As portas do salão real foram abertas com um estrondo, e o som apressado de botas ecoou pelas paredes de pedra. Lorde Cedrik, um dos conselheiros mais antigos do rei, entrou com o rosto pálido e o olhar carregado de desespero.
— Majestade! — Ele quase tropeçou ao se ajoelhar diante da Rainha-Mãe Eleanor, que estava sentada no trono de Lunaris.
O salão, que antes estava tranquilo, agora se encheu de murmúrios. Os nobres se entreolharam, alarmados.
Eleanor, uma mulher de olhar severo e postura impecável, franziu a testa.
— O que aconteceu, Cedrik?
O conselheiro ergueu a cabeça, a voz falhando levemente.
— O rei… foi sequestrado.
O salão caiu em um silêncio sepulcral.
A rainha-mãe piscou, como se não tivesse ouvido direito. Seu coração, já marcado pelas tragédias da guerra, apertou-se em seu peito.
— Como? — Sua voz era firme, mas havia um leve tremor nela.
Cedrik respirou fundo antes de continuar.
— A carruagem foi atacada. O exército inimigo estava esperando. Sua Majestade foi levado como prisioneiro… e a rainha… — Ele hesitou, engolindo seco. — A rainha está morta.
Um dos lordes da corte soltou um grito sufocado. Algumas damas levaram as mãos à boca, horrorizadas.
Eleanor, no entanto, permaneceu imóvel. Sua respiração ficou mais pesada, mas seu olhar permaneceu fixo em Cedrik.
— E… e o príncipe? — A pergunta saiu quase num sussurro.
Cedrik abaixou a cabeça.
— Nenhum sinal dele.
A rainha-mãe sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Seu neto, o herdeiro de Lunaris, estava desaparecido… talvez morto.
Mas ela não podia ceder ao desespero.
Respirando fundo, Eleanor se endireitou no trono e olhou para os generais reunidos no salão.
— Organizem nossas tropas. Se eles acham que podem tomar nosso rei e destruir nossa linhagem, verão que lunaris ainda tem sangue para derramar.
O salão explodiu em movimentação, mas por dentro, Eleanor sabia: o ataque havia sido calculado. Eles queriam algo.
E se não fosse o rei… seria a pedra.
O salão estava um caos. Os nobres discutiam entre si, os generais já começavam a organizar estratégias, mas Eleonor não podia se permitir ser arrastada pela onda de emoções. Seu coração pesava com a notícia da morte de sua nora e do desaparecimento do neto, mas sua mente precisava permanecer afiada.
Levantando-se do trono, ela desceu os degraus com passos firmes e fez um gesto discreto para Cedrik segui-la. Ele obedeceu sem hesitar, acompanhando-a por um corredor lateral que levava a uma pequena câmara reservada.
Assim que a porta se fechou, a postura rígida de Eleonor cedeu ligeiramente.
— Diga-me a verdade, Cedrik. — Sua voz, antes forte, agora soava mais baixa, quase cansada. — Estamos perdidos?
Cedrik hesitou. Vê-la assim, mesmo que por um instante, o abalou. Eleonor sempre foi a força silenciosa por trás do trono, inabalável mesmo diante das maiores tempestades.
— Não, Majestade. Mas estamos enfraquecidos. O povo teme o que pode acontecer agora. Sem um rei e sem uma rainha, estamos vulneráveis.
Eleonor apertou os olhos, pressionando os dedos contra as têmporas.
— E se atacarmos primeiro? Se levarmos a guerra até eles antes que possam nos esmagar?
Cedrik respirou fundo antes de responder.
— Isso pode fortalecer nossa posição… ou nos destruir de vez. Se o povo perceber que estamos agindo por desespero, podemos perder o controle. E, sem o rei, quem lideraria?
Eleonor ficou em silêncio por um longo momento. Seus dedos tremiam levemente, mas ela os fechou em punho.
— Então temos que encontrá-lo. O rei ainda vive. E enquanto ele respirar, há esperança para Lunaris.
Cedrik assentiu.
— Daremos tudo para trazê-lo de volta, Majestade.
Eleonor endireitou os ombros novamente, enterrando sua dor no fundo do peito.
— Então que comece a busca.
Enquanto Eleonor e Cedrik discutiam o futuro de Lunaris, em Thalgal, o destino do rei Dorian estava sendo decidido. Dentro de uma tenda escura, o interrogatório finalmente começava.
O interior da tenda era iluminado apenas por tochas, lançando sombras alongadas nas paredes de tecido. O rei de Lunaris estava preso a uma cadeira no centro do espaço, seus pulsos atados com correntes de ferro. Seu rosto trazia marcas da viagem forçada e dos primeiros sinais de tortura, mas seu olhar permanecia inabalável.
Nyx observava da penumbra enquanto Darius caminhava ao redor do prisioneiro, as botas ecoando sobre o chão de terra batida.
— Vamos tornar isso simples, Majestade. — Darius falou, sua voz fria e calculada. — Diga-nos onde está a pedra de Rubi, e pouparemos sua vida.
O rei ergueu os olhos lentamente, um sorriso cansado se formando em seus lábios.
— Eu não posso dizer algo que não sei.
Darius trocou um olhar com Nyx, sua paciência se esgotando.
— Você espera que acreditemos nisso? — Ele se inclinou, apoiando as mãos nos braços da cadeira. — Seu reino inteiro se ergue sobre essa pedra. Você, mais do que ninguém, deveria saber onde ela está.
O rei respirou fundo, fechando os olhos por um instante antes de encará-lo novamente.
— Apenas a rainha sabia.
A afirmação caiu sobre a tenda como um trovão. Darius recuou ligeiramente, sua expressão se fechando. Nyx, que até então apenas observava, finalmente deu um passo à frente.
— E agora ela está morta. — Sua voz saiu controlada, mas carregada de frustração.
O rei nada respondeu. Apenas manteve o olhar fixo nela, desafiador.
Darius virou-se para Nyx, descrente.
— Ele está mentindo. Isso seria um erro estratégico. Nenhum reino deixaria a localização de algo tão valioso nas mãos de apenas uma pessoa.
Nyx não respondeu de imediato. Suas mãos se fecharam ao lado do corpo. Ela queria duvidar, queria acreditar que o rei estava escondendo algo. Mas, no fundo, sentia que ele dizia a verdade.
E isso significava que, mesmo após todo o ataque, eles ainda estavam de mãos vazias.