O vento frio da noite soprava suavemente sobre as torres de Sythara, carregando o aroma das montanhas ao redor. Do alto da fortaleza, rei Locthar observava o horizonte, seus olhos fixos na escuridão que envolvia os reinos vizinhos. A guerra estava se desenrolando entre Lunaris e Thalgal, mas ele sabia que não era o momento de intervir.
Passos leves ecoaram atrás dele. Ele se virou e encontrou rainha Selene, uma mão apoiada no ventre arredondado. O brilho das tochas refletia em seu rosto delicado, mas Locthar sabia que, por trás da serenidade, havia preocupação.
— Você ainda está pensando nisso, não está? — Selene perguntou suavemente.
Locthar suspirou, desviando o olhar para além dos muros.
— É impossível não pensar. Lunaris está enfraquecida, e Thalgal está cada vez mais ousado. Se eles vencerem… o equilíbrio entre os reinos pode ser destruído.
Selene se aproximou, pousando uma mão sobre a dele.
— E mesmo assim, você decidiu não agir.
Ele apertou os lábios, encarando-a com intensidade.
— Meu dever é proteger nosso reino. E agora, proteger você… e nossa filha.
Selene sorriu levemente ao ouvir aquilo. Alina. O nome já estava decidido, e a pequena chegaria a qualquer momento.
— Se nos mantermos neutros, podemos ser a chave para restaurar a paz quando tudo isso acabar — ela disse.
Locthar assentiu lentamente.
— Por enquanto, ficamos de fora. Mas se a guerra ultrapassar nossos limites… teremos que agir.
A decisão estava tomada. Sythara não entraria no conflito — pelo menos, não agora.
Enquanto Locthar selava sua decisão de manter Sythara fora do conflito, distante dali, em Lunaris, Eleonor não tinha o mesmo privilégio da neutralidade.
O peso da guerra já recaía sobre seus ombros, e com Dorian desaparecido, o destino do reino estava em suas mãos. A cada instante perdido, a incerteza crescia — e ela sabia que precisava agir antes que fosse tarde demais.
A noite caía sobre Lunaris, mas o castelo permanecia inquieto. Eleonor caminhava pelo salão principal com passos apressados, seu coração pesado com a ausência de Dorian e a incerteza do futuro. A busca pelo rei havia sido um fracasso. Agora, cada segundo perdido significava uma nova ameaça para o reino.
Ela parou diante de uma grande mesa de madeira, onde mapas estavam espalhados, e respirou fundo. Cedrik entrou na sala logo em seguida, sua expressão séria, ciente da gravidade da situação.
— Majestade — ele saudou com uma reverência.
Eleonor ergueu os olhos para ele, sua voz carregada de urgência:
— Não podemos continuar assim, Cedrik. Sem Dorian, o reino está vulnerável. E sem um rei, por quanto tempo o povo continuará acreditando que podemos resistir?
Cedrik cruzou os braços.
— A busca por ele ainda não acabou. Podemos intensificar os esforços, reunir mais homens…
— E se nunca o encontrarmos? — a voz dela vacilou por um instante, mas logo se firmou. — Não podemos depender apenas disso.
Ela se aproximou da mesa, pousando as mãos sobre o mapa de Lunaris. Seus dedos deslizaram até a fronteira com Sythara.
— O rei Locthar pode não querer se envolver, mas ele ainda é nosso aliado. Você irá até lá, Cedrik. Preciso que convença Locthar a nos ajudar.
Cedrik arqueou uma sobrancelha, ponderando.
— Locthar não se move sem um motivo forte. Ele jamais colocaria Sythara em risco sem uma garantia de que valha a pena.
— Então dê a ele um motivo. Fale da ameaça que Thalgal representa não só para nós, mas para todos os reinos. Diga que, se não fizerem nada agora, em breve não restará ninguém para se aliar.
Cedrik assentiu, reconhecendo a urgência da missão.
— Partirei ao amanhecer.
Eleonor desviou o olhar para a janela, onde as luzes das tochas iluminavam a cidade abaixo. Sua expressão era determinada, mas seu coração ainda carregava o peso da incerteza.
— Volte com boas notícias, Cedrik. Ou pelo menos com uma esperança.