MAS ELE NÃO É SEU PAI!

Depois da fantástica atuação do Brasil e do clima eufórico que habitava todas as ruas e casas, o dia foi maravilhoso. Até que chegou a hora de ir jogar bolinha gude até tarde. Meu pai havia deixado claro que eu não poderia brincar até terminar todas as minhas obrigações, que iam desde lavar a louça até rastelar o quintal. Nossa, lembro o quanto era tedioso e chato fazer aquelas coisas! Justo eu, o cara que adorava brincar, agora tendo que obedecer a um estranho... Como era injusto!

Mas eu não iria ficar ali parado. Resolvi ir logo jogar bolinha de gude e, com isso, não terminei o que me foi mandado. Comecei a me divertir como se não houvesse mais nada para fazer. As horas passavam, e a alegria frenética tomava conta de mim, pois eu estava ganhando muitas partidas. Nada podia me impedir de continuar vencendo! Parecia que, a cada jogada, a sorte sorria para mim cada vez mais...

Até o momento em que vi meu pai andando tranquilamente em minha direção com um galho de goiabeira na mão. Ele me perguntou se eu havia feito o que me pediu e, como ele já sabia a resposta, eu o ignorei e continuei jogando. Então, ele me deu uma cipolada que doeu tanto que me fez chorar instantaneamente. Todos os meus amigos que estavam ali caíram na risada.

No dia seguinte, fui brincar todo chateado, e meus amigos perguntaram:

— Mas por que você obedece ele? Ele não é seu pai.

Mesmo que aquilo não fosse mentira, eu apenas ignorei o comentário e fiquei quieto, esperando minha vez de jogar. Até que, de repente, meu pai veio em minha direção com uma sacola cheia de bolinhas de gude e um monte de balas. Nunca entendi o porquê daquele gesto inesperado, ainda mais depois de ele ter me batido. Não havia motivo para aquilo. Fiquei totalmente sem entender, mas apenas agradeci e continuei jogando.

Em parte, acredito que me bater para me educar, pela primeira vez, deve ter sido mais doloroso para ele do que para mim. Afinal de contas, qual pai gostaria de ter que bater no filho?