Laços invisíveis

O quarto estava tranquilo, iluminado apenas pela luz bruxuleante da lareira. O bebê dormia num berço improvisado ao lado da cama, e Dorian, deitado com o corpo ainda dolorido, mantinha os olhos fixos na criança — como se tentasse encontrar todas as respostas naquele pequeno rosto adormecido.

A porta se abriu com um ranger leve, e Eleonor entrou em silêncio. Parou por um momento ao ver o filho desperto. Seus olhos se suavizaram.

— Está acordado — disse baixinho, como quem não queria perturbar a paz do momento. — Como se sente?

— Melhor do que ontem — respondeu ele, com um breve sorriso cansado. — Ou menos pior, talvez.

Ela se aproximou, sentando-se numa cadeira ao lado da cama. Seus olhos pousaram em Kadric, curiosos, mas também atentos.

— Ele dorme bem — comentou. — E tem olhos calmos… mesmo depois de tudo.

Dorian assentiu, observando a criança com carinho.

— Tem algo nele… que me prendeu desde o primeiro instante. Achei-o sozinho nas florestas, envolto nesse cobertor. Chorava... como se estivesse esperando por alguém.

Eleonor franziu levemente a testa, escolhendo as palavras com cuidado.

— Encontrá-lo assim... em meio ao caos... parece destino. — Ela fez uma pausa. — Mas você tem certeza, Dorian? Certeza de que é... seu filho?

Dorian virou-se devagar para encará-la. Seus olhos carregavam cansaço, mas também convicção.

—Não tenho como provar, mãe. Nenhum selo real, nenhum colar, nenhum traço inconfundível. Mas quando o segurei... — ele engoliu em seco — parecia que uma parte de mim tinha sido devolvida. Como se algo que eu nem sabia que tinha perdido estivesse de volta.

Eleonor assentiu devagar, sem confirmar nem negar. Apenas apoiou a mão no braço dele por um instante, e então se levantou.

— Vou pedir para trazerem algo de comer. Você precisa de forças. Ambos precisam.

Antes de sair, lançou um último olhar ao bebê — um misto de ternura e dúvida — e fechou a porta com suavidade.

Sozinho outra vez, Dorian inspirou fundo. Deitou-se um pouco melhor e encarou Kadric.

A chama da lareira dançava, projetando sombras tênues no teto.

— Se você é mesmo meu filho... — sussurrou, com um peso no peito — por que sinto que algo está faltando nessa história?

A resposta, como sempre, ficou no silêncio.