Assim que ele se foi, a primeira noite em minha casa sozinho foi totalmente estranha. Não havia nada além do silêncio e da escuridão. Lembro-me de não ter sentido nada, nenhum medo ou algo que fosse assustador. Afinal de contas, eu estava vestido com o pijama do Goku e sabia que ele iria proteger minha mãe e eu. Quando falei isso para ela, ela sorriu e me abraçou tão forte que não entendi, mas sabia que, de algum modo, aquilo que eu disse cortou aquela tensão silenciosa que ali habitava. Na manhã seguinte, acordei para assistir desenho, e tudo estava normal. A TV Globinho passava, e a hora do almoço se aproximava. Eu mal podia esperar para comer a comida que minha mãe estava fazendo e também porque sabia que, nesses horários, meu pai chegaria e eu poderia contar sobre as minhas tão fantásticas aventuras que passei assistindo horas de desenhos incríveis. Só que o horário havia chegado, e nisso minha mãe simplesmente disse: "O almoço está pronto." Eu fiquei super, mega, hiper animado com aquela notícia, já que assistir desenhos nos deixa cansados, não é mesmo? Mas afinal de contas, por que meu pai demorava tanto para chegar? Foi quando fiz minha primeira pergunta: "Mãe, por que não esperamos um pouco mais para comermos?" Minha mãe, sem entender, me disse: "Não! Vamos comer, senão você vai ficar com fome." E nisso eu perguntei: "Mas o papai não está aqui, não é melhor esperar por ele?" Ela ficou em silêncio e me disse: "Seu pai está trabalhando e, então, ele irá demorar para chegar. Sugiro que você coma, tá?" E eu, todo feliz, falei: "Tudo bem, mãe." E nisso eu comi e depois fui assistir meus desenhos após a refeição.