tom de ameaça.
O rei manteve o silêncio. Nyx arqueou uma sobrancelha e estalou os dedos. Dois soldados o agarraram pelos braços, forçando-o a se curvar mais.
— Eu não sei — ele finalmente respondeu, sua voz rouca, mas firme.
Nyx soltou uma risada curta. — Não brinca comigo. Sua carruagem foi atacada, sua esposa está morta, e seu reino está prestes a cair. O mínimo que pode fazer é me poupar dessa encenação.
O rei ergueu o olhar, encarando-a sem medo. — Eu disse a verdade. A única pessoa que sabia o paradeiro da pedra… era a rainha.
O sorriso de Nyx desapareceu. Ela permaneceu em silêncio, os olhos estreitados em pensamento. O estalo das chamas preenchia o ar enquanto a comandante absorvia a informação.
Então, com um aceno de cabeça, ordenou friamente:
— Prendam-no.
Dois soldados puxaram o rei para longe, arrastando-o até uma tenda mais afastada. Nyx ficou imóvel por alguns instantes, seus dedos cerrando ao redor do punhal que girava entre eles. Então, sem desviar o olhar do fogo à sua frente, chamou:
— Ronan.
O soldado hesitou por um momento antes de se aproximar. Nyx virou-se lentamente, seus olhos frios cravados nele.
— Entre na tenda — ordenou, apontando para um dos recintos próximos. Sua voz era baixa, mas carregada de um peso inconfundível.
Ele obedeceu, desaparecendo no interior da tenda. Nyx respirou fundo antes de segui-lo.
Lá dentro, a luz fraca de um lampião lançava sombras nas paredes de lona. Nyx cruzou os braços e encarou Ronan com frieza.
— A única pessoa que sabia onde está a pedra foi morta. E me diga, Ronan… de quem foi a espada que a matou?
Ronan sentiu o estômago revirar. Ele soube, naquele instante, que qualquer resposta errada poderia lhe custar a vida. Mas antes que pudesse falar, a aba da tenda se abriu de súbito.
Darius entrou sem cerimônia, seus olhos cravados em Nyx.
— Fui eu que ordenei a morte da rainha — declarou, sua voz firme.
Nyx estreitou os olhos, a tensão no ar se tornando palpável.
— Você o quê?
— Ela não falaria, Nyx. E você sabe tão bem quanto eu que não podíamos deixá-la escapar.
O silêncio que se seguiu foi pesado. Nyx fechou a mão ao redor do punhal, seu olhar analisando Darius.
Ronan permaneceu imóvel, esperando a próxima ordem.
Nyx demorou alguns segundos para processar as palavras de Darius. Seus dedos se fecharam com mais força ao redor do punhal, o maxilar travado.
— Você decidiu isso sozinho? — Sua voz era controlada, mas havia algo afiado nela, como a lâmina de uma faca prestes a ser usada.
Darius cruzou os braços, mantendo-se parado. — Era o mais lógico.
— Lógico? — Nyx soltou uma risada sem humor. Deu um passo à frente, seu olhar cravado no dele. — Você matou a única pessoa que sabia onde está a pedra. Nós poderíamos tê-la trazido para cá! Poderíamos tê-la feito falar!
Ronan se encolheu ligeiramente ao ouvir o tom cortante na voz dela, mas Darius não demonstrou qualquer reação.
— Ela nunca falaria. Nem sob tortura — disse ele, sem hesitar.
Nyx balançou a cabeça lentamente, como se tentasse conter a raiva.
— Você não sabe disso. E agora nunca saberemos.
Por um instante, o silêncio na tenda ficou sufocante. O único som era o estalo do lampião queimando o óleo.
— O rei ainda está vivo — continuou Darius. — Se pressionarmos, talvez ele tenha uma pista.
Nyx soltou um suspiro irritado e passou a mão pelos cabelos.
— Você quer que apostemos tudo em um talvez? — Sua voz saiu baixa, mas carregada de perigo.
Darius deu de ombros. — Você tem uma ideia melhor?
Nyx não respondeu de imediato. Ela odiava admitir, mas naquele momento, estavam sem opções.
Finalmente, ela voltou-se para Ronan.
— Quero o rei preparado para interrogatório ao amanhecer. E traga nossos melhores inquisidores. Se não podemos perguntar à rainha… então o rei vai nos dar alguma coisa.
Ronan assentiu rapidamente e saiu da tenda.
Darius manteve-se onde estava, observando Nyx por um longo momento.
— Você ainda confia em mim, não é? — perguntou, sua voz firme, mas sem a arrogância de antes.
Nyx cruzou os braços e ergueu o queixo ligeiramente.
— Confiança? — Ela soltou um riso seco. — Não é uma questão de confiança, Darius. É uma questão de ordem. E você quebrou a minha.
Darius apertou os punhos ao lado do corpo.
— Eu fiz o que era necessário.
— Não. Você fez o que achou que era necessário. — Ela deu um passo à frente, o olhar afiado como uma lâmina. — Se fizermos isso de novo, se cada um tomar suas próprias decisões no calor do momento, vamos tropeçar na nossa própria estratégia. Eu sou a comandante aqui.
O silêncio se arrastou entre os dois. Nyx esperou uma contestação, mas Darius apenas sustentou seu olhar antes de desviar ligeiramente.
— Não vai acontecer de novo — ele disse, sem emoção.
Nyx estudou sua expressão por mais alguns segundos, então virou-se de costas, encerrando a conversa.
— Espero que não.
Darius saiu da tenda, e Nyx soltou um longo suspiro, permitindo-se um momento para reorganizar os pensamentos.
Ela precisava do controle. Sempre.
E se Darius começasse a agir por conta própria… ela teria que decidir o que fazer com ele.